Houve
um tempo de ir comprar coco ralado na hora na Doceira Modelo e ir buscar fios
de ovos no Di Cunto. Houve um tempo de decidir se a mesa devia ficar na garagem
ou cozinha e escolher quem ia subir no
banquinho para pegar as taças, sempre no último andar do armário. Houve um
tempo de discutir se os presentes do Bruno iam ficar na porta de casa ou nos fundos
do quintal quando a gente gritasse para ele que o Papai Noel estava passando e
neste tempo todos se apressavam em correr atrás dele para não perder a cena.
Houve um tempo de se torcer por sol na manhã de Natal para ver o vovô montando
a balança embaixo do pé de jasmim e esticando a rede nos ganchos enquanto o
cheiro da comida caseira e reconfortante tomava cada canto da casa. Houve o
tempo do filho pequeno e depois dos sobrinhos pequenos. O tempo de alguém que
trocava o amigo secreto e bagunçava
tudo, do pai que nunca gelava a cerveja o suficiente e o tio barulhento que
transformava qualquer reunião em uma festa e quando a coisa apertava gritava: -
Manaaaaa!
Houve
um tempo de formar memórias. Porque em última análise é disto que se trata
viver: aprender, crescer, ensinar. E, se tudo der certo, viver para sempre na
memória cheia de carinho de alguém que nunca vai esquecer de você. Houve tempo
para tantas coisas diferentes e sempre todas iguais todos os anos. Nem todas as
memórias são boas, mas me reservo ao direito de só me lembrar das melhores
porque a esta altura da vida posso me permitir tal seletividade.
Por
isso aprendi a colecionar lembranças e construir memórias. Por isto tirei
tantas fotos e pacientemente cantei cada música de Natal com a letra errada com
minha avó. Por isto enchi da comida predileta de cada um, cada pratinho de avô,
de pai, de tio que já não estão mais aqui entre nós. Hoje, com muito menos
pessoas à mesa, sem nenhuma gritaria e longe dos que estão à distância de um telefonema
e que ainda assim eu os queria tão mais perto, nós não iremos estar tão
sozinhos. Vamos estar rodeados de lembranças daqueles que já se foram e
daqueles que mesmo entre nós eu não pude ter comigo neste Natal. E vou me
lembrar de todo aquele barulho, de toda aquela divertida confusão. E quando
estiver lembrando de outros Natais que
foram tão diferentes, eu também estarei construindo novas memórias. Memórias de
histórias contadas na mesa, entre risos e uma ceia nada tradicional com o
marido e o filho adulto ( faltou a norinha desta vez, fez falta...) e as inúmeras lâmpadas de Natal das quais
ainda não abro mão. Afinal, é Natal e até as lâmpadas coloridas me trazem
memórias felizes.....
Feliz
Natal a todos!
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