É sempre muito difícil escrever sobre Criminal Minds sem
parecer apenas uma fã incondicional. Mas, mesmo para aqueles que acompanham a
série sem o fervor habitual dos apaixonados, como não dizer que Broken foi
perfeito?
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A estrutura do episódio nos remete de cara aos primórdios da
série, onde o perfil do unsub importava sempre mais que a ação, que garimpar
pistas ou de nos envolvermos com a vida pessoal dos nossos queridos agentes.
Desde a escolha do tema, diga-se de passagem, atual e recorrente, até o
desenvolvimento da ação final, vemos um passo a passo do processo da realização
de perfis. Muito mais do que apoiar o livre arbítrio, o episódio escancara as
dificuldades ( mesmo para quem não sofreu pressão de família e sociedade) de se
assumir diferente, para o outro e para si mesmo. De uma forma honesta, em última
análise, coloca em cheque nossos conceitos e preconceitos, traçando paralelos
com qualquer outro padrão de comportamento que fuja do habitual, que em escalas
diferentes, podem ir do racismo aos inalcançáveis padrões de beleza.
Pouco a pouco, vemos a construção de um desastre eminente,
onde não se sabe o que mais aterroriza: os crimes brutais, o ódio e o remorso
que permeiam o jovem assassino, existir uma instituição destinada a torturar
jovens para que eles se enquadrem naquilo que a sociedade costuma chamar de
aceitável ou, finalmente, um pai, não só incentivar, mas participar ativamente
de tal nível de desqualificação do próprio filho. Um show de horror,
desenvolvido brilhantemente para chocar não com imagens, mas com fatos e
reflexões. A forma sincera como se desenvolve a conversa entre os dois amigos,
que experimentaram situações semelhantes e, ainda assim, reagem de forma
diferente, deixa claro que, ser vitimado por injustiças causa dores iguais, mas
reações diversas, uma vez que o amigo havia buscado ajuda profissional e
sentia-se mais preparado para deixar o passado para trás e assumir sua
homossexualidade.
A inclusão dos relógios no perfil, cujo objetivo no
acampamento, claramente era o de esconder as marcas das agulhas no braço dos
rapazes, acaba tomando para si, no ato do assassino, o de incluir a religião
como cúmplice fiel deste tipo de preconceito, mostrando o quanto as pessoas
distorcem a fé para justificar o que querem provar ou pregar, e ninguém melhor
que Rossi para, do alto de sua experiência, além do fato de ser um homem
católico, como ele mesmo se descreve em várias passagens da série, sacar que os
números poderiam ser citações bíblicas.
Outro ponto alto foi o embate entre Hotch e a prostituta
durante seu interrogatório. O personagem é talhado para este tipo de cena e
Thomas Gibson sabe bem como valorizá-la, através da voz acentuada e da face
dura e fria, carregando a mão na intolerância com seu comportamento ( fica
evidente que ela também era uma psicopata, que sentia prazer no que fazia e no
controle que tinha da situação). Brilhante a expressão da detenta ao ver que
ela entregou o jogo sem perceber e que não levaria vantagem alguma com aquela
situação.
A fotografia e a edição de imagens foram impecáveis,
captando cenas de forma pouco habitual, como, por exemplo, a tomada por cima da
invasão da JJ chutando a porta ou a SUV do Rossi chegando ao local de desova do
segundo corpo. Somam-se a isso, a contribuição solida dos atores convidados,
todos muito bem escolhidos para seus papéis ( a participação da atriz que faz a
prostituta é curtíssima, no entanto fundamental para a cena, mesmo com texto
sucinto ela consegue passar toda a indiferença da personagem). Menção também
para a cena inicial da Blake ministrando aula, tentando mostrar um pouco da
personagem sob outro ângulo. E claro, uma pitada do nosso “monstro” da
temporada, nos fazendo lembrar de forma inquietante que ele irá transtornar em
breve a vida dos nossos queridos agentes.
Com episódios desta qualidade, a oitava temporada tem se firmado,
em minha opinião, como uma das mais estáveis, sobrevivendo de forma digna ao
desgaste provocado pelo tempo de exibição ( afinal são oito temporadas ) e às
substituições de atores e atrizes, além das mazelas provocadas pela CBS. Não me
surpreende, visto que roteiristas e equipe de forma geral já mostraram diversas
vezes que são especialistas em tirar água de pedra e manter o nível da série
com temas atuais, casos interessantes e polêmicos.
Que venham os próximos, e que eles consigam manter o padrão
estabelecido pela última temporada!
Um abraço!
Débora não vi o episódio,mas deu ate vontade de assistir somente pelo seu comentário.
ResponderExcluirOlá, Kalola
ResponderExcluirDesculpe a demora em responder, só vi hoje vc por aqui. Caso ainda não tenha visto Broken, não deixe de ver, vale a pena. E não perca Carbon Copy, episódio fabuloso, já postei meus comentários sobre ele aqui no blog. Que bom que gostou do meu texto. Espero que lhe agrade os próximos também.
Um abraço,
Débora
Análise perfeita, como sempre!!!
ResponderExcluirVou comentar lá na comu, mas seus comentários baterem exatamente com o que eu pensei!
Bjs