Neste momento, enquanto sento em frente ao notebook
para escrever sobre o jogo Brasil x Alemanha, Felipão está dando uma entrevista
coletiva. Na tela da televisão vejo o técnico tentar com educação e paciência (
ou nem tanto, já que classe e paciência não são exatamente virtudes suas)
responder às perguntas quase ofensivas dos jornalistas sanguessugas, que tentam
arrancar no tapa uma declaração trágica, talvez um comunicado de suicídio para
depois do inquérito.
Nossa imprensa é vergonhosa. Mais do que a própria
derrota da seleção. Referem-se ao jogo como um vexame, o maior vexame da
história, uma humilhação da qual jamais irão se recuperar, quase como se os jogadores e técnico
merecessem ser punidos em praça pública. Foi feio? Claro! Mas perguntar dez
vezes como o cara se sente é quase como esperar que ele se enforque em frente
às câmeras.
Isso acontece quando as pessoas confundem as coisas.
Estou triste? Óbvio, adoro meu país, adoro futebol, torci orgulhosamente em
todos os jogos, porque não teria me entristecido? Vou mergulhar em depressão e
passar a dizer que nada neste país presta, que aqui é tudo assim, que ninguém
faz nada por nós, que meu país é uma vergonha? Claro que não! É um jogo. “O
Jogo”. Mas um jogo. Jogos têm algumas regras fundamentais. A primeira delas: de
dois times, um ganha e outro perde. Nós perdemos. Ganhamos quatro e empatamos um
jogo anteriormente, mas este, que nos permitiria disputar a taça de campeões
mundiais, nós perdemos.
Aqui na tv, continuam as tentativas de obter
respostas a fórceps dos jogadores, na esperança de que eles se humilhem ainda
mais, declarando-se incompetentes, péssimos jogadores, deixando a certeza de
que perderam porque nem faziam questão de ganhar. Haja massacre.
Não cabe aqui nenhuma defesa ao ocorrido. A seleção
não começou a jogar mal contra a Alemanha. A seleção está jogando mal desde que
a Copa começou. E antes. E pegou adversários mais fracos ou menos eficazes do
que ela, o que facilitou algumas coisas. Mas nem nos meus sonhos mais
perturbadores eu consigo imaginar qualquer um destes jogadores entrando naquele dia em campo dizendo: “- Ah, dane-se,
hoje se perder, perdeu.”
Aquilo que o Gerard twittou, sobre Portugal ter o
CR, Argentina ter o Messi, Brasil ter Neymar e Alemanha ter uma seleção, me
perdoem a pretensão, mas venho falando há um ano. Não porque entendo muito de
futebol. Mas porque entendo o mínimo. Falei (e tenho testemunhas) que Cristiano Ronaldo
provavelmente dava um trem para não participar da Copa porque passaria
vergonha, porque um homem só não faz milagres. Dito e feito.
Portanto, nada disto foi novidade para mim. Só
ficava rindo do povo nas entrevistas nos noticiários dizendo... três a zero, quatro a um, cinco a
um e tal. Falava para o maridão: “- Será que só nós dois temos juízo? Se ganhar
de um a zero é lucro, muito lucro.....”
E a entrevista na tela da tv continua. Um ser, cuja
mãe deve estar acostumada a diversos elogios, faz a David Luiz a pergunta de um
milhão de dólares: “ David, como você está se sentindo?” Sério, o que ele achou
que o cara iria responder? “- Bem, sabe, hoje fez sol, o dia foi legal, estou
super feliz, ah, e por acaso perdemos...”
Os caras da imprensa sabem ser cruéis. E adoram
tirar um choro ao vivo. É o circo da imprensa. Quanto mais lágrimas, mais audiência....
E assim, com o aval do nosso jornalismo, o brasileiro
vai descarregando seu ódio pelo país, misturando alhos com bugalhos e buscando
culpados que nem entraram em campo. Misturam os assuntos e já não falam mal
apenas do time, do técnico ou dos jogadores. Agora falam mal do gramado, dos
estádios, do governo, dos prefeitos, governadores, da presidente, como se,
enquanto o resultado fosse positivo, nada disto fizesse diferença.
Quando o mesmo sujeito que canta o hino à capela no que
o time só está vencendo é o mesmo que queima bandeiras e sai do estádio no meio
do jogo pode apostar, este não é um sujeito que ama seu país. Ele ama vencer,
ama estar ao lado de vencedores. Sob qualquer circunstância. E você, leitor, me
pergunta: “-Mas você não gosta de vencer?”
Ah, santa inocência... Claro que gosto de vencer. Sempre.
Mas gosto mais da razão. Gosto mais da coerência. Gosto da sinceridade e de
amar meu país, mesmo que ele não me traga o título de campeão do mundo no
futebol. Prefiro que ele seja campeão da simpatia, da educação, da saúde e da
forma como trata as crianças. Prefiro saber
que ensinamos nossas crianças que quando jogamos um jogo podemos ganhar
ou perder, mesmo que tenhamos feito o possível para ganhar. Hoje meu filho é
cobra criada, mas se tivesse filho pequeno ou neto, ou sobrinho por perto,
diria: “ – nosso time hoje jogou mal e perdeu. Faz parte do jogo, quem joga
melhor ganha ( quase sempre). Mas veja, nós chegamos até aqui. Disputaremos o
terceiro ou quarto lugar e tenho certeza que os jogadores fizeram o que foi
possível a eles fazer. Mas nosso país é lindo, recebeu pessoas do mundo inteiro
com educação e respeito e vai continuar lutando para futuramente ser o melhor
do mundo, também no futebol!”
É um discurso conformista? Pode ser. Mas o que de
melhor pode fazer aquele que sai apedrejando o país como um todo como se ele
merecesse ser escorraçado, como se pelo futebol julgássemos todas as suas
ações, como se fossemos pequeninos e tivéssemos a honra de um pires?
Prefiro acreditar que meu país é maior e melhor do
que isto. É um país em crescimento, que luta por uma educação digna, que tem
pessoas empenhadas em trazer mais do que um título de campeão de futebol para
casa. Todo dia quando escrevo, quando a professora dá sua aula, quando o médico
dá seu diagnóstico, o juiz dá seu veredito ou o quando a criança desenha um
mundo melhor no seu caderno o país cresce e amadurece. Não pelas vias da corrupção,
que combateremos até não haverem mais forças, não pela facilidade da troca de
favores, que preferimos ignorar ao honrar cada compromisso, não pela facilidade
de vencer apenas para ostentar um título, mas pelo verdadeiro significado da
vitória, não porque é moda vestir a camisa e cantar o hino, mas porque cada
palavra deste hino tem um verdadeiro
sentido para mim, porque o verde e o amarelo são as cores do meu orgulho, a
minha palavra de fé, verdadeiramente todas as coisas em que acredito.
Mas, que bobagem, afinal eu canto o hino em todos os
jogos que ele toca durante as competições estaduais, eu o canto orgulhosamente
quando ele dá o ar da graça no vôlei e quando o Cielo está no pódio. Canto,
quando um judoca ganha um novo título, quando um novo presidente sobe a rampa.
Eu sou uma romântica. E uma crente.
Eu creio na nova geração. Aquela que ajudei a criar.
Creio no amor que aqueles que eduquei terão pelo seu hino, sua bandeira, o nome
de seu país. Fico puta quando um repórter qualquer achincalha com o sagrado
nome Brasil, mesmo que hoje, vez ou outra ele nem mereça a honra da menção. E
vamos lutando, dia a dia, para que este nome mereça tal honra. Tanto quanto o
futebol.
Que fique a lição de uma renovação. Que se prove
necessário não avacalhar com o jogador em entrevista, porque isto não ganha
jogo, mas que venha um novo modo de ver o esporte, de se fazer valer a camisa
sagrada verde e amarela.
Que não seja prioridade arrancar aos trancos um mea
culpa do atleta, que faz não somente representar nosso país e por certo, sente
vergonha por não estar hoje à altura, mas que entende que o nome que se junta à
tradição das cinco estrelas tem seu peso e deve ser respeitado. Que ele saiba
que Brasil vai além de um nome entre tantos outros da América do Sul, quiçá da
América Latina.
Há de se fazer necessária a verdadeira faxina na
CBF, há de se fazer obrigatória sua desvinculação dos órgãos de comunicação,
sobretudo à Globo, que só falta escalar o time para o técnico. Há de se crer
que a audiência virá pelo mérito, não pela obrigação e que, os números serão
favoráveis àqueles que prestarem o melhor e mais fiel serviço. É por tudo isto
que eu luto.
As entrevistas na televisão estão por findar. Não há
mais o que dizer. Não há mais lágrimas que comovam, nem desculpas que
convençam. Nem a simpatia infantil de David Luiz, tampouco o arrependimento
pela falta de Thiago Silva. Saturaram-se os argumentos de Hulk, Paulinho ou Fernandinho. A imprensa transformou todos
os nossos possíveis heróis em carrascos de si mesmos, em cruéis vilões de uma
estória inacabada. Mas, infiéis por crença, não reconhecem sua culpa, junto aos
jogadores, técnicos e companhia.
A mesma imprensa que não se importa de malhar para
conquistar mais meio ponto. A tal, que meses atrás, condenou a possibilidade de
deixar de escalar Fred, que não fez senão nada em campo. Penso o que teria sido
do técnico sem escalar Fred. A chuva de impropérios de que teria sido vítima. Infeliz
daquele sob a tutela de duzentos milhões
de técnicos meia boca a opinar e decidir aquilo para o que não fora treinado.
Mas, agora pouco importa. Foi-se o título, foi-se o
hexa em 2014. Ficam as muitas lições da humildade ao verdadeiro conhecimento
tático e técnico, fica o desejo de que a seleção de 2018 seja o retrato de uma
pátria redimida e confiante de acertar
em seus jogadores e seus governantes e seu desejo de ser uma pais
honesto, tanto quanto exímio em futebol. Fica a sensação de que iremos chegar
lá, pois somos experientes em torcer a favor, mesmo quando temos um turbilhão
torcendo contra. Nossa marca é ir contra a correnteza, é ganhar quando ninguém mais
acredita, é sobreviver quando já não há oxigênio disponível. Nossa razão de
existir é provar que todos os outros estão errados.
Por isto eu sei que vamos chegar lá. Vai demorar
mais quatro anos, mas não importa, porque eu sei que vamos chegar lá. Com mais
dignidade do chegaríamos agora. Com a honra de quem não precisa de resultados
arranjados. Nós vamos chegar lá e comemorar com honestidade na frente destes repórteres
que hoje tentam arrancar de cada jogador seu mea culpa, sua vergonha por
existir, como se tivessem matado alguém, como se seu crime fosse inafiançável.
Já troquei de canal. Já não ouço mais os intrépidos
repórteres inquerirem cada jogador à beira das lágrimas, como se tivessem
matado uma criança, como se fossem os drones que Israel mandou ao território
palestino. Deixa para lá. Já estou ouvindo Chico ( Buarque ). Já me preocupam
mais as crianças vitimadas pelos ataques criminosos que vitimam tanto
palestinos quantos israelenses. Agora, sem artifícios nem desculpas, isto me
está doendo mais e mais que qualquer título, qualquer copa.....
Haverão outras copas. Haverão outros jogo. Outro
técnico, outra CBF. E, talvez, outro time....
E eu, haverei de rezar pelas crianças, pelos drones
que atingem o vazio, pelas bombas que ninguém fere, pela sensatez da paz.....
e, envergonhadamente, pedir para que nós vençamos no sábado para podermos ficar
com o terceiro lugar....... o que fazer, eu continuo torcendo por eles, pela pátria
que representam.... julguem-me se puderes.....
Ah.... Só para constar.... sábado estarei vestindo minha camisa da seleção e estarei torcendo pela vitória do Brasil sobre a Holanda.... nem preciso explicar o porque né?......
Ah.... Só para constar.... sábado estarei vestindo minha camisa da seleção e estarei torcendo pela vitória do Brasil sobre a Holanda.... nem preciso explicar o porque né?......
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