Estou aqui
me lembrando da minha época de escola primária e ginasial, em que
a gente fazia fila para cantar o Hino Nacional no pátio da escola,
deixando um braço de distância do companheiro da frente. Vou dizer
o que ninguém ousa dizer: como a maioria das coisas que fazíamos
por lá, nem sabíamos porque fazíamos. Fazíamos porque a
professora mandava, a diretora mandava, o bedel mandava, a mãe e o
pai mandava a gente obedecer, o amiguinho cutucava a gente e dizia
que tinha alguém olhando e nós iríamos parar na sala da diretora
senão fizéssemos e era isso.
Ninguém
nunca me ensinou que a gente tinha que cantar um hino porque tinha
orgulho ( no mais amplo sentido da palavra) do nosso país. Ninguém
nunca me ensinou o que era era orgulho do nosso país. Nas aulas de
Educação, Moral e Cívica, que no antigo ginásio viraram OSPB (
Organização Social Política Brasileira) a gente decorava tudo. Os
cargos dos 3 poderes, os nomes dos ministros, o que significava as
cores da bandeira, o hino do…. “cisne branco em noite de lua...”.
Mas, não se despertava o patriotismo pela admiração, mas pela
obrigação de decorar para não perder a nota e, na pior das
hipóteses, repetir de ano.
Crescer,
entrar para uma faculdade, amadurecer, envelhecer. Foi o tempo que me
ensinou porque se admira uma bandeira. Um hino. Um país. Sim, nossa
bandeira é muito bonita e nosso hino um dos mais bonitos que já
conheci. Mas, achá-lo lindo e ter orgulho de nosso país são coisas
diferentes, muito diferentes. Nosso país tem alguns dos lugares mais
maravilhosos do mundo, uma terra fértil, rios abundantes, um por do
sol de cair o queixo onde moro. Mas, não tem um povo do qual me
orgulho de olhos fechados. Muitas pessoas que habitam esta terra
merecem meu respeito. Pessoas que enfrentam adversidades, que se
superam mesmo diante do imponderável, pessoas que dedicam suas vidas
para melhorar a vida de outras pessoas, que botam a cara a tapa para
defender outras que nem conhecem. Mas, é pouco diante de um país
desta dimensão.
Empatia
é um vocábulo que deveria a ser estudado a fundo no currículo do
ensino fundamental. Não vejo fundamento ensinar a ter compaixão por
tartarugas marinhas ( sim, elas são importantes, não tenho NADA
contra a espécie, é só um exemplo, pelo amor de Deus!!!!!) e não
ter compaixão pelo próximo. Não vejo porque ensinar que os pandas
ou as araras azuis não podem ser extintos, mas não enfatizar que é
um crime crianças e adultos terem que catar suas refeições nas
latas de lixo mais próximas ( sem fazer sujeira, caso contrário nem
os lixeiros podem limpar o estrago).
Por
favor, se você pensou em meritocracia, pare de ler meu texto por
aqui. Você só vai perder seu tempo. Há méritos para quem os
merece? Claro! Meu filho é exemplo disto. Dedicação, trabalho,
esforço. Mas, para falar em uma linguagem popular, você sabe
quantos dedicados existem para cada Neymar? Para cada Marta? Pois é.
É muito pouco. Inúmeros vão ficando pelo caminho porque têm fome,
porque têm que sustentar família, porque ou trabalham ou estudam,
porque pegam leptospirose ou febre amarela por falta de saneamento
básico. Só para ficar nos exemplos mais comuns. E se você vai
começar a desfiar o rosário dizendo que o PT não fez isto ou
aquilo também pare de ler. Há quinhentos e tantos anos ninguém faz
nada pelo país. O PT não inaugurou a corrupção. Ele só
escancarou.
Para
além das dificuldades financeiras existe hoje um outro problema.
Como me orgulhar de um país que tem um povo que deseja a morte de um
presidente ( mesmo que ele não me represente – e não representa)
ou comemore a morte de uma criança de sete anos, porque ela é neta
de um sujeito que supostamente é responsável por todas as desgraças
do país? Como acreditar que nosso hino representa um país onde as
pessoas parecem odiar umas às outras, onde o que pessoas fazem na
cama passou a importar mais que o caráter, onde a cor determina a
índole antes do crime, onde o julgamento é fácil, porque é feito
à distância de um toque no teclado?
Pois
é, está difícil ter orgulho de cantar nosso hino! Não pela letra,
nem pela melodia, mas porque talvez este país não o mereça. Podem
mil ministros obrigar-nos a cantar todos os seus versos, estrofe por
estrofe, mas talvez, antes disto precisemos lavar a boca com sabão,
como dizia minha avó em sua sabedoria, antes de merecê-lo.
Precisamos voltar a ser humanos antes de postarmos que cantávamos o
hino na escola. Claro, todos cantávamos como disse antes, sem nem
saber porquê. Isto não é patriotismo. É decoreba. Pura e simples.
Há de se amar o país antes de se exaltá-lo. Há de se amar o
próximo antes de se amar o país. Há de se amar a si mesmo antes de
amar ao próximo. Há de se entender que sem a caridade, a compaixão,
a humanidade não há existência que valha a pena. Há de se
entender porque estamos aqui antes de tudo. Ou não fará a menor
diferença cantar o Hino Nacional ou a dança da garrafa ou a dança
da cordinha. Serão só palavras. Sem significado real. Sem
fundamento. Sem razão de ser. Apenas palavras repetidas por pessoas
que não sabem bem o que significam. Como há cinquenta anos
atrás………..
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