(Nossa última foto antes da sua viagem!)
No
carnaval de 1989, quando você tinha pouco mais de um mês, eu te
levei para a praia, quando a maioria das mães nesta situação ainda
mantinham seus bebês
enrolados em cueiros e fechados dentro de casa. Seus avós e tios
tinham vindo passar o feriado em casa e eu recebi 6 pessoas dentro do
nosso apartamento. Você passou de mão em mão, mamou no peito na
beira do mar, não teve muito
sossego e eu não me importei.
Eu nunca fui uma mãe convencional e apesar de te
amar incondicionalmente, nunca
fui adepta a poupar, mimar, enfeitar, controlar ou
cobrar demais (seu quarto é testemunha!). O
pediatra falou que você só poderia tomar leite de cabra. Eu
imaginei como seria triste sua vida sem bolos de chocolate e
desobedeci o médico. O ortopedista disse que você teria que usar
bota ortopédica e eu pensei em como seria passar o dia inteiro de
bota em verões de 37 graus. Você foi criado descalço ou no máximo
de chinelinho, pé na areia, pé na grama, pé no piso de casa.
Depois
você foi crescendo e a gente foi te ensinando tanto que o dinheiro
era difícil de ganhar que eu brincava dizendo que meu filho era o
cara que atravessava a piscina com um Sonrisal intacto na mão
fechada.. A
cada decisão o pavor de estar errando, mas sempre imaginando que na
vida a gente tem que ser como bambu: enverga às vezes até o chão,
mas não quebra.
Passaram-se
30 anos daquele carnaval até este, que você vai encarar sozinho em
Paragominas. Você passou por muita coisa e a vida até que foi
generosa. Você comeu inúmeros brigadeiros sem ter tido grandes
problemas até o organismo aceitar e você parar de ter refluxo e
adora usar chinelos até hoje. Tem uma saúde de ferro, uma
inteligência que eu admiro, excelente bom senso e uma determinação
inigualável. Ah, tem também uma graduação em Ciência da
Computação, uma Pós, um Mestrado, artigos, uma patente de softwere
sendo aprovada, um projeto para jogo educacional com uma outra grande
profissional em andamento, com financiamento federal, outro de livro
com mais 2 profissionais… sei lá mais o quê.. às vezes fica
difícil te acompanhar, ehehe…
Você
sempre amou aprender. E ensinar. A mim, ao seu pai, à sua avó. Eu
lembro quando você vinha do seu primeiro estágio e me contava como
era ensinar adultos a usarem o computador lá no Sindalimentação de
Vila Velha e como era interessante vê-los aprender. Depois foi dar
aulas em Nazaré e você continuava entusiasmado. Não que você não
tenha trabalhado em empresas na sua área e até foi feliz nelas, mas
foi quando passou para ser professor substituto no IFES de Santa
Teresa que vi seus olhos brilharem de verdade. Apesar de todas as
adversidades do local, morar num lugar pouco adequado, abrir mão de
tantas coisas, ficar longe da noiva, da família, do conforto, você
tornou-se querido e respeitado pelos professores e pelos alunos, que
mesmo sabendo que não havia a possibilidade de abrirem uma vaga
efetiva, usavam a hastag #FicaBruno e te fizeram uma despedida
emocionante.
E
quando você no IFES aprendeu e realizou tantas coisas, quando seu
contrato estava chegando ao fim, você já sabia o que queria: ser um
professor efetivo de um Instituto Federal. Como para você nada foi
fácil, mesmo trabalhando e sem tempo para se preparar, você encarou
como possibilidade concorrer a uma vaga no interior do Pará. Eram
409 candidatos para uma, depois duas vagas, nenhum tempo para
aprender com calma sobre legislação ou sobre matérias que você
não tinha familiaridade. Entre dar e corrigir provas de alunos você
passou a noite no aeroporto estudando para ir direto para fazer a sua
prova. Depois passou para a segunda fase e deu a melhor aula da sua
vida! Entre 409 candidatos, você ficou em segundo lugar! E, de novo,
vai para longe, agora sem as fugidas de final de semana para vir para
casa, sem ver sua noiva e seus pais, seus cães, a gata e os bons
amigos por algum tempo. Vai de novo sem saber ao certo onde vai
morar, como vai ser, mas vai feliz, com um enorme sorriso no rosto e
sua frase preferida na cabeça: “quero deixar um legado, fazer
mais, fazer a diferença!”.
Filho,
as coisas não vão ser fáceis por um tempo, mas, como eu disse e
repito, a gente é como bambu: enverga, mas não quebra. Tenho
certeza que nesta sua nova fase todas as adversidades serão
superadas como tudo o que você já superou em sua vida: com
determinação, trabalho, respeito e acima de tudo o amor que temos
por você e a certeza de que você pode contar conosco sempre, para
qualquer coisa.
Sobre
o que estou sentindo agora? Um orgulho que esgarça a pele e não
cabe dentro de mim. Como diz a vovó, quando começa a falar de você:
“abram as janelas porque vou falar do meu neto e o orgulho vai ter
que sair por algum lugar”, kkkk. Orgulho do homem e do profissional
que você se tornou, de saber que sua busca é além do emprego, é
pelo trabalho, pela vontade de deixar sua marca nesta vida para
ajudar, através do seu conhecimento, outras pessoas. Com certeza vou
sentir falta de nossas longas conversas com um copo de cerveja ou
suco na mão, que começavam com uma piada sobre Thanos ou Star Wars,
passavam por The Good Place, Nietzsche, Isaac Asimov, I.A, jogos de
computador e invariavelmente terminavam, já de madrugada, em
política ou em como o ser humano faz coisas inacreditáveis, para o
bem e para o mal. Mas, nunca tentamos falar de tudo isto pelo Skype,
quem sabe dá certo, de vez em quando para matar a saudade?
Vai
na fé, filho, seja feliz e faça o que você sabe como ninguém: ser
o melhor no que faz! Eu e teu pai estaremos sempre com você! Cheios
de orgulho! Cheios de amor! E ao seu lado! Boa sorte na nova
carreira! Te amo!
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