E então, chegou o penúltimo episódio da oitava temporada (
estou considerando o episódio duplo como sendo um só, já que aparentemente
estarão interligados e passarão no mesmo dia, um após o outro) e com ele uma
ótima explanação de uma personagem que vem sendo construída de forma sólida e
decente. Refiro-me claro, à Alex Blake, último elemento a entrar na equipe e
que, diferentemente da introdução de outros personagens novatos, vem tendo sua
estória consolidada com paciência e lucidez.
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Como de costume temos a estória do unsub alavancando a
estória paralela que irá trazer um pouco mais da vida pessoal de Alex, já que
ambos os casos falarão sobre relacionamentos e suas implicações.
Logo de início temos uma cena inusitada, em uma espécie de
ladrão que rouba ladrão que não dá certo, visto que ao tentarem roubar um
carro, dois delinquentes descobrem corpos no porta-malas do mesmo e fogem.
Logo em seguida, vemos Alex em casa, recebendo a visita surpresa
do marido que trabalha no Médico Sem Fronteiras. A forma com que ela o recebe evidencia
desde o início que, apesar da distância, há muito amor e afeto entre eles. No
entanto, não precisa ser profiler para saber que a visita inesperada parece ter
uma motivação específica e o fato do marido preferir outro momento para
conversar sobre o assunto, já deixa claro que esta deverá ser uma conversa
difícil ou no mínimo delicada. Como ela é chamada para um caso, a conversa
acaba ficando para depois.
Os agentes vão para Detroit para investigar casais que estão
sendo encontrados mortos dentro do porta-malas de seus carros. Os corpos
apresentam sinais de tortura, com um número muito grande cortes em cada um
deles. Através da autópsia, do perfil geográfico e de terem acesso aos carros
das vítimas, o caso vai tomando forma, nos levando a supor que o unsub deseja
destruir lares felizes, fazendo com que marido e mulher sejam obrigados a se
ferirem mutuamente até que ambos estejam mortos. Eis que então, em uma mudança
de conduta, mais um carro é encontrado, só que desta vez abrigando apenas o
corpo da esposa esfaqueada. Seu marido estava viajando a serviço quando ela foi
raptada e isso leva os agentes a questionarem-se do porquê da mudança de modus
operandi. Paralelamente, já vemos outra mulher sendo sequestrada em seu carro.
Neste ponto há uma mudança de foco no episódio com Blake
ligando da delegacia para seu marido que ficou em casa. Notadamente ela está
preocupada/curiosa com o que não foi dito a ela antes que saísse em viagem a
trabalho. Ela diz a ele que não há coisa pior do que não se comunicar com uma linguista,
mas aqui faço uma observação: não há coisa pior do que insinuar um assunto e
desviar dele para qualquer mulher. Não precisa ser profiler, linguista ou coisa
semelhante. Sugira que você tem algo para dizer, mas só irá dizer depois e você
nos enlouquece. Dito isso, obviamente que ele se vê obrigado diante da pressão
dela a admitir que havia recebido uma proposta para dar aulas em Harvard, cuja
condição de arranjar-lhe ali também uma colocação profissional em sua área fora
acatada. Não era exatamente o que ela esperava, tampouco o que deseja que
aconteça e a decepção da personagem aparece mais, nem tanto pelas palavras, mas
pela expressão de desapontamento desta grande atriz. Confusa e interrompida por
Hotch que a chama de volta ao trabalho, ela diz ao marido que irá pensar na
proposta, mas ele sabe que ela já tomou sua decisão. Com poucos minutos de um
texto bem elaborado já sabemos que o compromisso matrimonial incluía
previamente respeito mútuo pelas atividades profissionais de ambos, o que
justamente foi fundamental para que fizesse até então o casamento funcionar,
mesmo a distância. E que, inesperadamente, o seu marido aparentemente achou-se
no direito de escolher por ela seu futuro profissional, esperando que ela
também estivesse ansiosa por voltarem a viver juntos e trabalharem em horários
de trabalho padrão, abrindo mão daquilo pelo qual lutou para conquistar, um
espaço e reconhecimento no Departamento de Análise Comportamental do FBI.
Com o aparecimento de um novo corpo de mulher Hotch deduz
que a mudança de comportamento se deve ao fato do desconhecido já ter uma
vítima masculina para matar as mulheres raptadas e a equipe já pode traçar um
perfil, um homem ressentido de seu relacionamento, provavelmente traído por sua
companheira, o que gerou muita raiva e reforçou
seu comportamento sádico. Logo eles concluem que essa sexta vítima, o homem
raptado com o objetivo de substituir o unsub nos assassinatos das mulheres é a
chave para que eles desvendem o caso. Uma coisa que venho gostando muito nos
episódios desta temporada, em especial nos dez últimos episódios é que eles vêm
recuperando o hábito de desenvolver o perfil passo a passo, através de erros e
acertos. Houveram alguns episódios onde o perfil meio que caia do céu depois de
duas ou três informações básicas, mas felizmente eles tem corrigido este
problema com descrições mais complexas. Mérito de roteiristas que não tem se
deixado levar pela preguiça mental.
A partir daí, passamos a ter uma visão do local para onde
são levadas as vítimas. Vemos a moça raptada, mais a vítima número 6 ( um
homem), encarcerados em quartos com paredes de vidro, separados apenas por uma
porta. A concepção cenográfica do local é fabulosa, pois nos dá ao mesmo tempo uma
sensação claustrofóbica em contraponto à fragilidade das vítimas por não terem
como se esconder, uma vez que as paredes são cristalinas.
O episódio consegue equilibrar muito bem as tomadas em que ora
as vítimas interagem entre si (desde o ponto em que a moça é obrigada a
esfaquear o rapaz até depois cuidar para que o sangramento dele estanque), ora
os agentes empenham-se para descobrir como o desconhecido consegue burlar o
sistema de GPS dos carros. Neste ponto, Hotch mostra até onde vai toda a influência
do seu cargo e liga para o Procurador Geral, pedindo que o auxilie junto às
empresas automobilísticas para conseguir dados do GPS do carro da sexta vítima.
A cena na sala do Procurador, onde Reid enfrenta os empresários dando uma aula
de como desconcertar autoridades com classe e sabedoria é uma destas coisas
deliciosas em Criminal Minds. Similar ao
momento em que ele enfrenta o Senador em It Takes A Village (07x01), ele
confirma sua convicção de que age melhor sob pressão ( ele comenta uma vez isso
com o Hotch no episódio Damaged - 03x14).
Desta forma, eles chegam ao local ( uma espécie de campo de
ginástica e atividades físicas supervisionadas) onde julgam que as vítimas
estavam sendo observadas e seus carros adulterados e não demora, chegam ao nome
que, entre os homens desaparecidos, tem mais chances de ser o número seis. E é
ao entrevistar a mãe deste rapaz que tudo começa a fazer sentido. Em um jogo de
cenas vemos a mãe de Phillip Connor afirmar que seu filho mesmo antes de casar
já perseguia sua noiva e, depois esposa, desconfiado de que ela o traía, mesmo que
isto não fosse verdade e que ele é um rapaz doente, que gosta de chamar a
atenção para si e gosta de se cortar, ao mesmo tempo em que vemos a cena onde,
por sugestão do número 6, Emma tenta uma fuga e logo é capturada. É neste
momento que a maioria do público descobre que o mesmo homem que se faz de
vítima é o unsub que mata as mulheres.
Quando a equipe chega à conclusão do porquê na mudança de
comportamento do unsub e reajusta seu perfil, Garcia faz sua mágica, dando a
eles o possível local onde encontrá-lo. Sabendo de seu comportamento
obsessivo-compulsivo, Blake pede à JJ para que a mesma encontre a ex esposa
para simular uma troca que possibilite à Emma ser libertada com vida.
É extremamente interessante o paralelo que eles traçam entre relacionamentos, através das figuras de Blake e do unsub, mostrando a obsessão pelo medo da perda da figura amada sem qualquer motivo aparente em contraponto à segurança e confiança plena de um casal que vive há anos um relacionamento à distância.
É extremamente interessante o paralelo que eles traçam entre relacionamentos, através das figuras de Blake e do unsub, mostrando a obsessão pelo medo da perda da figura amada sem qualquer motivo aparente em contraponto à segurança e confiança plena de um casal que vive há anos um relacionamento à distância.
Ao final do episódio, voltamos à casa de Blake e lá, ela, em
uma decisão difícil, diz ao marido que ele irá sozinho para Harvard, que ela o
visitará sempre, mas que o trabalho neste momento é muito importante para ela.
E, como haveria de se esperar em um relacionamento sólido, onde a pessoa que
ama respeita as decisões de seu parceiro, ele aceita sua decisão e fica
implícito que isto não será motivo para abalar a relação.
Algumas coisas que eu gostaria de considerar sobre o
episódio:
- Desde o início da temporada, quando da introdução de
Jeanne Tripplehorn no elenco de Criminal Minds eu venho afirmando que a
personagem estava sendo construída aos poucos, com cautela, mas de forma muito
interessante, por uma interprete absolutamente genial. #6 consolida de vez a
personagem e a prepara para ser melhor explorada ainda na Season Finale, já que
ao que parece, ela será uma das vítimas do Replicador. Tenho um palpite de que
será a personagem dela a responsável por desencadear toda a ação em torno da
vingança do unsub contra nosso querido time ( semana que vem saberemos como
anda meu feeling).
- A cena entre Reid e Blake no carro onde ele a aconselha a
rever suas prioridades e não se esquecer que empregos existem muitos, pessoas
que nos fazem felizes não, deixa claro que ele ainda não se recuperou
totalmente do processo de luto da Meave. O que é natural, porque ninguém passa
por um episódio destes e se refaz de forma mágica. E, de quebra, mostra que o
amor o fez amadurecer. Cena de química brilhante entre dois artistas dando o
seu melhor.
- Ainda sobre a Jeanne, brilhante a sua interpretação em
todas as suas aparições no episódio, sem exageros e com muitas nuances, ela
explora todas as facetas da personagem. Muito bom quando ela pergunta para o
marido da vítima se ele não falava com frequência com a esposa desaparecida,
quando ela mesma foi pega na armadilha da falta de comunicação com seu marido.
- Devo admitir que saquei que o nº 6 era o unsub quando ele
pede para a Emma falar do seu marido, mas acho pouco provável que a maioria
tenha percebido isto. Ainda assim, achei a sacada muito boa. E aquela máscara
branca deu um efeito bem legal e diferente do lugar comum da máscara de esqui
preta.
- Legal eles explorarem outras coisas na série, como por
exemplo, Hotch ter cartucho para pedir ajuda ao Procurador Geral. Além do que a
cena com o Reid foi sensacional. Bem Reid.
- E certamente, termino de assistir o episódio com a
sensação de que sou mais paranoica do que eu pensava. Sempre que fecho o carro,
depois de acionar o alarme, checo a maçaneta da porta para ver se fechou mesmo
( tenho que admitir, às vezes, das 4 portas...). E a primeira coisa que faço ao
entrar no carro é olhar para o banco de trás, para o chão...ok, vou parar por
aqui para não continuar assinando atestado de desconfiada-mor.
- Finalmente, tenho que admitir que eles estão acertando a
mão na coisa de explorar os casos e as estórias paralelas dos personagens. Na
review de Alchemy eu disse que um dos grandes defeitos dos roteiros era não
conseguir trabalhar as duas estórias sem perder em qualidade para nenhuma das
duas e que lá eles tinham tido êxito nisto. Novamente, eles aqui conseguem
equilibrar a balança e explorar as duas estórias sem deixar a desejar em
nenhuma delas.
Ótimo episódio, com excelentes interpretações do elenco fixo
e de atores convidados e nível técnico de primeira. Agora é contar os dias para
estourar a pipoca e aproveitar de camarote o que de melhor a Season Finale
puder nos oferecer. E meu palpite é que será de arrasar!
Até a próxima!
Amei a review, concordo.
ResponderExcluirDiferente "daquela que não se deve nomear" a Blake é uma personagem interessante e apesar de eu ser uma das maiores fãs da Prentiss, a Blake é uma personagem fácil de aceitar.
Menção honrosa a cena com o Rossi, aquele cumprimento foi muito "super gêmeos ativar"!!!
Enfim, ansiosa pela SF.