Sei que estou me tornando cansativa, mas é inevitável
repetir a frase: episódio sensacional!
Talvez o grande pecado da série em seu início tenha sido não
explorar melhor os dramas vividos pelos seus agentes de forma mais pessoal,
coisas que no passado eram apenas levemente mencionadas, como o problema do Reid
com drogas, as dificuldades do Hotch em seu casamento, seu luto claramente mal
explorado após a perda da ex esposa como consequência de seu trabalho, entre
outras várias coisas. Por outro lado, sempre que tentavam explorar melhor um
assunto pessoal relacionado à alguém da equipe, o episódio saía perdendo em
conteúdo no que dizia respeito ao caso da semana, acabava faltando espaço para
informações, as coisas ficavam mal resolvidas ou resolvidas com muita rapidez (
isto, em minha opinião ficou evidente, por exemplo, no episódio Big Sea ( 6x23)
onde a resolução do caso disputou espaço com cenas do Morgan e sua tia que
buscava a filha desaparecida). São em média quarenta e cinco minutos para serem
distribuídos entre as duas coisas. E um dos
lados sempre saía perdendo algo, em detrimento do outro.
O roteiro preciso de Sharon Lee Watson e a direção brilhante
de Mattheu Gray Gluber parecem ter resolvido este problema. De forma cirúrgica eles
encaixam as duas situações, sem que qualquer delas fique mal explicada, usando uma
como pano de fundo para a outra.
Promo Oficial
O tema principal do episódio é a dor do luto ou, melhor
dizendo, o luto mal resolvido. Toda perda é dolorosa, mas a forma como lidamos
com ela é o que determina como seguiremos em frente.
Reid, em uma evidente busca por encher-se de trabalho para
compensar o fato de não saber como lidar com seus sentimentos, encontra
elementos suficientes para convencer a equipe de que há um novo serial killer
agindo e espalhando corpos em uma reserva indígena. Como não há tempo
suficiente para lidar com cenas que virão a seguir tratando do luto de Spencer,
de forma inteligente o roteiro opta por substituir as longas cenas em
necrotérios com legistas ou cenas de crime, por diálogos rápidos, cheios de
informação, onde fica muito claro o método para se traçar um perfil ( esta temporada voltou, depois de muito tempo
a valorizar isto, o desenrolar do raciocínio dos agentes havia dado espaço para
cenas que apenas mostravam o modus operandi dos unsubs ).
Não demora muito para a equipe notar a ansiedade e o
aparente descontrole de Reid e cabe ao Rossi confrontá-lo, como era de se
esperar, de forma muito paternal e ajudá-lo a lidar com o luto. É um embate de
dois atores dando o seu melhor em um texto inspirado, em uma cena comovente,
principalmente para pessoas que já perderam alguém próximo.
Paralelamente, o caso vai tomando forma e descobrimos que a
dor é também a motivação maior para uma assassina que, ao final do episódio,
descobrimos ser também, de certa forma, vítima de um sociopata, que claramente a manipulou e fez uso de sua dor para
dar vazão aos seus instintos assassinos. A forma como o caso ganha uma
reviravolta no final do episódio é muito interessante, pois embora para os mais
atentos os sinais estivessem todos lá ( a empregada curiosa, o funcionário
ignorando suas perguntas e aconselhando-a a ignorar tudo o que se passava no
Chalé, o olho espiando a mulher agindo, entre outras coisas), a motivação para
os crimes acaba tomando uma dimensão muito maior do que nós espectadores
podíamos imaginar.
Matthew faz uso de cores sóbrias, pouca iluminação e
decoração retrô nas cenas com a unsub no Chalé, bem como nas cenas com Reid
expressando seus sentimentos, em contraponto ao restante do episódio, o que
valoriza amplamente a trama. De todos os episódios que ele dirigiu este é o
mais sensível, e o primeiro que fala de seu próprio personagem, acho que deve
ter sido muito especial para ele. O diretor também gosta muito de tomadas
diferenciadas, ângulos que fujam do lugar comum e sai-se muito bem na tarefa (
a cena da porta na saída do Hotch da delegacia da reserva e a girada incrível
de câmera na cena do sonho são bons exemplos disto).
Cabe ao final, alguns comentários especiais:
- Gosto muito quando os roteiristas introduzem no episódio elementos que nos lembram que eles são humanos: a cena onde JJ, Morgan e Blake debatem sobre o perfil enquanto fazem um lanche, o Rossi flertando com a prostituta e fazendo piada disto com a JJ, Reid bebendo café no avião, além do toque humorístico da Garcia, contrariada por não poder concluir seu comentário para lá de quente sobre Morgan. São pequenas distrações que suavizam o tema sempre pesado da série.
- Matthew parece gostar de filmar cenas que beiram ao terror
ou ao sobrenatural e sabe valorizá-las como tal. Elas sempre aparecem em seus
episódios ( menos em Lauren, pois o assunto não lhe dava esta abertura) e isto
está virando uma espécie de assinatura em sua direção ( aqui ele usa o mesmo
tom onírico que usou em Heathridge Manor ( 7x19 ), explorando as alucinações e
sonhos ).
- A cena final de Alchemy é um primor. Além de muito bem filmada, resolve o assunto de forma
definitiva, deixando claro que Reid optou por seguir em frente. Além disto ela
oferece aos fãs aquilo que eles não puderam ver acontecer de verdade: uma cena
que selasse o amor de ambos, uma lembrança de um amor que existiu, mas não foi
consumado. E ainda tem a frase dita pela Maeve: "- Vamos dançar, antes que eu
seja um fantasma em suas memórias". Uma sensível e eficiente forma de dizer a ele: "-
Agora você já pode e deve seguir em frente!"
De forma geral, a oitava temporada tem tido excelentes
episódios, optando por mesclar o Replicador, casos com unsubs muito
interessantes e o desenrolar da vida pessoal dos agentes. Alchemy sem dúvida é
um conjunto primoroso de roteiro, direção, detalhes técnicos e interpretações
que vai entrar para a estória de Criminal Minds como um episódio inesquecível.
Esperando agora por um desfecho perfeito para uma ótima
temporada!
Até o próximo!
Enquanto eu assistia ao episódio, eu pensava nos comentários que ia tecer. Primeiro, parabéns pela review, muito boa como sempre! Eu achei o episódio arrepiante, lembra muito o 7x19 como você bem destacou.
ResponderExcluirA receita com hotéis antigos sempre dá certo!Foi o que pensei na hora somado ao aspecto antigo. Pereito! Só achei que a empregada curiosa iria se safar.
Uma das coisas que gosto é que Criminal Minds mesmo sendo uma série bastante racional no que tangencia suas análises, deixa algumas coisas em aberto. As visões com alucinógenos para algumas crenças poderia ser perfeitamente encaradas como reais.
Outro ponto quando ela diz que ele não conheceu dor, mas ele havia perdido o pai, achei que ele fosse contar isso, porém foi algo que não pesou muito...
Enfim, são esses meus comentários.
Cristina Mascarenhas