Criminal Minds 9x14 : “200”
Por Débora Gutierrez Ratto Clemente
Muita gente se questiona como uma série como Criminal Minds conseguiu chegar ao seu ducentésimo episódio, tendo passado por tantos percalços, saída de atores principais ou não, saída de roteiristas , troca de produtor, e, não bastasse tanta dificuldade, por capricho da CBS, a demissão de duas das três atrizes ( comenta-se que teria sido via twitter) na mesma época em que tentavam lançar um spin-off da série. Se isso ainda fosse pouco, o público usou pela primeira vez a internet para manifestar-se, produzindo várias petições on line que repercutiram de forma inesperada, derrubando a audiência do esperado spin off com o consagrado e oscarizado ator Forest Whitaker ( levando ao seu cancelamento) e, como última instância, trazendo de volta as atrizes demitidas. Para fechar com chave de ouro, uma delas resolveu ficar apenas os poucos episódios que o contrato lhe obrigava cumprir e abria-se nova vaga nesta série que se não parecesse brincadeira, já daria uma série apenas com seus bastidores.
E então o leitor meio
desavisado me pergunta: 200 episódios? E deu para ser bom?
E com um prazer
inenarrável eu te respondo leitor querido: FOI. Não é de hoje que eu acompanho
as mazelas deste fantástico seriado que aprendeu a duras penas a tirar leite de
pedra. Fosse este um episódio qualquer, de número 89, 145 ou 212, ele teria
sido ótimo, mas sem qualquer interferência externa. Mas era o episódio de
número “200”, por excelência e quase injustamente comparado de imediato ao
episódio “100” e todos aqueles que marcaram saídas de personagens queridos ou
finais de temporada. Eu fico imaginando que a internet seja uma espécie de “céu
e inferno dantescos” para quem produz ou escreve estes episódios. Depois que
fãs descobriram seu poder de “opinar” através dos mais diversos canais, não
deve bastar mais ser um ótimo roteirista. Há de se fazer aparecer o Anderson,
esquecido em episódios normais. E tem também a Gina, que os fãs querem ver de
volta. Há de ter ação ( característica esta não necessariamente condizente com
a série, cujo objetivo principal é o de esmiuçar as mentes doentias e antever
seus passos, antes que cometam outros crimes), muita ação, de preferência um
mocinho ou mocinha sofrendo. Ah, e não esqueçamos, há também aquele grupo que
desejaria enormemente que a atriz Paget Brewster fizesse uma participação
especial ( de preferência de meia hora ou algo assim). Devo estar esquecendo
diversas coisas, mas o básico foi dito.
Para aquele paciente
sujeito que ainda não desistiu de prosseguir com a leitura, vai aí o caminho
das pedras: agradar aos fãs nestes episódios tidos como especiais. No episódio
“200” não houve um caso elaborado, quase não houve perfil, houve ação mais do
que em dez episódios comuns, abriu-se um cofre de uma profiler na segunda
tentativa, apareceu o Anderson, a Gina e mais do que nunca, JJ apanhou, tomou
choques e foi afogada até trazer lágrimas aos olhos mais sensíveis.
Inteligentemente a equipe de roteiristas ( sim, o roteiro é do Rick mas eles
trabalham muito com brainstorm) resolveu usar o período em que a atriz por
motivos de força maior esteve fora para criar a estória mãe do episódio. Ouvi
muita gente reclamar sobre ela ter ido lidar com testemunhas do caso Bin Laden
e de imediato me lembrei de duas frases ditas quando da saída da personagem: “o
problema é que você é boa demais “ , “e nós perdemos, mas alguém vai sair
ganhando”
O episódio como um todo
foi uma espécie de homenagem ao fã assíduo e fiel. A começar por excluir a
vinheta da série e dar-lhes ares de película cinematográfica, não destacando
ninguém, tampouco fazendo pouco dos convidados ocasionais. Tratou com respeito
as participações de Paget Brewster, Jayne Atkinson e outros coadjuvantes.
Lembrou-se de mostrar Will, o filhote Henry, Anderson, Gina, e claro, Emily
Prentiss, que para agrado dos fãs que foram contra sua saída da série, a viram
bem vestida, tomando conta de um enorme setor da Interpol e ainda ter um jato à
sua disposição.
No que diz à construção
da estória, era de se supor que todas as dúvidas caíssem em cima do chefe Cruz,
com pouco tempo de casa, e candidato óbvio, mas, óbvio demais para assumir
todos os crimes. As cenas gravadas no Afeganistão ( não me lembro agora o nome
da cidade) foram bem cuidadas e lembram porque JJ era especial. Em um mundo
masculino, onde obter respostas a qualquer custo era a prioridade, Erin Strauss
teve a sensibilidade de trazer alguém que pudesse acrescentar alguma coisa que
não fosse à base da força. Houve quem reclamasse que Erin havia dito para JJ
que ela passaria mais tempo em casa. É óbvio que eles tiveram que adaptar esta
opção, fazendo-nos crer que Erin haveria explicado tudo a JJ após sua saída.
Dentro das alternativas e
possibilidades, achei muito legal eles terem mostrado o quanto JJ acompanhou o “sumiço”
temporário de Emily e da mesma forma, como Emily largou tudo para ajudá-la em
um momento igualmente difícil. Verdadeiras amizades não se medem em dias, meses
ou anos, se medem em minutos e foi isto que a estória nos mostrou.
Coerente dentro das
possibilidades, foi possível arrastar a
estória até os dias atuais, fazendo com que um agente dado como morto, quisesse
extrair de JJ e Cruz a senha para obter o nome de agentes trabalhando às
escondidas. Durante boa parte do episódio, a dúvida paira sobre Cruz, que para
os seriadores mais experientes, estava mais para um homem apaixonado por sua
subordinada do que para um traidor. Para a nossa equipe de plantão, restou
traçar o perfil de JJ durante sua ausência no Bureau e verificar a lealdade do
agente Mateo Cruz. Para aqueles calejados em séries, não era difícil descobrir de
Mateo Cruz era um bode expiatório ( o ator acabou de entrar para a série,
dificilmente seria o criminoso). Em uma solução rápida e eficiente, todos os
pontos obscuros ficam bastante evidentes para a nossa equipe e não há demora em
salvar nossa heroína e seu novo chefe.
Em uma análise bastante
crua, não há dificuldade em descobrir que neste episódio não há perfis
complexos, não há dúvidas, não há questionamentos. Porque é assim que se faz um
episódio especial para fãs. Dando a ação e as aparições que todos desejam,
mesmo que falte pouco tempo para um caso elaborado, um perfil interessante, um
caso típico de Criminal Minds. Mas não importa, é o que verdadeiramente se
espera de um episódio marcante como o “200”. Nem se leva em conta que após todo
o conflito e ação desenvolvidos, todos estejam ao fim do dia em um bar,
comemorado o triunfo e a vitória, mesmo que JJ tenha apanhado, sido afogada,
asfixiada e coisa e tal ( e ainda assim esteja linda de morrer). Ela está ao
lado do homem que ama, e afinal, Emily Prentiss só pode ficar mais seis horas
ao lado da antiga equipe, então, quem liga para o que passou? É mais provável
que as fãs escrevam fanfics sobre as seis horas restantes de Emily ao lado de
Aaron Hotchner.
O episódio “200” não
precisa necessariamente fazer muito sentido. Ele precisa deixar os fãs felizes.
Esta é sua missão. E parece que isto eles sabem fazer muito bem.
Particularmente, eu prefiro aqueles episódios sombrios, que tentam desvendar
uma mente doentia, que os fazem ter que andar à frente do assassino, mas eu
certamente não sou maioria. E não me importo com o fato de que os roteiristas tenham tentado brindar os
fãs com um episódio “200” que os agradasse.
Afinal eu tenho outros tantos, muitas dúzias de mentes doentias para me
deleitar, muitas mentes para entender.... ou não........
Criminal Minds é uma série procedural que mantém sua
longevidade pois explora o lado doentio do ser humano, além de ter uma química
fantástica desenvolvida pelos atores e atrizes que atuam a cada semana. Mesmo
que ninguém queira reconhecer, todo mundo de forma meio dissimulada, gosta de
apreciar o lado negro que move o ser humano, pois não é tão difícil
reconhecer-se nele.
Quanto à frase final, de Nietzsche,
fica fácil imaginar o quanto da ingenuidade de cada personagem vai-se embora toda vez que ele é mencionado.
Ele foi mencionado no inicio da série, depois com Hotch e agora com JJ. Acho
que aos poucos, todos vão perdendo sua “ingenuidade”.
Por fim, apenas para
constar adorei a evolução da JJ, as aulas que ela pede ao Morgan, a preocupação
em evoluir, não há ninguém que possa passar pelo que ela passou sem querer evoluir, sem querer aprender a proteger-se.
Roteiro bem amarrado, e uma ótima explicação da mudança de JJ nos últimos
meses. Para quem acompanhou todos os episódios, passa a fazer todo o sentido o
comportamento de JJ nesta última temporada.
Criminal
Minds continua a
fazer sucesso sem uma explicação lógica: seja pela química entre os
atores,
seja pelo fato de mostrar a verdade sem disfarces, seja por apontar o
lado
negro de cada um que nos rodeia, não importa o motivo. O certo é que
com certeza ela tem fôlego para uma vida útil longs, muito longa!
Que venha o próximo!
Que venha o próximo!
Excelente review, Débora, adoro ler seus textos. Um brinde a esse episódio, rs, e aos fãs que podem ter uma série como colega semanal durante quase 10 anos.
ResponderExcluirCaio, que saudades de vc. Como vc deve ter acompanhado, estou há quase um ano em uma cirurgia atrás da outra, então estive privada de escrever sobre qq coisa. Estou tentando voltar aos poucos. Que bom que vc gostou e melhor ainda termos uma série companheira por tanto tempo. Aos poucos, tenciono voltar à comu do orkut, que embora ultrapassada, é ainda bem organizada e une todo o nosso grupo perdido entre faces, whatsups, twitter e etc....E vc me deve um retorno sobre seu novo livro, não esqueci. Grande abraço!
ExcluirAmei sua review Débs. Fico ansiosa por cada uma delas.Semana que vem será um episódio dirigido pelo Thomas pela promo parece que vai ser ótimo.
ResponderExcluirAinda não estou com a corda toda, meu tempo de computador ainda está limitado ( embora eu não respeite muito tais regras), mas sinto enorme falta de escrever. Já postei o 9x15. Sinta-se à vontade p reproduzir, publicar ou sei lá o que vc quer fazer! Bjo enorme!!!!!
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