Por Débora Gutierrez Ratto Clemente
Tal foi meu entusiasmo no episódio “200” com toda a
ação, toda a movimentação, aquelas coisas que fãs adoram ver vez por outra, nada
disto eu posso negar. Mas o que eu gosto verdadeiramente de ver em um episódio
de Criminal Minds, destes comuns, que nada comemoram, é um bom caso de
psicopatia, é uma situação de total desorganização mental e seus resultados
práticos. E dá para ver neuropsicopatia maior do que satisfazer-se sexualmente observando
um corpo perdendo a vida? Pois é, não só eles nos dão conta de um caso assim, como
mencionam um caso real para que não fique dúvidas pelo caminho ( Karla Homelka
e Paul Bernardo, nos anos oitenta). Através do perfil inicial, eles chegam à
mulheres que morrem asfixiadas, mas sem violência sexual. Por ideia de Rossi,
eles passam a verificar outros casos semelhantes, em anos passados. Pelo fato de
Reid ter encontrado camisinhas no vaso sanitário de um motel, a equipe passa a
achar que o caso pode envolver um casal e não um único parceiro. Ótima a menção
de Reid à ausência de Morgan quando ele mais precisa de alguém que faça
atividades que necessitem de força bruta).
O que eu gosto em Criminal Minds é a dinâmica, o
fato de mais de um membro ter a mesma ideia e juntos desenvolverem uma tese. Rossi
e JJ, por diferentes motivos, enxergam a possibilidade de que os crimes estejam
sendo cometidos por casais. A ideia de que eles estejam frequentando terapia de
casais deveria ser positiva, mas o casal usa tais argumentos da forma que lhes
interessa. E assim, matar uma mulher para incrementar o relacionamento sexual
do casal passa a ser normal, na falta de palavra mais adequada. Seria
certamente uma dinâmica que poderia durar anos, caso a mulher não tivesse requisitado
para si o ato do domínio, a tarefa de provar-se ser capaz de atrair um
homem para uma relação tão doentia. É
interessante como a traição aparece na relação de forma deturpada. A esposa
leva para o casal um homem e seu marido o mata tal qual fosse uma fêmea. No
entanto, quando presa e Blake mostra à esposa os crimes que seu parceiro comete
sem sua participação, toda a dinâmica muda, a mulher sente-se traída, e não hesita
em, além de agredir sem parceiro, entregá-lo em troca de um acordo.
É fascinante a relação de controle e poder existente entre o casal,
a teoria de que o homem já exercia tal atividade antes de casar-se e de quebra,
encontrar uma mulher disposta a ser a esposa participante passiva de tal atividade do marido. Chama ainda atenção o fato do
casal não ter idade muito nova, já ser um casal maduro. Por mais interessante
que seja a dinâmica, fica a dúvida sobre
a necessidade feminina neste jogo de domínio e poder, muito mais eficaz
ao parceiro macho do que à esposa.
Quanto ao resto do episódio, a frase do ano (
perdoem-me, sou mulher) é do Morgan, que traduz oitenta por cento das
expectativas femininas mal resolvidas: “ Caras como nós não lidam bem com
coisas sutis. Para algumas coisas vocês precisam ser diretas!”. Eu diria que
bem interpretada, esta frase resolveria oitenta por cento dos problemas entre
namorados e namoradas, maridos e esposas, namoridos e por aí vai..... Vão por
mim, são vinte e cinco anos de casada. Homens em geral, têm a sensibilidade de
uma cenoura. Falem ou fiquem chorando a semana inteira. São poucos os homens
( felizes das namoradas/ esposas que
partilham de um relacionamento assim) que entendem as sublinhas.
O interessante do episódio, além de mostrar que JJ
passou duas semanas de licença, que Morgan e sua namorada não têm uma fórmula
mágica, tão pouco Penélope e seu novo namorado, é que eles mostram o quão doentia pode ser uma relação
amorosa. Em momento algum foi possível duvidar da paixão de Mrs. Anderson pelo
marido, mesmo diante de ato tão brutal, mas por outro lado, o quão sensível tal
ato se tornou quando ela sentiu-se excluída da relação ( a traição), tão ou
mais forte e ressentida do que a própria morte, o que pode parecer estranho,
mas que no jogo que o casal jogava, fazia todo o sentido. Às vezes, as relações
são tão doentias que deixam de fazer sentido para pessoas normais.
Paralelamente, não deixa de ser semelhante em menor escala, a decepção de
Garcia em relação a iniciativa de seu namorado em um dia como o dia dos Namorados,
e até a namorada de Morgan, por mais moderna que ela pareça ser.
Mais um episódio muito interessante, que questiona a
sanidade não de uma, mas de duas pessoas envolvidas em um relacionamento.
Trazendo um tema romântico, de teor suave e pueril, o lado assustador funciona
de forma catártica, nos fazendo lembrar do porque nos unimos a determinadas
pessoas e ao lado delas construímos uma vida inteira de paridades, singularidades ou distonias. Genial
a interpretação da atriz Mary Mara, cuja transformação ao saber ter sido traída,
simplesmente formidável.
Por fim, um destaque com méritos para a frase
inicial do episódio, creditado à Jennifer Smith: “ O casamento é um mosaico que
você constrói com seu cônjuge, com milhões de momentos que criam sua história
de amor!” Para lá de endossado por quem já está casada há mais de vinte e cinco
anos! Relacionamentos perfeitos e sem qualquer problema só existem em livros,
filmes ou relações unilaterais.
Mais um ótimo
episódio de grande qualidade de Criminal Minds!
Que venha o próximo!
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