Narrado de forma inusitada, temos Derek Morgan à frente de uma entrevista com uma testemunha que irá depor em julgamento contra seu raptor/estuprador e que se encontra internada em uma clínica psiquiátrica por conta ainda de sequelas do crime ao qual foi submetida. Dária, a vítima, teria sido a única a escapar do local do cativeiro e sobreviver para identificar o criminoso no tribunal. Sendo assim, todo o episódio, embora situado na atualidade, é contado em flashbacks (de um ano antes) pela sobrevivente, à medida em que vai respondendo às questões levantadas pelo agente.
Não seria exagero dizer que o grande trunfo de The Edge Of Winter atende pelo nome de Aasha Davis. A atriz assumiu a personagem em toda a sua extensão, destacando-se como uma vítima angustiada e, mais ao final, assumindo seu lado mais ingênuo, tanto quanto cruel. Soube transmitir a angústia da culpa, a derrota diante da perda da vida antes normal e a obediência cega ao homem que lhe impingiu tamanha violência. O desespero de Daria no hospital, além da excelente interpretação, foi fortemente reforçado pela maquiagem muito bem feita e pela compaixão demonstrada por Morgan, que embora seja o chutador oficial de portas da série, sempre se sai tão bem quando lhe requisitam a solidariedade e compreensão, vítimas de crimes muito violentos, que não se abrem com qualquer um, com os quais ele se identifica.
Outra surpresa interessante foi a opção de fazer Dária rejeitar o conforto de JJ no hospital. Embora ao final entendemos que a moça via-se refletida na figura da agente (e não a figura de Carrie, como os agentes deduzem inicialmente), fica uma sensação estranha com relação à cena, pois estamos acostumados a ver JJ assumir o lado humano, mãe, confortador do time. Mais uma bola dentro foi a menção ao TOC, doença hoje em dia bastante diagnosticada, o que abre mais uma porta para a suscetibilidade da personagem à submeter-se e deixar-se dominar por Joe. Muitas pessoas vivem hoje com o TOC sob controle, seja de medicação ou de terapia, mas nada se compara ao que a vítima passou no período em que ficou sob o domínio do criminoso, e, por isto, a exacerbação de sua doença ( isto é importante para identificar que, milhares de pessoas hoje convivem com este diagnóstico e isso não as tornam más pessoas ou passíveis de cometerem um crime ).
Gostei também de ver as menções iniciais de Reid sobre a mitologia do espantalho e a possibilidade levantada pelos agentes em se tratar de um crime de ódio, mediante a descoberta de vítimas negra e muçulmana. É bom quando eles vão levantando possibilidades que logo se provam erradas, pois se isso não acontece, fica, às vezes, parecendo que eles tiraram o perfil da lâmpada mágica. Comentários assim tornam o episódio mais crível, e a nós, telespectadores, mais crentes nas estórias apresentadas.
Enfim, mais um episódio excelente, abordando vítimas da síndrome de Estocolmo de uma forma interessante e inovadora. E finalmente os roteiristas lembraram-se de que profilers não apenas ajudam na caça aos criminosos, mas também durante o processo jurídico, ação esta que já havia sido abordada de forma semelhante em Tábula Rasa (3x19).
Destaque:
* Para o humor sarcástico de Rossi durante a explanação do caso, acerca de uma vítima ter sido encontrada em um campo, presa a um poste, simulando um espantalho: “Dorothy, não estamos mais no Kansas!” (o caso passa-se em Nova York) em uma referência clara ao espantalho do Mágico de Oz.
* Para a frase que define o tema do episódio, mencionada em seu início: “ Ninguém é vítima embora os dominadores façam você acreditar que o é. Do contrário, como dominariam?” – Bárbara Marciniak. Sei que eles se esmeram em encontrar sempre a frase mais adequada, muito próxima ao tema trabalhado, e sempre o fazem, mas esta coube perfeitamente no episódio!
Próximo episódio, direção de Matthew G Gluber, apertem os cintos, deverá ser um episódio daqueles, como sempre são os episódios dirigidos por ele!
Até a próxima!
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