Os produtores e roteiristas de Criminal Minds sempre
afirmam em entrevistas que seus roteiros recebem o aconselhamento técnico de
Jim Clemente, hoje, roteirista, mas também agente aposentado do FBI,
especializado em perfis ( há uma entrevista dele, muito interessante, aqui:
http://criminalmindsroundtable.blogspot.com.br/2014/03/criminal-minds-season-9-jim-clementes.html
), e que são sempre de certa forma baseados em casos reais. O que me leva a
sentir um medo imenso quando assisto determinados episódios. Rabid é um deles.
Não posso imaginar o efeito que causa em uma
criança, assistir seu irmão definhando e sofrendo, até que seus pais resolvam
cometer a contestada eutanásia, prática ( na maioria dos países considerada
crime) que defende que um ser humano possa tirar a vida de outro ser humano por
piedade, desde que este último esteja sofrendo em estado terminal. Junte-se a
isso uma personalidade com traços de sadismo e psicopatia e surge um assassino
cruel e desumano, que passa a tratar como entretenimento o sofrimento alheio.
Talvez tenha sido um dos casos mais asquerosos de
Criminal Minds nos últimos anos. O episódio se inicia com uma frase arrepiante
de alguém dizendo ao fundo: “Vou comer você vivo!”. Depois de receberem o caso,
que aponta para três vítimas, duas com marcas de mordidas humanas e fazerem
várias considerações, nossos agentes chegam à conclusão de que tratam-se de
mortes por contaminação de raiva, uma doença contagiosa, que leva o infectado a
ter espasmos, convulsões, alucinações, desidratação, e, em seu estágio final
uma concentração de saliva que leva o paciente a literalmente espumar pela
boca. O perfil vai sendo desenvolvido à medida que surgem informações sobre as
vítimas, suas autópsias, locais dos sequestros, entre outros dados. Eles também
especificam que apenas vítimas vacinadas até vinte e quatro horas da
contaminação conseguem ficar imunizadas. Blake faz uso dos seus conhecimentos
linguísticos para esclarecer que a palavra raiva vem do sânscrito e significa
excesso de violência.
O que torna o episódio genial é que eles não precisam
mostrar um corpo estraçalhado e cheio de sangue para nos aterrorizar. O terror
é meramente subjetivo e está na figura do unsub que filma e depois assiste suas
vítimas implorando por suas vidas e se deteriorando a cada momento. Pode haver
terror maior que este?
Com várias informações fornecidas por Garcia, eles
vão montando um quadro coerente com o comportamento do unsub e chegam ao seu
nome: David Wade Cunningham, irmão mais velho de Hunter, que, após ser
diagnosticado com raiva, foi levado para casa e teve seu sofrimento poupado pelo ato da
eutanásia, praticado pelos pais e assistido de perto por seu irmão.
Em paralelo assistimos a fuga de outra vítima, uma
mulher já em estado avançado da doença, e o pesadelo de acompanharmos ela
circulando dentro de uma cafeteria e depois por um parque cheio de crianças.
Neste sentido, este episódio foi muito mais valorizado pelas tomadas
inteligentes e pela fotografia claustrofóbica mesmo em ambiente aberto (
poderia ser um parque imenso, mas ele se torna minúsculo diante da
possibilidade de contaminação de diversas crianças que lá brincam ). Chega a
dar pena o estado em que Liz Foley se encontra e Morgan, na tentativa de
manter-se afastado da contaminação, atira em sua perna, apenas para
imobiliza-la até a chegada de uma ambulância.
Enquanto isso, continuamos compadecidos por outra
vítima, Russel Holmes, o estudante capturado no início do episódio, aquele que
inteligentemente foi catapultado em um primeiro momento, ao status de unsub,
quando segue a garota no ônibus.
Não foi um grande episódio em termos de perfil, os
procedimentos de busca foram totalmente comuns e não houve nada no roteiro que
nos surpreendesse. No entanto, a carta na manga concentrou-se em apavorar por
tabela quem assistia, privilegiando planos de destaque e closes, em uma
fotografia cheia de sombras e uma edição de som de arrepiar. Foi mais um
episódio visual do que de roteiro. As interpretações dos guests stars também
foram destaque, em especial a da atriz que faz Liz Foley. Outro detalhe pouco
lembrado, mas fundamental para o êxito do episódio foi a maquiagem das vítimas,
competente e dolorosamente realista, que impressiona no visual e cumpre seu
papel de nos incomodar.
Depois que Garcia localiza o possível local onde o
unsub estaria escondido com sua última vítima, o estudante Russel Homes, a
equipe divide-se em duas e eles partem em busca da captura de David Cunningham.
No mais provável dos clichês, Morgan e Reid caminham por corredores escuros,
iluminados apenas pelas luzes dos faroletes que
carregam acoplados às suas armas e, fotografia e iluminação reforçam o lugar comum de Morgan ser pego de surpresa
pelo ataque do unsub e ganhar umas bordoadas e uns choques até que Reid, mesmo
apanhando feio, consegue imobilizar o criminoso. Reid é o homem que consegue derrubar
o sádico, porque ele estaria praticando mais exercícios ( falarei a respeito em
seguida ).
Ao final, já no hospital, JJ, Morgan e Reid
presenciam a tragédia e o êxito do mesmo caso: a família de Liz Foley recebendo
de Rossi a notícia da morte eminente da esposa e mãe e Russel Holmes não
sabendo como agradecer aos agentes por ter tido sua vida salva por eles. Dois
lados da mesma moeda, frustração e satisfação vividos pelos agentes em seu dia
a dia.
Quanto às passagens do início e fim do episódio, em
mais uma tentativa de agradar os fãs, com momentos de nossos agentes fora do
trabalho, temos Garcia e Reid treinando corrida para um teste requisito para
continuarem em seus empregos. Eu sei que estas cenas fora do ambiente de
trabalho agradam, e muito, os fãs da série, que curtem os momentos divertidos, mas
às vezes elas acabam me irritando, por idiotizar os personagens. Os agentes
estão por baixo a nove anos no FBI, será que nunca tiveram que fazer o teste
antes e se tiveram, será que nunca se informaram para depois descobrir que
estes testes são mera formalidade? Sei lá, talvez eu esteja sendo chata, mas
acho que estas cenas não precisariam estar em todos os episódios, gostava mais
quando eram esporádicas, pois acabavam por serem mais naturais. Mas sei que
minha opinião não reflete a maioria.
De qualquer forma, foi um ótimo episódio, para
redimir o fraco “ The Persuasion” da semana anterior. E assim, já começamos a
entrar na reta final desta temporada. O que será que nos espera na Season
Finale? Alguém arrisca um palpite?
Até a próxima pessoal!!
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