Assim que o
episódio vinte e três começou eu percebi que não iria escrever uma review para
cada parte do episódio duplo da Season Finale da nona temporada de Criminal
Minds. Episódios duplos em Seasons Finales são em geral uma alternativa para
quem quer deixar o público em espera e comoção até a volta da série,
normalmente em setembro. Mas a produtora Erica Messer já havia dito que não
queria cliffangers dramáticos atazanando os fãs até o início da décima
temporada, então, estava muito claro que, por se complementarem, tais episódios
seriam melhor compreendidos se analisados de uma só vez.
Um caso igual a tantos outros. Esta foi a primeira impressão que a
descrição de assassinatos deixou nos primeiros minutos da primeira
parte, não sem motivos, denominado de Angels. Agentes meio bravos com a chamada
de última hora, estragando as horas livres de Alex Blake com seu marido vindo
da Inglaterra e de Jeniffer Jareau também com seu marido, mas cujos horários de
trabalho de ambos dificultam uma relação digamos, mais calorosa, já davam o tom
do episódio. Abnegação. Total. Para deixar claro o quanto é difícil manter um
relacionamento a dois que funcione para agentes desta divisão. Esta menção fará
todo o sentido ao final da segunda parte do episódio. O toque cômico fica a
encargo de Garcia, ora oferecendo-se para cuidar do filho de JJ, ora aborrecendo-se
com o fato de Cruz querer manusear o controle remoto de sua tela de
computador na hora da explanação do caso.
Por sinal é Matteo
Cruz quem aparece no Bureau para pedir a Hotch que investigue um caso de um
amigo seu, Peter Coleman, xerife do condado de Briscoe – Texas, há apenas um
ano no cargo, que está precisando de ajuda com casos de assassinatos de
prostitutas, e também de um rapaz. São os cortes feitos nas costas das vítimas
que chamam a atenção da equipe e os fazem pensar em mais um caso de
tortura.
Na primeira parte
do episódio, o caso mostra- se relativamente simples e chega a parecer
caminhar fácil demais. Casos de assassinatos em uma cidade pequena
parecem nada menos que uma espécie de limpeza social, onde um assassino sádico
pune com a morte aqueles que não são dignos de respirarem o mesmo ar que ele.
São os pequenos detalhes que chamam à atenção para o menos provável. O
entusiasmo da policial Vicky em ajudar os agentes, o legista que na verdade não
tem formação médica e assina relatórios sem nenhum tipo de qualificação,
baseando-se apenas no óbvio, a irmã da prostituta morta afirmando que a vítima
dizia que “eles estavam indo buscá-la” – insinuando a existência de mais de um
assassino, um bar que parece concentrar todo o tipo de informação da cidade por
debaixo dos panos. Junte-se a isto um religioso disposto em excesso a
contribuir com a investigação e temos o enredo da maioria das estórias
policiais.
Mas Criminal Minds
é mais que uma série superficial. Por isso não é surpresa quando outras possibilidades
começam a surgir, a partir da desconfiança de Rossi de que os cortes nos corpos
pareciam mais do que sadismo e de que o religioso possa ele mesmo ser o homem
que abusa das vítimas. Com a morte de mais uma prostituta, Thábita, amarrada a
uma árvore ao estilo True Detectives ( para quem viu a outra série também, dá
para perceber de onde a veio a clara inspiração), surgem outras questões,
como os cortes profundos em suas costas, formando uma espécie de desenho. Foi
muito interessante ver a equipe exemplificar casos de coletores de injustiças
como Hittler, que usava os judeus para justificar sua sede de matança. Ainda
que em proporção infinitamente menor, o assassino parecia ter para si a
mesma convicção, a de que pessoas não dignas de sua consideração deveriam ser
exterminadas ( em um paralelo muito interessante, podemos… ok, esqueçam, jurei
que não falaria de política nesta review, embora o caso nos leve a inúmeras
possibilidades de interpretação – políticas inclusive).
Mesmo no caso do
diretor da escola, que pede para não ter comentada sua preferência por práticas
masoquistas com mulheres e até homens para preservar sua família ( casado com
filhos) as comparações são divertidas e cruéis. Quantos nomes ilibados, tanto
quanto hipócritas não descobrimos ultimamente envolvidos em coisas
escusas? Aliás, ele me lembrou o diretor da escola do episódio 2×02 – P911, que
pede para não incriminado como pedófilo porque ele tinha esposa e filhos.
Afinal, esta é sua menor preocupação no momento. Pessoas mesquinhas que creem
que todo o mal que fazem vêm sempre em nome de um bem maior não são novidade.
Mas sempre nos causa espanto saber que pensam desta forma.
De qualquer maneira
no caso, tudo nos leva a uma interpretação religiosa ( a aplicação da lavanda
entre as pernas da última vítima, a posição de joelhos de Thabita na árvore, a
correlação dos cortes com aqueles feitos pelo religioso em outros crimes,
usando outro nome fora do Estado, além do mesmo marcar suas vítimas com cortes
que lembram algo como um código de barras), levando a suspeita imediata ao
Reverendo Mills. Suspeita que, para quem assiste CM há muito tempo, sabe que
não vai levar a nada. É cedo demais para, em um episódio de duas partes já
sabermos quem é o assassino, além do excesso de evidências contra o reverendo,
meio que forçando a barra.
O episódio vinte e
três termina com um tiroteio no bar entre policiais ( incluindo a policial
Vicky e o delegado Coleman), agentes do FBI ( Blake, JJ, Reid e Morgan) e o
padre picareta, que em uma tentativa de se proteger, depois de constatar que
caíra em uma armadilha, sai atirando para tudo quanto é lado. Ao final temos
Reid e Morgan atingidos por balas, o agente mais novo com mais gravidade, o
agente negro atingido no colete. Mas, ao gosto da audiência, fica a dúvida: um
dos agentes irá morrer?
Já no episódio
vinte e quatro – Demons (título para lá de apropriado) – Matteo Cruz ao saber
da morte de seu colega xerife Peter Coleman, desloca-se, junto de
Penélope Garcia para o Texas onde a sua equipe segue atrás de pistas. O
reverendo Mills é morto no tiroteio que também faz como vítimas Morgan e Reid.
Morgan tem pronta recuperação enquanto nosso menino Spencer segue para uma
cirurgia para reparar os estragos causados pela bala recebida.
Quero abrir um
parágrafo aqui. Lamento muito que Alex Blake esteja nos deixando. A humanidade
assumida pela personagem interpretada pela atriz Jeanne Tripplehorn durante as
cenas no hospital à espera de notícias de seu pupilo já dava a dica de quem era
a agente a deixar o grupo ao final da nona temporada. Todo o esgotamento
emocional causado pela possível perda de um amigo, associado mais tarde
aos comentários das lembranças de seu filho morto estiveram todo o tempo nos
olhos da atriz, em suas poucas rugas, no semblante minguado de luz e calor. São
poucos os atores/atrizes que falam sem palavras e Jeanne é uma delas ( em
Criminal Minds Thomas Gibson e Joe Mantegna também já tiveram oportunidade de
demonstrar tal qualidade). Sua emoção no hospital contagia apenas com olhares
vazios e um suspiro de alívio ao saber do resultado da cirurgia.
Comentários sobre
Blake à parte, a mágica da última parte da Season Finale acontece por conta de
uma reviravolta total na estória, dando ciência da utilização do padre como
bode expiatório e uma sensação de total desconfiança de nossa equipe sobre os
policiais que dirigem a delegacia de Briscoe. Quando Hotch solicita que a
equipe se reúna do lado de fora da delegacia, instaura-se um clima de suspeita
geral, visto que a única pessoa de lá em que eles podiam confiar está morta ( o
delegado Coleman, amigo de Cruz). A cena dá a dimensão exata de que não importa
quão importante ou superior você seja, quando é o seu na reta todo
cuidado é pouco e com o cerco se fechando, as coisas só pioram. Está certo que
o roteiro abre mão do mais manjado clichê do planeta, usando-se do filho de
Dináh para forçá-la a colaborar com o esquema de corrupção e ignorar o fato de
que ela conhecia tudo sobre a morte do último delegado antes de Coleman, também
assassinado. Não há argumento mais convincente para tornar uma mulher cega,
surda e muda do que ameaçar a vida de um filho seu.
Um algo a mais foi
Reid presenciar, ainda que semiconsciente, a presença de Owen no local do
tiroteio. Torná-lo vítima mais de uma vez trouxe ação e até um momento
inusitado: a necessidade de Garcia viver seu momento “mundo real” tendo que,
primeiro acionar o alarme de incêndio ao conduzir o Spencer em uma cadeira de
rodas pelos corredores do hospital e, por final, ter de fazer uso de uma arma
para proteger um membro de sua tão amada família. É provável que esta cena
jamais acontecesse em um episódio regular de Criminal Minds. As consequências
do ato de Garcia abrem uma porta que não sei se roteiristas estariam dispostos
a explorar, a forma como Penélope irá lidar com o fato de ter saído de sua zona
de conforto onde quase tirar uma vida para salvar outra. Ela não é uma agente,
é uma técnica em computação, posto que se espera que isto implique em uma série
de sentimentos, desconfortos e questionamentos. Mas, é final de
temporada, quase todo o contingente responsável pela audiência espera coisas
assim, diferentes, pouco comuns, impacto e ação quase nunca tão importante em
um episódio de meio de temporada. Muito boa a cena onde JJ tenta tirar Dináh da
delegacia e quando o policial de plantão a impede, Hotch intercede, sendo o
Aaron Hotchner que nós todos conhecemos, minimalista, mas eficaz.
O perfil envia JJ e
Hotch ( e posteriormente Morgan) ao ferro velho onde Owen ( o policial
corrupto) fazia suas negociatas e lá travam um tiroteio onde a edição brilha a
olhos vistos. Tiros para todos os lados, uma longa cena de perseguição, saltos
e confrontos balísticos para tirar a respiração de todos os telespectadores que
antes foram avisados de que um membro do time sairia e ainda não sacou quem
seria. Para lá do fato de JJ salvar a pele de Morgan com um tiro certeiro e
Hotch atirar por baixo do veículo ( tomada pouquíssimo utilizada em CM),
acontece também um embate corporal entre Hotch e Owen que nos remete à cena
onde nosso herói dá cabo de Foyet na base do soco e torna-se inevitável
saborear a sensação de dejà-vu. Cabe ressaltar que desde o início da cena não
temos qualquer tipo de som, senão aqueles inerentes aos movimentos executados.
Não há trilha sonora ou qualquer fundo musical, apenas respirações,
tiros, ruídos gerados pelas lutas corporais e a tomada contra
plongée que aparece enfim para decretar que o bem sobreviveu ao mau (
cena onde Hotch observa o inimigo morto de baixo para cima) – seria injusto não
mencionar a também bem feita edição das cenas de tiroteio no bar, com direito a
câmera lenta e tudo).
Entre tiros, socos
e arrependimentos, tivemos o papo de Blake e Rossi sobre o sacrifício da vida
pessoal em detrimento do emprego que eles têm – Rossi contando como seu
casamento com Carolyn acabou em função de sempre privilegiar o trabalho ao
invés da mulher que amava e lembrando este dia como um dos piores de sua vida (
lembram-se que eu disse que a cena no início do episódio voltaria a reverberar
mais tarde?) leva Alex a pensar na grande balança da vida ( e provavelmente
chegar à conclusão de que merecia mais uma chance ao lado de seu esposo ao
invés de repetir o comportamento de Rossi). O lance da abnegação x o
comportamento corrupto e desonroso dos policiais de Briscoe dão o tom do fim de
temporada e acentuam ainda mais o jeito heroico do nosso time de agentes. Sem
contar que reforça a tendência de que tal função desgaste emocionalmente seus
profissionais, deixando sequelas em suas vidas no âmbito emocional. O SMS que
Blake manda a Hotch dentro do avião – sem palavras, apenas gestos que dizem
absolutamente tudo, resume o que deveria ser um longo discurso sobre sua
decisão de partir. Uma economia de texto condizente com a decisão de fazer
partir discretamente Alex Blake. Contar com um ótimo elenco é muito bom
nestas horas. Apenas um gesto e fica subentendido que já deu para Blake.
Quando ela conta a
Reid sobre seu filho, há mais informação do que em toda a sua aparição em
Criminal Minds. Dá para imaginar o quão desesperador é perder um filho? Some-se
a isso o fato de uma mulher que vive de dar nome às coisas ( sua formação em
linguística) não conseguir encontrar um nome para o que tirou a vida de seu
menino. Mas está na hora de seguir em frente. De ter uma vida ao lado de seu
marido, uma vida de verdade, deixando para trás a perda de seu filho.
Não creio que sua personagem volte a aparecer em Criminal Minds e rogo
para que tal decisão não tenha sido tomada apenas para
abrir caminho para a volta da personagem de Emily Prentiss à equipe (
a atriz Paget Brewster continua desempregada e todos na produção sabem que o
retorno dela à série deixaria muito feliz um enorme contingente de fãs). Sempre
gostei muito de Alex Blake, mas personagens vão e vem, assim como
na vida tomamos decisões que nos fazer ir ou ficar e Jeanne deu uma
contribuição inestimável para a série, conferindo integridade à agente, acima
de tudo. Alex sempre teve um relacionamento especial com Spencer Reid,
fosse pela sua especialização em linguística, fosse pelo acesso pessoal. E foi
através dele que se despediu da série. Deixando seu distintivo para ele, como
uma lembrança de sua passagem pela sua vida, uma passagem que Reid jamais
esquecerá.
Ótimo final de
temporada. Que venha a próxima! Com os mesmos índices da temporada passada,
cheios de invencionices e criatividade e sem medo de mudanças. Pois mudanças
fazem parte da vida e, como na vida real, nem sempre temos domínio sob o que
está por vir!
Comentários em off:
· *
Muito boa lembrança ao mencionarem as lesões adquiridas no episódio 200,
entre as conversas de JJ e Cruz;
· *
Ótima a cena em que Morgan finge estar flertando com a moça no bar, para
não chamar a atenção de mais ninguém no local;
· *
Muito legal mostrar o complexo de patinho feio de Samantha, não apenas
pelos comentários, mas também no adesivo da geladeira que mostra quem é o cisne
no lago;
· *
Interessante Blake chamar Reid de Ethan ( o filho que ela perdeu), bom
jeito de introduzir o tema ao episódio;
· *
Sensacional Garcia e seus bonecos de Dr. Who para alegrar Reid ao
acordar ( nada mais nerd…);
· * Menção honrosa 1 para a última participação de Jeanne na série.
Interpretação contida como o próprio personagem foi, mas cheio de emoção e
significados subentendidos – vai fazer falta;
· *
Menção honrosa 2 para a direção, dos dois episódios, dando ares de longa
metragem à Season Finale.
Nos veremos em
Setembro! Até lá!
Adoreiiiiiiiiiiiii teu review, showwwww!! Foi isto mesmo!!!!
ResponderExcluirDestacaria ainda a excelente cena inicial do último episódio, com o som dos tiros e a câmera rodando entre o tiroteio, foi tenso e lindo.
Ahhh Garcia, ela atirou, ficou falando sozinha e quando Reid agradece é que ela se dá conta. kkkk (e o bom, é que ela não matou o cara, só feriu, pq é Garcia né). Demaissss!!!
Valeu Déb, ótima análise, parabéns!!!
Como assim desconhecido?!?!? Maldito google...
ExcluirAss. Mara Cecilio!!! :D
Minha linda Mara " Unknow" Cecílio, obrigada por deixar um comentário. Fico feliz por saber que tiveste a mesma percepção que eu tive. A review ficou muito longa, mas foram dois episódios, então, já viu né? Vc viu a matéria que postei no face, falando da surpresa que a audiência alta causou? Se quiser, me avisa, mando o link. E continuo esperando um tal cartão postal.....kkkkk correios era a única instituição que eu ainda levava fé... Bjo no coração!
ResponderExcluirACABO DE VER ESTE EPISÓDIO FINAL DUPLO NA gLOBO SEMANA PASSADA. sEU REVIEW É MUITO BOM. bATE COM MUITO DO QUE VI\PERCEBI, COMO A CENA DA DELEGACIA E DA INTERVENÇÃO INIMALISTA DE hOTCH COM jj E O POLICIAL CORRUPTO.
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