Marcel
Proust
- Puxa, foi uma coisa tão emocionante, JJ certamente
não esperava por tudo aquilo, foi uma cerimônia linda de se assistir, imagine
para ela, que foi pega de surpresa! E a casa de David Rossi, nossa, que coisa
mais incrível, aquele jardim, as flores.... Tudo estava tão lindo.....
Ele não conseguia acompanhar nada do que Beth estava
dizendo. Ainda sentia o perfume dela, se lembrava do sorriso dela, ouvia o
silêncio dela. Segurava o volante com as mesmas mãos que enlaçaram seu corpo
horas antes. O corpo quente, macio. E fechava a mão em torno do volante roliço,
como se conseguisse manter na memoria a maciez daquela mão. Até então, Emily
Prentiss sempre fora um desejo inatingível, uma compulsão não permitida, que existia
apenas entre todas aquelas outras coisas que desejava ter tido, ter sido, e não
tivera, tampouco fora.
Para seu infortúnio ou sua sorte, Jack demonstrara
sinais de cansaço logo após dançarem e foi a deixa para, em seguida, irem
embora. Seu filho adormecera em um sofá da sala de David e foi Penélope, saindo
do toalete que avisou o pai que o filho pegara no sono. David chegou a oferecer
para que o menino ficasse melhor acomodado em um quarto, mas para ele, a melhor
das alternativas era encerrar por ali uma noite que tivera momentos para lá de
perfeitos. E, na certeza de que não poderia prolongar a perfeição, era melhor
apenas não alimentá-la.
- Aaron.... O farol abriu.... - Ela elevou a voz - Aaron, o farol!
Ele engatou a marcha e atravessou o cruzamento. O
pensamento distante. O perfume de Emily...
- Está tudo bem?
- Está, sou estou cansado, foi um final de semana e
tanto.
- Jack está dormindo pesado. Acho que você vai
escapar de dormir debaixo da mesa da sala esta noite... – Ela riu sua risada
mais gostosa e de forma ainda meio divertida perguntou: - Por que está virando aqui? Não vamos para
sua casa?
Ele havia esquecido. Sequer passara pela sua cabeça.
O carro dela estava em sua casa. Quando Jack pediu para que ela passasse a
noite com eles, sentiu certo alívio. Era muito ruim em sua idade ter encontros
furtivos, esperar o filho dormir para ter sexo, fazer sua namorada sair antes do
seu menino acordar. Beth tinha sido definitivamente uma coisa boa em sua vida.
Ela era uma companhia divertida, brincalhona, tinha paciência com seu filho e
ele havia finalmente descoberto que não precisava ser infeliz a vida toda. Ele,
apesar de encher-se de culpa, sentia-se bem ao lado dela. Tomara muito cuidado
para não precipitar as coisas com Jack, depois de tudo o que o menino sofrera
com a perda da mãe, mas não dava para empurrar seu filho para sua cunhada toda
vez que queria dormir com sua namorada. Afinal, ele não estava perdidamente
apaixonado, mas era bom levar uma vida mais ou menos normal de vez em quando,
ter algo para lhe distrair dos tão escuros momentos de sua vida, mesmo que Beth
nunca fosse ser Emily...
- Claro, você tem razão, havia esquecido...Me
desculpe....
- Hotchner, tudo isto é só cansaço? Ou há algum
outro problema?
Ele ainda estranhava ser chamado assim. Ela nunca
usava seu primeiro nome. Sequer usava a habitual abreviatura de seu sobrenome.
Sempre Hotchner. Tão diferente do tão costumeiro Aaron que passara anos ouvindo
Haley dizer... No começo ele achou engraçado. Depois, deixou de se importar.
- Claro, por que a pergunta?
- Não sei bem, você saiu diferente da festa, há
alguma coisa lhe incomodando?
Ele poderia passar horas explicando a ela que o
incomodava ter desperdiçado sua vida, que fizera tantas escolhas erradas que
não sabia bem por onde começar para consertar, que sua consciência doía toda a
vez que fazia amor com ela pensando em outra
mulher, que se achava um sujeito aproveitador, usando-a para satisfazer seus anseios,
desejando alguém que não ela, tão boa criatura, que não merecia tamanha desonestidade.
Deveria ser honrado e dizer sinceramente o quão maravilhoso era ter alguém que
lhe fizesse tão bem, mas que, em seu íntimo, não era ela a mulher que amava.
Canalha. Era como ele se sentia. Um covarde. Um homem de sua idade vivendo uma
vida de faz de conta, temendo em suas noites ao lado dela chamar pelo nome
errado, no auge do prazer gritar por um nome que não fosse o da mulher que
partilhava sua cama.... Sentiu a mão pequena e quente tocar sua coxa, e quase
envergonhou-se por gostar de sentir o calor que subia pela virilha. Ela não era
Emily, nunca seria, mas esta escolha ele tinha feito há algum tempo, era tarde
demais para lamentar-se. Ele percebeu a mão subindo e descendo sobre o tecido de
gabardine escura em sua perna e seu corpo reagiu, sem qualquer pudor ou
honestidade.
- Não, não há nada me incomodando.... Só.... Como eu
disse, foi um longo final de semana... E, você tem razão, a cerimônia foi
linda...
Ele trocou a marcha e aproveitou para colocar sua
mão direita por sobre a mão de Beth em sua perna. Apesar da reação natural de
seu corpo, ele não conseguia deixar de pensar naqueles poucos minutos dançando
com Emily.
- Beth...
- Você quer que eu pare?
- Vamos chegar em casa, sim?
Conformada, ela subiu vagarosamente a mão,
permitindo-se brincar com cada centímetro de tecido encontrado pelo caminho até
o braço, até alcançar sua nuca e perder seus dedos nos cabelos curtos dele,
acariciando-o sutilmente, até pousar sua mão em seu ombro direito.
- David Rossi está dormindo com sua chefe?
- Como?
- David Rossi... Erin Strauss, é o nome dela, não é?
Eles tem um caso?
- Como vou saber Beth? Não pergunto ao David com
quem ele dorme... Por que você acha isto?
- O jeito como eles se olham... Uma mulher sabe...
Tenho certeza que eles têm algo...
Ele sentiu-se intimidado pelo comentário. Ela
saberia como ele olhava para Emily Prentiss? Ela teria percebido alguma coisa? Ele
só queria chegar logo em casa. Era tudo o que queria.
- Como assim, uma mulher sabe? Só por que dançaram
juntos...
- Não, da forma como dançaram juntos...
- Você dançou com vários dos meus colegas esta noite
e nem por isto eu vou achar que você está interessada em algum deles....
- Hotchner, você pode ser ótimo profiler para pegar
bandidos, mas em termos de romance, você não entende nada.... ou faz que não
entende....
Quando estacionou na vaga de garagem de seu
edifício, não deixou tempo livre para mais comentários. Ela estava tentando
dizer alguma coisa ou era sua consciência? Antes que ela pudesse desatar o
cinto de segurança, ele já abrira a porta de trás do carro e tomara o corpo exausto de seu filho em seu
colo, cuidadosa e silenciosamente. Ela buscou em seu bolso a chave da porta e a
abriu sem muito alarde. Ele ouviu-a perguntar baixinho se precisava de ajuda e
balançou a cabeça negativamente. Foi direto para o quarto de Jack e na penumbra
puxou a colcha que cobria a pequena cama. Seu filho, dormindo pesado, nem
percebeu o pai a trocar-lhe as vestes de festa por um confortável pijama e lhe
acomodar de forma aconchegante entre as cobertas forradas de estampas do
Superman. Hotch ficou uns minutos a olhar para seu menino e em um instante foi
inundado por inúmeras lembranças. Haley, as aulas de teatro, o seu casamento,
seu menino sentindo falta de sua mãe, as
brincadeiras de Jack com Beth no
parque....
- Acha que ele vai dormir direto? - A voz vinha da porta, por trás dele, era baixa e
curiosa.
- Acho que sim, ele está cansado, é tarde e ele
brincou muito. – Hotch pousou carinhosamente um beijo na testa de Jack e
afastou-se silenciosamente. - Venha, vamos nos deitar.
Já em seu quarto, Hotch sentou-se à beira da cama e
pôs a cabeça entre as mãos. Estava cansado, confuso, frustrado. Ainda podia
sentir o perfume dela no ar. A pequena mão parecia ainda estar entre seus
dedos. Um encontro. Ela havia pedido um encontro. Que diabos ele achava que
poderia acontecer? Um encontro. Ele
precisava pensar sobre isto. Precisava preparar-se para ouvi-la e ajudá-la no
que fosse preciso, sem deixar transparecer seus sentimentos, sem fazer papel de
bobo.
- Você não vai mudar de roupa para deitar-se?
Ele deu-se
conta de que ela saíra do banheiro vestindo uma camiseta branca e uma calcinha
minúscula.
Beth ajoelhou-se atrás dele sobre a cama. Os braços dela
o envolviam e se espalhavam por toda a parte. Lábios quentes percorriam seu
pescoço e a língua brincava com o lóbulo de sua orelha. Ele levantou-se
enquanto ainda tinha domínio de seu corpo.
- Volto já!
- Eu não vou a lugar algum...
Ele ergueu-se lentamente guiando-se apenas pela
claridade vinda da janela, apanhou um par de roupas limpas na primeira gaveta
da cômoda e seguiu para o banheiro. Fechou a porta e encostou-se nela.
Vislumbrou seu rosto no espelho instalado na parede oposta e teve vergonha em
mirar-se nele. Seu corpo precisava de sexo. Mas não era com Beth que ele iria
fazer amor nesta noite. Em quase nenhuma noite era, mas hoje seria diferente.
Indecentemente diferente. Ele daria tudo para ao abrir seus olhos ver Emily sob
seu corpo faminto. Ele precisava fazer apenas tudo como sempre fazia, apenas
não podia dizer o nome errado... Era tudo tão.... como sempre....
Deus, aquilo precisava ter um fim. Ele não tinha a
menor ideia sobre o que Emily queria falar com ele no dia seguinte. Mas uma
ideia se formava sobre o que ele queria falar com ela. Ele precisava pensar
sobre tudo aquilo. Mas, certamente, aquele não era o melhor momento para isto.
Após terminar tudo o que fora fazer no banheiro,
voltou para a cama e enfiou-se embaixo dos lençóis. Não demorou para que as
mãos ávidas de Beth explorassem seu corpo como se fossem propriedade de
direito. Ele virou-se e a abraçou carinhosamente, mas cheio de fome. Seus
lábios estavam por toda a parte, e não demorou para que seu corpo reagisse como
o esperado. Quando ele a penetrou, podia jurar que tentou manter-se honesto,
mas sabia, bem lá no fundo, no pouco de razão que lhe sobrava, que estava
fazendo amor com a mulher com quem partilhara um silêncio eterno naquela noite.
Mais do que todas as noites, por tantos anos em sua vida, aquela noite, era
Emily chamando por seu nome, não importava o quanto a razão lhe negasse a
verdade.
Ambos alcançaram o prazer que buscavam. Ele só
conseguia pensar no quanto estava sendo egoísta.
Ela só conseguia pensar por quanto tempo mais ela
teria paciência. Afinal, ela nunca seria Emily....
**************************
Emily foi uma das últimas pessoas a sair da casa de
David Rossi, como se quisesse aproveitar todos aqueles momentos o máximo que
fosse possível. Graças a Deus tinha amigos incrivelmente divertidos. Dançar
várias vezes com Reid, Kevin, Morgan e até com Rossi aplacou um pouco a dor de
ver com seus próprios olhos aquilo que se recusava a crer. O homem que amara
desde sempre estava formando uma nova família, estava feliz, e não era ela,
novamente, a responsável por isto. Se por um lado ficava feliz por vê-lo bem disposto
e mais amigável, por outro doía demais e ela estava cansada de sentir dor. Tudo
o que passou com Doyle, ter suas feridas e seu passado expostos e escancarados,
o exílio, o luto dos amigos, as explicações em sua volta, tudo aquilo sugara
dela o que ela sempre tivera de melhor: sua capacidade de sobreviver a tudo, de
superar, cedo aprendida pela necessidade de se adaptar a uma vida quase cigana,
sem raízes profundas, à mercê do desejo de seus pais.
Não tinha mais vinte anos, não bastava mais um corte
de cabelo rebelde, fumar escondido, afrontar e desafiar. Foi-se o tempo em que
bater de frente era a solução para todos os seus problemas, ainda que criasse
outros ainda maiores por isto. Estava cansada. Era hora de render-se e aceitar
que morrera no dia em que Doyle a feriu. Com ela para Paris, partiu a confiança
que seus melhores amigos tinham nela, partiu a estória que havia consolidado na
Unidade de Análise Comportamental, partiu tudo o que havia pouco a pouco construído
para aproximar-se de Aaron, sendo a presença discreta que o apoiava, quando ele
nem sabia ao certo que precisava de apoio.
Ela tirou os sapatos de salto alto, atirou o vestido
na poltrona ao lado da janela do quarto e jogou-se na cama. Sérgio enroscou-se
nela, como festejando sua volta ao lar.
- Então, amigo, o que você acha de Londres? Um recomeço, novas
oportunidades profissionais, quem sabe um novo amor. Gatos tem problemas com
fuso horário? Não, aposto que não. O que você acha da ideia?
O gato continuou a enroscar-se nela mais e mais em
troca dos carinhos que ela lhe fazia. A proposta de Clyde era realmente
irrecusável e vinha no mais oportuno dos momentos. E Londres não era exatamente
do outro lado do planeta. Bem, mais ou menos. Mas não era exatamente disto que
se tratava? De distanciar-se? De criar
uma segunda chance? David havia lhe advertido para que pesasse tudo com calma e
ouvisse seu coração. Era disto que se tratava. Seu coração lhe dizia para sair
correndo dali porque não iria sobreviver de sonhos. Não poderia trabalhar
diariamente com o homem de sua vida, ali, tão ao seu alcance e tão distante.
Bastava. Bastava de interpretar como esperança cada sorriso discreto, cada aceno
gentil, cada frase educada, como a que ele lhe dissera naquela noite. Bastava. Pela
manhã, ela comunicaria a ele seu afastamento. Nada a faria voltar atrás.
Mas, até lá, sonharia com o abrigo daqueles braços,
onde poderia viver uma vida inteira. Até lá, dançaria em seus sonhos a noite
toda e ouviria mil vezes ele dizer a ela em tom baixo que ela estava linda ou
algo assim. Faria amor com ele, como em quase todas as noites acontecia nos
seus sonhos acordada. Enquanto não amanhecesse ele seria dela, seus lábios murmurariam
coisas sem sentido algum, sua pele arderia sob o seu toque e no momento certo,
ela gritaria seu nome. Até o amanhecer, ela se perderia no silêncio daquele
momento tão perfeito que deveria ser eterno. Só até o amanhecer....
Pelo amor de Deus, CONTINUA!!!!
ResponderExcluirA historia tá perfeita e super cativante. Não vejo a hora de ver o proximo capitulo, então por favor, não me mata do coração e posta logo please!
Oi, Bruna,
ResponderExcluirObrigada por seus comentários. Dá uma saudade, né? Fiz uma cirurgia, está difícil digitar, devo levar uns 5 dias p atualizar. Enquanto isso, já leu Pedras no Caminho e Decisões que postei aqui? Estão completas e tb são H/P. Acho que vc vai gostar. E pode aguardar atualização para assim que der. Bjo!
Já li as duas e amei. Vou aguardar a atualização.
ExcluirBjss e Melhoras!
Débora,
ResponderExcluira alguns dias eu estava dando uma olhadinha na comunidade H/P no Orkut e encontrei sua fic "Cicatrizes e alguns minutos a mais..." e me apaixonei por ela. A história tá super bem escrita, e o sofrimento e a tensão do Hotch e da Prentiss é incrível!
Só que eu percebi que você não terminou de postá-la. Então eu queria saber porque você parou de atualiza-la e se há alguma possibilidade de você continua-la.
Ah, e continua essa também, você ta me deixando desesperada!!!
Bjss!
Puxa Bruna eu também fiquei doida pela falta de conclusão de Cicatrizes e alguns minutos a mais... até tentei contato com Débora pelo facebook para saber se ela postou em algum outro local. Uma pena , pois a história é perfeita e depois de tanto sofrimento Hotch e Prentiss ( e nós também) merecciam um final feliz.
ExcluirCheguei aqui... Menina, como amei essa estória... Cadê a continuação? Por favor, eu preciso dela... Eu não posso ficar assim. Pobre Emily... Mal sabe que é correspondida e o Hotch? Muito feio... Sabe a real e se presta a esse papelão... E Beth, gente, vc sabe a verdade então ronda uma atitude mulher, não vou ter pena de você porque não está sendo enganada. Vira pra ele e o manda buscar a Emily. Até acho que ele agora sim o nome da Prentiss em meio ao amor e nem nota. É feio.
ResponderExcluirAgora, o Dave devia ficar quieto, ele que jogou o Hotch pra cima da Beth. u.u (brava com ele)
Segue por favor... Eu não achei a continuação. :'(
Beijinhos
Oi Lilian, esta fic só tem estes dois capítulos mesmo, eheheh. Bjo!
ExcluirUé... Mas, não parece. Isso não aprece um final. Está completamente em aberto...
ExcluirEu não consigo mais encontrar a comunidade no Orkut 💔
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