Por Débora Gutierrez Ratto Clemente
Que eu sou fã inconteste de Criminal Minds, nunca
houve dúvidas por parte de quem me acompanha há muito tempo. Mas sempre, ainda
por ser fã, fui muito crítica sendo razoável o suficiente para aceitar que nem
todo o episódio de uma série que está no ar há nove anos pode ser espetacular.
Mesmo uma série de excelente qualidade tem seus momentos fracos, aqueles
episódios que beiram a emotividade máxima ou tem a pouca sorte de contar com
guests stars fracos, que não colaboram para o desenvolvimento do enredo. Há
também episódios cujos enredos tem finais pouco convincentes ou direções com
pouca criatividade, além de pós produções e edições de imagens pouco felizes.
Acontece, em qualquer boa série.
Gabby, com roteiro de Jim Clemente e Erica Messer e
direção de Thomas Gibson é uma aula de como todas as coisas acima mencionadas,
quando ausentes, podem tornar o episódio espetacular. A começar pelo arrepiante
fato de, segundo Jim Clemente, hoje roteirista e assessor técnico, e, há muitos
anos atrás, um agente do FBI verdadeiro, trabalhando em área similar, nos
contar que o episódio foi totalmente baseado em um caso real em que ele mesmo
trabalhou, o que torna o fato em si ainda mais aterrador.
A estória começa com uma mãe divorciada que, ao
ganhar uma viagem em um cruzeiro de uma semana para aproveitar ao lado de seu
atual namorado, resolve deixar sua filha de quatro anos aos cuidados de uma
prima, que foi criada como irmã por sua própria família, quando perde seus
pais. A mãe Kate, a menina Gabby e a
prima Sue formam um encantador trio logo nas primeiras imagens o que irá tornar
os caminhos percorridos durante a investigação, ainda mais dolorosos. A menina
some do carro da tia, durante a noite, nos quatro minutos em que esta se
ausenta para comprar leite e mais três ou quatro itens de alimentação. Não
falta logo de início a vizinha vigilante e meio fofoqueira, tampouco o cara
paquerador dentro do mercadinho para desviarem nossa atenção. E, em seguida, um
homem jogando de uma ponte um corpo embrulhado em plástico, para arrepio de
nossas espinhas.
A investigação segue e as suspeitas caem sobre o ex
marido que aceitou mal perder a guarda da filha por uso de drogas, e em
seguida, sobre o traficante, seu fornecedor. Mais tarde, já detido o
traficante, o corpo do pai da menina é encontrado ( aquele que todo mundo, ou quase
todo mundo pensou ser o da criança). Tudo indica para Ian Little ( o
traficante), que aparece com a cabeça toda queimada e uma desculpa pífia. Hotch
assume a teoria de que Ian sequestrou Doug ( o pai) e o matou, mas nada ainda
explica o sumiço da criança. Por dois momentos no episódio veremos Hotch
totalmente transtornado ( ou aparentemente transtornado – casos com crianças em
especial costumam motivar ainda mais nossos agentes, em especial os que tem
filhos). O primeiro deles é quando ele interroga Ian, certo de que ele é o
responsável pelo sumiço de Gabby. A tomada subsequente com a busca pelo
corpo no rio, abaixo da ponte é cheia de tomadas criativas, com câmeras altas e
baixas, enfatizando a importância de cada descoberta, até chegarmos ao corpo do
pai.
Alguns momentos em especial destacaram-se pelas
interpretações dos guests stars, como no caso do reencontro entre as primas (
não posso dizer que não cogitei a prima ser suspeita, mas aí é outro assunto,
são muitos anos assistindo a séries, normal algumas pessoas sacarem antes). Mas
não posso dizer que não tenha sido pelo empenho da atriz que faz a Sue,
totalmente convincente. Neste jogo de gato e rato, onde abençoo o fato de,
embora sabermos que JJ tenha se fortalecido pelas experiências no exterior, ela
mantenha vivo, dentro dela, aquele espirito acolhedor, de mãe, de mediadora, aos
poucos, seja via interrogatório seja com o auxílio de câmeras, as coisas
começam a tomar outra forma e surge uma terceira via: a tia teria matado o pai
para proteger sua sobrinha, o que mais uma vez, não explica o sumiço da
criança.
Casos como este, de desaparecimento de crianças,
ocorrido poucas horas antes ( onde nos
EUA se emite o chamado Alerta Amber ) são tão comuns como angustiantes.
Estatísticas de lá ( não tenho noção de como são as estatísticas por aqui)
afirmam que uma criança não encontrada em até
vinte e quatro horas é considerada potencialmente sem chances de ser
encontrada viva. É neste ponto que a edição e montagem ganham força, reforçando
o desespero e a urgência em obter resultados. Não há tempo para pensar com
clareza, tampouco ser gentil, mesmo que seja com os pais da criança. Ainda
assim, a cena onde Hotch provoca Sue até despertar nela o seu pior e ela
avançar fisicamente nele demonstra isso claramente. Não há tempo para estudos. Uma
simples provocação para desencadear uma reação é suficiente para eles mudarem a
perspectiva do caso. Outro dado interessante é que eles mesmos periciam a casa,
para abreviar a espera por resultados. É muito provável que isto não ocorra de
fato nas agências, mas em termos de narrativa cinematográfica ( aqui, usada em
tv) dá muito resultado, amplificando as tentativas e enxugando as esperanças,
dos agentes e de nós telespectadores, que esfriaríamos as nossas expectativas à
espera de resultados técnicos. É só acenar com uma chance de acordo, que o
traficante que namoricava a tia entrega o jogo todo, explicando que apenas
teria se desfeito do corpo do pai, mas que Sue teria feito todo o resto.
Nestas horas é muito bom contar com uma boa
interpretação. Sianoa Smit-McPhee no papel de Sue dá um banho de interpretação,
contracenando com a também ótima Ashley Jones. A mudança em seu comportamento
abandonando a fala mansa e comedida por uma cheia de ódio e sadismo nos dá a
medida exata do perigo que Gabby corre nas mãos da tia. Junte-se a isso a
incredulidade da mãe ouvindo os argumentos de Sue e temos uma ótima cena, bem
fotografada e muito bem dirigida, pois tal texto seria armadilha fácil para um
dramalhão mexicano.
Em resumo, como na maioria das vezes a realidade é
muito mais cruel que a ficção, ficamos sabendo através da magia de Garcia que
Sue não apenas desfez-se de Gabby para torturar e enlouquecer sua mãe, mas que
a entregou a pessoas que formam uma rede paralela de adoções, que burla o
sistema oficial, e faz com que crianças inocentes caiam nas mãos de pervertidos,
doentes e sádicos. Quando encontram Gabby, com um casal cujo visual e ambiente
representam a escória da humanidade, Rossi chega a pedir por um motivo para
matar o cara no sofá: - Me dê um motivo ( apontando a arma para o homem).
Confesso, não sei se isso faz de mim um ser humano menos digno, mas torci para
o cara reagir. Gente que faz mal a crianças me revolta profundamente ( sim,
também sou mãe, em um claro sinal de que o instinto maternal de JJ ou paternal
de Hotch, falam mais alto nesta hora). Na casa, além de Gabby, eles ainda
encontram mais duas crianças que muito provavelmente irão voltar ao sistema
oficial de adoções e os agentes se lamentam por isto. Os momentos de conforto
ficam por conta de Morgan fotografando a cena do reencontro de Gabby com a mãe
e o padrasto e enviando para Garcia e Hotch ( o chefe que nunca tem motivos
para ver nada colorido ) com um breve sorriso de vitória de um dia que poderia
ter sido trágico, mas acabou salvando a vida de três crianças.
Episódio certinho, com tudo em cima, que me remeteu
de imediato a Seven Seconds ( 3x05), mas que saiu ganhando em dois pontos:
* Em Seven Seconds nós não conhecemos a criança
desaparecida até o momento em que ela começa a aparecer em flashbacks. É muito
inteligente nos colocar em contato com a menina ( Julia Butters) desde o
princípio, porque ela é uma graça e criamos de imediato um forte vínculo com
ela ( a menina por sinal é a simpatia em pessoa).
* O desaparecimento da menina é em local público e
aberto, diferente do episódio citado anteriormente, diminuindo potencialmente
as chances das coisas darem certo.
Considerações finais:
· *Já havia visto dois episódios de Dharma
e Greg e um de Criminal Minds dirigidos por Thomas Gibson, além deste
propriamente dito, e em nenhum ele me pareceu acertar tão bem quanto este.
·
*O ator ( TG) pareceu estar mais à
vontade com a auto direção ( não posso dizer o mesmo de All That Remains (8x14),
mais restrito em fotografia, montagem e mesmo participação).
·
*A.J.Cook conseguiu encontrar o meio
termo entre sua passagem como encarregada de mídia e aconselhadora e,
posteriormente, uma mulher que não só cresceu profissionalmente, mas que passou
por maus bocados no meio do caminho. Ela consegue encontrar o ponto certo, sem
esquecer quem foi, nem desrespeitar seus instintos.
·
*Ainda continuo achando que Matthew
precisa com urgência de tesoura e pente, preferencialmente nas mãos de um
especialista, e não dele próprio, como ele costuma se vangloriar em fazer.
*Preciso dizer, o agente Aaron Hotchner
bravo, muito bravo, é um caso muuuuito sério ( esta é para as meninas que
curtem o Hotch,rs).
Até o próximo episódio pessoal!!!
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