quinta-feira, 14 de março de 2019

Quando Nosso País Vai Parar De Produzir Vítimas Que Morrem E Que Matam?





Em primeiro lugar, se você é aquele sujeito que acha que se professores e funcionários estivessem armados dentro da escola o número de vítimas seria menor, faça um favor a nós dois e encerre sua leitura por aqui. O que eu penso não é para você.


Cada novo caso registrado de mortes por atiradores solitários, cujo objetivo é apenas o maior número de danos possíveis, mais claro me parece que vivemos uma epidemia local, quiçá mundial, de maus tratos aos ser humano. Salvo se, em algum momento, algum médico da área de medicina psiquiátrica possa afirmar categoricamente a existência de algum transtorno mental claramente definido, o que presenciamos hoje novamente não se trata de mocinhos e bandidos. Se trata de educação ( ou a falta dela), de inclusão, de compreensão, da presença efetiva de famílias, que hoje não podem contar com os serviços básicos que o estado deveria oferecer: empregos fixos, creches, salários dignos, saneamento básico, informação e, acima de tudo, assistência social.


É fácil cair na tentação de culpar jogos de videgame como fez esta tarde o Vice Presidente Mourão e alguns comentaristas no Estúdio I na Globo. Mourão chegou a afirmar que brincava saudavelmente na rua, de bola, de queimada, ou algo assim. Pois é, também estou perto dos 60 anos e lembro-me bem de brincar, além de bola ou do pega-pega, de mocinho e bandido. Também haviam as arminhas de brinquedo e eu vivia matando alguém ( nem lembro mais quem eram os bandidos da época, mas lembro que matei um bocado de gente…..). Para melhorar, meu avô me deu em certa época uma espingarda de chumbinho, que hoje seria considerado um brinquedo pra lá de politicamente incorreto. Nem por isto, saí matando ninguém por aí quando cresci, tampouco meu filho seguiu pelos caminhos do crime por ceifar várias cabeças em Residente Evil, Assassins Creeds e diversos outros jogos. Pelo contrário. Hoje ele dá aulas de Programação e Análise de Sistemas em ensino médio e superior como concursado de uma Escola Técnica.


Os jogos, como qualquer outra atividade cumprem um papel catártico, pedagógico e de criatividade que, se usados na medida certa, podem ser de grande valia na educação infanto juvenil e não sou eu que digo isto, são inúmeras pesquisas, nacionais e internacionais.


No entanto, outro fantasma nos assombra. O fantasma da intolerância, da impaciência, da incapacidade de ouvir o outro e por ele sentir empatia. O fantasma de um estado que não sabe ainda como lidar com os casos de bulling, que não sabe como orientar pais a respeito do assunto, que tem pouco tempo, dinheiro e recurso humano capacitado para lidar com isto. Junte-se à isso uma permissividade para ser incorreto, vindo à cabo de um entendimento errôneo de que não haverá mais punição para nada, a ideia de que tudo se resolve armado hoje em dia, de que a vida humana não vale mais que um chocolate e chegamos a um maléfico coquetel para o extermínio, em escolas, igrejas, parques, ou em um simples assalto.


O que ouve hoje foi muito, muito triste. Inominável. Adultos e crianças tiveram suas vidas interrompidas sem motivo algum. Mas, com o intuito de se evitar novos casos, cabe à sociedade entender o que levou dois jovens a cometerem tal chacina. Porque eles não levantaram de manhã, felizes da vida, cheios de alegria e amor pela escola, família e amigos e apenas decidiram sair matando só porque não tinham nada melhor para fazer . Há toda uma construção por trás destas decisões. E é isso que cabe agora ser esclarecido.


Para além destes esclarecimentos, deixo aqui minhas impressões sobre o assunto. Bulling é coisa a ser levada muito a sério. Se isto tivesse sido discutido na minha geração quando jovem, não teríamos hoje tantos filhos desajustados, isto é fato pesquisado. Já passou da hora de mudarmos o nome de “politicamente correto” para apenas “correto”. Minha geração já viveu o suficiente para saber a diferença entre o mimimi e a falta de responsabilidade social. O mundo inteiro mudou, uma população vota pelo Brexit, outra se manifesta contra a construção de um muro que separe um país de seus imigrantes. As Coreias voltaram a se falar. Então você, amiguinho, não vai morrer se tiver que morder a língua para não fazer aquela piada de mau gosto sobre homossexuais no encontro de funcionários da empresa ou tiver que parabenizar a mulher que ocupa agora um cargo maior que o seu na sua empresa. São estes novos ventos que temos que ensinar em nossas casas. Para os nossos filhos. Ensinar que o mundo mudou. Que 2 mais 2 nem sempre será 4 e que família pode ter mãe, irmão e 2 cachorros que será o mesmo que 2 pais e um filho, desde que haja amor, carinho e responsabilidade.


Não sei exatamente se foi todo este ódio de quem nunca se reconheceu que levou a matar 8 pessoas, mais suas próprias vidas, hoje na escola em Suzano. Mas, senão foi ( e ainda acho que foi), que fique a dica. Vamos ensinar nossos filhos, netos, sobrinhos, filhos de amigos, amigos, vamos aprender, enfim, a amar. Vamos para com esta idiotice de fla-flu odioso que se instalou neste país, e que serve de desculpa para que passemos alfinetando uns aos outros o tempo todo.


Não estou dizendo que não devemos ter posições políticas. As minhas são bem claras e eu nunca as abandonarei. Apenas não perco meu tempo caçoando e diminuindo quem não votou como eu. Ignoro, nem respondo. Quando eu tiver que protestar, estarei na rua, bandeira em punho, defendendo minha causa, justificando minha luta. Mas, não vou perder meu rico e precioso tempo discutindo, ofendendo, depreciando quem não quer enxergar o óbvio. Este desgaste não é meu. Assim como ensinei meu filho a ignorar os comentários maliciosos, o bulling maldoso e desnecessário, que hoje recebe como resposta o fato dele ter se tornado alguém na vida, enquanto alguns dos que o maltratavam sequer conseguiram uma carreira…. Ok, isto deve soar muito errado, vocês vão dizer, mas devia ter chiado, reclamado…


Então, foi chiado, reclamado, eu era aquela mãe que vivia na secretaria, registrando queixas. Mas, aí você descobre que não é do interesse da escola levar esta discussão à frente. Então, você passa a ensinar a seu filho sobrevivência. Acho isto muito parecido com os dias de hoje. Suas pautas não parecem ser respeitadas, ai você ensina seu filho a cortar os pulsos ou a sobreviver isto? A sobreviver, sempre a sobreviver!!!!


Não acho que o mundo tenha mudado tanto. Acho apenas que esta geração não aprendeu a se defender dos insultos, das diferenças, das exclusividades, como as gerações passadas. Alguns, no entanto, tempos atrás tiveram a exclusividade de ter pais com algum conhecimento, o que os ajudou a sofrer um tanto menos. Outros, sem qualquer apoio, saem matando a esmo, como se estivessem brincando com a espingardadinha de chumbinho de meu avô, como se tivessem aprendido que morrer lutando seria heroico, porque ouviram dizer que isso era bonito ou a única solução. Ou, apenas porque tiveram medo do que viria pela frente com uma prisão…..


Uma coisa é muito certa. Precisamos unificar nossos discursos. Sendo de esquerda ou de direita, contra ou a favor de certas liberdades civis, precisamos aprender a lutar pelas nossas opiniões. E respeitar a opinião do próximo. Apenas assim chegaremos a um patamar civilizado, onde haverá espaço para discussões, sem ofensas, sem ameaças, sem medo. Enquanto permanecer no país o clima de fla-flu, de “nós odiamos vocês”, de “vocês não de direito de fala”, nada irá mudar. Nesta escola, na escola vizinha, na reunião do condomínio, no almoço entre amigos, no café da tarde entre familiares, na cama entre marido e mulher….


Por Deus, abandonem estas armas! Desarmem-se dos punhais, dos 38, dos fuzis, das facas e das ofensas. Desarmem-se daquilo que mata o próximo, mas não te traz vitória alguma. Que as mortes nesta escola de Suzano nos façam lembrar que a morte é definitiva, cruel, irreversível. Que tirar outra vida é algo que não nos cabe e que cabe à Segurança Pública garantir nosso bem estar e não a nós decidirmos quem vive e quem morre. Armar a população é delegar a ela um serviço pelo qual efetivo do Estado já é remunerado para fazer. Não cabe à população sair atirando em nome da defesa própria!


Que os falecidos de hoje sejam sempre lembrados por terem sido mortos pelas mãos de quem possuía armas de forma ilegal e irresponsável. E que suas mortes não tenham sido em vão!!!


Chega de violência!!! Pelo fim das armas no país!!!!



sábado, 2 de março de 2019

Sobre O Hino E A Moralidade





Estou aqui me lembrando da minha época de escola primária e ginasial, em que a gente fazia fila para cantar o Hino Nacional no pátio da escola, deixando um braço de distância do companheiro da frente. Vou dizer o que ninguém ousa dizer: como a maioria das coisas que fazíamos por lá, nem sabíamos porque fazíamos. Fazíamos porque a professora mandava, a diretora mandava, o bedel mandava, a mãe e o pai mandava a gente obedecer, o amiguinho cutucava a gente e dizia que tinha alguém olhando e nós iríamos parar na sala da diretora senão fizéssemos e era isso.


Ninguém nunca me ensinou que a gente tinha que cantar um hino porque tinha orgulho ( no mais amplo sentido da palavra) do nosso país. Ninguém nunca me ensinou o que era era orgulho do nosso país. Nas aulas de Educação, Moral e Cívica, que no antigo ginásio viraram OSPB ( Organização Social Política Brasileira) a gente decorava tudo. Os cargos dos 3 poderes, os nomes dos ministros, o que significava as cores da bandeira, o hino do…. “cisne branco em noite de lua...”. Mas, não se despertava o patriotismo pela admiração, mas pela obrigação de decorar para não perder a nota e, na pior das hipóteses, repetir de ano.


Crescer, entrar para uma faculdade, amadurecer, envelhecer. Foi o tempo que me ensinou porque se admira uma bandeira. Um hino. Um país. Sim, nossa bandeira é muito bonita e nosso hino um dos mais bonitos que já conheci. Mas, achá-lo lindo e ter orgulho de nosso país são coisas diferentes, muito diferentes. Nosso país tem alguns dos lugares mais maravilhosos do mundo, uma terra fértil, rios abundantes, um por do sol de cair o queixo onde moro. Mas, não tem um povo do qual me orgulho de olhos fechados. Muitas pessoas que habitam esta terra merecem meu respeito. Pessoas que enfrentam adversidades, que se superam mesmo diante do imponderável, pessoas que dedicam suas vidas para melhorar a vida de outras pessoas, que botam a cara a tapa para defender outras que nem conhecem. Mas, é pouco diante de um país desta dimensão.


Empatia é um vocábulo que deveria a ser estudado a fundo no currículo do ensino fundamental. Não vejo fundamento ensinar a ter compaixão por tartarugas marinhas ( sim, elas são importantes, não tenho NADA contra a espécie, é só um exemplo, pelo amor de Deus!!!!!) e não ter compaixão pelo próximo. Não vejo porque ensinar que os pandas ou as araras azuis não podem ser extintos, mas não enfatizar que é um crime crianças e adultos terem que catar suas refeições nas latas de lixo mais próximas ( sem fazer sujeira, caso contrário nem os lixeiros podem limpar o estrago).


Por favor, se você pensou em meritocracia, pare de ler meu texto por aqui. Você só vai perder seu tempo. Há méritos para quem os merece? Claro! Meu filho é exemplo disto. Dedicação, trabalho, esforço. Mas, para falar em uma linguagem popular, você sabe quantos dedicados existem para cada Neymar? Para cada Marta? Pois é. É muito pouco. Inúmeros vão ficando pelo caminho porque têm fome, porque têm que sustentar família, porque ou trabalham ou estudam, porque pegam leptospirose ou febre amarela por falta de saneamento básico. Só para ficar nos exemplos mais comuns. E se você vai começar a desfiar o rosário dizendo que o PT não fez isto ou aquilo também pare de ler. Há quinhentos e tantos anos ninguém faz nada pelo país. O PT não inaugurou a corrupção. Ele só escancarou.


Para além das dificuldades financeiras existe hoje um outro problema. Como me orgulhar de um país que tem um povo que deseja a morte de um presidente ( mesmo que ele não me represente – e não representa) ou comemore a morte de uma criança de sete anos, porque ela é neta de um sujeito que supostamente é responsável por todas as desgraças do país? Como acreditar que nosso hino representa um país onde as pessoas parecem odiar umas às outras, onde o que pessoas fazem na cama passou a importar mais que o caráter, onde a cor determina a índole antes do crime, onde o julgamento é fácil, porque é feito à distância de um toque no teclado?


Pois é, está difícil ter orgulho de cantar nosso hino! Não pela letra, nem pela melodia, mas porque talvez este país não o mereça. Podem mil ministros obrigar-nos a cantar todos os seus versos, estrofe por estrofe, mas talvez, antes disto precisemos lavar a boca com sabão, como dizia minha avó em sua sabedoria, antes de merecê-lo. Precisamos voltar a ser humanos antes de postarmos que cantávamos o hino na escola. Claro, todos cantávamos como disse antes, sem nem saber porquê. Isto não é patriotismo. É decoreba. Pura e simples. Há de se amar o país antes de se exaltá-lo. Há de se amar o próximo antes de se amar o país. Há de se amar a si mesmo antes de amar ao próximo. Há de se entender que sem a caridade, a compaixão, a humanidade não há existência que valha a pena. Há de se entender porque estamos aqui antes de tudo. Ou não fará a menor diferença cantar o Hino Nacional ou a dança da garrafa ou a dança da cordinha. Serão só palavras. Sem significado real. Sem fundamento. Sem razão de ser. Apenas palavras repetidas por pessoas que não sabem bem o que significam. Como há cinquenta anos atrás………..