sábado, 2 de março de 2019

Sobre O Hino E A Moralidade





Estou aqui me lembrando da minha época de escola primária e ginasial, em que a gente fazia fila para cantar o Hino Nacional no pátio da escola, deixando um braço de distância do companheiro da frente. Vou dizer o que ninguém ousa dizer: como a maioria das coisas que fazíamos por lá, nem sabíamos porque fazíamos. Fazíamos porque a professora mandava, a diretora mandava, o bedel mandava, a mãe e o pai mandava a gente obedecer, o amiguinho cutucava a gente e dizia que tinha alguém olhando e nós iríamos parar na sala da diretora senão fizéssemos e era isso.


Ninguém nunca me ensinou que a gente tinha que cantar um hino porque tinha orgulho ( no mais amplo sentido da palavra) do nosso país. Ninguém nunca me ensinou o que era era orgulho do nosso país. Nas aulas de Educação, Moral e Cívica, que no antigo ginásio viraram OSPB ( Organização Social Política Brasileira) a gente decorava tudo. Os cargos dos 3 poderes, os nomes dos ministros, o que significava as cores da bandeira, o hino do…. “cisne branco em noite de lua...”. Mas, não se despertava o patriotismo pela admiração, mas pela obrigação de decorar para não perder a nota e, na pior das hipóteses, repetir de ano.


Crescer, entrar para uma faculdade, amadurecer, envelhecer. Foi o tempo que me ensinou porque se admira uma bandeira. Um hino. Um país. Sim, nossa bandeira é muito bonita e nosso hino um dos mais bonitos que já conheci. Mas, achá-lo lindo e ter orgulho de nosso país são coisas diferentes, muito diferentes. Nosso país tem alguns dos lugares mais maravilhosos do mundo, uma terra fértil, rios abundantes, um por do sol de cair o queixo onde moro. Mas, não tem um povo do qual me orgulho de olhos fechados. Muitas pessoas que habitam esta terra merecem meu respeito. Pessoas que enfrentam adversidades, que se superam mesmo diante do imponderável, pessoas que dedicam suas vidas para melhorar a vida de outras pessoas, que botam a cara a tapa para defender outras que nem conhecem. Mas, é pouco diante de um país desta dimensão.


Empatia é um vocábulo que deveria a ser estudado a fundo no currículo do ensino fundamental. Não vejo fundamento ensinar a ter compaixão por tartarugas marinhas ( sim, elas são importantes, não tenho NADA contra a espécie, é só um exemplo, pelo amor de Deus!!!!!) e não ter compaixão pelo próximo. Não vejo porque ensinar que os pandas ou as araras azuis não podem ser extintos, mas não enfatizar que é um crime crianças e adultos terem que catar suas refeições nas latas de lixo mais próximas ( sem fazer sujeira, caso contrário nem os lixeiros podem limpar o estrago).


Por favor, se você pensou em meritocracia, pare de ler meu texto por aqui. Você só vai perder seu tempo. Há méritos para quem os merece? Claro! Meu filho é exemplo disto. Dedicação, trabalho, esforço. Mas, para falar em uma linguagem popular, você sabe quantos dedicados existem para cada Neymar? Para cada Marta? Pois é. É muito pouco. Inúmeros vão ficando pelo caminho porque têm fome, porque têm que sustentar família, porque ou trabalham ou estudam, porque pegam leptospirose ou febre amarela por falta de saneamento básico. Só para ficar nos exemplos mais comuns. E se você vai começar a desfiar o rosário dizendo que o PT não fez isto ou aquilo também pare de ler. Há quinhentos e tantos anos ninguém faz nada pelo país. O PT não inaugurou a corrupção. Ele só escancarou.


Para além das dificuldades financeiras existe hoje um outro problema. Como me orgulhar de um país que tem um povo que deseja a morte de um presidente ( mesmo que ele não me represente – e não representa) ou comemore a morte de uma criança de sete anos, porque ela é neta de um sujeito que supostamente é responsável por todas as desgraças do país? Como acreditar que nosso hino representa um país onde as pessoas parecem odiar umas às outras, onde o que pessoas fazem na cama passou a importar mais que o caráter, onde a cor determina a índole antes do crime, onde o julgamento é fácil, porque é feito à distância de um toque no teclado?


Pois é, está difícil ter orgulho de cantar nosso hino! Não pela letra, nem pela melodia, mas porque talvez este país não o mereça. Podem mil ministros obrigar-nos a cantar todos os seus versos, estrofe por estrofe, mas talvez, antes disto precisemos lavar a boca com sabão, como dizia minha avó em sua sabedoria, antes de merecê-lo. Precisamos voltar a ser humanos antes de postarmos que cantávamos o hino na escola. Claro, todos cantávamos como disse antes, sem nem saber porquê. Isto não é patriotismo. É decoreba. Pura e simples. Há de se amar o país antes de se exaltá-lo. Há de se amar o próximo antes de se amar o país. Há de se amar a si mesmo antes de amar ao próximo. Há de se entender que sem a caridade, a compaixão, a humanidade não há existência que valha a pena. Há de se entender porque estamos aqui antes de tudo. Ou não fará a menor diferença cantar o Hino Nacional ou a dança da garrafa ou a dança da cordinha. Serão só palavras. Sem significado real. Sem fundamento. Sem razão de ser. Apenas palavras repetidas por pessoas que não sabem bem o que significam. Como há cinquenta anos atrás………..

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