segunda-feira, 31 de março de 2014

Review Criminal Minds 9x18: Rabid






 Os produtores e roteiristas de Criminal Minds sempre afirmam em entrevistas que seus roteiros recebem o aconselhamento técnico de Jim Clemente, hoje, roteirista, mas também agente aposentado do FBI, especializado em perfis ( há uma entrevista dele, muito interessante, aqui: http://criminalmindsroundtable.blogspot.com.br/2014/03/criminal-minds-season-9-jim-clementes.html ), e que são sempre de certa forma baseados em casos reais. O que me leva a sentir um medo imenso quando assisto determinados episódios. Rabid é um deles.
 
Não posso imaginar o efeito que causa em uma criança, assistir seu irmão definhando e sofrendo, até que seus pais resolvam cometer a contestada eutanásia, prática ( na maioria dos países considerada crime) que defende que um ser humano possa tirar a vida de outro ser humano por piedade, desde que este último esteja sofrendo em estado terminal. Junte-se a isso uma personalidade com traços de sadismo e psicopatia e surge um assassino cruel e desumano, que passa a tratar como entretenimento o sofrimento alheio. 


Talvez tenha sido um dos casos mais asquerosos de Criminal Minds nos últimos anos. O episódio se inicia com uma frase arrepiante de alguém dizendo ao fundo: “Vou comer você vivo!”. Depois de receberem o caso, que aponta para três vítimas, duas com marcas de mordidas humanas e fazerem várias considerações, nossos agentes chegam à conclusão de que tratam-se de mortes por contaminação de raiva, uma doença contagiosa, que leva o infectado a ter espasmos, convulsões, alucinações, desidratação, e, em seu estágio final uma concentração de saliva que leva o paciente a literalmente espumar pela boca. O perfil vai sendo desenvolvido à medida que surgem informações sobre as vítimas, suas autópsias, locais dos sequestros, entre outros dados. Eles também especificam que apenas vítimas vacinadas até vinte e quatro horas da contaminação conseguem ficar imunizadas. Blake faz uso dos seus conhecimentos linguísticos para esclarecer que a palavra raiva vem do sânscrito e significa excesso de violência.


O que torna o episódio genial é que eles não precisam mostrar um corpo estraçalhado e cheio de sangue para nos aterrorizar. O terror é meramente subjetivo e está na figura do unsub que filma e depois assiste suas vítimas implorando por suas vidas e se deteriorando a cada momento. Pode haver terror maior que este? 


Com várias informações fornecidas por Garcia, eles vão montando um quadro coerente com o comportamento do unsub e chegam ao seu nome: David Wade Cunningham, irmão mais velho de Hunter, que, após ser diagnosticado com raiva, foi levado para casa  e teve seu sofrimento poupado pelo ato da eutanásia, praticado pelos pais e assistido de perto por seu irmão. 


Em paralelo assistimos a fuga de outra vítima, uma mulher já em estado avançado da doença, e o pesadelo de acompanharmos ela circulando dentro de uma cafeteria e depois por um parque cheio de crianças. Neste sentido, este episódio foi muito mais valorizado pelas tomadas inteligentes e pela fotografia claustrofóbica mesmo em ambiente aberto ( poderia ser um parque imenso, mas ele se torna minúsculo diante da possibilidade de contaminação de diversas crianças que lá brincam ). Chega a dar pena o estado em que Liz Foley se encontra e Morgan, na tentativa de manter-se afastado da contaminação, atira em sua perna, apenas para imobiliza-la até a chegada de uma ambulância.


Enquanto isso, continuamos compadecidos por outra vítima, Russel Holmes, o estudante capturado no início do episódio, aquele que inteligentemente foi catapultado em um primeiro momento, ao status de unsub, quando segue a garota no ônibus. 


Não foi um grande episódio em termos de perfil, os procedimentos de busca foram totalmente comuns e não houve nada no roteiro que nos surpreendesse. No entanto, a carta na manga concentrou-se em apavorar por tabela quem assistia, privilegiando planos de destaque e closes, em uma fotografia cheia de sombras e uma edição de som de arrepiar. Foi mais um episódio visual do que de roteiro. As interpretações dos guests stars também foram destaque, em especial a da atriz que faz Liz Foley. Outro detalhe pouco lembrado, mas fundamental para o êxito do episódio foi a maquiagem das vítimas, competente e dolorosamente realista, que impressiona no visual e cumpre seu papel de nos incomodar. 


Depois que Garcia localiza o possível local onde o unsub estaria escondido com sua última vítima, o estudante Russel Homes, a equipe divide-se em duas e eles partem em busca da captura de David Cunningham. No mais provável dos clichês, Morgan e Reid caminham por corredores escuros, iluminados apenas pelas luzes dos faroletes que  carregam acoplados às suas armas e, fotografia e iluminação reforçam  o lugar comum de Morgan ser pego de surpresa pelo ataque do unsub e ganhar umas bordoadas e uns choques até que Reid, mesmo apanhando feio, consegue imobilizar o criminoso. Reid é o homem que consegue derrubar o sádico, porque ele estaria praticando mais exercícios ( falarei a respeito em seguida ).


Ao final, já no hospital, JJ, Morgan e Reid presenciam a tragédia e o êxito do mesmo caso: a família de Liz Foley recebendo de Rossi a notícia da morte eminente da esposa e mãe e Russel Holmes não sabendo como agradecer aos agentes por ter tido sua vida salva por eles. Dois lados da mesma moeda, frustração e satisfação vividos pelos agentes em seu dia a dia. 


Quanto às passagens do início e fim do episódio, em mais uma tentativa de agradar os fãs, com momentos de nossos agentes fora do trabalho, temos Garcia e Reid treinando corrida para um teste requisito para continuarem em seus empregos. Eu sei que estas cenas fora do ambiente de trabalho agradam, e muito, os fãs da série, que curtem os momentos divertidos, mas às vezes elas acabam me irritando, por idiotizar os personagens. Os agentes estão por baixo a nove anos no FBI, será que nunca tiveram que fazer o teste antes e se tiveram, será que nunca se informaram para depois descobrir que estes testes são mera formalidade? Sei lá, talvez eu esteja sendo chata, mas acho que estas cenas não precisariam estar em todos os episódios, gostava mais quando eram esporádicas, pois acabavam por serem mais naturais. Mas sei que minha opinião não reflete a maioria.


De qualquer forma, foi um ótimo episódio, para redimir o fraco “ The Persuasion” da semana anterior. E assim, já começamos a entrar na reta final desta temporada. O que será que nos espera na Season Finale? Alguém arrisca um palpite?


Até a próxima pessoal!!


quarta-feira, 26 de março de 2014

Review Criminal Minds 9x17 - The Persuasion





Nem sei bem por onde começar esta review. Provavelmente porque The Persuasion foi exibido logo depois de Gabby, ele me pareceu ainda mais fraco do que realmente pudesse ser. 

Com um enredo meio mirabolante para contar a estória de um sociopata que tem o ego para lá de inflado, se achando superior, e que, por não conseguir se destacar em nada por méritos, manipula sem tetos e pessoas menos favorecidas intelectualmente para que estas roubem e matem por e para ele. 

Logo de cara vemos Dr. Marvin Caul aliciando Finn Bailey, rapaz que aparece dentro de uma lanchonete em busca de emprego, mas que o experiente Marvin vê como possibilidade de alguém com jeito para atender suas expectativas. Finn na verdade veio em busca da irmã que foi para Las Vegas e deixou de dar notícias. Marvin conta ao rapaz que sua maior realização será quando fizer um show de ilusionismo no Rio de Janeiro, e que, por isto mora nos tuneis de alagamento da cidade, para economizar o máximo de dinheiro possível. Quando vai apresentar seu novo lar ao rapaz, descobrimos que, na realidade, um tal Doutor comanda o lugar, obrigando a todos os indigentes e outros moradores do túnel a pagar um imposto para continuarem ali ( uma parcela generosa de tudo o que conseguiram roubar ). Conhecemos também César, um subserviente faz tudo que responde diretamente ao Doutor. Simultaneamente, acompanhamos os cadáveres de duas mulheres encontradas afogadas no meio do deserto. 

Não sei dizer ao certo o que me incomodou no episódio. Mas algumas coisas foram estranhas, pelo menos para mim:

       - Marvin e Finn aparecem impecavelmente vestidos, Marvin de smoking, banho tomado, cabelos e unhas em ordem, em uma festa luxuosa. Quão limpo pode ser um túnel subterrâneo de controle de enchentes? 

      - Se as moças foram afogadas no túnel quando chovia, onde toda aquela gente se enfia com todas as suas coisas ( inclusive o smoking impecável de Marvin) durante os alagamentos?  

       - Era uma festa particular e luxuosa, eles se infiltraram tão fácil assim?   

       - O assassino mata duas jovens afogadas nos túneis e depois as leva para o deserto de que forma? Um carro, uma van, um táxi?

        - Seiscentos e sessenta e cinco quilômetros de túneis e só com a referência do celular jogado no lixo eles encontraram de bate pronto o local onde estava Cesar e companhia?

        - Marvin tinha conhecimento suficiente para saber, que ao contrário das pessoas influenciáveis que ele manipulava no túnel para roubar e matar para ele, Finn era um rapaz com personalidade bem diferente dos demais, logo, me pareceu ilógico que ele achasse que Finn fosse atirar em Sarah apenas porque ele disse que era o melhor a fazer. Mais provável neste caso seria Marvin ter matado os dois dentro do túnel. Além do mais, Finn havia conversado com a irmã, falado sobre Romeu, sobre um homem que havia lhe apresentado os túneis e fazia refeições no mesmo restaurante onde ambos se encontraram. Pareceu meio forçado Finn dizer todas aquelas coisas apenas no final. Seria melhor que ele não tivesse tido estas informações da irmã. Afinal, desde o começo ele se apresenta como alguém com relativa experiência e vivência, para não ter percebido antes que Marvin era este cara. 

 Quanto o aparecimento de Sarah, o próprio César endossa meu comentário: como diabos uma profissional tenta se infiltrar em um grupo de sem tetos, vestida daquele jeito, cabelo bem tratado, entre outras coisas que compunham seu visual? Para mim não colou. Desnecessário para mim, também foi a inclusão do código dos mendigos na depressão e os números pintados nos locais dos crimes. Excesso de informação que não acrescentou muito ao perfil.

 O episódio foi interessante na medida em que dissertou sobre o uso da neurolinguística, sobre o uso de truques de ilusão, mostrando um pouco de como funciona ( quebras de padrão) e acima de tudo como pessoas influenciáveis e facilmente sugestionáveis são alvo fácil deste tipo de trapaça, que é muito divertida no palco, mas que também faz muitas vítimas quando usadas para a malandragem e o crime.

As melhores cenas de The Persuasion foram  protagonizadas por Reid, primeiro com César, depois com  Marvin ao final do episódio, onde ele mostra que também sabe usar os mesmos truques que o mágico. Embora eles tenham mencionado a neurolinguística, fica claro o uso que Reid faz da natureza sugestionável de César para tirar dele todas as informações que precisava. Da mesma forma, nosso agente usa e abusa da exploração do ego inflado de Marvin para fazê-lo falar e assim, incriminar-se. E, claro, é ótimo vê-lo dizer ao mágico que nem havia nascido em 1977, época do show que havia mencionado. 

Por fim, devo dizer que, por pressão dos fãs, ávidos de saberem cada vez mais sobre a vida privada de nossos agentes, os roteiristas acabam se vendo meio pressionados a mostrar algo pessoal a cada episódio, e desta vez acho que pegaram meio pesado. Embora tenham sido cenas muito interessantes, principalmente quando Reid fala de saber agora como os pais se sentem quando os filhos crescem, não consigo imaginar uma pessoa no estágio de esquizofrenia em que ela já apareceu em outros episódios, onde ele mesmo diz em The Fisher King ( 2x01), que sua mãe só se alimentava porque outras pessoas a lembravam disto, fazendo passeios assim tão aventureiros, mesmo com supervisão.  E se ela tiver uma crise na beira do penhasco? No mínimo, ele como responsável pela mãe deveria ter sido comunicado pela clínica a respeito. Apesar da evolução da medicina e do momento gracinha em que Reid faz piada com Hotch em uma praia, para mim ficou meio incoerente.

É normal existirem situações em geral que deixam pequenos buracos na estória, e que, normalmente não prejudicam o andamento do episódio. No caso de The Persuasion, por algum motivo que não sei bem explicar porque, não funcionou. A culpa disto é nada menos que os próprios ótimos roteiros que vêm sendo exibidos nesta temporada e que nos deixam muito mal acostumados, esperando sempre o melhor.


Até o próximo episódio, pessoal!

quinta-feira, 13 de março de 2014

TRUE DETECTIVE ( 8 episódios) Entre O Breu Da Noite E O Brilho Das Estrelas, Você Escolhe O Que Vai Te Guiar....


( Contém spoillers )

Foram apenas oito episódios. Mas suficientes para narrar um enredo de dois anti heróis que vão entrar para a estória, detetive Rust Cohle – Matthew Mc Conaughey e detetive Marty Hart – Woody Harrelson, diga-se de passagem, brilhantemente incorporados por seus interpretes.

Para quem esperava algo de sobrenatural, algo de fantástico ou algo com explicações mirabolantes, foi uma decepção. Talvez porque a própria vida já seja fantástica, sobrenatural ou mirabolante o suficiente. Não houve a necessidade de mais um componente externo e esdrúxulo. Quis o destino que se unissem por razões profissionais dois seres completamente diferentes em concepção e definição  ( Rust e Marty) para a resolução de um assassinato com ares exóticos, características ritualísticas, a rigor, com tudo o que há que mais pavoroso em uma execução. Nada como um bom momento como este para você conhecer o cara com quem você irá trabalhar pelos próximos meses, quiçá anos. Um deles, o detetive local ( Marty de Harrelson) todo família, religioso, acomodado nos trilhos do departamento de polícia, o detetive “quadrado”. O detetive transferido para auxiliá-lo no caso ( Rust de Matthew), amargo feito fel, a saber-se depois seus motivos( a perda de uma filha em circunstâncias mal explicadas). Um cara fascinante, desacreditado da vida, cuja teoria mais coerente é que o ser humano evoluiu por um erro genético, e que o melhor que ele poderia fazer seria caminhar para o suicídio, a fim de exterminar a espécie dignamente e deixar a evolução retomar seu rumo.



A série se passa em três épocas diferentes, quando acontece o primeiro crime ritualístico em que a dupla trabalha junto, em 2010 e na atualidade. Aos poucos eles vão seguindo pistas, caso a caso, para chegar ao grupo de assassinos pedófilos que estão perseguindo. O grande problema é que neste meio tempo eles realmente encontram um assassino e o caso é dado como encerrado. Não vou entrar em detalhes para quem quiser saborear a série antes de ter lido, mas mesmo com o caso encerrado, eles acabam tendo uma enorme briga que os separam e selam seus destinos ( Rust acaba virando atendente em um bar em troca de local para morar e mais tarde, Marty se afasta do departamento de polícia e vai trabalhar como investigador particular).  

Como uma boa série policial, encontraremos pelo caminho várias das dificuldades destes seres que lidam com a escuridão ( eu sei, eu adoro um herói detonado, são os melhores - não quero lançar spoilers em excesso), mas posso dizer que rendem ótimas cenas que justificam ou , no mínimo, explicam a conduta de cada um deles. Sempre imaginei que homens e mulheres que trabalham em  prol da justiça ( detetives, promotores, agentes, policiais, etc...) vivem em um mundo menos colorido do que nós, seres humanos normais. No que diz respeito a isso a série, de apenas oito episódios é absolutamente fiel. Os detetives sentem-se incomodados com a má resolução de um crime tanto quanto uma mãe sente-se incomodada com uma lição mal feita por seu filho.



Ao contrário do esperado, o brilho da série não se encontra no inusitado, mas na mais banal das situações, naquilo em que o ser humano anda se especializando: na maldade, pura e simples, naquilo que nos torna tão ralos quanto um pires, a busca do prazer no sofrimento alheio. Não há uma crença, uma seita, uma justificativa plausível, há apenas o mal, a escuridão, que tanto incomoda nossos anti heróis.  Há homens maus que se aproveitam da inocência da criança para exercer a pedofilia, há a religião usada às avessas, para justificar os atos obscenos, há o mundo exatamente como  ele é. E isto choca mais ( aos crentes ou não) que mil demônios alinhados em busca de vingança.



Os oito episódios da minissérie se esmeram em nos mostrar que o mal existe e está aqui, à nossa vista, a qualquer momento. Bem como as tentações ( caso do detetive Marty em suas escapadas sexuais), tudo na vida tem um preço. Por vezes alto, por vezes, passando despercebido, não fosse o desempenho extraordinário de nosso anti herói, em reviver todos os detalhes do caso e não se conformar com o resultado.  De qualquer forma, a melhor forma de defini-los é mais ou menos esta, quanto mais você revira seu lixo, mais se parece com ele, ou, quem sabe, conosco.



Em oito episódios eletrizantes, True Detective não deixa cair a peteca, levanta várias possibilidades e procura se encaixar na teoria mais banal possível. Por que o mal é banal. Porque o que assombra é o mal ser banal.  Não mete medo o sobrenatural, porque nada supera o medo do normal, ou aquilo que nunca deveria ser normal. Vivemos o dia a dia buscando luz onde há sombras, buscando lógica onde há dúvidas, buscando salvação onde há o medo mais corriqueiro. E True Detectives mantem-se fiel porque não busca o estranho, busca o lógico, aquilo com que convivemos dia a dia e negamos existir. Talvez fosse mais surpreendente se trouxesse uma alternativa sobrenatural, mas a verdade é que nada nos amedronta mais do que aquilo que sabermos existir e fingirmos ignorar. O que nos mete mais medo é o real. Todo o resto podemos explicar. O vizinho que goza com imagens de crianças na internet, a esposa com amantes de variadas idades, o idoso que paga por prazer, o jovem que renega sua opção sexual para enquadrar-se. Se aceitamos ser diferentes, nós nos aceitamos ser  normais. E sermos normais é o nosso diferencial. Não nos importa  comemorarmos sermos diferentes. Nos importa comemorarmos sermos normais ou não, não importa o que você escolha pensar.



Não creio que a próxima temporada de True  Detective possa ser melhor que a primeira. A inocência que rege a temporada anterior deve se extinguir às explicações subsequentes, e talvez se possa salvar alguma coisa não antes mencionada. Não há motivos, além da maldade e da tendência à pedofilia que não se explique além do óbvio, no entanto. A menos que eles partam para um novo caso, em um novo local, com novos agentes.



Entre tantas coisas que poderia dizer sobre a série ( optei por não dizer demais para não estragar o prazer de quem ainda não a assistiu), talvez a mais significativa seja aquela que define aquele que assiste o mal: você vai encarar um copo com pouco refrigerante ou o copo quase cheio daquele refrigerante que você ama consumir? Qual seu ponto de vista? Nós temos salvação?



É claro que a série nos deixa um vácuo para analisarmos de acordo com nosso gosto, mas de qualquer forma, há um reforço no sentido de acreditarmos na humanidade. Hust questionando   seus próprios sonhos nos enche de esperança enquanto tentamos esquecer suas referências contra a existência. Tudo nos encaminha para acreditarmos no copo cheio, mas a crença é sua, o desejo é seu. Meu desejo está bem resolvido, sabe bem o que quer, sabe que lado do copo irá escolher. Talvez um dia isto se explique. No momento, só sou aquilo que não queria terminar assim.........Talvez o perdão, talvez a aceitação, sabe-se lá, com que nome surja, Não podemos perdoar aquilo que não entendemos, não podemos perdoar aquilo que não aceitamos, mas podemos perdoar aquilo que vem a nós através do amor.....Que o amor possa perdoar todas as nossas intenções.....

O mais interessante é a troca de pontos de vista que surge ao final da série, no que diz respeito a nossos anti heróis. Eles passam os oito episódios fundamentalmente discordando, de forma absurda, pois afinal, aquele que crê ( em algo, não vem ao caso o que) é aquele que trai a esposa, não valoriza a família unida que tem, busca a perversão no corpo de uma mulher sempre mais jovem e mais pura. Por outro lado, aquele cuja vida de sua filha foi tolhida de forma abrupta, estúpida e inesperada, é aquele que desacredita, aquele que acha que a humanidade é apenas um erro cromossômico, que não deveria ter desenvolvido inteligência própria. Em vias de regra, ele deveria ser o cara a apegar-se a alguma coisa, fosse ela o que fosse, religião, seita, profecia, visto que deveria acreditar que haveria um lugar onde ele voltaria a rever sua filha.  Parece que a experiência no labirinto o leva a isto. Paradoxalmente, eles invertem seus pontos de vista e Rust passa a achar que existe um motivo para estar vivo, enquanto Mart acha que tanta maldade acaba com qualquer chance de absolvição “ a escuridão parece estar vencendo...”



No fundo, é a mera análise de dois seres que se consomem frente ao absurdo da existência humana, que se extinguem frente ao mal que sabem existir, que se esgotam de tanto tentar, tentar, acertar, acertar. Como apreciação destes dois seres ditos da justiça, a série, embora curta, cumpre seu dever, rachando figuras consistentes e simbólicas, do bem e do mal que os cerca. Enquanto a filha de Marty brinca ingenuamente com seus bonequinhos onde uma mulher machucada é cercada por outros bonecos machos, sem uma explicação adequada, em um mundo de total faz de conta, outras mulheres em um outro mundo, lutam ( ou não) por um pouco de dignidade, por respeito ou mesmo para não sentirem dor. Interessante, porque quando Mart surra os dois rapazes que estavam transando com sua filha, é como uma auto punição, pois o que de diferente ele faz com as moças que pega para transar nos bares ou prostibulo?



Sim, havia um crime, haviam criminosos, alguns foram capturados, outros, nas palavras de Mart, sempre existirão por aí, mas a estória a ser contada não é essa.  A estória a ser contada é apenas a de dois anti heróis, cheios de defeitos e desventuras, em busca de si mesmos, quiçá, em busca de redenção. Quanto aos criminosos, sempre haverão outros, estes e muitos outros, que irão assombrar a nossa existência.



Que venha uma segunda temporada ainda mais criativa!!!!!!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 12 de março de 2014

Review - Criminal Minds 9x16 - Gabby


Por Débora Gutierrez Ratto Clemente


Que eu sou fã inconteste de Criminal Minds, nunca houve dúvidas por parte de quem me acompanha há muito tempo. Mas sempre, ainda por ser fã, fui muito crítica sendo razoável o suficiente para aceitar que nem todo o episódio de uma série que está no ar há nove anos pode ser espetacular. Mesmo uma série de excelente qualidade tem seus momentos fracos, aqueles episódios que beiram a emotividade máxima ou tem a pouca sorte de contar com guests stars fracos, que não colaboram para o desenvolvimento do enredo. Há também episódios cujos enredos tem finais pouco convincentes ou direções com pouca criatividade, além de pós produções e edições de imagens pouco felizes. Acontece, em qualquer boa série.

Gabby, com roteiro de Jim Clemente e Erica Messer e direção de Thomas Gibson é uma aula de como todas as coisas acima mencionadas, quando ausentes, podem tornar o episódio espetacular. A começar pelo arrepiante fato de, segundo Jim Clemente, hoje roteirista e assessor técnico, e, há muitos anos atrás, um agente do FBI verdadeiro, trabalhando em área similar, nos contar que o episódio foi totalmente baseado em um caso real em que ele mesmo trabalhou, o que torna o fato em si ainda mais aterrador.

A estória começa com uma mãe divorciada que, ao ganhar uma viagem em um cruzeiro de uma semana para aproveitar ao lado de seu atual namorado, resolve deixar sua filha de quatro anos aos cuidados de uma prima, que foi criada como irmã por sua própria família, quando perde seus pais. A mãe Kate, a menina Gabby  e a prima Sue formam um encantador trio logo nas primeiras imagens o que irá tornar os caminhos percorridos durante a investigação, ainda mais dolorosos. A menina some do carro da tia, durante a noite, nos quatro minutos em que esta se ausenta para comprar leite e mais três ou quatro itens de alimentação. Não falta logo de início a vizinha vigilante e meio fofoqueira, tampouco o cara paquerador dentro do mercadinho para desviarem nossa atenção. E, em seguida, um homem jogando de uma ponte um corpo embrulhado em plástico, para arrepio de nossas espinhas.

A investigação segue e as suspeitas caem sobre o ex marido que aceitou mal perder a guarda da filha por uso de drogas, e em seguida, sobre o traficante, seu fornecedor. Mais tarde, já detido o traficante, o corpo do pai da menina é encontrado ( aquele que todo mundo, ou quase todo mundo pensou ser o da criança). Tudo indica para Ian Little ( o traficante), que aparece com a cabeça toda queimada e uma desculpa pífia. Hotch assume a teoria de que Ian sequestrou Doug ( o pai) e o matou, mas nada ainda explica o sumiço da criança. Por dois momentos no episódio veremos Hotch totalmente transtornado ( ou aparentemente transtornado – casos com crianças em especial costumam motivar ainda mais nossos agentes, em especial os que tem filhos). O primeiro deles é quando ele interroga Ian, certo de que ele é o responsável pelo sumiço de Gabby. A tomada subsequente com a busca pelo corpo no rio, abaixo da ponte é cheia de tomadas criativas, com câmeras altas e baixas, enfatizando a importância de cada descoberta, até chegarmos ao corpo do pai.

Alguns momentos em especial destacaram-se pelas interpretações dos guests stars, como no caso do reencontro entre as primas ( não posso dizer que não cogitei a prima ser suspeita, mas aí é outro assunto, são muitos anos assistindo a séries, normal algumas pessoas sacarem antes). Mas não posso dizer que não tenha sido pelo empenho da atriz que faz a Sue, totalmente convincente. Neste jogo de gato e rato, onde abençoo o fato de, embora sabermos que JJ tenha se fortalecido pelas experiências no exterior, ela mantenha vivo, dentro dela, aquele espirito acolhedor, de mãe, de mediadora, aos poucos, seja via interrogatório seja com o auxílio de câmeras, as coisas começam a tomar outra forma e surge uma terceira via: a tia teria matado o pai para proteger sua sobrinha, o que mais uma vez, não explica o sumiço da criança.

Casos como este, de desaparecimento de crianças, ocorrido  poucas horas antes ( onde nos EUA se emite o chamado Alerta Amber ) são tão comuns como angustiantes. Estatísticas de lá ( não tenho noção de como são as estatísticas por aqui) afirmam que uma criança não encontrada em até  vinte e quatro horas é considerada potencialmente sem chances de ser encontrada viva. É neste ponto que a edição e montagem ganham força, reforçando o desespero e a urgência em obter resultados. Não há tempo para pensar com clareza, tampouco ser gentil, mesmo que seja com os pais da criança. Ainda assim, a cena onde Hotch provoca Sue até despertar nela o seu pior e ela avançar fisicamente nele demonstra isso claramente. Não há tempo para estudos. Uma simples provocação para desencadear uma reação é suficiente para eles mudarem a perspectiva do caso. Outro dado interessante é que eles mesmos periciam a casa, para abreviar a espera por resultados. É muito provável que isto não ocorra de fato nas agências, mas em termos de narrativa cinematográfica ( aqui, usada em tv) dá muito resultado, amplificando as tentativas e enxugando as esperanças, dos agentes e de nós telespectadores, que esfriaríamos as nossas expectativas à espera de resultados técnicos. É só acenar com uma chance de acordo, que o traficante que namoricava a tia entrega o jogo todo, explicando que apenas teria se desfeito do corpo do pai, mas que Sue teria feito todo o resto. 

Nestas horas é muito bom contar com uma boa interpretação. Sianoa Smit-McPhee no papel de Sue dá um banho de interpretação, contracenando com a também ótima Ashley Jones. A mudança em seu comportamento abandonando a fala mansa e comedida por uma cheia de ódio e sadismo nos dá a medida exata do perigo que Gabby corre nas mãos da tia. Junte-se a isso a incredulidade da mãe ouvindo os argumentos de Sue e temos uma ótima cena, bem fotografada e muito bem dirigida, pois tal texto seria armadilha fácil para um dramalhão mexicano.

Em resumo, como na maioria das vezes a realidade é muito mais cruel que a ficção, ficamos sabendo através da magia de Garcia que Sue não apenas desfez-se de Gabby para torturar e enlouquecer sua mãe, mas que a entregou a pessoas que formam uma rede paralela de adoções, que burla o sistema oficial, e faz com que crianças inocentes caiam nas mãos de pervertidos, doentes e sádicos. Quando encontram Gabby, com um casal cujo visual e ambiente representam a escória da humanidade, Rossi chega a pedir por um motivo para matar o cara no sofá: - Me dê um motivo ( apontando a arma para o homem). Confesso, não sei se isso faz de mim um ser humano menos digno, mas torci para o cara reagir. Gente que faz mal a crianças me revolta profundamente ( sim, também sou mãe, em um claro sinal de que o instinto maternal de JJ ou paternal de Hotch, falam mais alto nesta hora). Na casa, além de Gabby, eles ainda encontram mais duas crianças que muito provavelmente irão voltar ao sistema oficial de adoções e os agentes se lamentam por isto. Os momentos de conforto ficam por conta de Morgan fotografando a cena do reencontro de Gabby com a mãe e o padrasto e enviando para Garcia e Hotch ( o chefe que nunca tem motivos para ver nada colorido ) com um breve sorriso de vitória de um dia que poderia ter sido trágico, mas acabou salvando a vida de três crianças.
Episódio certinho, com tudo em cima, que me remeteu de imediato a Seven Seconds ( 3x05), mas que saiu ganhando em  dois pontos: 

* Em Seven Seconds nós não conhecemos a criança desaparecida até o momento em que ela começa a aparecer em flashbacks. É muito inteligente nos colocar em contato com a menina ( Julia Butters) desde o princípio, porque ela é uma graça e criamos de imediato um forte vínculo com ela ( a menina por sinal é a simpatia em pessoa).
* O desaparecimento da menina é em local público e aberto, diferente do episódio citado anteriormente, diminuindo potencialmente as chances das coisas darem certo.


Considerações finais:


·        *Já havia visto dois episódios de Dharma e Greg e um de Criminal Minds dirigidos por Thomas Gibson, além deste propriamente dito, e em nenhum ele me pareceu acertar tão bem quanto este. 


·         *O ator ( TG) pareceu estar mais à vontade com a auto direção ( não posso dizer o mesmo de All That Remains (8x14), mais restrito em fotografia, montagem e mesmo participação).


·         *A.J.Cook conseguiu encontrar o meio termo entre sua passagem como encarregada de mídia e aconselhadora e, posteriormente, uma mulher que não só cresceu profissionalmente, mas que passou por maus bocados no meio do caminho. Ela consegue encontrar o ponto certo, sem esquecer quem foi, nem desrespeitar seus instintos.


·         *Ainda continuo achando que Matthew precisa com urgência de tesoura e pente, preferencialmente nas mãos de um especialista, e não dele próprio, como ele costuma se vangloriar em fazer.  
   
           *Preciso dizer, o agente Aaron Hotchner bravo, muito bravo, é um caso muuuuito sério ( esta é para as meninas que curtem o Hotch,rs).



Até o próximo episódio pessoal!!!