quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Criminal Minds - 8x07 - The Fallen - Meus Comentários



O verdadeiro crime de The Fallen aconteceu há cerca de cinquenta e poucos anos atrás e os americanos     ainda   não   conseguiram enterrar seus mortos. E é bom que não consigam. A persistência de alguns poucos em resgatar a memória do povo para que nunca se esqueçam do erro que foi a Guerra do Vietnã - como aliás, toda guerra é - e a insistência em mostrar o que acontece com os veteranos quando ( e se ) retornam é louvável.


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O episódio foi sobre isto. Uma analogia clara entre a faxina sócio-econômica e o esforço de uma pátria em descobrir o que fazer com seus soldados quando eles retornam amputados no corpo e na alma, sem emprego, sem compreensão familiar, muitas vezes, por conta da sua situação, sem nenhum apoio para exorcizar os demônios trazidos da guerra. Genial. Absolutamente genial. Os americanos posam de bons moços hornando a bandeira e seu hino cheios de orgulho e deixam   que seus   soldados morram de fome nas ruas  (situação ilustrada brilhantemente pela figura do  heróico bombeiro e sua visão distorcida dos sem teto contaminados). Ou morram de incompreensão em casa. Tanto faz. A maioria já está morta quando volta, mesmo caminhando  com   seus   próprios  pés, pois   não   se   vive  uma experiência assim   sem se  morrer  um  pouco de alguma forma. Os que conseguem sobreviver honrosamente a tal agressão física e psicológica, embrenham-se, então, em lutas pessoais ou têm parentes engajados, como o caso  do próprio ator  Joe Mantegna, para tentar resgatar a dignidade de quem não teve a mesma sorte. 




A fotografia foi incrível, mesclando momentos passados e presentes, ajudando a dar dimensão ao passado do Rossi. E eles conseguiram encaixar a estória do personagem de forma tal a não contradizer suas características principais, sua sabedoria, sua paciência e determinação, tiveram uma origem que, para mim, foram muito coerentes.

Obviamente, o caso do bombeiro teve solução abreviada e nossos agentes viraram coadjuvantes para que todo o resto pudesse ser contado. Paciência. Só se pode contar uma estória de cada vez ( em 42 minutos, é claro ). E, mesmo   assim, eles   conseguiram  um personagem  que pudesse, através dos seus crimes, tornar-se um espelho para refletir a estória principal.

Entendo que talvez o impacto do episódio tenha sido maior lá do que em países como o nosso, onde nossas experiências com a guerra sejam infinitamente menores ( somos mais especializados em policiais honestos que ganham salários de miséria para nos proteger do crime e   são   mortos brutal e   covardemente ou largam seus trabalhos e mudam-se de suas casas com suas famílias para tentar  proteger-se  (cada país arranja sua própria guerra do jeito que lhe convém), mas o episódio trás à luz a guerra em dois atos - a versão em cores, farsesca, dos governos que sobrevivem da indústria da bélica e necessitam   da boa imagem que ela precisa produzir e a versão em preto e branco, de quem vai e vê o hediondo acontecer à sua volta e, quase sempre paga caro pela própria participação.

 
Sei que falei de The Fallen de forma genérica, sem entrar nos detalhes do caso em si, mas enquanto escrevo, imagens sobre o conflito entre israelenses e palestinos desfilam pela tela da minha tv. Em uma semana de violência física descontrolada em São Paulo, de violência impressa ( cortesia da Veja e seu artigo preconceituoso e discriminatório ) e na iminência de mais e mais mortos na Faixa de Gaza e imediações eu me pergunto porque o homem se preocupa tanto se a natureza irá se rebelar e destruir a humanidade ou se existe vida lá fora que possa vir aqui  para nos exterminar. Nós não precisamos de nenhum outro inimigo. Somos especialistas em nos destruir, das formas mais estúpidas possíveis.




Inteligente também, por parte dos roteiristas em dar uma variada no "cardápio", saíndo   do   tradicional, para   nos   contar a estória pregressa de um dos nossos personagens. Não pode virar rotina, mas não   posso   negar que  foi muito, muito bom. Por fim, a dobradinha Joe Mantegna e Meshach Taylor foi primorosa. Ator convidado bem escolhido e Joe, bem, nem preciso dizer. Adoro  ele e seu Rossi complacente, cheio de bagagem de vida.

Para todo mundo que lamentou o episódio não se parecer muito com um "original" CM fica a dica: depois de oito anos eles precisam destas chacoalhadas de poeira para não nos dar mais do mesmo semana após semana. E é muito bom saber que os americanos ainda sabem expor suas feridas. Mesmo que possa parecer panfletário, reflexão sempre é muito bom.

Bjos e que venha o proximo!

O Grande Embuste

Raramente falo sobre política em blogs. Política, religião e futebol são coisas que aprendi desde pequena a não discutir, apenas respeitar, cada qual com sua opinião. Não acho que isto seja omissão da minha parte, no entanto, fujo daqueles lenga lengas intermináveis sobre a minha opinião ser mais significativa que a sua. Há anos deixei de tentar catequizar as pessoas. Se em uma conversa perguntam minha opinião sobre política eu deixo claro o que penso, mas não vou ficar tentando converter cristãos em muçulmanos. Isto ficou para trás, junto com os movimentos ativistas da época de faculdade, das passeatas pelas greves, dos protestos, entre outras coisas, que parecem ter acontecido há mil anos passados. Há muito tempo atrás descobri o óbvio: fazer é sempre melhor que falar. Faço o que acho importante e o que minha consciência me manda fazer.

Porém, hoje me surpreendi com um comentário de uma pessoa que julgava ser alguém que me conhecesse melhor. Alguém, que, porque sempre me ouve falar de amenidades, de música, de filho, de cinema ou receitas caseiras, me questionou sobre eu nunca compartilhar "nada interessante" no facebook. Tome-se por interessante aqueles quadrinhos que falam com indignação sobre a situação política do país, sobre o racismo,  homofobia, sobre matratar bichinhos ou sobre qualquer outra coisa que exija indignação. Ou sobre como cuidar melhor do planeta, entre outras coisas. Com quase cinquenta anos bem vividos, eu não deveria mais ter que me explicar sobre nada para ninguém, que não fosse talvez, o homem com quem divido a cama há vinte e cinco anos ou o filho a quem deixo por herança meus exemplos, mas tal comentário, vindo de quem veio, me incomodou profundamente.

No entanto, conhecendo a figura, melhor do que ela a mim, sem falsa modéstia, sabia que perderia meu tempo desfiando o meu rosário a um ateu. Pensei em explicar a tal criatura que eu leio mais sobre política, economia, e notícias em geral em um dia do que ela lê em um mês. Pensei em dizer a ela que acompanho de perto notícias sobre os vereadores, deputados, prefeitos, governadores e presidentes em quem já voltei com mais eficácia do que ela sabe dizer o nome do último vereador em quem votou na última eleição e que exercito meu protesto nas urnas e não em uma rede social. Pensei em comentar que reciclo meu lixo com mais responsabilidade do que ela, que apenas posta notas sobre como isto é feito nos países de primeiro mundo, mas não se dá ao trabalho de enfiar o lixo no carro e levá-lo até o depositário mais próximo de nossas residências, como eu faço semanalmente. Me atrevi a pensar que talvez, apenas talvez, eu faça mais pelo trânsito da minha cidade sendo gentil, dando passagem, não fechando cruzamentos, respeitando os ciclistas, do que ela, que, a despeito de postar constantemente notinhas sobre cidadania no trânsito, pára em fila dupla na porta do edifício onde moramos sem a menor consideração, apenas para que a filha dela não caminhe cinquenta metros a pé até onde seu carro estaria melhor estacionado. Também me ocorreu que, provavelmente, a despeito de todas a postagens sobre o respeito à diversidade, ela não tenha, como eu tenho, tantos amigos gays e lésbicas fazendo parte do seu dia a dia, e que ela jamais saberá, como eu sei, como é importante apenas respeitar a decisão das pessoas, coisa que me orgulho em fazer, sem qualquer alarde. Por fim, mesmo sem nunca ter postado ou compartilhado nada sobre o quanto o racismo é horroroso ou opiniões sobre  as cotas nas universidades serem ou não necessárias para reparar danos passados, como ela o faz com frequência, ela nunca terá, como eu tenho, tantas amigas e amigos negros, pessoas com quem eu posso contar no meu dia a dia, pessoas que são para mim minha verdadeira família, e que eu respeito porque são ótimos seres humanos e não porque são negros, brancos, azuis ou verdes.

Depois de rápidos e polidos comentários peguei o meu carro e no trajeto fui pensando no assunto. Onde moramos ela é conhecida por suas novenas, sua constante presença na igreja do bairro, entre outras coisas. Mas, não sei se onde ela vai rezar, seu "Deus", seja ele qual  for, perdoa a forma como a vejo tratando os porteiros do prédio, sempre arrogante e constantemente implicando com eles por bobagens. Ou se, por efeito espelho, ela se dá conta que, sua filha destrata, como ela própria, os mesmos funcionários, no melhor estilo " você sabe com quem está falando?". Não acho que meu "Deus" me escute menos porque converso com ele em qualquer lugar, no carro, no trabalho, na cozinha ou no banheiro. Não acho que ela mereça sequer que eu perca meu tempo pensando nela, porque o que ela prega impiedosa e furiosamente nas redes sociais, eu faço, quanto a ela, eu não tenho tanta certeza. Eu não acho que clicar em imagens na internet faça mais pela sociedade do que eu faço em silêncio, em sintonia com minha consciência. 

Uma coisa é uma saudável discussão entre pessoas interessadas em um assunto, debatendo, trocando informações, opiniões sobre quaisquer que sejam os temas, coisa que acrescenta de fato, outra é sair "compartilhando" - palavra que virou moda graças ao Facebook, mas que a maioria das pessoas sequer sabe bem o que significa -  só porque é bonitinho e todos compartilham também. Não uso uma rede social para que as pessoas me achem legal ( talvez por isto tenha algo em torno de "sessenta amigos" no Facebook ou no twitter e não dois mil e duzentos seguidores). Meus amigos de verdade têm que me achar legal porque de fato me conhecem e sabem como eu sou, o que faço, o que penso. Se eu precisar postar quadrinhos simpáticos e ideológicos nestas redes para eles me conhecerem melhor, é melhor eles nem me conhecerem. E nem eu a eles. 

O uso de ferramentas na internet perdeu a finalidade, na opinião modesta desta revoltada usuária. Ainda me divirto em grupos fechados, onde trocamos opiniões, informações e  brincadeiras específicas sobre determinado assunto, mas não estou preocupada em aparecer bem na fita. Todo mundo é feliz em uma fotografia que leva oito segundos para ser batida. Ninguém quer em um porta retrato a foto da sua infelicidade. Mas o facebook extrapola todos os precedentes. Lá todo mundo é feliz, todo mundo é politicamente correto, todo mundo luta por um mundo melhor. Todos conhecem magicamente a solução para todos os males que afligem a humanidade, que vão da resposta para o aquecimento global até decidir quantos filhos sua melhor amiga deve ter para ser feliz. Me parece uma vida plástica, meio de faz de conta, meio desesperada em busca de reconhecimento para se ser aceito. Às vezes, espiando por lá, me sinto no meio do filme dos Smurffs, sem os bonequinhos azuis e quase chego a ouvir o lá, lá, lá lá lá lá... lá, lá, lá, lá, lá....

Em um mundo de mentirinha todos são colaboradores, compartilhando apoio sentados confortavelmente em seus sofás ou em mesas de escritório. Leva tres segundos para você compartilhar um destes quadrinhos que diz que se você reciclar seu lixo o mundo será bem melhor, mas leva dez minutos para pegar uma tesoura, abrir quatro embalagens tetrapac de leite, lavá-las adequadamente com detergente, e colocá-las em um saco de lixo, onde, depois de alguns dias, eu levarei meia hora para levar este mesmo saco de lixo reciclável cheio para meu carro, pegarei algum trânsito e finalmente estarei  depositando-o em local apropriado, algumas quadras além de minha residência. E é assim para as latas de atum, litros de óleo e por aí vai. Visto desta forma, passa a ser bem mais difícil ser ecologicamente correto, o que, na minha opinião, leva a maioria das pessoas a optar pelo clique em curtir do Facebook. 

Este é só um mero exemplo, existem inúmeras outras comparações que poderiam ser feitas neste meu desabafo, mas logo me lembro que minha vizinha, referência neste meu comentário, nem merece outras considerações. Prefiro, da minha maneira, fazer as coisas que considero certas sem precisar fazer anúncio disto. Talvez nem todos me achem legal. A maioria talvez acredite, como a minha vizinha, que sou omissa, obtusa, alienada. Tudo bem. Eu preciso me achar legal. Na minha idade não preciso provar mais nada a ninguém. Eu preciso acreditar que estou fazendo o que é certo, não os outros. 
Antes eu me preocupava. Agora não. Eu cozinho para os meus amigos e amigas porque isto me dá prazer, não para ser popular. Eu faço agrado às pessoas que são importantes por que eu acho que elas valem à pena e elas nem precisam saber disto. Eu paro no farol antes de fechar um cruzamento, não só porque é lei, mas porque acho que é meu dever colaborar por um trânsito melhor. Se eu faço uma doação, não preciso fazer um anúncio no jornal. Se me preocupo com meu filho, não espero ser eleita a "mãe do ano".E por aí vai...

Quanto à minha vizinha ( sei lá se um dia ela vai ler isto e vestir a carapuça), tanto quantos aos amigos com quem vou "compartilhar" estas linhas, só posso pedir desculpas. Sou de uma época em que compartilhar tinha outra conotação. O tempo me ensinou a ouvir mais e falar menos. E só falar quando sentir necessidade. Hoje eu senti. Pelo bem ou pelo mal, precisava dizer que sou mais do que um "curtir" no Facebook. Sou mais do que aquela mulher perfeita, que compartilha coisas que beiram ao irreal, senão ao insensato. Sou cheia de boas intenções, mas não me queiram a mal, não há mais espaço no inferno para gente cheia de boas intenções. Sou daquelas que acham que de boas intenções o inferno está cheio. É preciso mais. Mais que um clique no "curtir", mais que "compartilhar" uma frase legal, mais que ser o sujeito "gente boa". É preciso ação. Atitude. E isto, sinto muito, não se faz clicando em nada. 

Tudo bem, amiga vizinha, ou talvez, agora o texto divulgado, amigo leitor. Eu vou continuar fazendo de conta que não uso o Facebook por falta de tempo e você vai continuar me julgando alienada. Mas, não espere de mim nas redes aqueles quadrinhos e mensagens politicamente corretas. Eu continuo sendo sacana e crítica, muito além das frases feitas. Se você quiser discutir algum assunto comigo, estou à disposição, mas faça isto através de palavras próprias, não se esconda atrás de citações históricas ou de efeito, isto é bonitinho na tv, na vida real a estória é outra.

E, para quem perdeu seu tempo lendo tudo isto e acha que não valeu à pena, fique tranquilo. Vou interpretar a falta de comentários sobre meu texto como um fato da vida. Será só mais uma vez em que eu fiz algo que não agradou à maioria! 

Meu mais sincero bom dia a todos! 

 

Criminal Minds - 8x02 - The Pact - Meus Comentários


Fui me deitar com duas palavras na cabeça: justiça e impunidade. Gostaria de ter escrito meus comentários logo após ter assistido o episódio, pois o impacto que ele me causou infelizmente se perderá um pouco agora, horas depois. Mas me veio à cabeça ontem, junto com meus pensamentos aquela frase ( não lembro o autor ) que diz que se você pretende fazer   justiça com as próprias   mãos,   deve cavar 2 covas ( ou algo assim, não lembro exatamente, mas ela se encaixa perfeitamente no episódio).




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Embora a ideia não seja exatamente original, sua execução foi brilhante. A dor da mãe negra era quase palpável e a interpretação da atriz excelente. Aquela mãe foi vítima três vezes: quando perdeu sua filha, quando não conseguiu justiça à altura para o assassino dela e quando foi manipulada cruelmente pela psicopata que a guiava nos crimes. Todos   somos   capazes de matar, mas nem todos somos capazes de conviver com isto. A constatação de que vingar sua filha matando ela própria os culpados não lhe traria algum conforto foi, talvez, a quarta injustiça  da qual foi vítima.


Em contraposição à ela, a outra ponta da corda. Esta sim, uma pessoa doente, que sentia mais prazer em matar do que em vingar quem quer que fosse, usando a dor da morte do sobrinho como desculpa. Por isso somos diferentes uns dos outros. A injustiça da qual foi vítima foi apenas o gatilho para que ela saísse derramando seu sádico prazer e com ela arrastasse mais alguém junto. Claramente ela mostra que diverte-se não só em matar, mas em conduzir a outra mãe a este feito ( no banheiro, quando ela pega a amiga vomitando, fica implícito o quanto ela se espanta com a fraqueza alheia e o quanto ela acha isso um absurdo!)





 


O subterfúgio de fazer parecer que o último sujeito a ser perseguido havia de fato se recuperado foi inteligente, pois criou nova reviravolta com a descoberta do fato em contrário. O duelo entre os dois personagens doentios no carro foi genial, pois era quase possível sentir a    satisfação   da mulher ao    volante ouvindo a descrição dos atos do assassino. A própria forma de assassinar, arrastando os corpos mostra uma crueldade aquém da necessidade de obter-se justiça. 
 
O que achei interessante no episódio, entre outras coisas foi o fato de serem duas mulheres. Dinâmica incomum na série, mas que deu muito certo. Outra coisa interessante foi explorar a fragilidade da justiça, coisa da qual a gente vive reclamando por aqui, mas que parece ser inerente ao sistema judiciário de qualquer país. Por fim, gostei muito da interpretação dos três convidados principais. Fazia tempo não me lembrava de coadjuvantes tão bem destacados para os papéis.


Quanto ao final, sensacional. O diálogo das duas, o comentário feito pela psicopata sobre todo crime ter que ser punido e tão logo ser pega    pela   surpresa de ter    sido encontrada pelo Rossi, sem demonstrar qualquer surpresa ou revolta com o fato, a "fuga" da outra mãe, que mesmo que não tenha conseguido ser presa pela polícia, passaria a vida toda presa à sua consciência e à sensação que talvez  não tenha valido à pena, pois nada traria de volta sua filha nem sua vida "normal". Cada uma das assassinas, de acordo com sua predisposição para os crimes teve a prisão que"merecia", usando aqui de uma licença poética, pois também acho que todo crime deve ser punido. Mas, pensando bem, talvez sua pena tenha sido maior que a da amiga, tendo em vista o seu caráter. Apenas o pequeno sorriso que a assassina ao ser presa dá ao descobrir a parceira dentro do ônibus lhe confere alguma humanidade, o que poderia ser meio contraditório ao perfil ou apenas a constatação de que elas eram diferentes, mereciam destinos diferentes. Quase um “valeu à pena!”




Quanto à equipe, Joe Mantegna conseguiu trazer à luz assunto que ele aborda com frequência em forma de homenagem, os militares e suas missões. Com o assunto férias e seus comentários bem humorados a respeito, a roteirista conseguiu manter o momento leve do episódio sem precisar se esticar muito nisto nem perder tempo precioso para ater-se ao caso. Todos tiveram uma participação de certa forma discreta, pois o episódio foi dos convidados, não da equipe, atitude prazerosa, na medida que foi bem conduzida.




Achei meio forçado o fato de a Garcia conseguir acesso à toda a conversa    do    grupo de apoio. Me   faz pensar   se tudo o que escrevemos nos msns da vida fica registrado de alguma forma ( tive a impressão que o grupo se relacionava em uma espécie de chat, não em um grupo). Enfim, recursos necessários para dar andamento à estória.

Observações:

- Ter um casamento meio que à distância deve dar a ambos tempo exclusivo que nunca temos quando vivemos juntos  - FATO!

- Reid, pelo amor de Deus, você é um homem lindo, mas isto não te dá o direito de levantar-se da cama e ir trabalhar sem pentear os cabelos ( para não dizer que um bom corte faz muita falta ) – me perdoem as GGs.

- Quando o Reid dispara sua metralhadora de informações passo a ter certeza de que terei que ver o episódio novamente, desta vez legendado. Não consigo acompanhar metade do que ele diz quando ele se empolga!


- Estranho o comentário do Hotch no início do episódio sobre fazer caridade ( ou algo assim) ser sexy. Meio fora do personagem.

- Naturalmente, a observação acima não me impede de afirmar que Hotch continua sendo uma grata distração ( e claro, mais um bom motivo para rever o episódio).

Que venha o próximo!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

FIC - DECISÕES - CAPÍTULO 8 ( FINAL)




“Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!”

Fernando Pessoa




Ela sabia exatamente quais palavras ele iria proferir, eram quase as mesmas palavras que a atormentavam sempre que voltava ao passado em suas lembranças. Mas quando elas bateram em seus ouvidos, ditas num tom baixo, em um misto de perplexidade e decepção, soaram doloridas como a marca que carregava agora em seu corpo. Como dizer ao homem ao seu lado que ela provavelmente não era a mulher dos seus sonhos? Eles eram tão diferentes. Para ele tudo era preto ou branco. Para ela, na maioria das decisões de sua vida, tudo havia sido cinza. E para ser justa consigo mesma nem ela gostava muito, às vezes, da mulher que havia se tornado.




Ela sentou-se ao lado dele na cama, o lençol já não lhe cobria os seios, mas ela não se importou. Ele fez menção de repetir o mesmo movimento, mas ela o conteve com a mão firme sobre o seu peito, mantendo-o deitado. Arrastou seus dedos preguiçosa e pensativamente sobre cada cicatriz na tez morena, caminhando sobre elas caprichosamente, sentindo cada falha na pele, como se desejasse que elas lhe trouxessem coragem e inspiração. Levara tantos anos para consumar seus anseios e, agora, tudo chegara rápido demais. Preparara-se para o prazer que desejara ter e não para a amarga experiência de escancarar suas opções na vida, imaginara-se nua sob o corpo dele, mas não previra ter que desnudar também sua alma naquele primeiro encontro.

- Eu só me apaixonei uma vez em minha vida e não foi por ele, Aaron. – Ela respirou fundo e buscou forças para continuar. Sabia que aquilo era muito pouco a dizer para o homem que estava deitado ao seu lado. Ele tinha o direito de saber toda a verdade. Aos poucos, deixou suas mãos escorregarem para fora do corpo dele e as repousou sobre o lençol que lhe cobria as pernas.

– Mas...é bom se sentir amada. E, acredite, Ian me amava. Muito. Sempre tive dificuldade para lidar com sentimentos e ser amada nunca foi uma prioridade em minha vida. Ser aceita, sim. Começou muito cedo, quando eu não conseguia me encaixar em lugar nenhum, quando fazia qualquer coisa para contrariar uma mãe dominadora e um pai omisso, quando não vivia tempo suficiente em um mesmo lugar para criar laços, sequer amigos. Creia-me, estas pessoas que eu não consigo encarar e que choraram minha morte, são as mesmas que, pela primeira vez em vida minha vida, me fizeram sentir ser parte de alguma coisa. Eu nunca tive muito a perder. Eu era a pessoa certa para aquele trabalho. Trabalhar infiltrado nunca é simples, mas é menos pior se você não tiver alguém que te ama esperando você voltar um dia, são e salvo. Eu não tinha.



Sem laços, apenas colegas de trabalho para quem um bom dia e um boa noite era mais do que o suficiente, um sem número de pessoas de quem me recordava apenas em datas festivas e uma família tão preocupada com seus próprios problemas que apenas desistiu de discutir comigo minhas escolhas na vida. Nada a perder, Aaron. A ganhar, apenas a satisfação de saber que seria um trabalho difícil, mas que eu era competente o suficiente para realizá-lo de forma eficaz. Para mim soava como um desafio profissional e eu tinha as minhas ambições.

Ele a ouvia com tanta atenção que sequer reagia aos toques suaves da mão dela de novo passeando por seu corpo. Bebia cada palavra, como um remédio amargo necessário para a cura de suas dores. Queria crer que, fosse qual fosse a resposta, tal qual um antídoto, tudo se resolveria, tudo seria passado. Mas doía ouvi-la dizer que nunca tinha sido importante para ninguém.

- Então veio o Ian. Meu suposto envolvimento com ele era previsível e necessário para que pudesse criar confiança e todo o seu esquema fosse exposto e ele, por fim, preso. - Ele não se movia, então, recolheu suas mãos novamente. Ela desviou lentamente o olhar para a janela ao seu lado, por onde entravam as luzes que a noite abrigava. - Mas eu não esperava que justamente alguém como ele pudesse me dar tanta atenção, tanto carinho. Ele realmente se importava comigo. Do jeito dele, ele me amava. Ele queria que eu fosse a mãe de Declan. Ele teria me dado o mundo, se eu tivesse pedido. E eu gostava disto. Da sensação de...



Parou, horrorizada com o que estava prestes a dizer a ele. Pela segunda vez no mesmo dia ela desejou enfiar-se em um enorme buraco porque, novamente, ele não dizia nada. Sequer parecia respirar. Ela olhou para ele. Era impossível descrever o rosto sério que a fitava. Não que ela esperasse dele complacência ou compreensão imediata, mas de certa forma, embora em um quarto de hotel, embora despido, ele agora se parecia muito mais com o chefe do Departamento, com o qual ela estava acostumada a conviver diariamente.

- ... é horrível, eu sei. Eu sempre soube exatamente quem era Ian Doyle, todas as pessoas que matara, todas as que mandara matar. Sempre soube de toda a sua crueldade, dos seus crimes, sempre repudiei seus atos. E sempre tive certeza de que por mais que me amasse, não teria piedade de mim ao vingar-se, se por mim fosse traído. E, nunca, Aaron, NUNCA me esqueci que estava em uma missão. Em nem um momento me passou pela cabeça que as coisas pudessem ter um desfecho diferente. Eu sei o que parece, eu te disse uma vez, eu sempre tive um radar para caras ruins...Mas eu sei também....

- Você..... o amava?

Ele repetiu a pergunta quase como se tudo o que fôra dito não tivesse tido muita importância. Não que ele não tivesse absorvido toda a informação. Não que ele não tivesse compreendido seus motivos, nem que ele quisesse ser um canalha perfeito, tirando a fórceps, da mulher com quem fizera amor hora antes, uma informação tão íntima e pessoal. Mas não podia evitar. Certo ou errado. Sua régua moral não conhecia os números de um à nove em uma escala de zero à dez. Era zero... ou dez... às vezes doze.... Mas este era ele, e ele precisava saber... Ela ainda olhava de canto pela janela, mas ele podia ver, refletidas em prata, as lágrimas silenciosas que escorriam pelo rosto triste dela.



Ao contrário dele, que aprisionava todas as suas emoções, ela vertia toda uma gama de sentimentos em seu semblante. Ele queria abraçá-la, mas não conseguia se mover. Tentava entender como um homem como aquele pudera fazê-la sentir-se....tão bem. Ele e Doyle eram como água e vinho, diametralmente opostos. E precisava ter certeza de que ela não iria chorar a morte dele quando chegasse a hora. Parecia cruel, mas deixara de crer que a vida era apenas um amor e uma cabana há muitos anos atrás. Cedo ou tarde, o destino apresentava sua fatura e precisava estar certo de que estava disposto a pagar por ela.

Ela olhou para ele. Cinza. Toda a sua vida fôra pautada em cinza. Nem sempre preto, nem sempre branco. Cinza. Mas ela podia entendê-lo. Afinal, fôra por este homem que se apaixonara, há tantos anos atrás, quando do topo das escadas da entrada principal da casa da família, ela o avistara. O mesmo homem que respeitara a brilhante aliança que envergava e que, solenemente, ignorara seus apelos para ser observada. Qualquer outro homem teria cedido. Não ele. Ele sempre fôra o mesmo. Sempre fiel à suas convicções. Não a surpreendia hesitar em aceitar o cinza. Ele precisava de um sim ou de um não.

Com os olhos cheios d’água, ela buscou os olhos dele e perguntou-se brevemente em que momento insano de sua miserável vida achara que pudesse merecer o amor e o respeito de um homem como Aaron Hotchner. Embora ele estivesse a apenas a um toque dos seus dedos, ela sentiu um imenso abismo entre eles. Haveria como ser diferente? Ele sempre seria o homem que nada punha a perder, ela sempre seria a mulher disposta a tudo arriscar. Mas, afinal ele estava ali. Ele a havia procurado. Ela insistiu em buscar seus olhos perdidos e, de alguma forma, ele entendeu e atendeu a seu apelo e buscou pelos olhos dela também. E, em um silêncio ensurdecedor, ambos se agarraram, como em tábuas de salvação, à chance de serem felizes a despeito do passado, a despeito de serem tão diferentes.



Por alguns momentos, eles refizeram seus passos, viveram suas dores, aceitaram seus destinos.

Ela precisava responder. E ele precisava acreditar.

- Não, Aaron, eu não o amava. Nunca o amei. Mas estaria mentindo se lhe dissesse que não cruzei a linha, que não desfrutei de seus carinhos, de sua companhia, do cuidado que tinha comigo. Eu nunca esqueci que estava trabalhando. Nunca esqueci que ele seria preso. Ou morto. O que não quer dizer que eu não tenha desfrutado. Que não tenha misturado negócios com prazer...Eu vou entender se você não puder aceitar isto... ou se você me julgar insensata....

Não podia julgá-la. Não devia. Não faria. Ele ergueu seu corpo na cama. Sentou-se de frente para ela, o travesseiro em seu colo caiu, mas ele manteve seus olhos nos olhos dela. Tomou-lhe as mãos dela entre as suas. Sua voz era baixa, calma, mas determinada.

- Você sabe que vou encontrá-lo. Você sabe o que irá acontecer.... Você poderá lidar com isto?

- Eu sei que só estarei em total segurança quando ele morrer, mas você não tem que fazer isto....

- Eu vou fazer o que for preciso! Tenha certeza, eu vou encontrá-lo! Eu vou... - Ele queria dizer as palavras, mas elas pareciam fortes demais para o momento. Tentou conter-se. Ele deveria encontrá-lo porque a volta dela dependia disto e não porque odiava o fato de que um dia ele a tinha tocado, ele havia lhe dado prazer. Ciúmes. Não era um sentimento com o qual ele estava particularmente familiarizado. Não sentiu-se assim nem quando suspeitou de que Haley o traía. Seu relacionamento com Haley, passados os anos, era cheio de culpa, sentimento do qual ela fazia questão de lembrar-lhe em tempo integral e nada tinha a ver com o que sentia por Emily. Tentou manter-se focado nela.

- Você ... - Ele tentou refazer as palavras dela, sem muito sucesso. – Você não o amava. Eu posso entender... - Resmungou em um tom baixo, quase inaudível - Mas você disse que se apaixonou...



- Uma única vez em minha vida. – Ela passou a mão pelo rosto recolhendo com determinação as lágrimas que escorriam. A sinceridade estampada em seu semblante. – Em uma tarde de terça feira, na primavera, você vestia um terno cinza escuro risca de giz e uma gravata vermelha e branca. Eu estava empoleirada na varanda da casa, em férias e você só fazia dar ordens aos outros sete ou oito homens que o acompanhavam. Minha mãe sequer deu-se ao trabalho de nos apresentar. Você passou por mim e me cumprimentou educadamente, perguntou meu nome e se desculpou pelo barulho inconveniente que sua equipe estava provocando. E seguiu com seu trabalho. Você era o homem mais bonito que eu já havia conhecido. Sua voz cheia de determinação e sua postura cheia de responsabilidade me fizeram desejar você, ali mesmo, mas você me ignorou solenemente. Observei você trabalhando por horas a fio. As câmeras, as guaritas, as orientações de segurança, os alarmes..... Te devorei com meus olhos. Mas você se comportou como um cavalheiro. Ali me apaixonei por você. Ali tive a certeza de que jamais te esqueceria. Mesmo que nunca mais o visse. Você nem deve se lembrar, mas...

Ele sentiu-se quente, excitado, porque não dizer, mais seguro de si. Ela havia realmente prestado a atenção nele. E era bom, de repente, deixarem de falar de Doyle para falarem deles próprios.

- Eu me lembro de tudo. Eu lembro de ter passado a noite em claro, lembro de não entender porque alguém com quem eu tinha trocado meia dúzia de palavras me tirava o sono e me fazia sentir mal, deitado ao lado da minha esposa. Eu me lembro de tudo. Mas eu não poderia.....

- Eu sei, você era casado e amava sua esposa. Isto só me fez admirar você ainda mais. O que não me impediu de passar muito tempo sonhando com você....

- Sonhos decentes? - Ele lhe deu um sorriso acanhado.

- Alguns.... Outros nem tanto....

- Me fale destes não tão decentes.....

Ele serpenteou suas mãos em torno da cintura dela e a puxou para cima de si, visivelmente mais relaxado.



- Ah!.... você não quer saber dos meus sonhos profanos com você...

- Deus, você tinha sonhos profanos comigo? Não sei se posso lidar com isto. – Ele a puxou para mais perto, seus lábios quase se tocando. – Emily, isto está além de uma noite.... Eu não ....

- Não precisa me dizer. Eu sei. Você não é homem de uma noite.

- Uau, isso soou péssimo! Me sinto como uma colegial...

- Vai soar melhor se eu lhe disser que eu também não sou mulher de uma noite?

- Ajuda. – Ele sorriu timidamente para ela, mas as covinhas que ela tanto amava
estavam lá. – Eu não posso imaginar o que você passou.... você não merecia isto...Deus, eu te amo tanto! - Ele a beijou apaixonadamente. E em um instante, em um suave virar de corpos, ele já estava sobre ela.

- Eu tenho que te dizer que ter um caso comigo não será tão emocionante quanto....

- Não ouse terminar esta frase agente Hotchner! Você não imagina como isto pode ser perigoso!

- Bem, eu não sou exatamente um cara cheio de emoções, embora um final de semana com Jack possa ser bastante desafiador! Você não sabe o que é estar na cama em um domingo às seis e meia da manhã e tê-lo pulando em volta de você pedindo para levá-lo ao zoológico, ao McDonald’s e por fim, assistir pela centésima nona vez Procurando Nemo....

- Não me importa o quanto você possa querer me assustar, Aaron. Domingos bem cedo no zoológico me parecem perfeitos....Adoro um Big Mac e Nemo e Dory me fazem voltar a ser criança. Então, talvez, um dia....

Ele a beijou novamente. Envolveu suas mãos nos cabelos escuros da mulher que amava e tentou acreditar na verdade que todas aquelas promessas representavam. Certamente as coisas não seriam tão fáceis como ele fazia por hora parecer.



Haveria uma longa caminhada até que eles pudessem estar juntos novamente. Haveria Doyle. Haveria a equipe. Haveria Strauss. Haveria de se justificar um funeral de alguém que nunca havia morrido. Haveria de responder por suas atitudes, por suas decisões. Tantas coisas que ele queria simplesmente nunca mais ter que sair de cima dela, de dentro dela. Afundar-se no calor do seu corpo era a única coisa real, todo o resto era mera suposição.

Quando ele a penetrou pela segunda vez, ela só queria acreditar que havia sido o suficiente, que ele a havia compreendido. Que, com o tempo, eles poderiam superar todas aquelas coisas. Ela queria crer que teria uma segunda chance de ser feliz e que não teria magoado ainda mais o homem que amava.

Fizeram amor tão intensamente, como se tivessem sempre pertencido um ao outro. Aquele momento mágico em que todos os problemas, as diferenças, as crenças e decisões ficam trancados em um compartimento, enterrado a sete palmos, longe de tudo o que não fosse a perfeição. O instante transcendental onde ao se chegar ao clímax, têm-se a certeza de ser ter conhecido o paraíso. Quando suas respirações já não eram tão intensas, quando seus corpos se tornaram preguiçosos, ela deitou-se sobre o seu peito dele e, já meio sonolenta, lhe disse, em tom de brincadeira:

- Minha boa amiga JJ me disse que Elizabeth Prentiss o chamou de idiota...

- Em alto e bom som....

- Teria adorado ver isto! Você lhe disse?

- Não precisei. Foi um momento difícil, mas acho que ela compreendeu. Acho que todas as mães sentem estas coisas...

- Talvez. Ainda bem que ela não lhe criou maiores problemas. Quando tudo acabar, talvez eu possa lhe contar que eu sempre fui apaixonada pelo homem que ela chamou de idiota. Gostaria de poder ver a cara dela...



- E dizer a ela o quê? Que ela tinha razão? Ela vai dizer que você perdeu de vez o juízo... – Ele correu do rosto dela um cacho de cabelos desalinhados para trás, e lhe aconchegou nos braços. E adorou ouvir a risada entre bocejos que ela lhe dera. – Durma um pouco, Emily, durma. Tente descansar.

- Quando você tem que voltar?

- Em algumas horas....

- Por que eu acho que você não vai estar mais aqui quando eu acordar?

Ele não respondeu. Apenas ficou a lhe fazer afagos sem fim, tentando aprisionar o tempo, que lhe escorria pelos dedos, impiedoso. A última coisa que ouviu dela foi um apelo:

- Por favor, tenha cuidado! Não posso perder você! Sempre foi só você... Eu não posso te perder....

Quando ela pegou no sono, ele levantou-se e cobriu o corpo dela carinhosamente. Tomou um banho demorado, tentando refazer em seu pensamento todos os momentos daquela noite. Passar-se-iam ainda muitas outras noites antes que eles pudessem reviver tudo aquilo novamente. Ele simplesmente não queria perder todos aqueles acontecimentos de sua mente. As palavras, o calor do seu corpo, o brilho dos seus olhos, o sabor dos seus beijos. O seu primeiro nome dito quase em uma prece no momento do gozo. Havia tanto a percorrer ainda até tê-la de volta, mas ele nunca se sentira tão vivo, tão certo do que queria.

Vestiu-se e conferiu o horário da passagem. Começava a amanhecer. Caminhou até a janela. A luz da torre Eiffel, agora empalidecida pelos primeiros raios de sol, tardaria a sumir de sua mente. Toneladas de ferro fundido que foram testemunha das melhores horas de sua vida em anos....Desviou seu olhar para o corpo adormecido na cama permeada pelos tons de verde do tecido que a cobria. Ela era tão linda. Não sabia se a podia compreender completamente. Talvez fosse melhor nem tentar. Se não pudesse aceitar, talvez não a merecesse. Ele apenas precisava libertá-la. Ele tinha muito a fazer. 

Conferiu o laço da gravata corretamente disposto em torno do colarinho. Estava na hora. Abriu a pasta que trouxera e puxou para fora o bloco que sempre o acompanhava. A caneta tirou do bolso interno do paletó. Sentou-se à mesa aparadora e rabiscou umas palavras. Pensou muito antes de escrever. As duas ou três folhas que dispensou, voltou a jogar amassadas dentro da própria pasta. Em cima da mesa de cabeceira, apenas a folha definitiva, o recado que queria que ela lesse. Aproximou-se dela e beijou-lhe a fronte, suavemente, para que não acordasse. Não poderia lhe dizer adeus. Não poderia dizer-lhe nada naquele momento ou não iria embora. Já na porta, virou-se ainda mais uma vez. Como se pudesse reter para sempre a imagem da mulher que mudaria sua vida, ele podia jurar que ela estava acordada. Melhor assim. Não havia nada a dizer. Ele apenas tinha que lhe devolver a vida que ela perdera. Não havia nada a dizer. Ele apenas tinha que fazer acontecer. Como, era problema dele.....

Ela esperou que ele batesse a porta. Ela não podia dizer nada a ele, simplesmente não podia dizer adeus. Sequer podia pedir que ele lhe devolvesse a liberdade. Não havia o que dizer. Ela se fez de rogada e ele partiu. Ela levantou-se, buscou pelo papel que ele deixara e sorveu todas as palavras do curto bilhete.

“ Volto para te buscar. Tenha paciência. Se cuide. Tenha muito cuidado! Te amo!
Aaron”

Ela se perguntou o que havia feito para merecer tamanha condescendência. O homem que amara por toda a vida estava disposto a lutar por ela. Isto era ainda muito mais do que ela esperava dele e sentiu uma ponta de culpa. Ela foi até a janela. A torre ao fundo já lhe era familiar. Paris não lhe traria mais más lembranças. Ao contrário. Paris era a terra onde havia sido feliz plenamente por uma noite. Onde havia amado mais que durante toda a sua existência. Onde havia sido possuída pelo único homem por quem valera a pena esperar.

Ele pedira paciência. Ela teria. De fato, a única coisa que a podia manter lúcida agora, era o que sentia por ele. Envolvera-se com alguns tipos bastante ruins. Fôra amada por Doyle, mas queria terminar seus dias amando e sendo amada pelo único homem que teve real importância em sua vida. Mas, temia por sua segurança. Não podia permitir que ele fizesse aquilo sozinho.

Depois de um bom banho e de arrumar-se, Emily deixou o apartamento de número 6 do Hotel Rive Gauche. Deixou o local, mas levou consigo as lembranças da melhor noite de sua vida. Ela não sabia quanto tempo seria até que pudesse ser Emily novamente. Ela não sabia sequer se teria um dia sua vida de volta. Sabia ao certo apenas, que haveria de dormir muitas noites, embalada pelas palavras, cuidadosamente escritas em um papel pelo homem por quem daria sua vida. Sabia agora que havia um motivo a mais para ir atrás de seu algoz. Precisava pensar. Mas sabia que para ter sua vida de volta, deveria estar disposta a enfrentar todos os seus fantasmas. Assumiria todas as conseqüências de sua difícil decisão. E toda vez que o fardo lhe pesasse demais, lembraria destas palavras:

“ Volto para te buscar. Tenha paciência. Se cuide. Tenha muito cuidado! Te amo!
Aaron”

Ruth Messing sentiu uma lufada de ar fresco da manhã e seu corpo estremeceu. Vislumbrou o colorido das flores na calçada, atravessou a rua, sumiu no vai e vem dos pedestres que seguiam seu rumo diário e, em poucos minutos, ela era apenas mais alguém na multidão. Levava com ela o cheiro dele, o brilho dos seus olhos, o toque de sua mão e a certeza de que, como Emily ou como Ruth, nunca mais seria a mesma pessoa.

E seu dia estava só começando.....

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

FIC -- DECISÕES - CAPÍTULO 7




TIRA-ME O PÃO, SE QUISERES,
TIRA-ME O AR, MAS NÃO
ME TIRES O TEU RISO.....

NEGA-ME O PÃO, O AR
A LUZ, A PRIMAVERA,
MAS NUNCA O TEU RISO,
PORQUE, ENTÃO, EU MORRERIA....

Pablo Neruda



Antes que ele mal pudesse completar a frase e articular qualquer outra palavra, ela selou seus lábios sobre os lábios dele, com a mesma determinação com que empunhou uma metralhadora quando precisou. Por milissegundos, a ela pareceu que ele iria corresponder. Ela pôde dançar com sua língua pelo traço fino que a boca dele fechada formava e ele não recuou. Durou pouco. Ele afastou-se dela, devagar, pôs as mãos em seus ombros e tentou respirar.

Ela aguardou. Apenas uns instantes. Do alto de sua experiência em analisar pessoas, diria que ele estava confuso e apavorado. Genuinamente apavorado. Mais apavorado que ela estava.
Ele tomou as pequenas mãos dela entre as suas, respirou fundo e olhou profundamente em seus olhos.
-Talvez você queira conversar um pouco primeiro, Prentiss...
-Eu sou Emily e não comece a falar agora, apenas faça amor comigo!

Ele quase riu dela. Mas ela prosseguiu, cuspindo um monte de palavras sem conseguir parar.

- Qualquer coisa que precisemos conversar pode esperar por mais uma hora. Todo o resto pode esperar. Você pode brigar comigo, me repreender, dizer que eu estava errada, que Ian vai me matar, que a Strauss está na portaria, que eu vou ser presa, eu não me importo, não me importo!! Já tive preliminares suficientes para três encarnações. E se você não disser nada agora eu acho que vou fazer um enorme buraco no chão deste quarto e me enfiar dentro e nunca mais sair daqui, então é melhor você dizer algo e....





Ele perdeu suas mãos enormes naqueles cabelos negros e a puxou para si. E a beijou. Quente. Como se fosse ela a única mulher no mundo. Como se só ela pudesse salvá-lo. Invadiu sua boca macia e permitiu-se perder-se em todas as sensações que o gesto produzia.

Sob a fraca luz de fim de tarde que invadia a privacidade daquele quarto pela janela, ela deixou-se levar pela mão firme que já passeava por sobre o tecido fino do vestido. Há muito tempo ela sonhava com aquele toque. Era perfeito. Era forte. Viril. Eram mãos que sabiam exatamente o que buscar e a faziam sentir-se desejada.
O hálito quente dele não a deixava esquecer-se que aquilo era real. E quando eles separaram seus lábios em busca de ar ela sentiu desespero e pediu para não acordar. Não agora. Estava acontecendo. E era melhor do que tudo o que havia sonhado.

Ele enterrou seu rosto em sua nuca e pôs-se a trilhar sobre a sua pele, deixando um rastro de fogo por onde passava. Não, ela não iria acordar. Ela já estava acordada, e por inacreditável que fosse o momento, ele estava acontecendo. Ela sentiu seu corpo ceder e seus joelhos fraquejarem a cada beijo derramado em seu pescoço, em sua boca, em seu colo. Ela o sentiu brincar com sua língua em torno da pérola que adornava sua orelha. Deus, ela quis que aquele momento nunca mais se acabasse. As mãos dele tomavam seu corpo miúdo de forma possessiva, como se nunca tivessem tido outro dono, somente ele e ninguém mais.

Ela buscou acesso ao corpo firme por baixo do grosso paletó elegantemente por ele envergado. Desenhou aleatoriamente em suas costas, rabiscou carinhos com seus dedos magros e ele encolheu-se com o toque quando, lembrando-se de respirar, afastou-se ligeiramente e olhou em seus olhos.




Ela imaginou quanto tempo teria desde a última vez que ele tivesse sido tocado com tanto desejo.
Ela pensou em todas as regras que ele estava tentando quebrar, toda a sua luta interna para não deixar vencer a racionalidade e a sua dificuldade em desrespeitar todos os conceitos pré estabelecidos.

- Eu...
- Não! Se você me quer, não me pergunte sobre o amanhã, se vou me arrepender, como será quando acordarmos. Se você me quer, não faça isso com nós dois! Você não entende que nós dois merecemos isto?

Ela manteve a voz suave, lenta, quase didática.
- Eu quero isso! Não é o que você quer também? Não é por isto que você está aqui?

Ousada! Era a única palavra que a descrevia naquele momento. Ela sempre fora mais corajosa que ele. De alguma forma, ela sabia disto. Ele era o homem que se casara e fora fiel à sua primeira namorada, ela era a mulher que misturara negócios e prazer, que se divertira cumprindo uma missão, que não tivera medo de poupar seu coração. Ele era o homem que nada punha a perder, ela era a mulher que tudo arriscava. Mas, por um momento ela teve dúvidas sobre o que se passava em sua cabeça. Ele e seu indecifrável semblante, ela teria ido longe demais? Sua ousadia quase sempre a levava a lugares escuros, lugares de onde nem sempre ela podia retornar. Mas bastou um segundo e ela entendeu. Ele não movia um músculo do rosto, mas seus olhos diziam tudo. Era o olhar de quem, como ela, estava cansado de esperar, cansado de não poder experimentar um momento de felicidade plena. Era o olhar de quem só desejava naquele momento, ser feliz. Era o olhar de quem se rendia, não importavam as regras, as conseqüências ou o amanhã. Ele apenas a desejava mais que tudo. Simples assim.

Ele tomou de volta o corpo do qual havia se afastado, mas ela recuou sinuosamente. Lançou seus braços com graça em torno dele. Havia roupa demais. Ele congelou. Certamente não esperava isto. O próximo movimento foi dela.




- Me deixe tirar isto. – Ela esgueirou suas mãos por suas costas, contornando seu peito e apoiando-as sobre os ombros largos, agarrou a lapela do paletó, fazendo-o deslizar suavemente mangas abaixo. Nunca abandonou seus olhos. Toda a cobiça imaginável cabia naquele profundo lago escuro que eram os olhos do homem que amava. Resgatou o blazer antes que ele alcançasse o chão e jogou-o em uma cadeira próxima, ou, pelo menos, tentou. Ele não se movia, talvez sequer respirasse. Se não fosse exagero, diria que estava em choque. Totalmente Aaron Hotchner.

Ela prosseguiu tentando ignorar as conseqüências dos seus atos. Desatou o nó da gravata de forma um tanto divertida e puxou-a toda para fora, lentamente, preguiçosamente, acompanhando todo o centímetro percorrido por baixo do colarinho em torno do seu pescoço, fazendo um metro e quarenta de seda vermelha parecerem ser dez metros, sem ter pressa alguma. Ele permaneceu imóvel.
Foi ela quem quebrou o silêncio entre eles. Ela tentou parecer o mais natural quanto fosse possível. Na verdade, autêntica, na medida em que não estava mentindo.

- Você não sabe há quanto tempo eu sonho com isto!

- Em tirar gravatas? – Ele pareceu relaxar um pouco com o comentário, arqueou as sobrancelhas e deu um sorriso malicioso.

- Em tirar a sua gravata, Aaron! – Ela sorriu para ele e seu sorriso o derreteu. - Deus, eu te esperei por uma vida inteira! É tempo demais! Até para nós dois...
Ele abraçou-a com força e carinhosamente. Por mais que para ele fizesse muito tempo e ele desejasse saciar-se com urgência, ele queria muito fazer tudo direito. Tomou para si o corpo pequeno à sua frente, envolveu-o com seus braços, vagou por suas costas até encontrar o zíper e o deslizou, sorrateiro, todo para baixo, vagarosamente, enquanto deixava uma trilha de beijos e carinhos sem fim por todo canto de pele que encontrasse pela frente. Aquela pele alva, que pedia para ser marcada por sua boca e ele tentou não pensar no dia seguinte. Ele tentou não pensar em nada a não ser afundar-se até morrer naquele corpo quente que implorava para ser tocado. Com as mãos movendo-se por sobre seus braços, ele fez deslizar a seus pés o mar vermelho que enchia seus olhos. Prendeu a respiração com a imagem deliciosa daquele corpo de pele muito clara sob os seus dedos, sob o seu toque. Ela entendeu e permitiu que ele a admirasse. Deu a ele o tempo que ele precisava. Afinal, tempo parecia ser a única coisa menos importante agora.

Não se arrependeu. Ele a tomou nos braços e buscou a cama. Suas bocas desfrutavam de seus sabores e ele a deitou, suave, sobre a colcha impecável de algodão perolado. Ele perdeu-se nela, entre beijos e carícias, atordoado com a lingerie negra que cobria o pouco que ainda havia de proibido em seu corpo. Talvez nunca ele tivesse sido mais feliz. Ele estava sobre ela, mas ela parecia dominá-lo. E isso o fascinava.

Ela deslizou as mãos sobre ele e buscou desfazer cada botão de sua camisa de percal branca, imaculada. Os punhos, depois o resto. Ele tomou-lhe a mão quando ela desfez o terceiro botão.

- Não há nada de bonito aí....

Ela sorriu levemente.
- Minha cicatriz é mais recente e ainda dói. Você quer mesmo parar por isto?
- Touché!! – Seu sorriso foi de meio sem jeito a encantador em segundos, diante de argumento irrefutável.




Ele cedeu espaço aos poucos e ela terminou de abrir os botões da camisa. Ela alimentou seus olhares famintos sobre ele, precisava que ele soubesse o quanto era cobiçado. Havia fome em seu olhar e ele sentiu-se bem com isto.

Ele não conseguia se lembrar de quando havia sido desejado de forma tão intensa. Sequer lembrava-se de algo que não fosse o bem comportado e burocrático sexo que fazia com a única mulher que possuiu antes de Emily Prentiss. Emily era a síntese de tudo que ele nunca soubera que existia. Passados além dos quarenta anos vivídos, tudo para ele naquele momento tinha sabor de primeira vez.

A luz de fim de tarde dera lugar a um luar intenso que invadia o quarto e prateava o rosto dela de forma quase irreal e ele tomou cuidado ao penetrá-la. Deu tempo para que ela o acomodasse, para que seus corpos se ajustassem. Para que pudessem crer que aquilo estava de fato acontecendo. Ele tinha ciência de que fora muito tempo para ambos.

E eles entregaram-se à dança mais antiga e prazerosa do mundo, como se sempre tivessem dançado juntos ao som da mesma canção. O tempo parou. Não haviam palavras coerentes, apenas os sons mais primitivos, os seus nomes murmurados em êxtase e frases sem sentido quase sempre interrompidas por um gemido abafado, um emudecer que dizia muito mais que um poema inteiro.

Foi quando ele percebeu que ela tinha os olhos cerrados e uma lágrima pendia pelo canto do rosto.
- Emily! Deus, está doendo? Estou te machucando? - Ele afastou-se dela e, apavorado, lembrou-se de seu ferimento.

- Não, não! Hey, volte aqui! Você não fez nada! Só estou.....
- Feliz?
- Feliz não descreve agora o que estou sentindo!
- Tem certeza que...
- Eu tenho certeza de tudo! É só mais do que acho que mereço.....
Ele enxugou as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto. E a possuiu novamente.




- Então abra os olhos, Emily. Olhe para mim! Nos meus olhos! Eu quero que você olhe para mim! Nada que eu possa te dar está além do que você merece. Eu quero que você nunca se esqueça deste momento! Quero que você se lembre que merece ser feliz! Quero que você olhe nos meus olhos e saiba que eu estou fazendo amor com você!

Quando ela olhou para ele, seus olhos já não pareciam morrer no infinito. Pareciam penetrá-la, possuí-la, tanto quanto ele podia estar dentro dela como homem. Ela não demorou para chegar ao orgasmo mais intenso que já experimentara na vida.
Vê-la contorcendo-se e gritando por seu primeiro nome também não o ajudou a conter-se. Ele veio para ela no instante seguinte.

Com o pouco de consciência que lhe restava, tombou o corpo ao lado do dela, pois seus braços já não suportavam mais o próprio peso. Buscou ar, coisa que parecia ter se extinguido enquanto amava a mulher dos seus sonhos. Seus sonhos. Até onde se lembrava, não era dado a ter seus sonhos assim realizados. Preguiçosamente, sua mão roçou no corpo ao lado do seu na cama e ele pôde ter certeza. Era mais real que tudo o que já vivera. Pensou em dizer algo, não sabia o que dizer. Ele era péssimo nisso...

Foram longos minutos em que suas mãos tocavam levemente seus corpos, mas nada parecia ser correto dizer, de nenhuma das partes, naquele instante. Ambos tinham vivido a melhor experiência de suas vidas, mas dizer algo quebraria o encanto e eles eram dois adultos querendo viver apenas o lado bom dos contos de fadas. Como se fosse possível.

Ele tombou o rosto e vislumbrou ao seu lado o corpo coberto pela prata que o luar derramava sobre ela. Era mais belo do que tudo que já havia sonhado em toda a sua vida.

- Você está bem? Eu não te machuquei?
- Eu nunca estive tão bem em toda a minha vida. E você?
- É você mesmo, nua, ao lado do meu corpo nesta cama?

Ela riu sua risada mais deliciosa.
- Sou eu sim, sua impertinente subordinada, aquela que só te trouxe problemas....
- Não diga isso...

- Não quer dizer que não seja verdade!

Ele não respondeu. Ficou a fitar o teto, calado, com medo de se mover e dizer algo impróprio, ou quem sabe, estragar tudo....

Ela virou-se para ele, lançou seu braço sobre o corpo do homem despido ao seu lado, beijou-lhe a testa. Como haviam deitado por sobre a colcha, não havia lençol que pudesse puxar para cobrir seu corpo naquele momento. Naquelas alturas, ter pudores parecia ser meio desnecessário.
E ele continuava calado. Ela buscou em sua cabeceira o interruptor de um abajur ao seu alcance. Uma luz suave iluminou o ambiente.

- Me diga que há algum álcool em algum ponto deste quarto!
Ele pareceu sair do torpor.
- Deus, foi tão ruim assim?
- Não, foi a melhor coisa que me aconteceu, mas Aaron, você nem consegue olhar para mim....
- Não é isso.... Emily....., não é isso.....

Ele sentou-se na cama. E olhou para ela demoradamente. Direto nos seus olhos. Só então percebeu que ela estava totalmente exposta. Saiu da cama e tomou a colcha em suas mãos. Ela ergueu o corpo e ele jogou longe aquele monte de tecido, em qualquer ponto do quarto. Ela acomodou-se debaixo dos lençóis de algodão esverdeado cobrindo-se e tirando dele a visão que o cegava. Agora ele estava exposto sozinho. E no mar de roupas esparramadas pelo chão, não sabia onde havia ido parar qualquer peça sua que não fosse seu paletó ou sua gravata.

-Vinho??... - Ele abriu o frigobar e tomou a garrafa nas mãos. – Ele procurava desesperadamente o saca-rolhas...

Se ela fosse ser honesta, diria que ele parecia querer morrer com aquela situação. O inabalável chefe do departamento de analise comportamental, totalmente exposto lutando entre admitir que estava realizado ou violando as regras do departamento....E ela mal conseguia lembrar-se de quantas poucas vezes o havia visto sem a gravata...


- Eu diria que é a visão do paraíso! Você, seu corpo nú e um bom vinho..... Não tenho direito de exigir mais nada na minha vida....




Ele ainda parecia meio constrangido. Parecia muito errado estar nú, mas parecia ainda pior, parar para vestir-se naquele momento. Quando conseguiu abrir a garrafa alcançou as taças, tratou de enchê-las e ofereceu uma delas à mulher à sua frente. Virou-se, pegou a outra taça, serviu-se e, muito consciente da sua nudez, sentou-se ao lado de Emily na cama, não sem antes, jogar sobre si, um providencial travesseiro.
- Você não está sentindo dor?
- Só me dói ter magoado você...
- Você não me magoou...
- E você mente muito mal....

Eles bateram suas taças, mas nada foi dito em seguida...
Ele tomou um gole do vinho e recostou-se na cama. Procurava evitar os olhos profundos da mulher que o fazia suar frio....

Ela bebeu mais que um gole. Sorveu todo o conteúdo da taça. Ainda fitava o teto, assim como o homem com quem fizera amor minutos atrás.....

Ele só queria enterrar-se nela novamente, mas não podia ignorar que precisam conversar. 

Ela só queria sentir-se possuída novamente, mas sabia que eles precisam conversar.

Eles só não sabiam como começar.

- Eu estava falando sério...
- Como?
- Quando disse que te amo! – Ele largou a taça na cabeceira e a abraçou. – Eu tive tanto medo de perdê-la! É estranho perder algo que a gente nunca teve de verdade....
- Você está zangado....
- Não! Quer dizer, sim, eu fiquei sim, muito zangado, como você pôde me esconder tudo isto? Eu entendo que você quisesse poupar a equipe, mas podia ter me contado....
- Sinto muito ter te posto nesta situação....Eu não tinha o direito de envolver você nisto. Como eles estão?
- É difícil cruzar todos os dias com eles e não poder fazer nada para amenizar tanto sofrimento. Penélope está muito abatida. Ela tenta disfarçar, mas não é difícil surpreendê-la com os olhos vermelhos vez por outra, buscando café ou olhando para uma foto sua hall.
- Oh!, não! Não me diga que colocaram uma foto minha lá, junto com.....
- Regras, Emily! É de praxe. Para o FBI, você é uma baixa...




- Isto é muito estranho....
- Morgan, bem, ele se culpa, acha que poderia tê-la salvo se tivesse chegado uns minutos antes.... Apesar disto ele não me preocupa tanto, porque ele extravasa, chuta portas, soca uns bandidos, grita um pouco, e tenho certeza que em algum ponto da Academia do FBI tem alguns sacos de areia em estado bastante precário....É a forma dele lidar com isto. Me preocupo mais com Reid. Ele não quer conversar, está sofrendo calado, tenho monitorado à distância para que ele não volte a usar Dilaudid ou qualquer outra droga. Várias vezes eu o peguei parando o carro na frente do seu apartamento. Ele fica muito tempo por lá.

Ela já estava com lágrimas nos olhos..... Ele a manteve abraçada por todo tempo enquanto falava....

- A Seaver não teve muito tempo para te conhecer, mas está assustada com a situação. Não acho que ela fique conosco por muito tempo. Ela não tem estrutura ainda para segurar a barra de um departamento como o nosso. Nunca deveria ter sido colocada lá como efetiva. JJ é quem me dá notícias suas. Nos falamos a cada três ou quatro dias.... Ela tem sido uma boa amiga...
- Rossi?
- Ele sabe. Nunca lhe disse nada e nem precisei. Ele me conhece como ninguém e sabe o que eu sinto por você, acho que soube antes mesmo de mim... De alguma forma ele apenas me olhou, quando voltamos do seu funeral, pôs a mão no meu ombro e me disse : - Tudo bem! – Apenas isto. O melhor profiler que eu conheço e meu melhor amigo sabe que eu estaria devastado se tivesse perdido você de verdade. Que eu não teria segurado as pontas. Nunca mais tocamos no assunto. Algumas vezes conversamos sobre como estávamos reagindo e ele seguiu a corrente. Deixou-me levar a mentira à frente sem me questionar. David é raposa velha. Ele sabe que eu estou fazendo o que é certo. Ele teria feito o mesmo.

Ele enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto dela e a beijou. Nem tanto o beijo de luxúria, agora um beijo apaixonado de quem quer confortar e dizer que estará sempre ali para ela. 

Eles se separaram e deixaram seus corpos estendidos pela cama, ela apoiou a cabeça em seu peito e sentiu o coração dele batendo forte. Ficaram assim por uns instantes.

- O que eu obriguei você a fazer não foi justo! Vê-los assim, e não poder dizer nada.... Da forma como você conta, parece que você tem seguido os passos de todos de perto. Sofrido por todos eles.... Você já passou por tanta coisa nesta vida.... Não merecia isto também... Além disto, você um dia vai acabar tendo que responder por suas decisões...

Ele não respondeu e ela prosseguiu.
- Eu nunca mais vou poder voltar. Nunca mais vou poder olhar no rosto de cada um deles e dizer o que houve. Mas você....

- Como nunca mais vai voltar, Emily? – Pela primeira vez ele elevou o tom de voz. - Eu vou encontrá-lo, Emily. Eu falhei uma vez com Haley, isto não vai acontecer de novo. Eu vou pegá-lo, você está me entendendo? E você vai voltar! Vai ter sua vida de volta. E eles vão entender. Ninguém ali é criança.... Eles vão ficar furiosos a princípio, mas como tudo na vida, vai passar... E eles têm que ficar bravos comigo que tomei a decisão, não com você.... Que diabos, você dormia com um terrorista e está com medo de enfrentar seus amigos?

No mesmo instante, ele percebeu o que tinha dito. E desejou não ter dito nada. Mas estava feito. E ele não podia voltar atrás. Tanta cautela, cuidado e carinho e ele tinha dito a coisa mais desastrosa que jamais imaginou que pudesse sair de sua boca. Não que isso não o tivesse corroído por todo o tempo em que pensara nela e nas inúmeras vezes em que lera os arquivos e tentara achar uma explicação razoável, convencer-se de que ela fizera o necessário, de que talvez não tivesse tido opção. Ele não tinha o direito de julgá-la.

- Me desculpe, Emily, eu não quis dizer isto, me desculpe, meu amor... – Ele tentou abraçá-la, mas ela apenas continuou deitada ao seu lado, a cabeça ainda em seu peito, a voz ainda baixa.
- Vamos, Aaron, pergunte. Eu sei que você precisa me perguntar. Eu entendo....

Ele sentiu-se um canalha. Não era o momento certo. Ele tinha acabado de fazer amor com a mulher com quem sempre sonhara. Não era certo. Não era a hora.
Ele retomou a voz baixa e carinhosa.

- Tudo bem, não precisamos falar disto agora. Você quer mais vinho?
- Não, Aaron, não está tudo bem! – Agora era ela a levantar a voz. - Você diz que me ama, mas não sabe nada sobre mim. Eu não sei se quando você sair por aquela porta eu vou poder te ver novamente. Você quer mesmo ir embora sem saber a verdade?

Tudo o que ele conseguia pensar era como eles tinham passado do melhor momento de suas vidas para o mais desconcertante, em tão pouco tempo. Ela tinha razão. Ele não sabia nada sobre ela. Só que estava apaixonado. E em poucas horas ele conseguira dizer a uma mulher, pela segunda vez em sua vida, que estava apaixonado, que queria fazer amor com ela, que seus atos tinham magoado pessoas que ela amava, a tinha feito chorar e agora iria fazer a pergunta que podia fazê-la sentir-se uma vagabunda. Ele estava de parabéns!
Mas precisava perguntar. Afinal, ele estava determinado a matar o homem por quem ela talvez tivesse sido apaixonada um dia. Claro que ela estava certa. Ele só não sabia se iria gostar da resposta....

- Você.... o amava?