terça-feira, 11 de novembro de 2014

How To Get Away With Murder S01E07: He Deserved To Die


Há uma conhecida citação de Robert Frost que diz: “ Um júri é um grupo de pessoas escolhidas para decidir quem tem o melhor advogado!”. Neste episódio não houve um júri, mas com certeza houveram vários advogados dando o melhor de si.

Em um episódio onde o caso da semana foi o apenas e tão somente o próprio plot da série, o destaque ficou por conta de quem conseguiu obter maior vantagem jurídica dos acontecimentos. Pudemos, desta forma, conhecer mais alguns detalhes do assassinato de Lila e da vida pessoal de Annalise.

O advogado  de Griffin ( Greg Germann, o eterno Richard Fish de Ally McBeal nos anos entre 1997 a 2002) entra com um pedido de nova autópsia em Lila, justificando que foram agora encontrados sinais que poderiam ser marcas de unhas e, uma vez que como esportista seu cliente tinha as unhas sempre cortadas rentes ( ?? ), seria provável que em novo exame pudesse se apurar de quem seriam as unhas ( em nítida tentativa de incriminar Rebecca). Neste ponto Keating esclarece ao seu time ( para que nós saibamos) que peritos podem ser “contratados” e podem dar laudos de acordo com o desejo de seu contratante, tática esta  que ela define como “corrupção”.

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É neste ponto que a promotora se faz de amiga e parte interessada, dando a Annalise a dica de que o tal perito a favor de Griffin era conhecido por seus depoimentos duvidosos, em geral, sempre a favor do advogado que o convocava. Eis aí uma coisa que questiono. Será que uma advogada tão escolada como ela nem consideraria a possibilidade de estar sendo manipulada pela promotoria? Alguém com sua experiência deveria esperar que a promotora não lhe faria gentilezas apenas porque foi com a cor dos seus olhos. Achei muita ingenuidade de Annalise, pois qualquer um com um pouco de malícia perceberia o clichê, enfim…

Outra cena desnecessária para mim foi Keating voltar a pedir a ajuda de Nate. Às vezes acho que entre as trapalhadas do marido e as patetadas com o amante ela não tem qualquer amor-próprio. A cena apenas serviu para termos certeza de que Nate nunca a perdoou por ter sido traído por ela ( o  que fez com que ele perdesse o emprego) e está fazendo de tudo para assistir de camarote a casa cair e ela dançar de vez.

Como parece que tudo acaba girando em torno de ( não necessariamente consumado, eventualmente apenas uma boa cantada) nossa protagonista manda os meninos à luta em um bar para flertar e assim, arrancar informações sobre a ação da promotoria. E é desta forma comum ( onde alguém sempre fala mais do que é permitido) que eles descobrem um acordo velado entre a promotora e o advogado de defesa de O’Really, de forma a isentar o rapaz e conseguir uma condenação para  Rebecca. Em mais  um procedimento questionável Annalise dá a entender a Rebecca que se ela vazar alguma coisa sobre o outro acusado isto pode favorece-la. E, assim, Rebecca deixa “escapar” que teria sido estuprada por Griffin, descumprindo a ordem de sigilo, mas, ainda assim, obrigando a promotoria a desfazer o acordo com o advogado do rapaz.

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Nate neste ínterim aborda Rebecca e pede à moça que o ajude a condenar Sam pelo assassinato de Lila. Enquanto isso Bonnie informa Annalise que a nova autópsia teria identificado as marcas no pescoço de Lila como sendo picadas de formiga e, que, a autópsia anterior deixara passar o fato de que Lila estava grávida de seis semanas. Sabendo que hoje se pode fazer exame de DNA do cordão umbilical, tanto Sam como sua esposa devem ter gelado com a informação.

Outras considerações:

§  Não deu para não rir ao ver Asher agarrado ao troféu respondendo a perguntas durante a aula. Seu personagem, cada vez mais bem construído, vai do ingênuo ao patético no episódio sem qualquer dificuldade e de forma verossímil. A sua infantilidade em acreditar que a posse do troféu seja de fato uma enorme recompensa pelo seu empenho beira o ridículo.

§  Seu quase desprezo por seus alunos, leva Annalise a confessar que já fez  ( um?) aborto.

§  E o que dizer da cara de Michaela ao descobrir que sua entrevista não era de emprego e sim, para assinar um acordo pré-nupcial ( gente, eu sou tolerante com as licenças poéticas, mas que raio de noivo não avisa sua futura esposa sobre o assunto?). Só eu achei absurdo ela ir até o advogado sem saber sobre o que se tratava?

§  Depois de dormir com Rebecca, Wes, entre outras confidências sem importância conta à namorada que mãe suicidou-se quando ele tinha doze anos. Achei que esta informação pode esclarecer um pouco da personalidade protetora do rapaz, não apenas em relação à Rebecca, mas como um todo.

§  Laurel e Kan, Laurel e Frank. Quem no final das contas vocês acham que vai se dar mal na brincadeira da menina? Eu aposto em Kan curtindo uma dor de cotovelo….

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§  Outra cena meio gratuita no episódio foi Connor voltar a procurar por Olive depois de transar com Julien no banheiro de um bar. Como são muitas estórias paralelas acontecendo ao mesmo tempo, não há oportunidade para aprofundar muito cada estória e só podemos deduzir  que, ao transar com seu antigo caso, Connor sentir falta de algo mais profundo.

§  O episódio teve dois momentos impagáveis:

 - a veia cômica de Asher, inconformado com a facilidade com que Connor é assediado sexualmente, rendendo o seguinte comentário: ( para Connor): “- Você esquece o nome dele e ele quer transar com você? Você tem o quê? Um pênis vodú?” ( E, em seguida para Michaela que acompanha a cena) “- Ah, eu odeio não ter nascido gay…”  e, 

  -  a personalidade forte e decidida de Annalise, respondendo à promotora que a manda rezar para que as unhas no corpo exumado não sejam de sua cliente: “- Rezas são para fracos. Acabarei com você no tribunal!”.

De forma geral foi um bom episódio, com boas interpretações. Vamos aguardar para saber o quanto a de Lila irá comprometer Sam e ver até onde Nate consegue levar as evidências a fim de vingar-se de Annalise, entre outras coisas.

E vocês, o que acharam do episódio? Deixem seus comentários!

Até a semana pessoal!

How To Get Away With Murder S01E06: Freakin’Whack-a-Mole


Este episódio poderia ser definido com o popular provérbio: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faça…

O caso da semana serviu como um contraponto para medir o peso da retidão humana quando é o seu que está na reta. Annalise Keating tem uma última oportunidade de salvar da pena de morte um condenado que, mesmo após vinte e um anos de cumprimento da pena, continua alegando inocência. Ela recruta seu time Five Keating, além de contar com a ajuda de Bonnie e Frank, para encontrar uma brecha, uma abertura que possibilite provar que David Allen é inocente.

As coisas já começam a ficar estranhas quando o time descobre que o juiz do caso havia sido o pai de Asher, Willian  Millstone. que o rapaz não gosta nada da coincidência e é solenemente ignorado por sua mentora quando a questiona sobre o assunto.

Durante o caso, Annalise mostra-se visivelmente irritada e abatida e tem motivos para isto. Wes a pressiona para que se faça justiça no caso de Rebecca, uma vez que ele já sabe do envolvimento de Sam com Lila, a moça assassinada. Com a promessa de trazer Rebecca de volta e defendê-la de forma isenta, a advogada ganha um tempo, fazendo com que Wes volte a se concentrar no caso. Ela chama Frank para resolver o problema de Rebecca e apenas ao final do episódio saberemos o que ele fez.

O que presenciamos é uma corrida contra o tempo, onde Laurel, Michaela, Connor, Asher e Wes refazem todos os passos do julgamento anterior, e se encarregam de interrogar o advogado que fez a defesa, o antigo promotor do caso, a testemunha ocular, e assim sendo, algumas teorias começam a se formar.

Asher, em uma conversa informal com seu pai o confronta de forma apaixonada, querendo crer que o homem que ele tinha como ídolo não teria alavancado sua carreira às custas da morte de um homem inocente. O silêncio do juiz dá a Asher a resposta que ele precisa e em troca do troféu e da garantia de que o nome de seu pai ficará de fora das investigações, o estudante entrega todo o serviço a Annalise.

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Com esta informação em mãos fica mais fácil para que se identifique um caso de compra de testemunha que irá culminar com a condenação de Allen, evento este que ocultaria o verdadeiro motivo do assassinato: eliminar  Trisha Stanley, pois era ela a representante de uma causa popular contra um agora senador endinheirado que forçou o despejo de dezenas  de moradores para a construção de um grande shopping no local.

Com base em um caso ainda circunstancial, mas que levanta sérias dúvidas quanto à situação da testemunha ocular, Keating consegue, além da abertura de uma investigação contra o senador, o cancelamento da sentença contra David Allen e a impossibilidade dele ser julgado novamente pelo mesmo crime. Na prática, Annalise e sua equipe devolvem a liberdade ao acusado.

É muito interessante notar o alívio  evidente da advogada quando da liberação da nova sentença. Ela realmente acreditou todo o tempo na inocência de seu cliente e mostrou-se comovida e grata com o resultado. Resultado este que só fora possível porque o sistema fora corrompido, porque uma testemunha fora comprada, porque, em suas próprias palavras no início do episódio: “ A justiça não recompensa a verdade, mas quem tem o poder para produzi-la”.

Tudo isto seria muito louvável, não fossem as cenas ao final do episódio. Não bastasse tentar proteger seu marido da exposição e posição investigação de assassinato, Annalise produz e serve sua própria cota de veneno, quando pede a Frank para plantar o de Lila no carro de O’Reilly, tornando- o assim, o único e principal suspeito. Desta forma, ela resolve o problema de Wes, pedindo que a Rebecca volte e assegurando-se de que ela não será incriminada. Sendo assim, aquele minha primeira observação, lá na primeira review que fiz da série se mantém. Para quem não leu ou não se lembra, mantenho minha opinião:  “Advogados são profissionais tradicionalmente controversos, que vivem em um mundo obscuro onde o bem e o mal ganham contornos comprovadamente discutíveis. À mercê das leis, são conhecidos como personagens que contorcem argumentos até que eles se encaixem adequadamente ao interesse de quem por eles são defendidos”. Ou, em outras palavras, toda a indignação que moveu Keating a agir com tanta sanha para defender Allen, desfez-se em minutos no momento em que ela se utiliza de recursos  tão sujos quanto, para defender Sam e Rebecca. E que Deus nos abençoe e nos proteja dos advogados……

Seguindo o estilo Shonda Rhimes de escrever ( embora HTGAWM seja apenas produzida por ela e não escrita ), continuamos tendo romances inusitados acontecendo aqui e ali. Desta vez foi Asher dormindo com Bonnie e chega a ser cômico a moça ser questionada se estava dormindo com Sam, enquanto estava com outro homem. Diga-se de passagem, não poderia haver parceiro mais estranho para Bonnie. Asher é infantil, imaturo e beira o irresponsável, contraponto para a Bonnie, a essência da eficácia.

Aliás, comentando sobre Asher, é preciso destacar que Matt McGorry deu conta do recado em um episódio escrito para ser seu. Na review passada eu havia comentado sobre ele ter que dar conta de um episódio com uma responsabilidade maior sobre o seu personagem e isto veio antes mesmo que eu imaginasse. Matt consegue dar um tom inconsequente e meio cômico a um Asher mimado e mal acostumado, meio sem noção da realidade que o cerca. Mas quando lhe foi exigida a emoção necessária, com seu pai e no tribunal, ele aproveitou a chance e cumpriu seu papel. O mesmo ocorre com Lisa Weil, que em um papel de certo destaque consegue tirar água de pedra, mostrando sua face rígida, vez por outra quebrada pela emoção, como na leitura da sentença final.

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Outras considerações:

§  Só eu fiquei incomodada com a displicência de Frank ao plantar o celular no carro de O’Reilly em uma rua movimentada no meio do dia? Um cara experiente como ele?

§  De novo, só eu já não aguento mais a moeda subindo e a líder de torcida descendo nas cenas em flashforward? Eu entendo a intenção de ir complementando a ação até chegar à sua completa execução,  mas acho que eles poderiam neste momento liberar um pouco mais de informação sobre o plot principal. Neste episódio, como nos anteriores soube-se muito pouco sobre a morte de Sam e os roteiristas poderiam ser um pouco mais criativos nesta área.

§  É necessário comentar acerca da fotografia. Com uma iluminação intimista nas tomadas dentro do escritório/casa de Annalise, cria-se um ambiente claustrofóbico, fechado, que valoriza a competição entre os alunos, o clima de sobrevivência que mantem o grupo ativo.

§   Bem, eu sei que a competição é necessária, mas às vezes   me parecem muito imaturos. A picuinha entre eles, as excessivas reclamações, o mimimi sem fim me deixa uma impressão meio exagerada de todos eles.

§   Eu vou me tornar repetitiva aqui, mas há que se fazer um comentário especial sobre a interpretação de Viola Davis. Ela arrasa em todas as cenas em que se faz presente, conferindo à sua Annalise uma complexidade existente em qualquer ser humano. Sua personagem é uma rocha, que se torna uma fera ao enfrentar seus adversários no tribunal, mas com a mesma facilidade ela se desmonta e se fragiliza nos momentos mais contundentes, em geral, quando está sozinha e pode despir-se de uma coragem forjada para impressionar e mantê-la em pé. E a sua cena final resume toda esta fragilidade.

E vocês, o que acharam do episódio? Deixem seus comentários!

Até a semana pessoal!

How To Get Away With Murder 1×05: We’re Not Friends


Aos poucos How To Get Away With Murder vai adquirindo novos contornos. Embora não se tenha tido um grande número de informações novas sobre como os alunos se envolveram no assassinato de Sam, outros fatos, agora envolvendo o assassinato de Lila começaram a ser discutidos e, é quase certo que ambos estejam ligados.

Mas convenhamos, o grande trunfo da série continua sendo o incrível desempenho de Viola Davis, que confere à sua Annalise uma gama variada de sentimentos e atitudes que provavelmente prenderia nossa atenção mesmo com um fraco roteiro. O show é dela. Sempre. Seja ao saber que seu amante mentiu e que ele a odeia, seja emboscada por Wes, tentando esquivar-se de ter que falar sobre o que fazer com o que encontraram, seja em confronto direto com Sam, no desgosto da certeza de ter sido por ele traída ou na incerteza de saber se ele matou ou não Lila. Viola é um camaleão. A personagem finamente desenhada para dominar em campo ( no tribunal) o que não consegue controlar em sua vida particular ganha o reforço estético de maquiagem e peruca, que de forma inteligente cria a metáfora de uma armadura, envergada no campo de batalha. Não por acaso, ela enfrenta seus demônios despida dos artifícios. Em confronto com o marido ou acuada por Wes quando desmascarada ao final do episódio, sua Annalise encontra-se enfraquecida e desguarnecida de argumentos para ampará-la. E, , tudo isto é em grande parte mérito da atriz, que abandona pudores para tornar crível sua personagem.

Esta semana tivemos um filho que mata o pai, policial apoiado pela corporação, que, segundo as suas palavras e de sua mãe, cometia frequentemente agressão física e psicológica contra os mesmos. Em aula com a professora Keating, aprendemos que, em um caso assim, resta apelar  pela escolha de um júri que os favoreça emocionalmente, já que não dá para negar o crime. É aí que eu provavelmente tenha mais dificuldade em entender argumentos, pois entendo muito pouco de leis. Não sei se é artifício dramático ou realidade, mas não entendo como um caso que poderia acabar em pena de morte se transforma em penalidade cumprida com cestas básicas ou coisa parecida, apenas com uma informação fornecida pelo júri (que se entendi bem, ficou sabendo que poderia julgar, não levando em consideração a lei, mas o sentimento de justiça). Sei que muita gente nem liga bem para o funcionamento do caso e sim o impacto criado com a reviravolta, enfatizando a eficácia e brilhantismo de Annalise e sua equipe, mas eu ficaria mais satisfeita com uma explicação um pouco mais coerente ( em The Good Wife temos reviravoltas jurídicas imensas, mas sempre mais convincentes, tornando a ação mais plausível para o telespectador).

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Pode ser que a geração videoclipe até goste, mas para mim já deu aquela imagem da moeda subindo e da membro de torcida caindo para o colo de alguém, com outros takes curtos do crime e fuga dos alunos. Eu sei que ao final, na elucidação do caso a imagem ficará linda e completamente preenchida, mas para mim sempre fica um gosto de agora vem algo importante e o que vem é uma informação pouco relevante. A única coisa nova realmente tem sido o desenho feito em cima da personalidade de Laurel, o que para mim já era meio óbvio. A surpresa ( nem tanto) ficou por conta de Rebecca ter identificado Sam pela foto ( isso era evidente, só surpreendeu pela forma que foi feita – o papel de parede). Como eu disse antes, a mesma cena feita por outra atriz menos abençoada em talento teria tido efeito menos surpreendente. Espero apenas que os episódios parem de depender tanto apenas de Viola e outros intérpretes e apresente um pouco mais em conteúdo.

Outras considerações:

§ Lisa Weil é uma atriz surpreendente. Da histérica interpretação de Paris, a melhor amiga de Rory Gilmore até a construção de Bonnie, cujo trunfo são os “olhares e silêncios” constantes em  sua atuação que funcionam mais que mil palavras, ela demostra evolução e amadurecimento esperados por alguém de sua idade.

§ Matt McGorry continua sendo um enigma. Por enquanto, seu personagem não tem quase sido desenvolvido, então não dá para ter certeza, mas não sei se o ator segura uma subida de categoria. Para mim o ator é fraco, inexpressivo e, embora não esteja se exigindo demais dele até agora, temo porque o acho fundamental para a estória. O que foi ele tentando esboçar emoção diante da anulação de caso e do discurso de Annalise para o seu cliente?

E vocês, contem-me o que acharam do episódio?

Até a semana!

How To Get Away With Murder 1×04: Let’s Get To Scooping


Fazendo uso de uma montagem tão ou mais ágil que a dos episódios anteriores, o episódio parece ter encontrado finalmente um equilíbrio entre o presente, o passado e o caso da semana. Com atuações excelentes, cenas emocionantes e esclarecendo  mais algumas coisas que vão se agrupando como em um enorme quebra cabeças, este foi um episódio digno da assinatura de Shonda Rhimes em sua produção.

A grande preocupação de Annalise é descobrir como e porque Rebecca gravou um vídeo admitindo-se culpada por matar Lila. Com a advogada de defesa negando-se a ceder tal gravação e uma altíssima fiança estipulada pelo juiz, Rebecca continua presa. Apenas quando conversa com a moça, a advogada entende que, quando Wes disse a ela que O’Reilley iria culpa-la, ela meio que entrega os pontos e diz qualquer coisa que os policiais a induzem a dizer.

Envolvido pessoalmente no caso, Wes fica proibido  de atuar na defesa da moça. A advogada incumbe Bonnie de conseguir uma cópia do vídeo da confissão, sabendo que esta será uma missão difícil de cumprir.
Enquanto os estudantes estão envolvidos com uma prova difícil pela frente, surge o novo caso da semana. Uma cliente antiga de Keating, dona de uma corretora de seguros é acusada de usar informações privilegiadas para comprar ações de uma empresa farmacêutica e com isto obter lucro ( é familiar para alguém aí?). Marren Trudeau nega-se a acreditar que a informação tenha sido usada por algum funcionário para prejudica-la e com isto os estudantes vão à caça de depoimentos de vários deles para chegar a uma conclusão ( contrariando orientação da própria Maurren).

Que os métodos usados por advogados são famosos em geral por não serem sempre os mais dignos, isto é senso comum, mas o roteiro vai além, fazendo uso de chantagem e para fazê-los atingir seus objetivos. É  Connor que usa de seu poder de sedução para conseguir uma gravação que acabará levando-os aos criminosos e a uma atitude extrema de um dos envolvidos: seu suicídio, na frente de todos, que impotentes, amargam e ponderam as decisões que levaram a tal desfecho trágico. Além disto, tal gravação também resultará em Oliver descobrir a traição de Connor e romper com ele.

Por outro lado, Bonnie não pensa duas vezes em usar o amante e o marido de sua chefe para chantagear o detetive e conseguir uma cópia da confissão de Rebecca. Bonnie diz a sua chefe que conseguir a gravação através da defesa, mas nós já podemos prever problemas para Nate, a quem acusou de estar investigando Sam, e uma hora isto vai acabar vindo a tona.

Com relação à morte de Sam também ficamos sabendo que Asher não estava presente no crime, mas que sabia que Connor estava no escritório na hora do crime. Vemos a cena em que eles saem de carro em busca de combustível para queimar o corpo, enquanto Connor desfila todos os motivos para o crime ser descoberto: Asher saber que eles estavam lá naquele horário, um policial testemunha ( que deverá surgir mais para a frente), DNA através de digitais, cabelos e fibras do tapete em seu carro. Além das câmeras de trânsito que podem indicar sua rota. Michaela parece incapaz  de reagir e ainda dá por falta de seu anel de noivado. Também descobrimos que Wes chega à floresta depois dos outros porque teria ido por Rebecca em segurança.

Depois de provar ao juiz que o depoimento de Rebecca fora manipulado, o mesmo diminue a fiança e a moça passa a responder processo em liberdade. O juiz também pede investigação sobre os motivos de coerção de Rebecca.

Como não fossem emoções demais para um único episódio, descobrimos finalmente o que havia no de Lila e é Wes quem o entrega a Annalise:  com toda a classe e desfaçatez possível, a advogada engole em cego ao ver que no celular existem fotos de seu marido nú.

É então que uma grande atriz transforma uma cena importante em uma cena memorável. Na solidão de seu quarto, sabendo que irá confrontar Sam assim que ele chegue, ela vai aos poucos desmontando a personagem que vive em seu dia a dia, de mulher forte e inabalável, que ao despir-se dos artifícios que usa para reforçar sua imagem, a peruca, os brincos, a maquiagem, vai se aproximando cada vez mais da mulher frágil, traída e amargurada que realmente é. Viola Davis não se priva de abandonar a vaidade para dar à personagem as cores de uma tragédia anunciada.

Alguém aí conseguiu piscar durante o episódio?

Até a semana pessoal!

How To Get Away With Murder 01×03: Smile… Or Go To Jail


Usando e abusando de uma montagem dinâmica e cheia de recursos, o terceiro episódio de HTGAWM já deixa que a toada que irá seguir será mesmo a de dois plots, tendo sempre um caso da semana e o caso arco que envolve os dias atuais, onde os estudantes escolhidos são os responsáveis direta ou indiretamente pela morte de Sam, o marido da Annalise.

Aos poucos, vamos recebendo mais informações sobre cada um dos membros do time formado pelos alunos de Annalise. Com relação ao crime por eles cometido já ficamos sabendo que Rebecca teria atingido Sam na cabeça e que os demais alunos deveriam estar presentes no momento do assassinato ( com exceção de Asher). Isto nos leva a crer que em algum momento durante a acusação de assassinato de Lila, Rebecca teria cruzado com Sam e eventualmente se envolvido com ele. O grupo também lembra-se ao tentar livrar-se das provas de que a enorme fogueira que ardia na praia durante a festa na universidade deveria ser seu melhor álibi, portanto não deixa de ser irônico que em um momento tão difícil eles tenham que voltar à festa e tirar várias fotos como forma de sustentar que eles estavam se divertindo muito com os amigos todos reunidos no mesmo local.

Keating é chamada pela reitoria da Universidade a defender Griffin O’Reilly, estudante e jogador, filho de pai rico e influente que conta a eles a sua versão dos fatos, dizendo que havia tido relações com Rebecca e que esta matara Lila. Em razão de uma atitude nada elogiável de Wes, que falsifica uma carteira de advogado para ter acesso a Rebecca, e com um discurso de defender os menos favorecidos, a advogada é fisgada pelo desafio de defender a moça, que ao final do episódio descobrimos já ter assumido sua culpa em depoimento em vídeo.

Quanto ao caso da semana, Annalise é chamada a defender uma esposa pega oferecendo favores sexuais em público, mas logo o caso ganha desdobramento e todos irão descobrir que a esposa Paula Murphy, no passado respondendo pelo nome de Elena Aguilar era procurada pela polícia por homicídio. A acusação referia-se à explosão de uma bomba em 1994, em um protesto antiglobalização, onde todos os envolvidos já haviam cumprido pena, menos ela.

É interessante a analogia que o roteirista faz entre a esposa entediada que descobre sentir falta da adrenalina que o julgamento traz de volta e a própria advogada, que sente-se presa em um casamento sem amor, sem emoção e cuja suspeita de traição a faz procurar pelo próprio amante para saber se seu marido poderia estar envolvido na morte de Lila. E, ao final, a grande diferença entre as duas mulheres: a acusada, que deixa marido, filhas e uma vida de conforto para trás e foge com o mentor do crime, anistiado de sua pena por depor contra ela e Annalise, na de uma aliviada esposa e profissional ao saber por seu amante que Sam tinha álibi sólido para a data do crime de Lila. Apenas o telespectador fica sabendo que na verdade o detetive Nate atestou exatamente o contrário, que Sam nunca estivera onde alegara estar e não tinha qualquer álibi para o dia do assassinato da aluna. Fica para nós imaginarmos que a contradição de informações é cortesia de um homem ferido que sentiu-se usado e quer vingar-se.

É claro que a partir daqui deveremos ter mais e mais informações sobre como o assassinato de Lila levou os alunos ao assassinato de Sam, mas já dá para inferir também, que nada será exatamente o que parece.

Até a próxima, pessoal!

How To Get Away With Murder 01x02: It’s All Her Fault


A história é feita por aqueles que quebram as regras!” ( Homens de Honra – 2000 – dirigido por George Tillman Jr , com Cuba Gooding Jr, Robert deNiro e Charlize Theron).

Assistindo a esse episódio de How To Get Away With Murder, muitas frases inesquecíveis de filmes de tribunal me vêm à mente, mas uma em especial se destaca para resumi-lo. Quebrar regras parece algo normal na prática de direito. Ao menos assim nos faz crer “It’s All Her Fault”.

O show segue a linha inicial com três plots: o caso da semana, o assassinato de Marjorie St Vicent e a vida atribulada de Annalise que mistura-se direta e indiretamente ao caso do assassinato de Lila Stangard e que deverá ser o arco da série pelo menos até seu final de temporada. O caso dos pupilos da professora que assassinaram seu marido, em minha opinião irá ligar-se em futuro próximo ao caso da aluna encontrada na caixa d’água.

Enquanto ensina em sua aula conceitos essenciais na defesa de um caso, podemos ver tais conceitos em ação durante o julgamento de Max St Vicent, o marido acusado de matar Marjorie e objeto de defesa de Annalise e seu selecionado grupo de alunos. Durante o julgamento me veio a frase citada acima. Sob seu entusiasmado incentivo, Wes e seus amigos quebram todo tipo de regra (desde hackear o computador de uma testemunha até chantagear um homem para que ele torne-se o álibi para o  réu) e distorcem os princípios básicos de acordo com seus interesses. Neste ritmo dá até para imaginar quantos preceitos irão transgredir até o final da temporada. Está certo que ficamos sabendo ao final do episódio que Max de fato não matou sua segunda esposa (menos mal, já que ele havia assassinado a primeira), mas a professora Keating deixa que todo cliente mente e em Direito Penal não há limites para inocentá-los ( diga-se de passagem, seja o cliente inocente ou não). Não que Annie defenda a prática de um crime para defender outro, mas é justo dizer que ela torna pouco visível a linha que separa a moralidade do que é imoral ( a chantagem com o homem que acaba tendo que testemunhar que viu Max na rua ilustra isto muito bem).

Por outro lado o episódio explora muito bem a de uma mulher brilhante profissionalmente, mas cheia de inseguranças pessoais, tanto quando tem que lidar com seu amante que a dispensa, quanto ao seu marido, de quem desconfia que a teria traído com a aluna assassinada. Mais do que a preocupação de que seu marido seja um assassino, as abordagens de Annalise deixam claro que a possibilidade de ser traída a enlouquece ( primeiro porque não seria a primeira vez que seria traída por ele, de acordo com o que ela dá ao entender, segundo que como ela própria comete traição, fica difícil confiar que seu marido não esteja fazendo o mesmo que ela faz – sempre somos levados a crer que qualquer pessoa pode fazer qualquer coisa que nós também fazemos).

Estabelece-se então uma espécie de contraponto onde a brilhante professora de Direito Penal torna-se invencível em seu palco de atuação, mas uma mulher vulnerável em sua quase solidão, que demonstra um fracasso pessoal, uma vez que não consegue ter um relacionamento sincero ou verdadeiro nem com seu marido, nem com seu amante.

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Para muitos deve ter surpreendido a pessoa protegida por Wes ser Rebecca ( vi muitos comentários acerca da possibilidade desta pessoa será própria Annalise, o que seria óbvio demais), mas tem muito chão ainda até que possamos ligar uma estória à outra.

Quanto aos flashs do assassinato de Sam, o episódio acrescenta muito pouco, deixa claro que quem comanda o show é Wes (decidir na moeda foi o toque irônico, já que para um crime ser perfeito ele deve ser planejado minuciosamente) e mostra Michaela Pratt sendo contrária a praticamente tudo o que ocorre (ela não ajuda a enrolar o corpo no tapete, tampouco quer voltar para buscar o corpo), no entanto ela aparece junto aos demais no carro enquanto Wes faz compras no posto. Vai ser interessante descobrir como alguns deles envolveram-se no assassinato.

Considerações:

- Quando Annalise pergunta aos seus alunos se eles conhecem bem seus colegas de classe, já que todos têm segredos, foi inevitável deixar de pensar na minha última review de Criminal Minds, afinal um adorável pai de família e bom vizinho colecionava pernas de pessoas em um armário em sua casa. Não, definitivamente não é fácil dizer que conhecemos de fato alguém.

- “Eu pareço boazinha, mas só pareço”. Melhor frase de Lisa Weil no episódio. Ela é uma atriz que sabe fazer um papel antipático como pouca gente. Sua antipatia é daquele tipo que todos nós amamos odiar em séries e filmes. Eficiente, ágil, necessária e fria como uma geladeira, Bonnie vai infernizar nossos nervos por vários episódios, com certeza.

- Eu sei que todo início de série é oscilante até chegar a um tom que faça gosto à produtores, roteiristas e público em geral, mas ainda acho (podem protestar os fãs mais ferrenhos) que falta alguma coisa à série. A despeito da atuação impecável de Viola Davis e elenco, o gancho do assassinato de Sam deve ser explorado com mais intensidade ou a série virará um procedural com arco, pura e simplesmente. A montagem alucinante das cenas deste plot (largamente exploradas em Scandal, série da mesma produtora) são aperitivo muito econômico para aquele que pretende ser o motivo do show carregar este título. Mesmo entregando o nome da pessoa a ser protegida, ainda é pouco para manter o interesse. 

- Já sabe-se que a série terá 15 episódios, pois o número foi determinado em cima do contrato assinado com Viola Davis, o que não se sabe ainda é se haverá um caso arco para cada temporada ( caso haja uma renovação) ou se a intenção é esticar o enigma temporadas a fio ( o que na minha opinião não funcionaria). Dependendo da intenção dos produtores em caso de renovação, teremos ou não um desenvolvimento mais ou menos intenso sobre o esclarecimento do caso principal.

Em geral, um bom episódio, vamos aguardar para que os próximos sejam ainda melhores!

Até a semana!

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Criminal Minds S10E05: Boxed In - Review


Sabe aquela coisa que eu costumo dizer sempre em minhas reviews: que menos é sempre mais? Pois é, lamento, mas vou continuar  batendo na mesma tecla.
Me  perguntaram, enquanto eu gravava o podcast desta semana que nota eu daria ao episódio Boxed In. Quem me conhece sabe o quanto sou chata em termos de nota. Pois é. Mas esta semana tive que soltar um nove.
Devo começar dizendo que o grande mérito do episódio foi contar uma estória simples, mas totalmente crível, que valorizou, mais do que efeitos especiais, mais que uma boa montagem, uma fotografia primorosa ou cenários excêntricos, mais do que qualquer outra coisa, a arte da interpretação. A boa e velha técnica de emocionar contando apenas com a palavra, a expressão facial ou a linguagem corporal. Não que todo o resto não tenha acontecido. Sim, a edição e montagem foram perfeitas, a fotografia adequada, a direção de arte muito minuciosa, mas o que contou mesmo para o meu nove na avaliação foram as interpretações e a direção.
Desde a cena inicial até o desfecho, tudo o que fez valer foi a direção de atores, que, quando feita por um também ator ( no caso, Thomas Gibson), sempre parece mais adequada. Tenho a impressão de que um ator sabe o que exigir de outro ator nestas horas.
O ótimo roteiro de Virgil Williams, preciso em sua necessidade de explorar mais que qualquer outra coisa os sentimentos foi impecável em amarrar todas as possíveis pontas soltas, dando um sentido único a cada personagem da trama. Aliado a uma direção segura e eficiente de Thomas Gibson, proporcionou um episódio daqueles que nunca saem da cabeça dos fãs da série. Há de se esclarecer que, uma vez fechado o tema, o ator e agora diretor Thomas Gibson juntou a fome com a vontade de comer. Ele sempre se queixou de há quase dez anos não conseguir protagonizar nada que seus filhos pudessem de fato assistir, devido a pouca idade. Dito isto, o roteiro proporcionou à TG a oportunidade de gravar cenas até engraçadas, que suas crianças certamente adoraram presenciar. Sabendo da oportunidade, o ator não se furtou em convocar seu filho Travis para uma ponta no episódio, além de trazer  JP, o primogênito para acompanhá-lo na direção ( o menino, segundo o ator, já dirigiu pequenos curtas informais  e demonstra interesse pela atividade), além de ter sua caçula Ágatha por perto, dando palpites aqui e ali. Certamente foi um bônus para quem queria agradar aos filhos e não sabia como.
A despeito desta informação adicional sobre o Thomas, o roteiro garante também um presente aos fãs do personagem, que sempre reclamam por nunca verem Aaron Hotchner sorrindo. Sob este aspecto Boxed In foi primoroso.
riso
Partindo de uma sequência inicial quase nunca vista na série, temos a oportunidade de encontrar Hotch totalmente desconcertado, na presença de uma amiga de Penélope Garcia, uma cartomante transexual, visivelmente encantada com o homem à sua frente, sendo a responsável por encontrar a fantasia dos sonhos de Jack para o Halloween: as vestes de Darth Vader. A começar pelo ambiente exótico, podemos sentir nosso agente totalmente deslocado, principalmente quando Mme.  Bouvier resolve não lhe cobrar o favor em espécie e dá ao entender de que estaria encantada pelo Macho Alpha à sua frente. Para quem acompanhou Gibson em Dharma e Greg eu diria que foi um presente ao ator para recordar seus distantes tempos de comédia. Contracenando com o ótimo Cornélius Jones Jr. em curta, mas surpreendente e bem-humorada atuação, a cena ficará na memória dos fãs por muito tempo, mas lá na frente destacarei a utilidade pratica da mesma, no quesito roteiro.
O caso acaba com os planos de Hotcher de passar o Halloween junto de seu filho Jack. O agente junta-se aos seus colegas para investigar o desaparecimento de garotos de cerca de doze anos  anualmente, sempre nesta mesma data. Juntos, eles irão descobrir que depois de um ano a criança é devolvida ( sendo que a primeira delas não sobreviveu). Aos poucos iremos descobrir que o unsub responsável por raptar as crianças havia sido punido por seu pai, um sujeito que vivia bêbado e que era tendencialmente agressivo.
Uma coisa interessante a se dizer é que uma boa parte da humanidade é psicopata ( cerca de 4% da população – 3% homens, 1% mulheres – segundo Ana Beatriz Barbosa Silva em seu  livro           Mentes        Perigosas – http://cerebro-online.blogspot.com.br/2010/03/4-da-populacao-sao-psicopatas-segundo.html  ). Isto não significa que todas estas pessoas irão cometer assassinatos. Muitos destes psicopatas irão conter seu desejo de matar e irão sublimá-lo tornando-se empresários de sucesso, pessoas com destaque intelectual  ou  apenas chefes muito exigentes. Não foi o caso do nosso suspeito. Após anos presenciando o abuso de seu pai, o sujeito, que já apresentava os sinais clássicos da psicopatia na adolescência,  é posto de castigo após uma brincadeira de Halloween ( pego jogando ovos na vizinhança) e trancado em uma caixa, da mesma forma que faz hoje com suas vítimas. Ao contrário das crianças que rapta, o unsub é salvo por sua mãe, que o impede de ficar preso. A mãe, cheia de viver sob o julgo do marido e tendo a oportunidade  mata –o e pede a seu filho que a ajude a sumir com o corpo. Anos depois, o filho crescido, rejeitado pela própria família e depois por uma noiva que o abandona, passa a aplicar em outras crianças o castigo que inicialmente lhe fora aplicado pelo pai. Obviamente que o aspecto da punição, mais a experiência de ajudar a sumir com seu pai, aliado a uma personalidade psicopata não poderia dar em boa coisa mesmo.
caveira
Mas não deixa de seu um daqueles casos em que você não sabe bem onde jogar a culpa. Se na psicopatia do unsub, na tirania do pai que pune desmedidamente o filho, se na mãe que o submete à  experiência inigualável de um assassinato, se no ambiente permissivo que favorece cada crime ou na namorada cuja rejeição o leva ao gatilho que dará início aos crimes. Talvez não haja a quem culpar senão a todos.
Um dos pontos altos do episódio como já disse antes são as interpretações. Desde pequenas aparições, como a do vizinho intolerante afrontado por Rossi, a mãe da última vítima à beira da loucura ao descobrir que seu filho desapareceu, a irmã que denúncia o unsub, até o brilhante trabalho de Pamela Reed, tudo funcionou à perfeição. Em especial o trabalho de Pamela ( injustamente lembrada sempre por seu trabalho cômico em Um Tira No Jardim de Infância com Arnold Schwarzenegger, mesmo tendo tido inúmeras outras brilhantes interpretações no cinema), que expõe na medida exata a dor e a culpa pelos atos de seu filho. Tanto nas cenas em que ela aparece sendo interrogada, como no momento em que ela conversa com o rapaz, impossível não se comover com a dor expressa em seu olhar triste, no rosto marcado pelo tempo, na postura submissa, instintivamente defendendo-o como qualquer mãe faria, para em seguida, não podendo mais protegê-lo, assumir seu quinhão de culpa. De certa forma John David tornou-se seu pai, como tantos agredidos se tornam um novo agressor. O que nunca saberemos é se, criado adequadamente ele teria se transformado em um criminoso ou seria apenas parte do contingente de psicopatas que convivem conosco em nosso dia a dia e nem nos damos conta.
Por ser um episódio de Halloween, certamente dele se esperava algum terror. E ele estava lá. Não na forma explícita de cadáveres desmembrados, sangrando ou cheios de larvas, nem na exposição de tortura física ou no ruído típico de um tiro. Optou-se sabiamente pelo terror psicológico, pois nada mais aterrorizante do que pensar em uma criança presa meses a fio, em um espaço claustrofóbico e escuro. Crimes com crianças costumam nos mobilizar muito mais que outros, mas o fato dele prolongar um sofrimento por longa data é uma das ideias mais apavorantes que pode me ocorrer.
Quando iniciei este texto, disse que falaria ao final sobre o motivo de uma cena inicial feito a que tivemos. Então vamos lá. Muita gente se questionou porque um episódio com tanto Hotch. Simples: para fazer um ótimo contraponto com um pai tão horrível, agressivo, bêbado e abusivo, nada como um pai exemplar. Nenhuma informação ali foi por acaso. Desde ele sair correndo do BAU, despedindo-se às pressas de Penélope ( mostrando que ele sempre tem dificuldades para arranjar tempo para ser dividido entre lar e trabalho), o favor que ficou devendo à sua funcionária, a chuva impiedosa ( quantos se desbancam debaixo de tanta chuva para agradar o filho?), a postura séria que adota ao só deixar o menino brincar com a fantasia se tiver jantado bem e estiver com o dever de escola feito, o orgulho que ostenta ao comentar que Jack ganhou o concurso de fantasias na escola  e seu comentário com JJ sobre nunca ter passado um Halloween longe do filho, para não dizer a evidente indignação que expressou o episódio todo, como se não pudesse admitir ou compreender como alguém pode fazer mal a uma criança, tudo foi cuidadosamente inserido para que ficássemos ainda mais indignados com o pai e com o suspeito ( o primeiro pelo mal que fez ao filho o segundo pelo mal que fazia às crianças). Quando ele entra no quarto e não vê Jack na cama, não é um olhar despreocupado que vemos em seu rosto, é o medo de ver seu menino passar pelas coisas horríveis que ele vê no trabalho que se instala  para descobrir, em seguida, que o garoto está dormindo no sofá.   Hotch riu mais porque, via de regra, lares com crianças são, ou deveriam ser, felizes. A cena inicial com Madame Bouvier foi um bônus, por que na verdade não basta ser pai, tem que pagar todos os micos possíveis para fazer valer….
mais uma
Outras considerações:
§  Excelente trabalho de direção de arte. A criação da loja/casa de Madame Bouvier, cheio de detalhes ricos, como um lustre antigo, vários abajures, uma, um corvo, uma centena de quinquilharias , veludo e muitas contas e cristais, além do uso de rosa, vinho, lilás e bege só acresceram para tornar o ambiente muito embaraçoso para Hotch. Também os desenhos colados à parede da sala de seu apartamento pareceram uma ótima ideia, coisa de filho mesmo.
§  A composição do personagem de Cornélius foi incrível. Maquiagem, robe e chinelo de pelúcia, com o cabelo preso da forma que se prende quando se está perto de se retirar a maquiagem, além, , da interpretação do ator formaram um conjunto perfeito.
§  De todas as cenas, uma que me impressionou por sua naturalidade foi o momento de fim de jantar na casa dos Hunters. A filha adolescente que só se ocupa do telefone, o menino que se queixa por ter de comer comida saudável, a mãe tentado manter seu controle sobre os filhos, a senha comum no Amazon e o alerta do filho para não usar senhas óbvias, tudo foi encenado com tamanha simplicidade que a gente nem percebe que já está amando aquela família e que vai, logo mais sofrer com ela. Ponto para a direção de arte, as interpretações e a direção, responsáveis pelo conjunto da cena.
§  Estrelinha dourada pela menção ao Cruz, pois nos faz lembrar do chefe mesmo sem ele estar presente.
§  Um toque de ironia: Hotch pedir à Mary, no final, que ela não se culpe pelos atos de seu filho, mesmo tendo certeza que está pedindo o impossível a alguém na situação dela. Ele próprio não se perdoou por seu filho crescer sem ter a mãe ao seu lado, por algo que foi de certa forma, sua culpa também. Caso contrário ele ainda seria o pai sempre sem tempo para Jake, pois sabia que Haley era a mãe e o pai que seu filho precisava.
§  Uma observação sobre Thomas Gibson interprete. É inegável como ele transita com facilidade entre o cômico e o dramático. Da mesma forma que ele nos faz rir com seu desconforto em ser quase cantado pela cartomante, ele transmite autoridade e severidade nos momentos necessários. Pequenos toques, como chegar descontraído em casa ( note-se o botão da camisa desabotoado por baixo da gravata, algo que homens que usam o acessório fazem muito quando já não estão no ambiente de trabalho) e, no minuto que atende ao telefone mudar seu semblante para o modo “worry” fazem toda a diferença.
§  Preciso de uma cunhada destas, disponível vinte e quatro horas, rs,rs
§  Por fim, uma falha de continuidade, na cena em que ele vai procurar o menino debaixo do carro: alguém notou como ele tira a capa do automóvel, quando na verdade o mesmo já deveria estar descoberto, uma vez que ao chegarem à casa, os policiais a retiram? Ah, os contra regras…..
Então, gostaram do episódio? Deixem seus comentários por aqui, gostaria de saber o que acharam….
Até o próximo episódio pessoal!

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Para Kleyton......



No ano de 1985, quando eu estava para concluir meu curso de psicologia, nossa turma viveu uma experiência incomum. Meu amigo Kleyton viria a falecer no ano seguinte, vitimado pela Aids. Eu havia mudado de faculdade duas vezes ( Metodista e FEC) para conciliar horário com minha empresa empregadora e já não tinha uma turma única, visto que ao final, já trabalhando em seleção de pessoal desde o primeiro ano, tudo o que eu queria era o diploma, para poder assinar meus próprios laudos ( uma vez que aprendera meu ofício na prática). 

Kleyton cursava três matérias comigo e não em poucas ocasiões fizemos trabalhos universitários juntos. Ele era um negro de cerca de um metro e oitenta e tantos, bonito, alegre, falante, que cursava faculdade particular  porque defendia o seu sustento como modelo/ator. Vivia dizendo que queria trabalhar com crianças, na área de psicologia pedagógica. Algumas de minhas amigas ( devo dizer, era um curso, naquela época, predominantemente feminino) achavam um desperdício e o preferiam usando seu corpo. Eu nunca achei. Kleyton tinha um coração enorme e uma vocação incrível para a área. Bastava presenciar sua dedicação aos estudos. Percorrendo o caminho mais difícil, já que o mais fácil lhe rendia o sustento, testemunhei sua vontade de buscar suas origens, de ajudar crianças pobres, sobretudo crianças negras.

Meu tempo, já no penúltimo ano era curto, eu trabalhava em uma empresa que tinha funcionários trabalhando em  turnos ( Bozzano/Revlon ) e não raramente precisava chegar por lá às quatro da manhã para fazer a contratação/dispensa de funcionários deste turno. Logo, dá para imaginar, o que significavam os trabalhos em grupo para mim, já que nesta época eu passava mais tempo em condução do que produzindo ( morava na Moóca, trabalhava na Via Anhanguera e fazia faculdade em São Bernardo do Campo – para quem não conhece São Paulo, pode acreditar, era uma distância bastante absurda entre esses lugares – eu me deslocava usando ônibus, metrô e trem). Os trabalhos de faculdade eram todos meio que no tapa, já que no período noturno a grande maioria precisava trabalhar para pagar a mensalidade . Todos, menos quando os fazia com Kleyton. Encontrar com ele era como ler uma enciclopédia. Ele me enchia de informações, estava sempre cheio de ideias, meus trabalhos com ele eram sempre os mais completos. Uma noite, tarde já era, e muitos já haviam ido embora ( era comum o professor dispensar antes do horário para os alunos fazerem seus trabalhos em grupo), falávamos sobre psicologia do desenvolvimento, seu tema preferido, ou algo assim e ele me interrompeu. Me perguntou o que eu sabia sobre a Aids. Em minha presunção, derramei sobre ele as informações que tinha, em especial o que eu há tempos acompanhava haver na África.

Eu havia feito um trabalho, não havia muito tempo, em que falava sobre a Aids na África ( o tema era, naquela época, relativamente novo) e o seu abandono por estar em um território meio esquecido ( nasceu aí, Terra de Ninguém – 1998 que postei recentemente em meu blog).

"Naquele fim de mundo, onde não havia ninguém se importando com quantos africanos morriam por dia, não havia telex, telégrafo, rádio ou sinal de telefone suficiente para dar importância ao fato. Naquela terra de ninguém onde a fome, o clima, a pobreza e as doenças já dizimavam indiscriminavelmente, a Aids era apenas mais um motivo para morrer...”

Não que fizesse diferença para muitos, não que alterasse as estatísticas, não que envergonhasse a humanidade, naquela terra de ninguém, não havia gente suficiente que se importasse, não haviam  vozes suficientes para se fazerem ouvidas, não haviam  gestos possíveis, só a miséria e a morte que cercam o abandono do ser de cor escura e que tinha o destino mal traçado....." – sim, eu sempre arrumava tempo para escrever e pesquisar, acho que por isto meu curso acabou tendo um ano a mais...

Não pude continuar lendo meu texto. Percebi os olhos de meu amigo cheios d’água, lágrimas molhando o papel almaço  onde faríamos nossa dissertação. Me surpreendi, era a primeira vez que o via assim vulnerável.

Tenho que ser honesta, eu estava exausta, com fome ( passei cerca de quatro anos jantando um hot dog na porta da faculdade), anyway, precisava urgentemente de horas de sono e por pouco não perguntei a ele o que estava acontecendo. Ele falou sem que eu precisasse perguntar.

As palavras saíram lentamente. Ele me perguntou se eu era capaz de guardar um segredo, e, francamente, naquele momento cheio de sono e fome eu seria capaz de prometer a paz mundial. Mas tudo mudou quando ele começou a falar.

“Eu estou doente. Tenho Aids”. Nunca mais esquecerei estas palavras. Eu me lembro de acender um cigarro ( sim, naquela época eu fumava feito uma chaminé – parei quando engravidei, graças a Deus) e apenas ficar olhando para ele, esperando que ele continuasse a falar.

Foram as palavras mais difíceis que ouvi até o infarte de meu marido, seis ou sete anos depois. Ele me falou da sua homossexualidade – que eu sabia, mas nunca havíamos tocado no assunto. Me falou da discriminação que havia e o quanto era agradecido por eu não julgá-lo. Me disse entre um sorriso e umas lágrimas que não sabia que amar outro homem o mataria tão cedo....Só me lembro de ouvir Kleyton dizer que não sabia se conseguiria terminar a faculdade, pois era algo  que ele queria muito. 
 
Ele não conseguiu. Ele faleceu em uma quinta feira nublada, em um dia de prova de educacional (psicologia do crescimento para ser mais exata, matéria da professora Cláudia). Ele deve ter ficado feliz em saber que ninguém foi fazer a prova neste dia. Quase todos estavam em seu funeral. E a professora Wanda ( ela dava industrial, foi surpreendente seu discurso) falou tão bonito para ele. Muitos nem souberam que ele morreu vitimado pela Aids. Muitos tinham medo até de saber o que era Aids. Alguns me diziam que ele tinha tido uma infecção de origem desconhecida.  Naquele dia eu não fui trabalhar. Meu chefe, Roberto, fez um telefonema furioso ( para a minha casa, ainda não haviam celulares para o pobres mortais ), porque eu tinha dinâmica de grupo com alguns candidatos naquela tarde, mas eu nem liguei. Estava em choque. A Aids tornava-se enfim, realidade para mim e estava tirando do meu convívio diário alguém por quem eu nutria profundo respeito e admiração.

Naquele dia eu era metade de mim. A minha outra metade estava sendo sepultada e eu nem entendia direito o porquê. 

Queria ouvir de novo a voz grave que chamava meu nome quando eu meio que adormecia sobre os papéis, quando eu não tinha como continuar acordada, que me avisava: “- são 22:40hrs, só tem ônibus para a estação de trem de Utinga até 22:50 hrs”. E ficava me observando sair correndo para pegar o tal ônibus, com um sorriso meio divertido no rosto.... Kleyton foi para mim um divisor de águas. Antes e depois de sua morte. Sei que ele nunca saberá disto, mas acabei meu sexto ano sempre tendo sua determinação em mente, sempre pensando no quanto ele desejaria me ver formada e, de certa forma, espalhando meu conhecimento e minha indignação. Ele morreu em uma época em que ninguém sabia bem como tratar ou prevenir a Aids.

Hoje nós sabemos. E graças a Kleyton eu me tornei uma mulher, hoje senhora de meia idade, de cabeça aberta. Conheço como a vida de alguém  pode ser devastada pela Aids ( ou mesmo pelo preconceito pela cor) e procuro não julgar ninguém: cada um ama quem acha que deve amar, não sou eu, nem ninguém que deve julgar isto. Só acho que ninguém merece morrer por causa do preconceito, que não somos nada nem ninguém para julgarmos o coração de outras pessoas. Coincidência ou não, alguns dos meus melhores amigos/amigas são negros e alguns homossexuais – todos pessoas extraordinárias - sim, tenho ótimos amigos, thanks God!

Meu grande amigo Kleyton tinha o sonho de mudar as coisas aqui para ele e para todas as crianças que herdaram sua cor. Acho que serão necessários muitos anos até que as coisas mudem por aqui..... ou na África, ou em qualquer lugar onde haja uma criança negra ou homossexual. Por ora, fico feliz em ver as pequenas mudanças nas escolas, as pequenas mudanças em nossa comunidade. Hoje não se discute apenas a Aids na África, mas também aqui...  Minha norinha compra bonecas negras para seus trabalhos com crianças na comunidade onde dá aulas e isso faz a diferença. Ela não alisa o cabelo para que suas alunas não queiram alisar também. Isto é bem legal.

Penso no que seria sua reação se você  estivesse vivo. Ebola, mais uma barreira a ser superada. Esta postagem, originalmente falava apenas de Aids, mas seria desonesto com Kleyton ignorar um novo perigo, um novo desafio. Talvez, meu amigo, de onde estiver, possa me dizer sobre o que escrever, o que defender. Confesso, sinto-me sozinha nestas noites em que estaríamos discutindo a Aids, o Ebola,  a discriminação, a cor, o sexo. Não sei bem o que você diria, não sei bem o que você faria. Sei que não se calaria, como nunca antes se calou, mas não sei bem o que fazer, visto que sempre me vejo como uma minoria. Ou, em suas palavras, a “Deborinha que quer a paz mundial. Deborinha, deixa disto, o homem é cruel. Nunca haverá paz mundial”. Ele me conhecia bem. Eu sempre orei pela paz. Local, mundial, dos seres todos ditos humanos. O que fazer... Uma vez sonhadora..... ou como você Kleyton dizia: “ a garota que faz velório para os pernilongos  que matou....” posso te ver rindo da minha boa intenção....

Nestas horas, tristes e escuras, onde leio tanta intolerância nas postagens irresponsáveis dos supostos donos do mundo por aí, rezo para ti ao me deitar, para encontrar, talvez, quem sabe, a solução, as respostas. Ouço tua voz grave me zoando, dizendo que para tudo no mundo há um motivo  e espero, talvez você possa dizer para mim,  talvez você possa apenas indicar o caminho.

Me dói ler tantas ignorâncias acerca da tua cor, da pobreza que te cercava e que você driblou enfim, fazendo aquilo que tanto odiava, mas que ao final de tudo pagava as tuas contas: usando o teu corpo, nas fotos, nos vídeos. Lembro-me de te ouvir uma  vez dizendo: “ queria  que eles soubessem que eu sou mais do que isto!”

Ainda assim, espero você, Kleyton, me dizer o que virá a seguir.........

Estou cansada desta intolerância. Estou cansada de fingir que tudo vai bem. Estou cansada de dizer que no futuro os homens verão as coisas de forma diferente. Me sinto, às vezes, em 1986. Algumas coisas parecem nunca mudar. E nestas horas, apesar de eu não fumar há tantos anos, sinto que preciso de um cigarro. Apenas um paliativo para suportar a intolerância da humanidade.

Meu cigarro hoje é meu filho, que leva a semente da tolerância dentro de si, que faz valer meus pensamentos, que me faz acreditar num mundo melhor. É sua namorada, é o irmão de sua namorada. É meu amigo virtual. Minha melhor amiga de confidências. São todas as pessoas com quem cruzo por aí..... Gente que poderia ser cor de rosa e transar com cogumelos que para mim, não faria a menor diferença. Posso até te imaginar agora imitando um cogumelo....Era assim que você gostava de caçoar das minhas boas intenções....

Obrigada Kleyton, por ter feito de mim uma senhorinha  sem preconceitos, alguém que ingenuamente ainda sonha com a paz no planeta que habita, com a igualdade das raças, alguém que não acha que Ebola é doença exclusiva de africanos, que sabe que vale a pena abraçar alguém com Aids, que sabe que não importa a origem, qualquer doença pode vitimar indiscriminavelmente, que luta para que não exista preconceito. Obrigada Kleyton pelos risos puros, pela diversão gratuita, pelo aprendizado extra faculdade. 

Obrigada por dizer que não importava se o homem por quem eu estava  apaixonada tinha dezessete anos a mais que eu, que eu não devia ligar para o que os outros diziam. Você não ligava.Você tinha PHD nesta arte. Acreditar no ser humano, quando ele próprio não conseguia acreditar em si. 

Obrigada amigo, pelas lições de humildade e por me lembrar que eu não era a única com problemas em minha casa. Obrigada pelo apoio que você me deu e nem presenciou. Rogo apenas para que você possa saber tudo o que veio a seguir. Todas as mudanças. Que você saiba pelo  que valeu a pena lutar e que meu casamento hoje dura por quase trinta anos, quando até o padre da minha paróquia disse que não duraria nada. Você me disse um dia que o amor valia todas as apostas e eu te devo isto. Não raro me pego pensando em você. Em como você teria se divertido na festa do  meu casamento. Em como você estaria feliz em saber que eu pude ser feliz ao lado do homem que sempre amei. Em como você corujaria meu filho. A gente aprende a todo instante, com todo mundo e eu  aprendi muito com você. Você teve mais razão que o padre da minha igreja, que se negou a abençoar meu casamento. 

Você não viveu o suficiente para ver que eu lutei as suas lutas, mas eu continuo lutando. E se houver um Céu para “pessoinhas que foram cedo demais”, você certamente o está habitando. Com seu sorriso franco, sua voz grave, seu jeito meio brincalhão de ser. Se eu puder te aconselhar em algo, que seja para você voltar a dar as caras por aqui em mais ou menos trinta ou quarenta anos. Não acho que esta geração esteja preparada para por fim a qualquer tipo de discriminação. Serão necessárias mais lições, mais aprendizado, mais tolerância.

De qualquer forma Kleyton, obrigado por tudo o que foste como amigo. Fico te devendo esta, a ser cobrada seja lá de que forma.....

A oração desta madrugada é sua, e sempre será! 

Até qualquer hora amigo......