quinta-feira, 21 de março de 2013

Emílio e a Melhor Lembrança.....



Acordei e logo cedo pus-me de luto. Seria um dia difícil para mim, à espera do resultado de um exame médico que me diria se o que eu tenho tem cura ou poderia me matar mais rapidamente do que eu poderia esperar. Mas, ao ver pela manhã as notícias, um dia difícil ficou ainda pior. Li sobre a morte de Emílio Santiago. Há dias, mesmo com minha vida conturbada e cheia de dúvidas, venho acompanhando pela imprensa seu estado de saúde. 

Não, não sou uma pessoa mórbida, tampouco uma destas pessoas que fica policiando a desgraça alheia. No entanto, Emílio Santiago para mim era uma destas pessoas como aquelas que andam pela sua casa, sem cerimônia. Entre CDs e DVDs, sua voz faz parte do meu dia a dia, acompanha minhas alegrias e tristezas, meus êxitos e minhas derrotas, no som do carro ou da minha residência, bem como  naquele meu inseparável mp3. 

Pouco mais velho que eu, sua voz incomparável embalou os meus primeiros anos de namoro, depois de noivado e, finalmente, levou-me ao altar. Desde muito cedo acompanhei sua carreira nos festivais, e sempre fui de seu trabalho, mesmo quando ninguém ainda sabia quem era Emílio Santiago.


Logo Agora




Guardo comigo uma lembrança agridoce deste cantor ímpar. Paulista, morava há apenas tres meses em Vitória - Espírito Santo  (já se passam quase vinte e cinco anos então), quando meu marido tomou conhecimento de que Emílio Santiago faria um show em Jacaraípe - Serra, município da Grande Vitória. Eu estava grávida de sete meses, com uma enorme barriga e uma vontade imensa de ouvir o meu, então, cantor favorito. Desde que viera morar em Vitória, não havia tido ainda, oportunidade de assistir qualquer show, coisa que morando em São Paulo era relativamente comum.

Inexperiente quanto aos eventos na cidade, arrumei-me para um evento social, de acordo com um show exibido em um clube de beira de praia ( o extinto clube Rivieira em Jacaraípe ). Lá chegando, com certa antecedência, como sempre foi o nosso hábito enquanto casal, logo na entrada comecei a sentir-me um tanto constrangida. Circulando por entre as mesas do clube, uma profusão de paetês, longos, brilhos, jóias e afins que me deixou um tanto quanto desconcertada. Mesmo habitué de ambientes paulistas, nunca havia presenciado tamanha pompa entre os presentes, mas procurei relaxar e esperar que, embora não parecesse estar vestida adequadamente, pudesse aproveitar o show da melhor forma possível. À medida que as pessoas chegavam, eu percebia que todos conheciam todo mundo, naquele show a nata da sociedade parecia estar presente e, eu e meu marido parecíamos peixes fora do aquário.Todos se cumprimentavam, todos se conheciam, e  nossa mesa era a única ocupada apenas por duas pessoas.


Quando o sinal tocou avisando que o show iria começar, aprumei-me na cadeira e coloquei-me a postos para aproveitar o melhor do que o melhor poderia oferecer. No entanto, a bagunça em torno de nós continuava e meu marido, menos crédulo do que eu, previu que aquilo não iria terminar bem.  

O show começou e um muito simpático Emílio Santiago adentrou ao palco cantando Dilema e Cadê Juízo. Ao final das músicas e ainda, com muito barulho vindo da platéia, ele educadamente apresentou-se e falou um pouco sobre o álbum Aquarela Brasileira.
Educadamente ( e, confesso, meio constrangido), ele pediu um pouco de atenção à platéia. 

Naquela noite eu conheci o significado da expressão vergonha alheia. As pessoas à nossa volta confraternizavam como se não houvesse ninguém no palco. Falavam em voz alta, cumprimentavam-se, elogiavam seus vestidos, sapatos, cabelos, perguntavam dos filhos.... um horror. Eu meio que sentia vontade de levantar o braço e dizer: - Emílio, canta para mim, eu e meu marido estamos te ouvindo!!

Para meu agrado, vieram em seguida no repertório, Eu e a Brisa e Prá Você, dois clássicos, destes para se ouvir de joelhos. Embora o ruído tivesse diminuído, ainda estava longe de ser o ideal, e alguns homens, destes que só vão a estes eventos carregados pelas mulheres luluzinhas que precisam bater ponto nos lugares badalados ainda falavam num tom de voz que quase cobria a magistral interpretação. Neste ponto, meu marido, sábio como sempre profetizou: neste pé, o cara vai ir embora antes de terminar o show!

Eu não    queria    acreditar. Uma   voz    perfeita, com    um acompanhamento prá lá de perfeito, com músicas incríveis e ninguém parecia se importar. Não sei para os outros, mas para nós, comprar aqueles ingressos não tinha sido barato. À beira de dar à luz, toda despesa era computada milimetricamente e os ingressos para o show haviam sido um mimo inesperado do meu maridaço para mim, e em off, pago com sacrifício.

Eu Sei Que Vou Te Amar



Eis que, em um ato teimoso, Emilío entoa Eu Sei Que Vou Te Amar, música que escolhi para tocar no momento em que troquei alianças com Afonso em nosso casamento. A letra desta música para mim é meio sagrada ( salve Vinícius!), a interpretação de Sir Emílio também. Em minha concha quase impenetrável, ouvi a  melodia toda sem quase perceber o meio tumulto que havia se armado no salão. De mãos dadas com meu marido, foi um momento que jamais esquecerei. Quase como se ele cantasse apenas para nós dois.

De fato, quando ele terminou a música, foi quando pude perceber o quanto ele estava irritado com a falta de respeito do público que havia pago para assisti-lo. Até então, embalada pela melodia e uma voz prodigiosa, não havia percebido a algazarra, o borburinho, o falatório. Então, ele começou a cantar Retalhos de Cetim e  Sufoco ( grande ironia ) e, na metade da música então, vencido, ele desistiu.  Pediu desculpas àqueles que haviam pago o ingresso para ouvi-lo e saiu do palco. Não voltou mais. Foi vaiado, criticado, mas eu o entendi. Ninguém com seu talento merecia ser tratado como um evento social. Ninguém com seu talento merecia ser ignorado. Nem preciso dizer que saí do Riviera decepcionada. Não com o cantor, que demonstrou paciência até demais, mas com a insensibilidade das pessoas, a falta de educação e respeito da chamada alta sociedade.

Misty



Passaram-se vinte e quatro anos e nunca mais houve oportunidade de vê-lo novamente em um show ao vivo. Comprei seus CDs, seus DVDs, toquei-o diariamente ( o último DVD comprei em dezembro para dar de presente ao meu marido de Natal - Só Danço Samba - executado até março presente à exaustão no blu-ray aqui de casa), dancei ao som de sua voz com o homem com quem me casei e amo tanto, e, assim, Emílio Santiago passou a ser mais um no meu convívio diário, alguém com quem eu quase chegava a falar ao final de cada canção. Muito antes de qualquer entendido dizer que ele era uma grande voz, eu já o cultuava: por sua afinação, melodia, sua educação, sua cortesia. Pelo ser humano que ele parecia ser em suas entrevistas, por suas opiniões, e, principalmente por, como sempre neste país, não ser valorizado em vida. Todo mundo por aqui quando morre vira santo, vira ícone, vira o "maior" na sua especialidade. Emílio Santiago era o maior muito antes de morrer. Sempre foi o maior. O  maior cantor, o maior crooner, o maior intérprete. Danem-se agora aqueles que, finda a vida, exaltam o ser humano pelo seu feito maior, lembrado somente porque ele já não está mais aqui. Danem-se aqueles que viram a notícia do óbito e sentiram-se obrigados a dizer RIP Emílio, como poderiam dizer qualquer outra frase de efeito. Que mencionaram o pesar só porque ele está nos TTs ou é assunto no Facebook. Danem-se todos estes. Emílio Santiago merecia mais do que isto. Merecia ter sido reconhecido em vida. Merecia ter tido suas gravações tocadas nas rádios, nos programas de tvs, merecia que todos soubessem que ele era o dono da voz. E ele era, de fato, o dono da voz. Talvez sejam necessários cinquenta anos para que ele seja reconhecido como tal, para que digam que ele foi o maior intérprete da música popular brasileira nos anos 80/90 e em todos os anos seguintes. Mas no meu coração, ele já faz falta. Ele, que havia criado um selo seu, e pretendia gravar outros DVDs pela Santiago Music, teve sua voz calada antes do tempo. Ele, para a grande maioria das pessoas daqui uns dias será apenas mais um cantor, alguém de quem as pessoas vão se lembrar ocasionalmente. 

Não para mim. Para mim vão ficar Bananeira, Olha Maria, Beijo Partido, músicas de 1976,77, Nega, Trocando em Miúdos, Logo Agora de 1979, Pelo Amor de Deus de 81, Ronda e Sampa de 88, Ela Disse-me Assim e Esses Moços de 1989, Alguém Como Tu e Verdade Chinesa de 90, Mulher, O Mundo É Um Moinho, Flamboyant ( 91, 92, 93), além de Cadê Juízo, Alguém Como Tu e Viagem ( de 1995 e 96), Dias de Luna, Misty e Saigon ( 97/98), entre tantos e tantos outros sucessos em sua inconfundível interpretação. Sambas canção, boleros, música popular, bossa nova, samba enredo, Emílio cantou de tudo um pouco e, em tudo, foi o melhor. Fez a quem não viveu em passados anos, conhecer sua obra, trouxe a bossa nova aos mais jovens, reviveu o bolero aos que mal chegavam aos trinta anos. Cortejou Cartola, João Nogueira, Dick Farney, Lupicínio Rodrigues, Carlinhos Lyra. Nomes que estariam esquecidos não fosse seu desejo em gravá-los e perpetuá-los. 



Cadê Juízo



Por estas e por outras, recuso-me a dizer Rip Emilio, como todos os outros nas redes sociais. Recuso-me a dizer que você foi um grande cantor, que o país vai sentir sua falta. Isto me faria igual a todos. E, no que me diz respeito a você, Emilio Santiago, não sou igual a todos. Em minha casa, você continuará a cantar, por todo o sempre, nos almoços de domingo, ao cair da tarde enquanto volto do trabalho e enquanto faço a janta, ao final da noite, na companhia de meu amado marido, no som do carro, enquanto circulo por Vitória fazendo as coisas que sempre faço. Em meu mp3, naquela horinha livre esperando ser atendida pelo médico ou no supermercado. Será ao som de sua voz que continuarei arrastando a mesa da sala para dançar Misty com Afonso, como na época em que o conheci. 

Talvez este seja o imenso legado de um grande artista, a melhor homenagem que se possa fazer a um talento tão pouco reconhecido. Torná-lo eternemante vivo em nossos corações, ouví-lo simplesmente como se ele estivesse sempre lá, para nós, sem sentir apertar o coração pela ausência. Reverenciar sua existência com o que você soube fazer de melhor: cantar e nos encantar com suas interpretações. 

Não vou negar que derramei uma e outra lágrima quando soube da notícia. Não vou me privar de me peniteciar por  ter desejado que o tempo, senhor de todas as coisas, fosse contigo mais generoso do que com tantos indivíduos asquerosos e não merecedores de nossa convivência terrena, naquela máxima batida que parece dar aos melhores menos tempo do que aos outros, não tão merecedores.
Nem vou dizer que não lamento porque no próximo Natal não terei outro DVD seu para nos alegrar, para que eu possa dar de presente ao meu amor.  Não, dizer tudo isto é lugar comum. Basta apenas que eu te coloque para cantar no som do carro, enquanto vou para o médico, saber a quantas anda a minha saúde. 

Algumas pessoas tornam-se eternas pelos seus feitos. Você, Emílio Santiago, será para mim e muitos outros, assim, eterno.  Sua voz será meu refúgio e minha morada, sempre, enquanto eu viver. Esta é minha homenagem para você!

Até mais amigo!

 

domingo, 10 de março de 2013

FIC - ETERNO - CAPÍTULO 1



“ETERNO É TUDO AQUILO QUE DURA UMA FRAÇÃO DE SEGUNDO, MAS COM TAMANHA INTENSIDADE, QUE SE ETERNIZA,  E NENHUMA FORÇA JAMAIS O RESGATA ”.

Carlos Drummond de Andrade


Ele nunca a havia tocado tão intimamente. Tampouco sentido sua respiração tão próxima.  E, no entanto, parecia conhecê-la por uma eternidade. O toque em sua pele quando lhe tomou a mão para dançar  foi o mais próximo conceito de felicidade de que se lembrava há anos. Ele pediu licença a Dave, que a tinha nos braços e quando a tocou, abriu um sorriso indisfarçável em seu rosto. Ela, radiante, lhe devolveu o sorriso e isto o fez sentir-se mais confortável.

- Não pensei que você dançasse. Você está sempre me surpreendendo!

- Apostou contra mim nisto também?                                                                                                                  
- Ora veja, você ainda não me perdoou pelo Triatlon! – Seu sorriso era encantador.

- Não é muito confortável que uma amiga não confie que você seja capaz de realizar algo pelo qual treinou tanto...

- Touché! Você tem razão, eu deveria saber que você nunca entra em nada para perder.

 Ele queria responder, mas estava perdido entre todas as sensações que surgiam por tê-la em seus braços naquele instante.

- Eu tenho amigos muito dedicados mesmo. Não é incrível o Rossi conseguir organizar uma festa destas em tão pouco tempo? E tivemos sorte! A noite está linda!

Ele sorriu timidamente para ela, a mão pequena e macia entre seus dedos, aproximou seu rosto àquela pele de marfim muito clara, os cabelos negros quase roçando em seus lábios e não pensou muito ao responder.

- Você só torna a noite ainda mais linda!

Ela sorriu de volta  meio encabulada e corou, mas não parecia totalmente desconfortável com o elogio.

Todas as vezes, desde o princípio, quisera tocá-la. Da primeira vez, tantos anos atrás, havia sido apenas  a curiosidade.  Ele conhecera poucas mulheres, casara-se com a única namorada, ela era apenas uma novidade. Uma agradável e perigosa novidade. Ela era filha de uma embaixadora a quem prestava serviço e ele, um homem casado. Mas as poucas vezes em que esbarrara com ela, aqui e ali, foram suficientes para inquietar sua mente de homem fiel à esposa. Ela era como uma lufada de ar fresco a lhe tirar o bolor  arrefecido de sua vida constante e segura. Jovem, bonita, inteligente e perigosamente livre.  De várias maneiras, muito diferente da mulher por quem se apaixonara a alguns anos atrás. E, pela primeira vez, ele a deixou partir. Ignorou seus instintos e optou pelo que era mais seguro, a coisa certa a fazer. Sem uma tentativa, sem uma investida. Provavelmente, sem que ela mesma soubesse quem ele era ou o efeito que nele provocara.

Então, destino ou casualidade, passados tantos anos, quando o brilho de seus olhos era apenas uma vaga e agradável lembrança, ela voltou. Invadiu sua sala naquela manhã de quarta feira munida de uma caixa de pertences pessoais, muita determinação e um sorriso irresistível.  Ele amou vê-la ali na sua frente e todos aqueles velhos pensamentos retornaram. Mas havia tanto em jogo... Ela parecia vinda do nada, em um momento difícil para sua equipe. Além do mais, ele agora era pai. Precisava pensar e agir como tal. Não foi de surpreender, então, que resolvesse lidar com a situação tornando-se afastado, reticente e por vezes até indelicado. Suas dúvidas quanto a sua entrada na equipe sempre se sobrepunham aos seus sentimentos mais profundos. Sim, nos primeiros dias de convivência aquela mera curiosidade já se traduzia em sentimento. Quanto mais procurava obstinadamente tratá-la apenas como mais uma funcionária, mais prestava  atenção à sua presença. Não obstante tivesse que vê-la todos os dias, soube como manter-se distante das tentações. Era um luxo ao qual não podia se dar. Por todos os motivos do mundo.

Não demorou em aprender a separar as coisas de forma exemplar. Compartimentalizar. Anos depois a ouviu dizer a mesma palavra. Mas ele também era bom nisto. E seguiu em frente, ignorando os apelos de seu coração, não alimentando qualquer esperança ou desejo. No entanto, a prova contundente da fidelidade dela, refletida na preferência em demitir-se a delatá-lo, tornou-o ainda mais vulnerável aos seus encantos. Não ajudou também seu casamento estar indo a pique, nem sua esposa deixar sua casa levando com ela seu filho.

Ele amava sua esposa. Mas ela não era há muito tempo a mulher por quem se apaixonara. Tampouco ele o mesmo homem. O desgaste de uma relação onde era cobrado constantemente, por mais que se dedicasse, o atormentava. Ele tinha cometido muitos erros. Talvez não fosse mesmo um bom marido, talvez não estivesse presente tanto quanto deveria, mas o fato é que ela não lhe dava mais apoio. E embora tenham sido meses difíceis, chegou o momento em que teve que admitir para si próprio que lhe doía mais saber que tinha falhado no casamento do que propriamente a falta que sentia de sua esposa. Sentia falta de seu filho, sim. E da comodidade de chegar em casa e encontrar sempre alguém lhe esperando, de ter uma doce companhia para a sua volta ao lar depois de um caso. Sentia falta do barulho comum e rotineiro, das mesmas perguntas que ela fazia, de pegar seu menino no colo, sem ter que pedir permissão para isso. Com o passar do tempo, passou a sentir falta até das infinitas discussões sobre sua ausência em casa em detrimento de seu trabalho.

Sozinho em sua cama, era a voz de Emily que aos poucos lhe confortava na solidão, quando ele procurava se lembrar de como ela estava vestida ou de suas conversas com outros de seus funcionários. Pouco a pouco o que era uma vaga recordação diária passou a ser um alívio para seus dias atribulados e suas solitárias noites de amargura.

As coisas só pioraram quando Haley morreu. O peso da culpa, a necessidade em adaptar-se à nova condição de pai solteiro, as dificuldades em administrar seu trabalho após um baque tão violento, tudo isto devastou sua vida. E foi ela, com seu interesse e disposição em ajudá-lo que o confortou. Desde que fora agredido por Foyet e hospitalizado ela tinha lhe sido uma companhia fiel, o que, com o correr dos eventos só se intensificou. Ele tomou todas as precauções para não confundir sua solidariedade e amizade com algo mais, pois ela continuava sendo sua subordinada e sua retidão moral gritava a plenos pulmões para manter as coisas apenas neste nível. E agora isto. Ela estava em seus braços para uma dança. Apenas uma dança.

O seu perfume o inebriava. Ele aproximou ligeiramente o seu corpo ao corpo dela e institivamente procurou por Beth à sua volta. Ela estava dançando com Reid. Relaxou um pouco e procurou aproveitar o momento. Ele sentiu a mão dela subir e descer ligeiramente em suas costas por sobre seu paletó  e procurou usar de todo o seu controle para não fazer nada inapropriado.

Havia sido um erro. Ele soube desde o princípio. Um não. Dois. Dois erros. Deixá-la partir novamente e envolver-se com outra mulher. Quando ela foi ferida e quase morreu e ele decidiu afastá-la em seu exílio em Paris ele devia tê-la procurado. Ele deveria ter posto toda a sua integridade de lado e tê-la feito saber que ele a amava. E que ele estaria a vida toda ali para ela como ela estivera para ele e mais. Deveria ter, mesmo com discrição, para não comprometer toda a operação, dito alguma coisa, feito alguma coisa, deveria... deveria....    

Ele passou boa parte de sua existência desejando ter feito coisas que nunca fez. Ele tinha um péssimo timing para estas coisas. Ele pensava demais. Era responsável demais, comprometido demais. E, como sempre, no tempo errado. Era uma péssima hora para entregar-se ao prazer deslavado de dançar com Emily. Entre seus melhores amigos, na presença de seu filho e sua nova namorada. Péssima ideia.

Apertou ligeiramente a mão dele contra a sua.  A respiração calma dela o confortava. Ela estava novamente tendo maus dias? Ela tinha pedido um encontro? Um encontro. Ele quase não pôde acreditar quando ouviu as palavras. Ele era um idiota porque ela queria conversar e ele tinha se posto à disposição. Só isto. Ele havia iniciado isto. Provavelmente a única coisa certa que havia feito até então. Mas seu tolo coração estava em pulos com o que ela havia dito.

A música lenta embalava seus corpos e  seu arrependimento. Nada naquele momento perfeito poderia ser diferente. A proximidade com o seu corpo quente como nunca antes houvera acontecido ocultava dele, mesmo que por poucos minutos, a cruel realidade dos fatos. Mesmo que ele, em um momento de ousadia, resolvesse declarar-se e dizer a ela tudo o que de fato sentia já há tanto tempo, ainda havia outro grande problema. Que ele mesmo havia arrumado para si.

Ela não disse mais nada e ele também se calou. Foi como se o silêncio entre eles conspirasse para que aqueles minutos fossem perfeitos. Eternos. Recusou-se a acreditar que a qualquer momento a dança acabaria e ele voltaria à realidade. Tentou manter na memória do breve momento seu calor, seu perfume, sua voz, o pequeno e delicioso corpo moldado em seus braços e não ousou, em momento algum, olhar-lhe nos olhos. Quando Derek Morgan aproximou-se para tirá-la dele foi como se sentisse sua vida indo embora com ela. De forma alegre e educada ela agradeceu-lhe a dança e lentamente soltou-lhe a mão, como se também não quisesse partir. 


********************************************* 


Devia ter dito algo engraçado, pois David Rossi estava rindo. Ela não saberia repetir suas palavras, pois no momento o que ela conseguia ver era o amor de sua vida dançando com outra mulher. Isso, para não mencionar o fato de que a moça era bonita, simpática e segura de si. Era muito estranho vê-lo assim, com outra em seus braços. Ela não sabia dizer ao certo se eles estavam felizes. Mas a irritava ver que aquele sorriso nunca abandonava o rosto dela.

Era para ser ela. Não outra qualquer. Ela. Mas, agora não fazia mais diferença. Ela já havia tomado sua decisão. Todo o resto era passado. Quando o convite chegou, achou absurdo. Deixar sua equipe para trás. Sua vida. O seu amor de todo o sempre. Mas bastaram algumas horas e umas poucas reflexões para acreditar que aquilo era um presente. Uma chance de recomeçar. De curar suas feridas e reescrever sua história. Tudo agora se encaixava. A distância lhe faria bem. Um novo desafio profissional. Quem sabe um dia, um outro amor.... Amanhã, amanhã iriam conversar. E ela iria lhe dizer que estava partindo. Com toda a certeza ele lhe diria que ela faria muita falta por lá, mas que uma mudança lhe faria bem. Ele, como um bom amigo apoiaria sua decisão e ela deixaria sua vida sem que ele soubesse que um dia fizera de fato parte dela. Desde sempre ela o amara. Nem conseguia se lembrar ao certo quando se deu conta disto. E a vida foi se encarregando de aproximá-los sem de fato uni-los. Há muito tempo aceitara que ele sempre seria apenas seu chefe, mas só lhe fizera mal acalentar um sonho impossível. Porque desde aquele dia no parque todas as suas fantasias caíram de vez por terra. Uma coisa era desejar, outra era encarar  os fatos. Quando ele apresentou Beth a todos eles naquele dia ao final da prova tudo atingiu um outro patamar. O Aaron Hotchner por quem ela se apaixonara era homem de uma mulher só e não trocava de namorada como quem troca de roupa. Vê-los juntos a trouxe de volta à inegável realidade dos fatos. Aquilo nunca iria acontecer. Não do jeito que ela desejava. Não do jeito que devia ser.

- ..... damos valor ao que perdemos. Olhe só para ela. Morgan está ali para apoiá-la, mas é visível a decepção em seus olhos, não acha?

Emily não tinha a menor ideia sobre o que Rossi estava falando.

- Está tudo bem com você?

- Sim, claro que está. 

- Não que seja da minha conta, mas talvez Penélope não seja a única que esteja se dando conta de algumas coisas esta noite. Seja como for, minha cara, tenha em mente somente uma coisa: nada termina de fato enquanto você não entrega os pontos.

Ela sorriu quase aliviada. Não que tivesse entendido o que David Rossi acabara de dizer. Mas não pode negar para si mesma que sentiu-se melhor  ao ver que Hotch estava agora dançando com Penélope. O que dizem mesmo sobre...  o que os olhos não veem, o coração não sente?  Na falta de coisa melhor para dizer ao seu par  naquele instante, resolveu calar-se . O problema é que David Rossi era ótimo em interpretar silêncios. E, ainda pior, era especialista em dizer em claro e bom som aquilo que a maioria das pessoas apenas ousava pensar.

- Às vezes Emily, nossos maiores pesadelos só se tornam pesadelos porque não queremos correr atrás dos nossos sonhos. Você é uma mulher corajosa, seja lá o que estiver passando nessa sua cabecinha, lembre-se sempre: siga sempre seu coração.

Só então ela percebeu sobre o que David Rossi estava falando. Aquilo era bastante constrangedor e ela percebeu o quão óbvia ela deveria estar parecendo naquele momento.

- Você tem razão David, está na hora de correr atrás de alguns sonhos. É por isto que vou seguir meus instintos. Está na hora de tomar algumas decisões que eu deveria ter tomado há algum tempo atrás.

- Você passou por muita coisa, Emily. Pese tudo com muita calma. Ouça o que seu coração diz.

Para sua surpresa, ainda dançando com David, percebeu que seu par havia parado de se mover. E por um breve momento congelou ao perceber que Aaron Hotchner estava lhe tirando para dançar.

- Me desculpe, David, você me permite?

Prontamente Rossi afastou-se dela e entregou-a ao chefe da unidade.

- Claro, claro. Aproveitem bem a dança.

Seu corpo todo tremia, mas ela não podia deixá-lo perceber. Naquele instante parecia que todos os seus desejos mais profundos estavam sendo realizados. A mão que tomou a sua era quente, firme, mas, de alguma forma, também suave. Foi difícil conter sua alegria e ela sorriu, indisfarçavelmente. Ela precisava dizer alguma coisa rapidamente e o que lhe ocorreu foi um comentário sobre ele gostar de dançar. Procurou ser o mais casual possível. Eles trocaram algumas palavras e ele não perdeu a oportunidade de lhe devolver a brincadeira sobre o Triatlon. Claro que ela devia estar imaginando coisas, mas ele parecia claramente feliz e confortável dançando com ela. Longe da habitual postura distante e formal, ele parecia genuinamente... contente....

Ele era tudo o que sempre sonhara. E a vida toda esperara por aquele  momento. E ele estava acontecendo. Nada mais perigoso que isto. Precisava não esquecer-se que ele estava apenas sendo gentil e educado. Nada além disto. Ele estava namorando agora e isto, no rígido vocabulário dele significava compromisso. Ele jamais teria apresentado Beth a todos se não tivesse certeza do que queria. E a moça parecia estar fazendo dele uma pessoa melhor. Afinal, ela nunca o vira tão à vontade.

Então, ele disse aquilo. Ele havia dito mesmo o que ela ouvira? Ele dissera que ela só tornava a noite ainda mais linda? Não era possível que ele lhe tivesse dito isso. Ou talvez fosse. Talvez fosse o jeito dele de tentar ser gentil. Ela podia jurar que ele havia aproximado o corpo ao seu neste momento e não deixou de notar o leve aperto que ele deu em sua mão.

Poderia passar a eternidade abrigada entre aqueles braços. Poderia morrer naquele instante com a respiração dele lhe resvalando os seus cabelos, o som  daquelas palavras eternizadas em sua memória. Ela percebeu como ele acomodou o rosto de barba bem feita quase colado ao seu, o silêncio carregado de paz naquele instante. E deixou-se levar pelo momento perfeito. Tão perfeito que deveria ser eterno.

Quando Morgan aproximou-se do casal ela pressentiu o pior. Como dizer que ela não queria ser tirada dos braços do homem que amava e que todo minuto a mais ali seria apenas como tentar adiar o inevitável? Tudo o que pôde fazer foi agradecer gentilmente pela dança e vê-lo se afastar, levando junto dele os melhores momentos dela em anos.

Não demorou e lá estava ele, dançando com Beth, fazendo-a sentir-se traída pelo pior dos sentimentos, o ciúme, o vazio incondicional que alcança a alma de quem sofre das dores de amor. A moça havia mesmo feito dele um homem melhor. Ele parecia mais humano, mais sensível. Ele havia lhe feito um elogio. Bem, um elogio estranho. Se ela não soubesse de sua atual condição de homem comprometido, teria lhe soado quase como uma cantada.

Sentiu-se tentada a acreditar que havia algo mais naqueles minutos perfeitos da sua dança. Mas, o que importava agora? Olhou para seus amigos e pensou como seria seguir sem eles. Sem a alegria de JJ, sem as brincadeiras de Penélope ou as perturbações diárias de Derek Morgan. Como faria longe das monótonas explicações de Reid sobre assuntos estranhos ou a fina ironia apenas percebida no tom de voz de Rossi. Como seriam seus dias sem os olhares furtivos para a janela no andar de cima, de onde monitorava discretamente o homem que deveria ter sido seu. Às vezes  achava que nunca havia voltado de verdade. Mas, naquele instante parecia mais que nunca havia partido. E, talvez, apenas talvez, as coisas devessem continuar apenas como estavam....como se pudessem por magia, tornarem-se eternas.....

Criminal Minds - 8x16 - Carbon Copy - Meus Comentários


Então, como  sempre, nem sei por onde começar a não ser elogiando, e muito, este novo episódio de Criminal Minds.

Tenho lido alguns comentários de pessoas que dizem que Criminal Minds já não é o mesmo, que boas mesmo foram as primeiras temporadas e coisa e tal. Mas sou daquelas pessoas que agradecem a Deus pela série já não ser a mesma. De mesmice basta a coleção de episódios de CSIs da vida, onde tudo é tão previsível que nos primeiros minutos já dá para saber tudo o que vem a seguir. 



 Promo Oficial



Acho que as pessoas que reclamam da falta de bons roteiros em Criminal Minds nas últimas temporadas são as mesmas pessoas que têm dificuldades em seguir em frente com determinadas coisas na vida. Aquelas pessoas que se sentiram ofendidas pela demissão das atrizes dois anos atrás e não superam o fato de que na vida coisas acontecem e devemos aprender a lidar com elas. Mais claro que isto impossível. Duas atrizes foram demitidas da mesma forma, uma retornou e não cansa de dar entrevistas dizendo que está feliz pela nova chance, outra pediu para sair porque se sentiu desgostosa e infeliz com o acontecido. Pessoas são assim. Lidam de forma diferente com problemas semelhantes. É a maravilha da individualidade.
 

No entanto, a saída de Paget Brewster marcou alguns fãs da série de forma irreparável ( vejam bem, gosto da atriz, adorava a personagem, não tenho qualquer motivo para não me solidarizar com ela e sua decisão). Mas é isso. Decisões. A vida é feita delas. E a gente segue em frente. 

Acho que apenas isso justifica tantas críticas a uma série que chega ao seu oitavo ano com uma audiência de 10 e poucos milhões, feito realizado por muito poucas séries com este tempo de exibição.  Em uma época onde as séries são canceladas com tres ou quatro episódios por absoluta falta de audiência, acho que estes números dizem alguma coisa.

Mas não estou aqui para falar de números. Quem achar que a série já não é mais a mesma deve deixá-la de lado e acompanhar outras tantas que a tv nos oferece. Estou aqui para falar de Carbon Copy, um episódio de qualidade irreparável em vista de outros exemplares televisivos. 

Para início de conversa, os roteiristas nas primeiras falas já deixam claro através de considerações dos personagens que uma perseguição assim já existiu, lembram de The Fisher King e de Randall Gardner, antes que qualquer um de nós diga: "poxa, outra vez alguém perseguindo a equipe toda?" Encaro isto como um elogio à inteligênca da audiência, visto que, uma vez que irão explorar um tema já visitado, eles têm ao menos a dignidade de esclarecer que isto pode ser de certa forma comum, ou, no mínimo, passível de acontecer de novo. Em outras palavras, esclarecem que sabem que estão revisitando o tema. 





Nada no episódio ficou mal amarrado. Eles deixam claro que têm conhecimento de casos semelhantes ao que foram investigados, mas que a motivação é diferente. Além do que, alguns pequenos toques de requinte trazem uma credibilidade maior à ação. Exemplos disto são a legista se assustar com o fato de frequentar o mesmo local onde a vítima que ela examina foi capturada  e o policial encarregado do caso ter reservas quanto a uma intervenção de agentes do FBI ( mais para frente no decorrer do episódio, esclarece-se que ele havia perdido um parceiro durante uma operação onde havia tido uma intervenção do FBI, daí a falta de credibilidade nos agentes). E, também depois, a própria legista preocupar-se com o fato da foto ter sido encontrada com o cadáver. Preocupar-se com a equipe foi um toque de delicadeza em um momento tão duro. Parece pouco, mas são detalhes que trazem mais veracidade à trama.

Adorei o fato de, a despeito de terem se passado cinco temporadas, eles mostrarem que Erin Strauss continua sendo uma agente burocrática, daquelas que só sabem agir atrás da mesa. Embora ela dê todo o apoio necessário à sua equipe, eles não se esqueceram de mostrar a face dela cheia de repulsa ao ver as fotos na exposição do caso, tal qual aconteceu no episódio In Name And Blood,  na terceira temporada, onde fica bem claro que ela não foi feita para ser uma agente de campo.





Tenho que dizer que adorei a cena onde eles descobrem o corpo com a foto do Hotch. Tanto o Rossi quanto o detetive encarregado fazem uma cara de "como assim?", enquanto Hotch faz a sua cara de.... Hotch! Às vezes tenho a impressão de que ele está soldado para qualquer coisa que lhe aparecer pela frente. Talvez pela morte da ex mulher, talvez por tudo o que já viu em seu trabalho, talvez pelo seu temperamento, ele apenas vê as coisas, e não importa o que sinta, isso quase nunca transparece. Ele tem sempre aquela expressão impenetrável, não importa o quanto ele sentiu "o seu na reta " naquele momento. E eu amo isso nele.

A tremedeira nas mãos do unsub e a total desorganização do quarto do próprio quando é focalizado deixam claro antecipadamente, para nós, profiles de plantão, que ele jamais poderia ser o nosso replicador. Isto, para meu alívio, é esclarecido pelo próprio Hotch no decorrer do episódio.

Algumas pessoas implicam com o fato de Erin Strauss passar a apoiar a equipe de uns tempos para cá. E, da mesma forma que aceitei todas as outras mudanças na série, vejo isso como uma evolução da personagem, coerente com a estória criada para ela.  Como já disse antes, pessoas que entram para o programa de passos do AA tem certas etapas a cumprir. Acho digno eles mostrarem esta evolução no seu comportamento. Seria ridículo uma chefe alcóolatra, encaminhada para reabilitação por seus subalternos, continuar a tratar seus subordinados com empáfia e sem qualquer resquício de arrependimento. Tal comportamento só se justificaria caso ela tivesse feito a reabilitação nas coxas e, na verdade, prosseguisse com o vício.


  

Também muito coerente e bem amarrado o fato deles mostrarem uma tentativa de afastar os membros envolvidos do caso que os afeta. Embora fosse óbvio que ninguém se afastaria ( ou não haveriam os próximos episódios), futuramente ninguém poderá alegar que, uma vez envolvidos eles deveriam ter sido  afastados, ou coisa parecida, aquele blá,blá,blá de dizer que em uma situação real eles não estariam perseguindo seu próprio perseguidor e tal.E uma boa oportunidade da Strauss se redimir por parte de seus pecados, ehehe! De certa forma, ela endossando-os também coloca o seu na reta e a torna responsável pelo que possa acontecer a algum deles no futuro. Ponto para a idéia e para a expressão de descrédito da Blake ao ouvir tal afirmação, tipo: "estou pagando para ver!" E ponto adicional para quem lembrou de dizer que o caso do qual o Rossi lembrou foi do Gideon. Eles traçam perfis, são obrigados a estudar casos diversos, mesmo não tendo participado deles diretamente ( caso do Rossi).

No momento em que a equipe passa o perfil do unsub para os demais policiais, nós, não eles, já sabemos que eles estão enganados. Que a pessoa que eles procuram tem uma ligação com o replicador, mas não é o próprio. Gosto disto. Traz mais credibilidade ao trabalho deles, que, afinal, não é de pura adivinhação.

Aqui tenho que fazer um adendo. No momento  em que vi que o suspeito estava se vingando por ter tido sua vida destruída por uma falsa acusação me lembrei imediatamente do caso da escola Base de São Paulo, nos anos 80, onde os donos tiveram suas vidas estraçalhadas por uma falsa acusação de pedofilia. Tema mais que atual, onde o julgamento público passa a ter mais peso ( culpa de uma mídia irresponsável e sensacionalista) do que o julgamento jurídico, feito por seus pares. Tiro meu chapéu pela abordagem verdadeira de um problema endêmico na sociedade americana e também brasileira. Ao acontecer um crime, a imprensa se arvora do direito de fazer conjecturas e, a partir daí, o réu é condenado mesmo antes de passar pelos trâmites de lei. Claro que, aqui, neste caso, é ficção, mas que nos faz refletir sobre uma série de coisas fundamentais, e creio que isto só valorize a exploração do tema no episódio.


Uma frase em especial me chamou a atenção no depoimento do unsub. Ele diz que a vida das pessoas é tão ruim que eles amam quando  podem assistir a desgraça dos outros. É como dizer que a mídia inescrupulosa serve a refeição e o público em geral refastela-se dela. Tão atual e real quanto qualquer programa estilo Datena. Inacreditavelmente atual. 

O ponto fraco do episódio, obviamente fica por conta de agentes experientes deixarem um criminoso sozinho com um vidro de remédios. Mas, não fosse isso, o episódio não teria a sequência desejada, então, vamos supor que isso fosse possível. Não dá, definitivamente, para se ter tudo.

Só consigo pensar que a música de Frank Sinatra foi uma menção clara ao Rossi ( declaradamente fã do cantor e seu estilo "rat pack"). A despeito da letra da música, dizendo  que "você me encontrou e tornou minha vida menos solitária", temos, além da música em referência ao Rossi, a taça roubada do Morgan com suas digitais, a foto do Hotch, as flores da JJ, a aula da Blake e o telefonema do Reid. A única ainda não claramente mencionada foi a Penélope. De qualquer forma, a tomada dos agentes na casa, tendo a visão das próprias fotos nas paredes foi absurdamente impactante, cada qual, sob a luz de um farolete, visualizando a si próprio e parecendo não acreditar no que via.

Destaque para a direção de fotografia, com luz baixa e cheia de sombras, as tomadas de flashback do unsub e a tomada da cena final, em dois planos. 

Merecem menção:

* A lembrança do Gideon ( afinal ele faz parte da estória do departamento).

*A tomada da sala da Strauss durante a videoconferência, onde aparece os agentes na tela da sala dela ( teria dado menos trabalho focalizar a sala por outro ângulo, mas não teria o mesmo impacto, ponto para o diretor de fotografia e a cenografia responsável pela imagem na tv).

* Rossi lembrando que se é para "ofender um de nós, ofende a todos nós" - reforçando o aspecto família, tão admirado neste grupo.

* O Hotch não identificar a ligação da Garcia feita da casa dela ( não deve ser um número que ele tenha na agenda profissional dele).

* Garcia ir para casa depois de n horas de trabalho ( às vezes parece que eles não comem, não dormem, não tomam banho, valeu a lembrança!).

* Opinião pessoal : continuo achando ( só palpite ) que o unsub perseguidor é o Marcus Talbot. Além deles destacarem veementemente o fato dele usar fotos reveladas manualmente, outras características me chamam a atenção. Ele era egocêntrico, manipulador, organizado, mantinha arquivos das moças vítimas do unsub que ele supostamente manipulou, era magro ( pelo pouco que se observou do unsub, tem mãos magras), e teria um motivo interessante, porque acho que depois da acusação supostamente falsa do seu envolvimento no assassinato daquelas moças ele deve ter, no mínimo, perdido seu emprego e/ou sua credibilidade como professor. Outra coisa que me chama a atenção é o aspecto voyer, ele observava adolescentes através de buracos nas paredes, tudo a ver com um perseguidor que fotografa a vida alheia de longe. Mas, são apenas divagações e não vou me decepcionar se ele for o unsub. 

 * Também não creio que qualquer agente vá morrer ( li gente falando na morte da Strauss, da Beth, do Anderson, e por aí vai). Acho que teremos um cliffhanger no final da temporada, com todos os agentes em perigo, e apenas creio na eventual morte ou afastamento de alguém, caso o contrato do ator/ atriz não seja renovado ( nestas alturas, acho que todos renovarão, mas nunca se sabe o que vem pela frente).       

 * Por fim, continuo a pedir encarecidamente para que o departamento de make-up e afins faça uso da tesoura e pente nos cabelos do meu querido Reid. Já não é uma questão de torná-lo mais bonito( o que ele já provou que é, quando quer). É uma questão de presença necessária a um agente do nível dele ( leia-se higiene ou algo que o valha). Eu sei que as mocinhas adoram seus cabelos desgrenhados, mas um agente do nivel dele tem que ter credibilidade e presença, ele não é mais um adolescente em fase de experiência no FBI.

* E, por favor, alguém podia lembrar de dar ao Anderson uma fala de mais de tres linhas?  Dá dó saber que o ator vai gravar para dizer apenas 6 palavras!

De resto, só posso dizer que o episódio foi impactante, cumpriu seu propósito de forma exemplar. Teve ação, tiroteio, emoção, muitas dúvidas, erros no perfil, sensibilidade, e, só para não perder o hábito, um Hotch de camisa branca e colete ( preciso mencionar, vocês me entendem, não é?). Que venham os próximos, e que se mantenham a criatividade e a execução brilhantes dos episódios desta oitava temporada.

* Ah, quase me esqueço, e seria imperdoável! Melhor frase do episódio: " - Pegue este filho da mãe, Aaron!" - by Strauss.

Um abraço,

Débora