sexta-feira, 1 de maio de 2015

Criminal Minds 10x21: Mr. Scratch - Review

destacada mr s


Acredito que muita gente que assistiu Mr. Scratch sem um bom conhecimento dos fatos históricos ficou sem entender direito a história. O episódio, escrito por Breen Frazier e dirigido por Mattheu Gray Gluber, trouxe uma infinidade de referências que valem a pena serem mencionadas.

O caso, de forma geral acompanha assassinatos que são cometidos por pessoas próximas às vítimas, sem que elas próprias tenham conhecimento do fato. O roteiro não perde tempo com muitas explicações iniciais, pois tudo deveria ser compreendido mais adiante. Basta saber que três pessoas mataram seus entes mais queridos e juram não terem feito tal ato covarde. Dois deles ( um homem que matou a esposa e um que matou a mãe ) conseguem de alguma forma depor, acrescentando algumas informações para a equipe. A terceira incriminada matou seu namorado e entrou em estado de choque, sem condições de acrescentar nada ao time.

Desde o princípio ( e não sem razão – saberemos mais à frente) Hotch assume a dianteira, cuidando do caso de forma pessoal, como foi poucas vezes visto. Chega a ser meio infantil ouvir as justificativas dos suspeitos, narrando um possível monstro dos sonhos, com garras nas mãos e aspecto assustador.

Pessoalmente, como disse na review passada, eu prefiro casos mais comuns, aqueles que de forma recorrente  encontramos nos noticiários, casos que não escapam para o território do sobrenatural, da especulação fantasiosa, do misticismo. Mas, é claro, estes casos também existem e precisam ser investigados com o mesmo rigor.

Na primeira reunião de equipe se comenta acerca das possibilidades, uma vez que este é o terceiro caso, o que, de certa forma, tenta tornar mais suave a aceitação de uma história tão absurda, visto que são vítimas que matam seus entes queridos sem perceberem que de fato os mataram. Todos acordam aos serem presos e descobrem de forma cruel que são os responsáveis pelas mortes, mesmo que de nada lembrem. Da forma como é exposto, cada depoimento dói demais no coração de quem assiste. Imagine alguém do nada te dizer que você matou a pessoa que mais ama e você não se lembrar disto. Aqui cabe o mérito do elenco convidado, que faz por merecer cada elogio sobre sua interpretação.



Para mim, um grande roteiro sobrevive sem grandes interpretações e imensos recursos técnicos ( vide grandes obras que são impactantes mesmo com apenas uma mesa e uma cadeira em cena), já o contrário não ocorre. E, apesar de todo o aparato técnico, de uma direção muito correta de Mattheu Gray Gluber, de cenas de ação de tirar o fôlego, faltou tempo para desenvolver melhor o roteiro. Fiz questão de conversar com muitos espectadores antes de começar a escrever esta review, para ter a certeza de que não seria injusta. E, para minha surpresa, muita gente não entendeu o episódio. Em síntese, curtiu horrores a emoção e a adrenalina que acompanha as cenas onde nossos queridos agentes correm risco de vida, mas foi apenas isto. E me dói lembrar que um ótimo tema foi desperdiçado por falta de tempo útil, não tão bem aproveitado.

O problema é que Hotch e Rossi relembram casos ocorridos entre 68 e 80, como Fells Acres e Mc Martin, onde centenas de professores e educadores tiveram destruídas suas carreiras por depoimentos que colocavam seus comportamentos sob suspeita. Mais tarde ficou provado que crianças de até cinco anos tiveram depoimentos distorcidos, arrancados à força, em uma espécie de surto de histeria coletiva que visava claramente condenar indiscriminadamente sob a justificativa de acreditar nos supostos depoimentos tirados à força. Os cerca de duzentos e setenta casos levados a júri neste período produziram um estrago inominável no sistema educacional americano, recursos rejeitados, direitos negados, apelações desconsideradas, tudo em nome de um verdadeiro caça às bruxas instaurado naquela época. No entanto, o curto tempo do episódio privilegia a adrenalina  no lugar de um maior esclarecimento, deixando em aberto para muita gente a real intenção do unsub.

Embora para mim tenha ficado claro desde o princípio a motivação do criminoso, ainda assim fui buscar informações sobre o relatório Lanning e os casos reais ( Fells Acres e Mc Martin) julgados naquela época. O conhecimento a fundo dos fatos decorrentes destes eventos revolta ainda mais do que o esperado. É apenas quando descobrimos o quanto a barra foi forçada para cima das crianças que serviram de testemunha é que percebemos o porquê da indignação e sede de vingança que emerge fundo na alma de Peter Lewis. Assim como na vida real, Peter não apenas viu seu pai ser acusado de pedofilia, mas, sob pressão de psicólogos e investigadores, acabou admitindo um abuso que nunca houve ( papel que coube aqui ser representado pela enfermeira que escreveu o livro que a enriqueceu).


Em minhas conversas com várias pessoas que assistiram e leituras de comentários, percebi que muita gente achou que o unsub Peter Lewis forçava suas vítimas a se tornarem criminosos porque seu pai abusara deles e eles o haviam denunciado. Não creio que tenha sido esta a intenção de quem escreveu a estória ( Breen Frasier, roteirista dos ótimos 52 PickUp, Blood Relations e Lauren, entre outros episódios). Ou os medos de Hotch não fariam sentido.

Creio que, como ocorrido nos casos reais – o de Fells Acres foi provavelmente o mais próximo da realidade do roteiro, Peter Lewis viu seu pai ser acusado de pedofilia e, forçado por investigadores e psicólogos, acabou corroborando a estória de outras crianças e confirmando um abuso sexual que nunca existiu. Não esqueçam-se que esses depoimentos foram tomados de crianças de apenas quatro ou cinco anos, época em que, como o próprio Reid afirma, a criança está mais suscetível a embaralhar memórias reais com fatos fantasiosos que lhes pode ser sugeridos. Assim sendo, Lewis quando pode ter real entendimento dos fatos, sentiu-se culpado por ter ajudado a condenar o homem que lhe protegia e que era de fato inocente. Crescido, decidiu punir aqueles que, como ele, foram responsáveis por esta condenação, lhes obrigando a matar aqueles a quem mais amavam. O ato em si de matar uma esposa, uma mãe amorosa ou um namorado apaixonado  torna clara a sensação de culpa de Peter. De certa forma, ele sentiu a mesma dor, quando descobriu que matou seu pai ( acusando-o de algo que ele não havia feito).

E aí chegamos na alucinação de Hotch. Poderia ser qualquer agente a chegar naquela casa e sofrer nas mãos do unsub as alucinações que ele sofreu? Pessoalmente acho que não. De todos os personagens, nosso G Man foi o que mais teve perdas pessoais. Embora todos eles tenham tido suas baixas, Aaron Hotchner perdeu a mulher que amava para o trabalho e, depois, como ex esposa, a perdeu para Foyet. Perdeu Elle para Randall Gardner, Kate Joyner, sua amiga para o terrorismo, foi indiretamente responsável pela perda de Emily Prentiss, uma vez que não salvá-la de Doyle desencadeou o seu processo de saída da equipe. Perdeu sua chefe Erin Strauss e perde, toda vez que não pode proteger alguém por quem se sente responsável. Se algum personagem entre os membros do time sabe o que é sentir culpa, este personagem é o dele. Ele próprio diz isto a Gideon em Ashes and Dust ( 02x19), sobre ser um herói que caça assassinos e sentir medo de nunca ser o suficiente. Nada mais óbvio que fosse ele a refletir em suas alucinações o medo por sua equipe, por não chegar a tempo ou por não poder salvá-los. Uma culpa muito parecida com a de Peter Lewis, uma culpa que nunca poderá ser perdoada.

Apenas interpretado desta forma o episódio faz sentido, e é uma pena que por falta de um roteiro um pouco mais claro em suas intenções isto não tenha sido passado para a totalidade de quem assistiu Mr. Scratch. Além disto, algumas soluções um pouco preguiçosas, como a pirotecnia na cena em que o unsub derruba o sistema elétrico do BAU. Soluções deste tipo empolgam momentaneamente, mas já foram vistas anteriormente e fazem parecer que derrubar este sistema é relativamente simples para alguém com muita inteligência. E não é bem assim. Ou, como o Hotch, ao contrário das outras vítimas que apenas absorveram a mistura química via inalação por correntes de ar, toma um “banho” destes mesmos produtos e ainda assim, mesmo alucinando, consegue manter-se com menos sintomas dos que os outros (ele não dormiu por horas após a inalação, coisa que ocorreu com os demais e lembra-se de tudo o que o unsub fez despertar nele, o suficiente para contar para Rossi).

A minha queixa não é sobre o efeito que o episódio teve na maioria das pessoas que o assistiu. Ele de fato criou todo o medo, susto e angústia esperados ( bom, vou aqui considerar que o objetivo foi atingido por aqueles que conseguiram se manter imersos na história, o que não foi meu caso – para mim, desde o início ficou óbvio que toda aquele derramamento de sangue era mais uma alucinação). Minha queixa foi investir apenas na ação. Visto que ao final fica clara a abertura deixada para que Hotch venha a reviver toda aquela experiência em futuro próximo – Peter afirma que eles não sabem o que ele foi capaz de fazer com a cabeça de Hotch e isso sim deveria ser um tremendo gancho – é uma pena que o roteiro tenha permitido diversas interpretações para um fato que se dispunha a ser claro desde o princípio: a de que realiza o unsub mexer com a cabeça de outras pessoas, inocentes como ele próprio um dia foi, manipulando-os da mesma forma que se sentiu manipulado. O gesto que Peter faz discretamente ao olhar para Hotch no momento em que era preso ( e o temor nos olhos de Hotch ) deixa evidente que a história não termina ali e que consequências ( para nosso querido agente) virão. Não é a toa que um monte de gente ficou achando que no episódio seguinte veríamos a conclusão da história do agente Hotchner. Levou anos para que Peter se tornasse um criminoso vítima da manipulação a que foi submetido um dia. Levará também muito tempo ( claro, contando que haja uma décima primeira temporada) para que isto venha a se manifestar em nosso agente e, se eles souberem ser criativos isto pode se tornar muito interessante.

Além disto meu outro protesto vai para a iluminação. Uma coisa é uma escuridão proposital para criar um clima sombrio, outra é não se enxergar nada na cena. Esperei até o episódio passar na TV para ter certeza de que fosse uma reclamação justa, uma vez que assistir episódios baixados pode não ser confiável. Mantenho minha opinião à respeito. Algumas cenas estavam quase nada visíveis, totalmente desnecessário.



Que Mattheu G Gluber tem talento para a direção, em especial para filmes onde o sobrenatural e o macabro fazem parte da história ninguém duvida. Também é fato que Breen Frasier é um excelente roteirista, criando alguns episódios brilhantes da série. No entanto, alguma coisa neste episódio especificamente não funcionou enquanto história bem contada. Mexeu eficientemente com a adrenalina, mas não com o coração das pessoas. O que não impediu de, embora pouco compreendido, ter sido eleito por muitas pessoas como um dos melhores episódios da série. Não impunemente o episódio seguinte teve audiência tão baixa, mas isto já é estória para outra review.

Até o próximo episódio!

Observações:

* Todos os atores convidados tiveram desempenho acima da média e enriqueceram Mr. Scratch, mas inegavelmente o show foi mais uma vez de Thomas Gibson. Atuando de forma totalmente diferente do esperado, seu Hotch, como em uma espécie de premonição de que o dia não acabaria bem, deixou de lado a carcaça dura e fria, permitindo-se transparecer as emoções todas, como se quase não conseguisse manter o controle, ou não se conformasse com a falta dele. Pode parecer imparcial, pois é notório que sou fã do trabalho do ator, mas fico triste observando que os atores desde elenco sempre se superam e quase nunca obtêm o devido reconhecimento.

* A referência ao medo de infância de Kate ser Melissa Gordner é uma brincadeira com o nome da personagem que JLove Hewitt interpretou em Ghost Whisperer: Melinda Gordon, personagem que lidava com mortos que não conseguiam partir para o “outro lado” sem uma ajudinha dela.

*  Por último, ficou faltando alguém entrevistar a assassina que matou seu namorado em um hospital e não na própria BAU. Visivelmente em choque, uma pessoa assim jamais seria liberada de um hospital para ser interrogada.

3 comentários:

  1. Bom dia Débora, vou tomar a liberdade de comentar novamente sua review, aliás pode ter certeza que mesmo que eu não comente virei freguesa e vou ler sempre. Também ouvi o podcast no Criminal BR e deixei um comentário lá apoiando as suas impressões e sensações sobre o episódio, eu particularmente achei fraco um roteiro meio confuso sem explicações importantes, algumas cenas desnecessárias e muitas que eu achei engraçadas porque não eram nada críveis, não me assustei com nada, a cena das mortes foi óbvia pra mim desde o início, resumindo se o principal objetivo do episódio era ser de alguma forma assutador e chocante a mim não pegou. Acabei de assistir o episódio 22, e novamente a utilização de ilusões, claro de uma forma diferente, mas na verdade gostei mais do que do episódio anterior.

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  2. Oi Alessandra, td bem? É ótimo vc deixar comentários, eu agradeço o apoio. Concordo com vc, o episódio desta semana foi muito melhor do que o Mr. Scratch. Gosto especialmente de roteiros e eles, para mim, precisam ser bem amarrados. Vc irá ouvir o pod cast e verá do que eu estou falando. Tb gosto muito mais dos casos mais críveis, aqueles quase banais, pois são a essência do ser humano e muito mais representativos tb. Como para vc para mim este episódio não me pegou. O seguinte no entanto, me comoveu tremendamente. É um destes casos em que todos são culpados e ninguém é culpado. Quase uma fatalidade. Bj enorme por acompanhar meu trabalho. Isto só torna mais importante para mim querer melhorar sempre!

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  3. Não espere encontrar consistência na totalidade dos episódios porque a maioria deles não tem.O negócio é se divertir com o que se tem...

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