quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Episódio "200" de Criminal Minds



Criminal Minds 9x14 : “200”
Por Débora Gutierrez Ratto Clemente




Muita gente se questiona como uma série como Criminal Minds conseguiu chegar ao seu ducentésimo episódio, tendo passado por tantos percalços, saída de atores principais ou não, saída de roteiristas , troca de produtor, e, não bastasse tanta dificuldade, por capricho da CBS, a demissão de duas das três atrizes ( comenta-se que teria sido via twitter) na mesma época em que tentavam lançar um spin-off da série. Se isso ainda fosse pouco, o público usou pela primeira vez a internet para manifestar-se, produzindo várias petições on line que repercutiram de forma inesperada, derrubando a audiência do esperado spin off com o consagrado e oscarizado ator Forest Whitaker ( levando ao seu cancelamento) e, como última instância, trazendo de volta as atrizes demitidas. Para fechar com chave de ouro, uma delas resolveu ficar apenas os poucos episódios que o contrato lhe obrigava cumprir e abria-se nova vaga nesta série que se não parecesse brincadeira, já daria uma série apenas com seus bastidores.


E então o leitor meio desavisado me pergunta: 200 episódios? E deu para ser bom?

E com um prazer inenarrável eu te respondo leitor querido: FOI. Não é de hoje que eu acompanho as mazelas deste fantástico seriado que aprendeu a duras penas a tirar leite de pedra. Fosse este um episódio qualquer, de número 89, 145 ou 212, ele teria sido ótimo, mas sem qualquer interferência externa. Mas era o episódio de número “200”, por excelência e quase injustamente comparado de imediato ao episódio “100” e todos aqueles que marcaram saídas de personagens queridos ou finais de temporada. Eu fico imaginando que a internet seja uma espécie de “céu e inferno dantescos” para quem produz ou escreve estes episódios. Depois que fãs descobriram seu poder de “opinar” através dos mais diversos canais, não deve bastar mais ser um ótimo roteirista. Há de se fazer aparecer o Anderson, esquecido em episódios normais. E tem também a Gina, que os fãs querem ver de volta. Há de ter ação ( característica esta não necessariamente condizente com a série, cujo objetivo principal é o de esmiuçar as mentes doentias e antever seus passos, antes que cometam outros crimes), muita ação, de preferência um mocinho ou mocinha sofrendo. Ah, e não esqueçamos, há também aquele grupo que desejaria enormemente que a atriz Paget Brewster fizesse uma participação especial ( de preferência de meia hora ou algo assim). Devo estar esquecendo diversas coisas, mas o básico foi dito.

Para aquele paciente sujeito que ainda não desistiu de prosseguir com a leitura, vai aí o caminho das pedras: agradar aos fãs nestes episódios tidos como especiais. No episódio “200” não houve um caso elaborado, quase não houve perfil, houve ação mais do que em dez episódios comuns, abriu-se um cofre de uma profiler na segunda tentativa, apareceu o Anderson, a Gina e mais do que nunca, JJ apanhou, tomou choques e foi afogada até trazer lágrimas aos olhos mais sensíveis. Inteligentemente a equipe de roteiristas ( sim, o roteiro é do Rick mas eles trabalham muito com brainstorm) resolveu usar o período em que a atriz por motivos de força maior esteve fora para criar a estória mãe do episódio. Ouvi muita gente reclamar sobre ela ter ido lidar com testemunhas do caso Bin Laden e de imediato me lembrei de duas frases ditas quando da saída da personagem: “o problema é que você é boa demais “ , “e nós perdemos, mas alguém vai sair ganhando”

O episódio como um todo foi uma espécie de homenagem ao fã assíduo e fiel. A começar por excluir a vinheta da série e dar-lhes ares de película cinematográfica, não destacando ninguém, tampouco fazendo pouco dos convidados ocasionais. Tratou com respeito as participações de Paget Brewster, Jayne Atkinson e outros coadjuvantes. Lembrou-se de mostrar Will, o filhote Henry, Anderson, Gina, e claro, Emily Prentiss, que para agrado dos fãs que foram contra sua saída da série, a viram bem vestida, tomando conta de um enorme setor da Interpol e ainda ter um jato à sua disposição.

No que diz à construção da estória, era de se supor que todas as dúvidas caíssem em cima do chefe Cruz, com pouco tempo de casa, e candidato óbvio, mas, óbvio demais para assumir todos os crimes. As cenas gravadas no Afeganistão ( não me lembro agora o nome da cidade) foram bem cuidadas e lembram porque JJ era especial. Em um mundo masculino, onde obter respostas a qualquer custo era a prioridade, Erin Strauss teve a sensibilidade de trazer alguém que pudesse acrescentar alguma coisa que não fosse à base da força. Houve quem reclamasse que Erin havia dito para JJ que ela passaria mais tempo em casa. É óbvio que eles tiveram que adaptar esta opção, fazendo-nos crer que Erin haveria explicado tudo a JJ após sua saída.

Dentro das alternativas e possibilidades, achei muito legal eles terem mostrado o quanto JJ acompanhou o “sumiço” temporário de Emily e da mesma forma, como Emily largou tudo para ajudá-la em um momento igualmente difícil. Verdadeiras amizades não se medem em dias, meses ou anos, se medem em minutos e foi isto que a estória nos mostrou.

Coerente dentro das possibilidades,  foi possível arrastar a estória até os dias atuais, fazendo com que um agente dado como morto, quisesse extrair de JJ e Cruz a senha para obter o nome de agentes trabalhando às escondidas. Durante boa parte do episódio, a dúvida paira sobre Cruz, que para os seriadores mais experientes, estava mais para um homem apaixonado por sua subordinada do que para um traidor. Para a nossa equipe de plantão, restou traçar o perfil de JJ durante sua ausência no Bureau e verificar a lealdade do agente Mateo Cruz. Para aqueles calejados em séries, não era difícil descobrir de Mateo Cruz era um bode expiatório ( o ator acabou de entrar para a série, dificilmente seria o criminoso). Em uma solução rápida e eficiente, todos os pontos obscuros ficam bastante evidentes para a nossa equipe e não há demora em salvar nossa heroína e seu novo chefe.

Em uma análise bastante crua, não há dificuldade em descobrir que neste episódio não há perfis complexos, não há dúvidas, não há questionamentos. Porque é assim que se faz um episódio especial para fãs. Dando a ação e as aparições que todos desejam, mesmo que falte pouco tempo para um caso elaborado, um perfil interessante, um caso típico de Criminal Minds. Mas não importa, é o que verdadeiramente se espera de um episódio marcante como o “200”. Nem se leva em conta que após todo o conflito e ação desenvolvidos, todos estejam ao fim do dia em um bar, comemorado o triunfo e a vitória, mesmo que JJ tenha apanhado, sido afogada, asfixiada e coisa e tal ( e ainda assim esteja linda de morrer). Ela está ao lado do homem que ama, e afinal, Emily Prentiss só pode ficar mais seis horas ao lado da antiga equipe, então, quem liga para o que passou? É mais provável que as fãs escrevam fanfics sobre as seis horas restantes de Emily ao lado de Aaron Hotchner.

O episódio “200” não precisa necessariamente fazer muito sentido. Ele precisa deixar os fãs felizes. Esta é sua missão. E parece que isto eles sabem fazer muito bem. Particularmente, eu prefiro aqueles episódios sombrios, que tentam desvendar uma mente doentia, que os fazem ter que andar à frente do assassino, mas eu certamente não sou maioria. E não me importo com o fato de  que os roteiristas tenham tentado brindar os fãs com um episódio “200” que os agradasse.  Afinal eu tenho outros tantos, muitas dúzias de mentes doentias para me deleitar, muitas mentes para entender.... ou não........
Criminal Minds  é uma série procedural que mantém sua longevidade pois explora o lado doentio do ser humano, além de ter uma química fantástica desenvolvida pelos atores e atrizes que atuam a cada semana. Mesmo que ninguém queira reconhecer, todo mundo de forma meio dissimulada, gosta de apreciar o lado negro que move o ser humano, pois não é tão difícil reconhecer-se nele.
Quanto à frase final, de Nietzsche, fica fácil imaginar o quanto da ingenuidade de cada personagem  vai-se embora toda vez que ele é mencionado. Ele foi mencionado no inicio da série, depois com Hotch e agora com JJ. Acho que aos poucos, todos vão perdendo sua “ingenuidade”.
Por fim, apenas para constar adorei a evolução da JJ, as aulas que ela pede ao Morgan, a preocupação em evoluir, não há ninguém que possa passar pelo que ela passou sem querer  evoluir, sem querer aprender a proteger-se. Roteiro bem amarrado, e uma ótima explicação da mudança de JJ nos últimos meses. Para quem acompanhou todos os episódios, passa a fazer todo o sentido o comportamento de JJ nesta última temporada.

Criminal Minds continua a fazer sucesso sem uma explicação lógica: seja pela química entre os atores, seja pelo fato de mostrar a verdade sem disfarces, seja por apontar o lado negro de cada um que nos rodeia, não importa o motivo.  O certo é que com certeza ela tem fôlego para uma vida útil longs, muito longa!

Que venha o próximo!

4 comentários:

  1. Excelente review, Débora, adoro ler seus textos. Um brinde a esse episódio, rs, e aos fãs que podem ter uma série como colega semanal durante quase 10 anos.

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    1. Caio, que saudades de vc. Como vc deve ter acompanhado, estou há quase um ano em uma cirurgia atrás da outra, então estive privada de escrever sobre qq coisa. Estou tentando voltar aos poucos. Que bom que vc gostou e melhor ainda termos uma série companheira por tanto tempo. Aos poucos, tenciono voltar à comu do orkut, que embora ultrapassada, é ainda bem organizada e une todo o nosso grupo perdido entre faces, whatsups, twitter e etc....E vc me deve um retorno sobre seu novo livro, não esqueci. Grande abraço!

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  2. Amei sua review Débs. Fico ansiosa por cada uma delas.Semana que vem será um episódio dirigido pelo Thomas pela promo parece que vai ser ótimo.

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    1. Ainda não estou com a corda toda, meu tempo de computador ainda está limitado ( embora eu não respeite muito tais regras), mas sinto enorme falta de escrever. Já postei o 9x15. Sinta-se à vontade p reproduzir, publicar ou sei lá o que vc quer fazer! Bjo enorme!!!!!

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