sexta-feira, 11 de julho de 2014

A Copa E Como Dói Perder......




Neste momento, enquanto sento em frente ao notebook para escrever sobre o jogo Brasil x Alemanha, Felipão está dando uma entrevista coletiva. Na tela da televisão vejo o técnico tentar com educação e paciência ( ou nem tanto, já que classe e paciência não são exatamente virtudes suas) responder às perguntas quase ofensivas dos jornalistas sanguessugas, que tentam arrancar no tapa uma declaração trágica, talvez um comunicado de suicídio para depois do inquérito. 



Nossa imprensa é vergonhosa. Mais do que a própria derrota da seleção. Referem-se ao jogo como um vexame, o maior vexame da história, uma humilhação da qual jamais irão se recuperar,  quase como se os jogadores e técnico merecessem ser punidos em praça pública. Foi feio? Claro! Mas perguntar dez vezes como o cara se sente é quase como esperar que ele se enforque em frente às câmeras.


Isso acontece quando as pessoas confundem as coisas. Estou triste? Óbvio, adoro meu país, adoro futebol, torci orgulhosamente em todos os jogos, porque não teria me entristecido? Vou mergulhar em depressão e passar a dizer que nada neste país presta, que aqui é tudo assim, que ninguém faz nada por nós, que meu país é uma vergonha? Claro que não! É um jogo. “O Jogo”. Mas um jogo. Jogos têm algumas regras fundamentais. A primeira delas: de dois times, um ganha e outro perde. Nós perdemos. Ganhamos quatro e empatamos um jogo anteriormente, mas este, que nos permitiria disputar a taça de campeões mundiais, nós perdemos. 


Aqui na tv, continuam as tentativas de obter respostas a fórceps dos jogadores, na esperança de que eles se humilhem ainda mais, declarando-se incompetentes, péssimos jogadores, deixando a certeza de que perderam porque nem faziam questão de ganhar. Haja massacre.


Não cabe aqui nenhuma defesa ao ocorrido. A seleção não começou a jogar mal contra a Alemanha. A seleção está jogando mal desde que a Copa começou. E antes. E pegou adversários mais fracos ou menos eficazes do que ela, o que facilitou algumas coisas. Mas nem nos meus sonhos mais perturbadores eu consigo imaginar qualquer um destes jogadores  entrando  naquele dia em campo dizendo: “- Ah, dane-se, hoje se perder, perdeu.”
Aquilo que o Gerard twittou, sobre Portugal ter o CR, Argentina ter o Messi, Brasil ter Neymar e Alemanha ter uma seleção, me perdoem a pretensão, mas venho falando há um ano. Não porque entendo muito de futebol. Mas porque entendo o mínimo. Falei  (e tenho testemunhas) que Cristiano Ronaldo provavelmente dava um trem para não participar da Copa porque passaria vergonha, porque um homem só não faz milagres. Dito e feito.


Portanto, nada disto foi novidade para mim. Só ficava rindo do povo nas entrevistas nos noticiários  dizendo... três a zero, quatro a um, cinco a um e tal. Falava para o maridão: “- Será que só nós dois temos juízo? Se ganhar de um a zero é lucro, muito lucro.....” 


E a entrevista na tela da tv continua. Um ser, cuja mãe deve estar acostumada a diversos elogios, faz a David Luiz a pergunta de um milhão de dólares: “ David, como você está se sentindo?” Sério, o que ele achou que o cara iria responder? “- Bem, sabe, hoje fez sol, o dia foi legal, estou super feliz, ah, e por acaso perdemos...”


Os caras da imprensa sabem ser cruéis. E adoram tirar um choro ao vivo. É o circo da imprensa. Quanto mais lágrimas, mais audiência....
E assim, com o aval do nosso jornalismo, o brasileiro vai descarregando seu ódio pelo país, misturando alhos com bugalhos e buscando culpados que nem entraram em campo. Misturam os assuntos e já não falam mal apenas do time, do técnico ou dos jogadores. Agora falam mal do gramado, dos estádios, do governo, dos prefeitos, governadores, da presidente, como se, enquanto o resultado fosse positivo, nada disto fizesse diferença.


Quando o mesmo sujeito que canta o hino à capela no que o time só está vencendo é o mesmo que queima bandeiras e sai do estádio no meio do jogo pode apostar, este não é um sujeito que ama seu país. Ele ama vencer, ama estar ao lado de vencedores. Sob qualquer circunstância. E você, leitor, me pergunta: “-Mas você não gosta de vencer?”


Ah, santa inocência... Claro que gosto de vencer. Sempre. Mas gosto mais da razão. Gosto mais da coerência. Gosto da sinceridade e de amar meu país, mesmo que ele não me traga o título de campeão do mundo no futebol. Prefiro que ele seja campeão da simpatia, da educação, da saúde e da forma como trata as crianças. Prefiro saber  que ensinamos nossas crianças que quando jogamos um jogo podemos ganhar ou perder, mesmo que tenhamos feito o possível para ganhar. Hoje meu filho é cobra criada, mas se tivesse filho pequeno ou neto, ou sobrinho por perto, diria: “ – nosso time hoje jogou mal e perdeu. Faz parte do jogo, quem joga melhor ganha ( quase sempre). Mas veja, nós chegamos até aqui. Disputaremos o terceiro ou quarto lugar e tenho certeza que os jogadores fizeram o que foi possível a eles fazer. Mas nosso país é lindo, recebeu pessoas do mundo inteiro com educação e respeito e vai continuar lutando para futuramente ser o melhor do mundo, também no futebol!”


É um discurso conformista? Pode ser. Mas o que de melhor pode fazer aquele que sai apedrejando o país como um todo como se ele merecesse ser escorraçado, como se pelo futebol julgássemos todas as suas ações, como se fossemos pequeninos e tivéssemos a honra de um pires?


Prefiro acreditar que meu país é maior e melhor do que isto. É um país em crescimento, que luta por uma educação digna, que tem pessoas empenhadas em trazer mais do que um título de campeão de futebol para casa. Todo dia quando escrevo, quando a professora dá sua aula, quando o médico dá seu diagnóstico, o juiz dá seu veredito ou o quando a criança desenha um mundo melhor no seu caderno o país cresce e amadurece. Não pelas vias da corrupção, que combateremos até não haverem mais forças, não pela facilidade da troca de favores, que preferimos ignorar ao honrar cada compromisso, não pela facilidade de vencer apenas para ostentar um título, mas pelo verdadeiro significado da vitória, não porque é moda vestir a camisa e cantar o hino, mas porque cada palavra deste  hino tem um verdadeiro sentido para mim, porque o verde e o amarelo são as cores do meu orgulho, a minha palavra de fé, verdadeiramente todas as coisas em que acredito. 


Mas, que bobagem, afinal eu canto o hino em todos os jogos que ele toca durante as competições estaduais, eu o canto orgulhosamente quando ele dá o ar da graça no vôlei e quando o Cielo está no pódio. Canto, quando um judoca ganha um novo título, quando um novo presidente sobe a rampa. Eu sou uma romântica. E uma crente. 


Eu creio na nova geração. Aquela que ajudei a criar. Creio no amor que aqueles que eduquei terão pelo seu hino, sua bandeira, o nome de seu país. Fico puta quando um repórter qualquer achincalha com o sagrado nome Brasil, mesmo que hoje, vez ou outra ele nem mereça a honra da menção. E vamos lutando, dia a dia, para que este nome mereça tal honra. Tanto quanto o futebol. 


Que fique a lição de uma renovação. Que se prove necessário não avacalhar com o jogador em entrevista, porque isto não ganha jogo, mas que venha um novo modo de ver o esporte, de se fazer valer a camisa sagrada verde e amarela.


Que não seja prioridade arrancar aos trancos um mea culpa do atleta, que faz não somente representar nosso país e por certo, sente vergonha por não estar hoje à altura, mas que entende que o nome que se junta à tradição das cinco estrelas tem seu peso e deve ser respeitado. Que ele saiba que Brasil vai além de um nome entre tantos outros da América do Sul, quiçá da América Latina.
Há de se fazer necessária a verdadeira faxina na CBF, há de se fazer obrigatória sua desvinculação dos órgãos de comunicação, sobretudo à Globo, que só falta escalar o time para o técnico. Há de se crer que a audiência virá pelo mérito, não pela obrigação e que, os números serão favoráveis àqueles que prestarem o melhor e mais fiel serviço. É por tudo isto que eu luto.


As entrevistas na televisão estão por findar. Não há mais o que dizer. Não há mais lágrimas que comovam, nem desculpas que convençam. Nem a simpatia infantil de David Luiz, tampouco o arrependimento pela falta de Thiago Silva. Saturaram-se os argumentos de Hulk, Paulinho  ou Fernandinho. A imprensa transformou todos os nossos possíveis heróis em carrascos de si mesmos, em cruéis vilões de uma estória inacabada. Mas, infiéis por crença, não reconhecem sua culpa, junto aos jogadores, técnicos e companhia.


A mesma imprensa que não se importa de malhar para conquistar mais meio ponto. A tal, que meses atrás, condenou a possibilidade de deixar de escalar Fred, que não fez senão nada em campo. Penso o que teria sido do técnico sem escalar Fred. A chuva de impropérios de que teria sido vítima. Infeliz daquele sob a  tutela de duzentos milhões de técnicos meia boca a opinar e decidir aquilo para o que não fora treinado. 




Mas, agora pouco importa. Foi-se o título, foi-se o hexa em 2014. Ficam as muitas lições da humildade ao verdadeiro conhecimento tático e técnico, fica o desejo de que a seleção de 2018 seja o retrato de uma pátria redimida e confiante de acertar  em seus jogadores e seus governantes e seu desejo de ser uma pais honesto, tanto quanto exímio em futebol. Fica a sensação de que iremos chegar lá, pois somos experientes em torcer a favor, mesmo quando temos um turbilhão torcendo contra. Nossa marca é ir contra  a correnteza, é ganhar quando ninguém mais acredita, é sobreviver quando já não há oxigênio disponível. Nossa razão de existir é provar que todos os outros estão errados. 

Por isto eu sei que vamos chegar lá. Vai demorar mais quatro anos, mas não importa, porque eu sei que vamos chegar lá. Com mais dignidade do chegaríamos agora. Com a honra de quem não precisa de resultados arranjados. Nós vamos chegar lá e comemorar com honestidade na frente destes repórteres que hoje tentam arrancar de cada jogador seu mea culpa, sua vergonha por existir, como se tivessem matado alguém, como se seu crime fosse inafiançável.




Já troquei de canal. Já não ouço mais os intrépidos repórteres inquerirem cada jogador à beira das lágrimas, como se tivessem matado uma criança, como se fossem os drones que Israel mandou ao território palestino. Deixa para lá. Já estou ouvindo Chico ( Buarque ). Já me preocupam mais as crianças vitimadas pelos ataques criminosos que vitimam tanto palestinos quantos israelenses. Agora, sem artifícios nem desculpas, isto me está doendo mais e mais que qualquer título, qualquer copa.....


Haverão outras copas. Haverão outros jogo. Outro técnico, outra CBF. E, talvez, outro time....


E eu, haverei de rezar pelas crianças, pelos drones que atingem o vazio, pelas bombas que ninguém fere, pela sensatez da paz..... e, envergonhadamente, pedir para que nós vençamos no sábado para podermos ficar com o terceiro lugar....... o que fazer, eu continuo torcendo por eles, pela pátria que representam.... julguem-me se puderes.....

Ah.... Só para constar.... sábado estarei vestindo minha camisa da seleção e estarei torcendo pela vitória do Brasil sobre a Holanda.... nem preciso explicar o porque né?......

Nenhum comentário:

Postar um comentário