quinta-feira, 11 de outubro de 2012

FIC -- DECISÕES - CAPÍTULO 7




TIRA-ME O PÃO, SE QUISERES,
TIRA-ME O AR, MAS NÃO
ME TIRES O TEU RISO.....

NEGA-ME O PÃO, O AR
A LUZ, A PRIMAVERA,
MAS NUNCA O TEU RISO,
PORQUE, ENTÃO, EU MORRERIA....

Pablo Neruda



Antes que ele mal pudesse completar a frase e articular qualquer outra palavra, ela selou seus lábios sobre os lábios dele, com a mesma determinação com que empunhou uma metralhadora quando precisou. Por milissegundos, a ela pareceu que ele iria corresponder. Ela pôde dançar com sua língua pelo traço fino que a boca dele fechada formava e ele não recuou. Durou pouco. Ele afastou-se dela, devagar, pôs as mãos em seus ombros e tentou respirar.

Ela aguardou. Apenas uns instantes. Do alto de sua experiência em analisar pessoas, diria que ele estava confuso e apavorado. Genuinamente apavorado. Mais apavorado que ela estava.
Ele tomou as pequenas mãos dela entre as suas, respirou fundo e olhou profundamente em seus olhos.
-Talvez você queira conversar um pouco primeiro, Prentiss...
-Eu sou Emily e não comece a falar agora, apenas faça amor comigo!

Ele quase riu dela. Mas ela prosseguiu, cuspindo um monte de palavras sem conseguir parar.

- Qualquer coisa que precisemos conversar pode esperar por mais uma hora. Todo o resto pode esperar. Você pode brigar comigo, me repreender, dizer que eu estava errada, que Ian vai me matar, que a Strauss está na portaria, que eu vou ser presa, eu não me importo, não me importo!! Já tive preliminares suficientes para três encarnações. E se você não disser nada agora eu acho que vou fazer um enorme buraco no chão deste quarto e me enfiar dentro e nunca mais sair daqui, então é melhor você dizer algo e....





Ele perdeu suas mãos enormes naqueles cabelos negros e a puxou para si. E a beijou. Quente. Como se fosse ela a única mulher no mundo. Como se só ela pudesse salvá-lo. Invadiu sua boca macia e permitiu-se perder-se em todas as sensações que o gesto produzia.

Sob a fraca luz de fim de tarde que invadia a privacidade daquele quarto pela janela, ela deixou-se levar pela mão firme que já passeava por sobre o tecido fino do vestido. Há muito tempo ela sonhava com aquele toque. Era perfeito. Era forte. Viril. Eram mãos que sabiam exatamente o que buscar e a faziam sentir-se desejada.
O hálito quente dele não a deixava esquecer-se que aquilo era real. E quando eles separaram seus lábios em busca de ar ela sentiu desespero e pediu para não acordar. Não agora. Estava acontecendo. E era melhor do que tudo o que havia sonhado.

Ele enterrou seu rosto em sua nuca e pôs-se a trilhar sobre a sua pele, deixando um rastro de fogo por onde passava. Não, ela não iria acordar. Ela já estava acordada, e por inacreditável que fosse o momento, ele estava acontecendo. Ela sentiu seu corpo ceder e seus joelhos fraquejarem a cada beijo derramado em seu pescoço, em sua boca, em seu colo. Ela o sentiu brincar com sua língua em torno da pérola que adornava sua orelha. Deus, ela quis que aquele momento nunca mais se acabasse. As mãos dele tomavam seu corpo miúdo de forma possessiva, como se nunca tivessem tido outro dono, somente ele e ninguém mais.

Ela buscou acesso ao corpo firme por baixo do grosso paletó elegantemente por ele envergado. Desenhou aleatoriamente em suas costas, rabiscou carinhos com seus dedos magros e ele encolheu-se com o toque quando, lembrando-se de respirar, afastou-se ligeiramente e olhou em seus olhos.




Ela imaginou quanto tempo teria desde a última vez que ele tivesse sido tocado com tanto desejo.
Ela pensou em todas as regras que ele estava tentando quebrar, toda a sua luta interna para não deixar vencer a racionalidade e a sua dificuldade em desrespeitar todos os conceitos pré estabelecidos.

- Eu...
- Não! Se você me quer, não me pergunte sobre o amanhã, se vou me arrepender, como será quando acordarmos. Se você me quer, não faça isso com nós dois! Você não entende que nós dois merecemos isto?

Ela manteve a voz suave, lenta, quase didática.
- Eu quero isso! Não é o que você quer também? Não é por isto que você está aqui?

Ousada! Era a única palavra que a descrevia naquele momento. Ela sempre fora mais corajosa que ele. De alguma forma, ela sabia disto. Ele era o homem que se casara e fora fiel à sua primeira namorada, ela era a mulher que misturara negócios e prazer, que se divertira cumprindo uma missão, que não tivera medo de poupar seu coração. Ele era o homem que nada punha a perder, ela era a mulher que tudo arriscava. Mas, por um momento ela teve dúvidas sobre o que se passava em sua cabeça. Ele e seu indecifrável semblante, ela teria ido longe demais? Sua ousadia quase sempre a levava a lugares escuros, lugares de onde nem sempre ela podia retornar. Mas bastou um segundo e ela entendeu. Ele não movia um músculo do rosto, mas seus olhos diziam tudo. Era o olhar de quem, como ela, estava cansado de esperar, cansado de não poder experimentar um momento de felicidade plena. Era o olhar de quem só desejava naquele momento, ser feliz. Era o olhar de quem se rendia, não importavam as regras, as conseqüências ou o amanhã. Ele apenas a desejava mais que tudo. Simples assim.

Ele tomou de volta o corpo do qual havia se afastado, mas ela recuou sinuosamente. Lançou seus braços com graça em torno dele. Havia roupa demais. Ele congelou. Certamente não esperava isto. O próximo movimento foi dela.




- Me deixe tirar isto. – Ela esgueirou suas mãos por suas costas, contornando seu peito e apoiando-as sobre os ombros largos, agarrou a lapela do paletó, fazendo-o deslizar suavemente mangas abaixo. Nunca abandonou seus olhos. Toda a cobiça imaginável cabia naquele profundo lago escuro que eram os olhos do homem que amava. Resgatou o blazer antes que ele alcançasse o chão e jogou-o em uma cadeira próxima, ou, pelo menos, tentou. Ele não se movia, talvez sequer respirasse. Se não fosse exagero, diria que estava em choque. Totalmente Aaron Hotchner.

Ela prosseguiu tentando ignorar as conseqüências dos seus atos. Desatou o nó da gravata de forma um tanto divertida e puxou-a toda para fora, lentamente, preguiçosamente, acompanhando todo o centímetro percorrido por baixo do colarinho em torno do seu pescoço, fazendo um metro e quarenta de seda vermelha parecerem ser dez metros, sem ter pressa alguma. Ele permaneceu imóvel.
Foi ela quem quebrou o silêncio entre eles. Ela tentou parecer o mais natural quanto fosse possível. Na verdade, autêntica, na medida em que não estava mentindo.

- Você não sabe há quanto tempo eu sonho com isto!

- Em tirar gravatas? – Ele pareceu relaxar um pouco com o comentário, arqueou as sobrancelhas e deu um sorriso malicioso.

- Em tirar a sua gravata, Aaron! – Ela sorriu para ele e seu sorriso o derreteu. - Deus, eu te esperei por uma vida inteira! É tempo demais! Até para nós dois...
Ele abraçou-a com força e carinhosamente. Por mais que para ele fizesse muito tempo e ele desejasse saciar-se com urgência, ele queria muito fazer tudo direito. Tomou para si o corpo pequeno à sua frente, envolveu-o com seus braços, vagou por suas costas até encontrar o zíper e o deslizou, sorrateiro, todo para baixo, vagarosamente, enquanto deixava uma trilha de beijos e carinhos sem fim por todo canto de pele que encontrasse pela frente. Aquela pele alva, que pedia para ser marcada por sua boca e ele tentou não pensar no dia seguinte. Ele tentou não pensar em nada a não ser afundar-se até morrer naquele corpo quente que implorava para ser tocado. Com as mãos movendo-se por sobre seus braços, ele fez deslizar a seus pés o mar vermelho que enchia seus olhos. Prendeu a respiração com a imagem deliciosa daquele corpo de pele muito clara sob os seus dedos, sob o seu toque. Ela entendeu e permitiu que ele a admirasse. Deu a ele o tempo que ele precisava. Afinal, tempo parecia ser a única coisa menos importante agora.

Não se arrependeu. Ele a tomou nos braços e buscou a cama. Suas bocas desfrutavam de seus sabores e ele a deitou, suave, sobre a colcha impecável de algodão perolado. Ele perdeu-se nela, entre beijos e carícias, atordoado com a lingerie negra que cobria o pouco que ainda havia de proibido em seu corpo. Talvez nunca ele tivesse sido mais feliz. Ele estava sobre ela, mas ela parecia dominá-lo. E isso o fascinava.

Ela deslizou as mãos sobre ele e buscou desfazer cada botão de sua camisa de percal branca, imaculada. Os punhos, depois o resto. Ele tomou-lhe a mão quando ela desfez o terceiro botão.

- Não há nada de bonito aí....

Ela sorriu levemente.
- Minha cicatriz é mais recente e ainda dói. Você quer mesmo parar por isto?
- Touché!! – Seu sorriso foi de meio sem jeito a encantador em segundos, diante de argumento irrefutável.




Ele cedeu espaço aos poucos e ela terminou de abrir os botões da camisa. Ela alimentou seus olhares famintos sobre ele, precisava que ele soubesse o quanto era cobiçado. Havia fome em seu olhar e ele sentiu-se bem com isto.

Ele não conseguia se lembrar de quando havia sido desejado de forma tão intensa. Sequer lembrava-se de algo que não fosse o bem comportado e burocrático sexo que fazia com a única mulher que possuiu antes de Emily Prentiss. Emily era a síntese de tudo que ele nunca soubera que existia. Passados além dos quarenta anos vivídos, tudo para ele naquele momento tinha sabor de primeira vez.

A luz de fim de tarde dera lugar a um luar intenso que invadia o quarto e prateava o rosto dela de forma quase irreal e ele tomou cuidado ao penetrá-la. Deu tempo para que ela o acomodasse, para que seus corpos se ajustassem. Para que pudessem crer que aquilo estava de fato acontecendo. Ele tinha ciência de que fora muito tempo para ambos.

E eles entregaram-se à dança mais antiga e prazerosa do mundo, como se sempre tivessem dançado juntos ao som da mesma canção. O tempo parou. Não haviam palavras coerentes, apenas os sons mais primitivos, os seus nomes murmurados em êxtase e frases sem sentido quase sempre interrompidas por um gemido abafado, um emudecer que dizia muito mais que um poema inteiro.

Foi quando ele percebeu que ela tinha os olhos cerrados e uma lágrima pendia pelo canto do rosto.
- Emily! Deus, está doendo? Estou te machucando? - Ele afastou-se dela e, apavorado, lembrou-se de seu ferimento.

- Não, não! Hey, volte aqui! Você não fez nada! Só estou.....
- Feliz?
- Feliz não descreve agora o que estou sentindo!
- Tem certeza que...
- Eu tenho certeza de tudo! É só mais do que acho que mereço.....
Ele enxugou as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto. E a possuiu novamente.




- Então abra os olhos, Emily. Olhe para mim! Nos meus olhos! Eu quero que você olhe para mim! Nada que eu possa te dar está além do que você merece. Eu quero que você nunca se esqueça deste momento! Quero que você se lembre que merece ser feliz! Quero que você olhe nos meus olhos e saiba que eu estou fazendo amor com você!

Quando ela olhou para ele, seus olhos já não pareciam morrer no infinito. Pareciam penetrá-la, possuí-la, tanto quanto ele podia estar dentro dela como homem. Ela não demorou para chegar ao orgasmo mais intenso que já experimentara na vida.
Vê-la contorcendo-se e gritando por seu primeiro nome também não o ajudou a conter-se. Ele veio para ela no instante seguinte.

Com o pouco de consciência que lhe restava, tombou o corpo ao lado do dela, pois seus braços já não suportavam mais o próprio peso. Buscou ar, coisa que parecia ter se extinguido enquanto amava a mulher dos seus sonhos. Seus sonhos. Até onde se lembrava, não era dado a ter seus sonhos assim realizados. Preguiçosamente, sua mão roçou no corpo ao lado do seu na cama e ele pôde ter certeza. Era mais real que tudo o que já vivera. Pensou em dizer algo, não sabia o que dizer. Ele era péssimo nisso...

Foram longos minutos em que suas mãos tocavam levemente seus corpos, mas nada parecia ser correto dizer, de nenhuma das partes, naquele instante. Ambos tinham vivido a melhor experiência de suas vidas, mas dizer algo quebraria o encanto e eles eram dois adultos querendo viver apenas o lado bom dos contos de fadas. Como se fosse possível.

Ele tombou o rosto e vislumbrou ao seu lado o corpo coberto pela prata que o luar derramava sobre ela. Era mais belo do que tudo que já havia sonhado em toda a sua vida.

- Você está bem? Eu não te machuquei?
- Eu nunca estive tão bem em toda a minha vida. E você?
- É você mesmo, nua, ao lado do meu corpo nesta cama?

Ela riu sua risada mais deliciosa.
- Sou eu sim, sua impertinente subordinada, aquela que só te trouxe problemas....
- Não diga isso...

- Não quer dizer que não seja verdade!

Ele não respondeu. Ficou a fitar o teto, calado, com medo de se mover e dizer algo impróprio, ou quem sabe, estragar tudo....

Ela virou-se para ele, lançou seu braço sobre o corpo do homem despido ao seu lado, beijou-lhe a testa. Como haviam deitado por sobre a colcha, não havia lençol que pudesse puxar para cobrir seu corpo naquele momento. Naquelas alturas, ter pudores parecia ser meio desnecessário.
E ele continuava calado. Ela buscou em sua cabeceira o interruptor de um abajur ao seu alcance. Uma luz suave iluminou o ambiente.

- Me diga que há algum álcool em algum ponto deste quarto!
Ele pareceu sair do torpor.
- Deus, foi tão ruim assim?
- Não, foi a melhor coisa que me aconteceu, mas Aaron, você nem consegue olhar para mim....
- Não é isso.... Emily....., não é isso.....

Ele sentou-se na cama. E olhou para ela demoradamente. Direto nos seus olhos. Só então percebeu que ela estava totalmente exposta. Saiu da cama e tomou a colcha em suas mãos. Ela ergueu o corpo e ele jogou longe aquele monte de tecido, em qualquer ponto do quarto. Ela acomodou-se debaixo dos lençóis de algodão esverdeado cobrindo-se e tirando dele a visão que o cegava. Agora ele estava exposto sozinho. E no mar de roupas esparramadas pelo chão, não sabia onde havia ido parar qualquer peça sua que não fosse seu paletó ou sua gravata.

-Vinho??... - Ele abriu o frigobar e tomou a garrafa nas mãos. – Ele procurava desesperadamente o saca-rolhas...

Se ela fosse ser honesta, diria que ele parecia querer morrer com aquela situação. O inabalável chefe do departamento de analise comportamental, totalmente exposto lutando entre admitir que estava realizado ou violando as regras do departamento....E ela mal conseguia lembrar-se de quantas poucas vezes o havia visto sem a gravata...


- Eu diria que é a visão do paraíso! Você, seu corpo nú e um bom vinho..... Não tenho direito de exigir mais nada na minha vida....




Ele ainda parecia meio constrangido. Parecia muito errado estar nú, mas parecia ainda pior, parar para vestir-se naquele momento. Quando conseguiu abrir a garrafa alcançou as taças, tratou de enchê-las e ofereceu uma delas à mulher à sua frente. Virou-se, pegou a outra taça, serviu-se e, muito consciente da sua nudez, sentou-se ao lado de Emily na cama, não sem antes, jogar sobre si, um providencial travesseiro.
- Você não está sentindo dor?
- Só me dói ter magoado você...
- Você não me magoou...
- E você mente muito mal....

Eles bateram suas taças, mas nada foi dito em seguida...
Ele tomou um gole do vinho e recostou-se na cama. Procurava evitar os olhos profundos da mulher que o fazia suar frio....

Ela bebeu mais que um gole. Sorveu todo o conteúdo da taça. Ainda fitava o teto, assim como o homem com quem fizera amor minutos atrás.....

Ele só queria enterrar-se nela novamente, mas não podia ignorar que precisam conversar. 

Ela só queria sentir-se possuída novamente, mas sabia que eles precisam conversar.

Eles só não sabiam como começar.

- Eu estava falando sério...
- Como?
- Quando disse que te amo! – Ele largou a taça na cabeceira e a abraçou. – Eu tive tanto medo de perdê-la! É estranho perder algo que a gente nunca teve de verdade....
- Você está zangado....
- Não! Quer dizer, sim, eu fiquei sim, muito zangado, como você pôde me esconder tudo isto? Eu entendo que você quisesse poupar a equipe, mas podia ter me contado....
- Sinto muito ter te posto nesta situação....Eu não tinha o direito de envolver você nisto. Como eles estão?
- É difícil cruzar todos os dias com eles e não poder fazer nada para amenizar tanto sofrimento. Penélope está muito abatida. Ela tenta disfarçar, mas não é difícil surpreendê-la com os olhos vermelhos vez por outra, buscando café ou olhando para uma foto sua hall.
- Oh!, não! Não me diga que colocaram uma foto minha lá, junto com.....
- Regras, Emily! É de praxe. Para o FBI, você é uma baixa...




- Isto é muito estranho....
- Morgan, bem, ele se culpa, acha que poderia tê-la salvo se tivesse chegado uns minutos antes.... Apesar disto ele não me preocupa tanto, porque ele extravasa, chuta portas, soca uns bandidos, grita um pouco, e tenho certeza que em algum ponto da Academia do FBI tem alguns sacos de areia em estado bastante precário....É a forma dele lidar com isto. Me preocupo mais com Reid. Ele não quer conversar, está sofrendo calado, tenho monitorado à distância para que ele não volte a usar Dilaudid ou qualquer outra droga. Várias vezes eu o peguei parando o carro na frente do seu apartamento. Ele fica muito tempo por lá.

Ela já estava com lágrimas nos olhos..... Ele a manteve abraçada por todo tempo enquanto falava....

- A Seaver não teve muito tempo para te conhecer, mas está assustada com a situação. Não acho que ela fique conosco por muito tempo. Ela não tem estrutura ainda para segurar a barra de um departamento como o nosso. Nunca deveria ter sido colocada lá como efetiva. JJ é quem me dá notícias suas. Nos falamos a cada três ou quatro dias.... Ela tem sido uma boa amiga...
- Rossi?
- Ele sabe. Nunca lhe disse nada e nem precisei. Ele me conhece como ninguém e sabe o que eu sinto por você, acho que soube antes mesmo de mim... De alguma forma ele apenas me olhou, quando voltamos do seu funeral, pôs a mão no meu ombro e me disse : - Tudo bem! – Apenas isto. O melhor profiler que eu conheço e meu melhor amigo sabe que eu estaria devastado se tivesse perdido você de verdade. Que eu não teria segurado as pontas. Nunca mais tocamos no assunto. Algumas vezes conversamos sobre como estávamos reagindo e ele seguiu a corrente. Deixou-me levar a mentira à frente sem me questionar. David é raposa velha. Ele sabe que eu estou fazendo o que é certo. Ele teria feito o mesmo.

Ele enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto dela e a beijou. Nem tanto o beijo de luxúria, agora um beijo apaixonado de quem quer confortar e dizer que estará sempre ali para ela. 

Eles se separaram e deixaram seus corpos estendidos pela cama, ela apoiou a cabeça em seu peito e sentiu o coração dele batendo forte. Ficaram assim por uns instantes.

- O que eu obriguei você a fazer não foi justo! Vê-los assim, e não poder dizer nada.... Da forma como você conta, parece que você tem seguido os passos de todos de perto. Sofrido por todos eles.... Você já passou por tanta coisa nesta vida.... Não merecia isto também... Além disto, você um dia vai acabar tendo que responder por suas decisões...

Ele não respondeu e ela prosseguiu.
- Eu nunca mais vou poder voltar. Nunca mais vou poder olhar no rosto de cada um deles e dizer o que houve. Mas você....

- Como nunca mais vai voltar, Emily? – Pela primeira vez ele elevou o tom de voz. - Eu vou encontrá-lo, Emily. Eu falhei uma vez com Haley, isto não vai acontecer de novo. Eu vou pegá-lo, você está me entendendo? E você vai voltar! Vai ter sua vida de volta. E eles vão entender. Ninguém ali é criança.... Eles vão ficar furiosos a princípio, mas como tudo na vida, vai passar... E eles têm que ficar bravos comigo que tomei a decisão, não com você.... Que diabos, você dormia com um terrorista e está com medo de enfrentar seus amigos?

No mesmo instante, ele percebeu o que tinha dito. E desejou não ter dito nada. Mas estava feito. E ele não podia voltar atrás. Tanta cautela, cuidado e carinho e ele tinha dito a coisa mais desastrosa que jamais imaginou que pudesse sair de sua boca. Não que isso não o tivesse corroído por todo o tempo em que pensara nela e nas inúmeras vezes em que lera os arquivos e tentara achar uma explicação razoável, convencer-se de que ela fizera o necessário, de que talvez não tivesse tido opção. Ele não tinha o direito de julgá-la.

- Me desculpe, Emily, eu não quis dizer isto, me desculpe, meu amor... – Ele tentou abraçá-la, mas ela apenas continuou deitada ao seu lado, a cabeça ainda em seu peito, a voz ainda baixa.
- Vamos, Aaron, pergunte. Eu sei que você precisa me perguntar. Eu entendo....

Ele sentiu-se um canalha. Não era o momento certo. Ele tinha acabado de fazer amor com a mulher com quem sempre sonhara. Não era certo. Não era a hora.
Ele retomou a voz baixa e carinhosa.

- Tudo bem, não precisamos falar disto agora. Você quer mais vinho?
- Não, Aaron, não está tudo bem! – Agora era ela a levantar a voz. - Você diz que me ama, mas não sabe nada sobre mim. Eu não sei se quando você sair por aquela porta eu vou poder te ver novamente. Você quer mesmo ir embora sem saber a verdade?

Tudo o que ele conseguia pensar era como eles tinham passado do melhor momento de suas vidas para o mais desconcertante, em tão pouco tempo. Ela tinha razão. Ele não sabia nada sobre ela. Só que estava apaixonado. E em poucas horas ele conseguira dizer a uma mulher, pela segunda vez em sua vida, que estava apaixonado, que queria fazer amor com ela, que seus atos tinham magoado pessoas que ela amava, a tinha feito chorar e agora iria fazer a pergunta que podia fazê-la sentir-se uma vagabunda. Ele estava de parabéns!
Mas precisava perguntar. Afinal, ele estava determinado a matar o homem por quem ela talvez tivesse sido apaixonada um dia. Claro que ela estava certa. Ele só não sabia se iria gostar da resposta....

- Você.... o amava?

2 comentários:

  1. Vi seus comentários agora Lilian Izar. Espero que goste dos próximos capítulos... Obrigada por comentar! Bjo!

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    1. Ah, que linda.. Obrigada por me responder. Estou amando-o os capítulos e esse... Coitados... Não sei por quem sinto mais, se é por Emily ou por Aaron. Pobres. Ao mesmo tempo em que atingiram só céu, foram puxados para terra. Ainda estou curiosa por como acaba. Espero que seja um lindo final, porque não vou aguentar vê-los separados. Amo tanto esse casal.
      Espero ver mais amor no próximo. Mas a conversa era inevitável. Fato. Bjos linda

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