sábado, 9 de março de 2013

The Following - Meus Comentários

(O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS)....



Eu havia prometido não falar de outra série aqui no meu blog, até porque ando com duas reviews de Criminal Minds atrasadas e dois textos aleatórios sendo lapidados, mas assistindo ao sétimo episódio da série não resisti.







Por conta de uma série de fatores, ando chata demais com séries de tv. Sou do tempo de Jeannie É Um Gênio, I Love Lucy, Zorro, A Feiticeira, The Waltons, Chips, A Gata e o Rato, entre outras pérolas. Vejo shows norte americanos há tempo demais. A idade nos trás a necessidade da seleção. Quando descobrimos enfim que somos mortais e não vamos viver eternamente ( aquele momento em que cai a ficha e você percebe que o tempo começa a passar mais depresssa do que sempre passou ) a gente começa a selecionar o que lê, o que ouve, quem merece seu tempo, sua dedicação, e, no caso deste post, o que se assiste. Daí dispensar algumas horas para falar sobre The Following.


Não farei reviews sobre seus episódios, não tenho mais tempo para isso, mas não posso me furtar a uma série de considerações. Quem me conhece sabe que, para desgosto do homem que me acompanha há quase trinta anos, meu amado esposo, eu há muito deixei de ter prazer com séries ou filmes fofinhos, gratuitamente românticos, comédias pouco inteligentes e coisas do gênero. Ele vive a dizer que não sabe qual o meu prazer em ver filmes com corpos dilacerados, assassinos calculistas e mentes perturbadas. Mas, como nos respeitamos mutuamente, eu também não entendo seu gosto por boxe, motovelocidade ou seu vício por 20 Mil Léguas Submarinas filmado em 1954 com uma lula gigante mecânica e um Kirk Douglas cantando aos 25 anos acompanhado de uma foca, mas respeito. É o sacerdócio da convivência a dois. 


Mas ele tem razão. Como psicóloga de formação, me fascina a mente humana. Me fascina a forma como ela pode distorcer os mais puros conceitos e transformar em pesadelo a mais pura das intenções. The Following é mais ou menos isto.


Havia muito tempo que a tv americana não mostrava de forma tão crua a distorção da mente humana, de forma a ser crível. Claro, a série traz todos os bons e velhos cliches amados/odiados por nós fãs de novelas policiais, mas não é bem disto que se trata. A despeito do mocinho em busca de redenção, do bandido em busca de vingança, do amor mal resolvido, das citações a Edgar Allan Poe (um parênteses importante aqui, meu poeta e romancista  favorito - O Barril de Amontillado sei de cor - julguem-me! ), de todas as implicações jurídicas e dos truques corriqueiros em séries do gênero, o tema da série alcança um patamar nunca explorado antes em tema similar: a devoção. Em que se pese que vivemos um momento neste mundo onde as seitas, sejam as oficiais e reconhecidas ( religiosas ou não), sejam as dissimuladas, transvestidas de opiniões calorosas sobre determinado assunto ( que podem ir da homossexualidade ao criacionismo) hoje fazem parte do nosso conturbado dia a dia, e me incomoda profundamente o princípio. A palavra Following ( Seguidores/ Discípulos na tradução literal), tão em voga no vocabulário dos usuários de Twitters e Facebooks da vida ganha outra dimensão quando ao final do sétimo episódio da série, saem de dentro de uma casa dezenas de pessoas que cultuam e compactuam com um assassino em série cruel, rancoroso e, acima de tudo, muito, muito inteligente.




Roteiristas espertos trataram de arranjar um jeito de soltar o até então prisioneiro e líder desta seita encarceirado e, de certa forma, ampliar sua área de atuação, já que preso as limitações que o cerceavam eram grandes. Mas o assustador, além do fato de expor inúmeros malucos de plantão para seguí-lo em sua transloucada empreitada, gente a princípio dita normal, é o fato dele querer usar o próprio filho, uma criança por volta os sete anos, para se tornar, obviamente seu seguidor e sucessor.

Em dias de em que um retardado como Marco Feliciano diz que "ser gay é uma questão de escolha, ser negro é uma questão de azar" ou algo parecido, a série em si passa a ter outro contexto para mim. Pessoas que seguem um lunático, pessoas que parecem iguais a mim, a você leitor, e que, na série evidentemente, mas numa realidade nem tão distante assim, existem e podem estar ao nosso lado, sem sequer percebermos. Não, não sou do tipo alarmista ou exagerada, embora o texto possa sugerir isto, mas a mensagem do show é exatamente esta e aí está a novidade: qualquer um pode ser um assassino, isto vemos em CSI, em Criminal Minds, em Law &Order, em Castle, você escolhe, existem diversos shows que nos mostram isto claramente. The Following nos mostra outra coisa. Esta série nos mostra que qualquer um pode ser um seguidor, mesmo que seja um seguidor de um assassino em série, de um lunático, mesmo que seja um seguidor de um sujeito descerebrado, cheio de más intenções e idéias escabrosas e indecentes. A grande sacada é esta. A pergunta não é porque um sujeito comete um crime. É porque um sujeito normal passa a cometer crimes simplesmente porque alguém o convence que isto é o certo. Este é o grande trunfo de The Following. O indivíduo libera seus instintos primais apenas porque alguém de boa lábia e discurso convincente o convence de fazê-lo. Claro, o instinto está lá, está em todos nós, mas alguns se deixam levar e apenas cumprem seu papel, de obedecer e achar que estão fazendo o certo.

Na boa, isto me dá medo. O que não faltam hoje são indivíduos de boa lábia e discurso convincente transformando um bando de indivíduos cheios de preguiça mental em retardados funcionais.
Neste ponto a série acerta em cheio e tem grande potencial. Claro que tudo vai depender da audiência, da censura, da criatividade dos roteiristas, mas as chances da série só crescer é enorme. Some-se a isso o peso da atuação de bons atores ( ver Kevin Bacon, o meu eterno McCormick de Footloose de 1984 envelhecido, são uma destas coisas que me lembra minha própria mortalidade), boas tomadas de fotografia e uma edição de imagens rápida e eficiente e temos uma série que finalmente foge do lugar comum  das séries policiais. Obviamente, é provável que em mais cinco ou seis episódios eu já não a ache tão genial, sabe-se lá como a coisa será conduzida, mas importa é que ate aqui a série, para além do entretenimento, levou-me a uma reflexão. E isto já é muito quando se fala de uma série de tv.

Meus desejos de que os roteiristas continuem inspirados e tenham a sonhada liberdade para escreverem o que desejam ( levando-se em conta a duvidosa falsa moralidade americana para programas de tv isto já é desejar muito, enfim... que continue intrigante enquanto permitirem....).

Se você, leitor, estiver em dúvida quanto a assistir The Following, dê uma chance à série. E, se assistir, lembre-se vagamente ( ou vigorosamente, fica a seu critério) sobre como pessoas com o dom da palavra podem mudar o mundo....para o bem ou para o mal!

Um abraço,

Débora   

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