segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Criminal Minds 10×09: Fate


Quando você inicia sua carreira profissional está suscetível a cometer diversos enganos de principiante e isto é perfeitamente aceitável e, supõe-se, se você for esforçado, irá aprender com seus erros. Um bom profissional erra e constrói uma carreira sólida em cima de seus aprendizados. Isto eu posso compreender. E aceitar. O que não perdoo é o profissional que não usa seus erros como método de aprendizado, que passa anos pecando pelo seu excesso de confiança, que não se torna o melhor no que faz com o passar do .

Dito isto, direi, ao contrário da grande maioria, que Fate foi um péssimo episódio.  De forma geral, vi fãs em êxtase com as cenas ora arrogantes, ora fofas do Rossi com sua até então desconhecida filha. De forma geral, é o tipo de episódio que agrada a maioria. Mas, convenhamos, depois de dez anos escrevendo roteiros brilhantes, a equipe responsável pela criação das estórias  nos deve mais do que apenas agradar.
Embora contando com brilhantes interpretações do elenco convidado, com todo o empenho de Joe Mantegna e seus colegas do elenco regular e com muito boas intenções, o roteiro deste episódio é furado como uma peneira. Faltou pesquisa. Sobrou boas intenções. Intenções de inúmeros argumentos para amarrar uma estória que começou errada.

Analisando inicialmente os motivos da unsub, nos deparamos de cara com uma falha no mínimo informativa: bastava acessar o google  para descobrir que a síndrome sugerida ( também conhecida como Síndrome do Pavio Curto ou Síndrome de Hulk) não pode ocorrer através de traumas físicos como é relatado pela equipe durante a passagem do perfil. Tal doença tem origem genética ou psicossocial ( adquirida através de traumas emocionais, jamais físicos, como uma lesão no lobo frontal).  Logo a unsub nunca poderia ter adquirido a doença em seu acidente. Da mesma forma, ainda vasculhando o google, também saberemos que a síndrome não provoca dissociação da realidade como sugere o roteiro. Embora a culpa e vergonha sejam características marcantes, em nenhum momento  ela  deixaria de perceber os crimes que estava cometendo.

Ainda  sobre a unsub, fica difícil acreditar que alguém que sofre  de um distúrbio tricotômico ( arrancar os cabelos) possa controlar e esconder sua necessidade de um marido com quem divide a . Tal síndrome destaca-se pela compulsão, ou seja, o doente não consegue evitar o ato de arrancar os cabelos. Acho infantil crer que ela só arrancasse seus fios durante a ausência de seu marido e filhos. A característica primeira de uma compulsão é não poder controlar o momento em que a pessoa se auto mutila. Isto para nem mencionar o fato de que pessoas, com o intuito de esconder sua compulsão de seus parentes , arrancam fios um a um e nunca uma mecha do tamanho da apresentada pela  policial no local do crime. Informação desencontrada em excesso só confirma minha teoria: menos é sempre mais.



Quanto ao fato de Rossi ter uma filha nem sei por onde começar. Embora a cena inicial tenha sido muito simpática ( ele acuando a moça no carro querendo saber quem era seu perseguidor, oferecendo o café e tal) aqui também faltou o mínimo de pesquisa básica para ancorar a   estória. Em diversos episódios ouvimos David contar que seus três casamentos fracassaram porque suas esposas não aguentaram a pressão de uma vida ao lado de um homem desatento a compromissos pessoais, sem hora certa para começar e terminar seu expediente, faltoso nos momentos primordiais em atenção entre outras coisas. Eis que então acompanhamos em flashback um Rossi que desprezou os pedidos ansiosos da esposa para ficar, em uma tentativa de fazer dar certo o relacionamento. Ou, em outras palavras, quem não tentou fazer dar certo foi ele, não sua esposa na época. Na mesma linha, nos perguntamos como Rossi passou quase um ano vivendo em Paris, em plena atividade profissional no FBI. E, então, surge um novo problema. Ele alega que em 84 precisava optar  por sua carreira ( algo como uma oportunidade de principiante) . Ocorre que, em Profiler 101, episódio da oitava temporada, David conta que também em 84 ele já se encontrava no BAU, em caça ao unsub que lhe entrega um nome de vítima a cada aniversário. Ainda pior: foi divulgado que em episódio a ser exibido, Jason Gideon e David Rossi irão trabalhar juntos no BAU na década de setenta.

Estas foram apenas algumas das coisas mal  pesquisadas do episódio. E, neste ponto sou rigorosa. Em uma série com dez anos de estória, a lição básica a ser seguida é respeitar a linha do tempo, é estabelecer uma cronologia mínima para um personagem e não fugir dela em momento algum. Pode parecer pouco para o grande público que se empolgou com a cena emocionante de Rossi tentando se redimir no aeroporto, mas não dá para ignorar  o comportamento arrogante e quase histérico dele com uma suposta filha. Há unsubs que ele já tratou com mais educação do que ele tratou a moça sem ao menos ouvi-la.

Há também o lado da mãe. Uma diplomata, mulher esclarecida ( aliás, no episódio 6×22 – Out of the Light – foi descrita rapidamente pelo próprio Rossi aos companheiros como: minha segunda esposa era artesã???), que por opção oculta por quase trinta anos o fato de ter tido uma filha com um homem com quem fora casada. Não consigo imaginar que, ao saber que sua filha agora conhece quem é seu pai legítimo, não se dá ao trabalho nem de prevenir o pai de que será procurado pela moça, e nem sequer facilita a vida da própria filha: faz com que  ela tenha que juntar documentos para formar um dossiê!



A cereja do bolo é sem dúvida Hotch, ao final do episódio, depois da moça gritar a plenos pulmões no meio do saguão do BAU ser filha de David, ele perguntar ao amigo: “-Algum problema, David?” Dispensa comentários…É esperar pelo próximo!

Até mais!

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