segunda-feira, 9 de março de 2015

Criminal Minds 10x16: Lockdown


Um dos maiores méritos de Criminal Minds é sua criatividade e, em especial, sua atualidade nos roteiros. Se o tema é atual, a história é criativa e conta com bons desempenhos, principalmente dos atores convidados, o  êxito é certo, impossível de ser contestado.

Com o ótimo e muito bem amarrado roteiro de Virgil Williams, Lockdown coloca o dedo em uma ferida recente e perturbadora no momento atual americano: a  privatização  dos presídios. Com caráter de denúncia, a história narra um fato que tem incomodado há muito tempo os americanos e tem sido alvo de várias discussões no Congresso: o problema das penitenciárias privatizadas, que têm enriquecido assustadoramente às custas não apenas de péssimos serviços prestados, mas também de custos abusivos, alto encarceramento de imigrantes, fuga de detentos, violência no cumprimento da pena, reincidência dos criminosos e muita corrupção, sendo inclusive alvo de investigações sobre financiamento de campanhas políticas (para que as empresas conquistem os contratos estaduais ou federais).

O CCA ( Corrections Corporations of America) no ano de 2013 completou trinta anos de existência e nos últimos anos tem sido altamente contestado. Basicamente trata-se de transferir a obrigação de cuidar dos presos americanos do sistema público para o sistema privado.

O negócio das prisões privadas se mostrou lucrativo para todas as empresas do ramo: entre 1999 e 2010, o número de prisioneiros mantidos nas instituições particulares cresceu 80% no país, enquanto a população carcerária em geral cresceu apenas 18%.

Na história, os agentes são chamados através de Hotch, que conhece o atual dono de um pool de penitenciárias. Seu amigo relata uma segunda morte de guardas em três meses e pede a ajuda da equipe. Conhecendo os riscos de agir dentro de uma penitenciária, nosso time se prepara para atuar lá dentro com inteligência. A primeira dificuldade é a falta de contato com o mundo. Apenas em alguns poucos lugares há sinal de satélite capaz de fazer e a internet funcionarem. Além disto, eles são alertados por Hotch e por Rossi sobre o ambiente hostil de dentro de uma cadeia e da possibilidade de terem que enfrentar gangues muito bem organizadas dentro do presídio.



Os agentes começam por investigar presidiários com fichas problemáticas e membros de gangues locais para tentar descobrir a motivação do assassinato dos policiais. São feitos interrogatórios e Reid se encarrega de ler as fichas dos detentos para identificá-los. É a partir do momento em que eles dão por falta de um deles que a investigação começa a virar olhos para os próprios agentes penitenciários. Tal investigação lentamente desvenda um horroroso sistema de apostas organizadas por alguns policiais,feitas através da disputa entre detentos, em uma espécie de MMA, onde vence quem sobrevive. Fica claro que, além da vantagem financeira, há o componente psicótico: trocando em miúdos, ainda mais importante que a vantagem financeira é a violência que se estabelece em território livre de punições.

Enquanto o chefe da segurança surta ao perceber que foi pego e decide não sair vivo da situação, Morgan e Kate se envolvem em uma briga de presidiários e são feitos de reféns. Graças a intervenção de um outro presidiário e, posteriormente de outros agentes que assumem a situação eles acabam sendo salvos.

Lendo tudo assim, desta forma, parece apenas mais um episódio da série Criminal Minds. Mas não foi apenas mais um episódio. Foi “o” episódio. Dirigindo seu quarto episódio na série Thomas Gibson deu um show em diversos sentidos. Como boa cinéfila,  vivo reclamando que as séries deveriam explorar mais os recursos cinematográficos como ângulos de câmera, tomadas diferentes, iluminação, outros planos que não apenas o plano americano, entre outras coisas. Mas às vezes fico em dúvida se isto é possível em shows deste tipo por conta do tempo de gravação, recursos e tal. Pois bem, Thomas Gibson me provou em Lockdown que não apenas é possível como também o resultado pode ser excepcional. Quem não é muito ligado em cinema ou não conhece os recursos utilizados pode não identificá-los de imediato, mas também pode ter a certeza de que foi um dos motivos pelos quais provavelmente gostou do episódio. Algumas tomadas em planos de detalhe como na abertura e fechamento dos portões do presídio no início e encerramento ou o close up nos rostos e tatuagens dos presos dão a sensação exata da clausura e do medo que nos espera pela frente. Já as cenas de luta contaram com câmeras de tripé e câmeras de mão, com movimentos rápidos e dinâmicos que tornaram  a cena mais emocionante. Foram ângulos inusitados, com câmera alta, câmera baixa e plana, iluminação em low key (reforçando a sensação de medo), isso só para citar alguns exemplos.

Também a escolha do elenco convidado foi perfeita. William Ragsdale esteve ótimo como o chefe de segurança psicopata sedento por sangue e Matt Corboy e William Stanford Davis também agregaram veracidade aos seus respectivos papéis.

Muito bom saber que mesmo após dez temporadas eles ainda conseguem escapar da mesmice e produzir ótimos episódios como este. Ontem, ao gravar o podcast para a página do Criminal Minds me pediram a nota do episódio. Quem me acompanha sabe que raramente dou uma nota dez que, aliás, dedico a apenas cinco episódios durante toda a exibição da série. Bem, agora eu tenho seis episódios nota dez para este show, que conseguiu angariar duas notas máximas na mesma temporada (eu também atribuí nota dez a Nelson’s Sparrows). Sensacional!

Até a próxima!

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