segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Criminal Minds S10E03: A Thousand Suns



Eu tenho por hábito nunca ter expectativas muito elevadas no que diz respeito a filmes, séries, discos e . A experiência me ensinou que quanto maior a expectativa tanto maior será a decepção. E este meu mantra me torna livre para assistir, explorar, ler e ouvir quaisquer obras sem ficar refém do “esperava mais”. Isto é para mim libertador. Porque pessoas criativas, que gostam de escrever, ler e imaginar sempre estão um passo à frente de autores em geral e daí para a desilusão é um passo bem pequeno.

Dito isso, com muita tranquilidade ouso dizer que The Thousand Suns foi um episódio espetacular, muito acima da média dos bons roteiros de Criminal Minds. Espetacular em diversos sentidos. Em roteiro, em direção de arte, em montagem, em direção e interpretação.

Não é surpresa para mim que os roteiristas de Criminal Minds superem-se, pois em minha opinião, eles vivem tirando leite de pedra. Criar uma estória que envolve um acidente de avião e um serial killer preciso dizer, foi muito legal ( se é que isto de alguma forma pode ser “legal”). É preciso ter consciência de que por maior que seja a criatividade humana para a maldade, arranjar temas interessantes para dez anos de episódios não é tarefa para qualquer um.

Nossa equipe predileta de profilers é chamada para acompanhar as investigações sobre a queda de um avião em Colorado, durante o percurso Pittsburg/Phoenix, onde morreram a princípio cento e cinquenta e duas pessoas. E aí vem a primeira lição de uma boa produção. Seria fácil mostrar uma cena de avião balançando, um piloto tentando mover os controles sem sucesso e assistirmos, por fim, a ave de ferro mergulhando em terra, ou algo assim. Choca, mas choca mais quando há empatia. A noiva planejando seu casamento que nunca acontecerá, a criança brincando com seu carrinho, carrinho este encontrado em terra depois pela agente Callahan, a turnê que não será vista, as fraldas que não serão mais necessárias. Você já começa sofrendo por pessoas que conheceu por alguns segundos apenas, mas de quem facilmente você se lembrará quando pensar que não foi uma fatalidade, mas um crime e todos queremos muito ver nossos meninos tirando isto a limpo e punindo os responsáveis.

Da forma como eu gosto, Hotchner e seu pessoal passeiam por diversas vertentes antes de chegarem a uma conclusão. que descartadas as possibilidades de uma falha mecânica, o primeiro pensamento que surge é o do terrorismo externo. Americanos não fecharam e é provável que nunca fechem suas feridas do onze de setembro. A ideia de um novo ataque é não apenas real, mas constante e não entendo como se acostumar com isto.

Para reforçar esta sensação, nada como uma testemunha cheia de teorias da conspiração, que viu  um grupo de paramilitares em exercício em meio à floresta. É interessante a forma como o roteiro vai “pingando” informações que no todo vão formar um cenário responsável pelas conclusões a que eles vão chegando. Exemplo disto é uma testemunha arisca a um interrogatório conduzido por uma militar, negra e mulher. Ao final, descobrimos que a desconfiança não é pelo gênero ou cor, mas por sua ocupação (militar). Hotch é um sujeito esperto e é honesto em responder à pergunta que o morador faz, criando um vínculo de confiança que trará sinceridade ao depoimento da testemunha.


suns 20
Outra informação pingada poderia ser a resposta de Reid no que se refere a quem acredita que o suicídio leve ao paraíso. Todos sabemos que muçulmanos tem esta crença, mas ele não fala abertamente sobre isto. Obviamente militares ou terroristas acabam tendo o mesmo peso na hora da investigação e como sabemos, mas nem sempre podemos provar, isto não é uma teoria da conspiração, o que não deixa de ser uma interessante contraposição, pois por suposição, uns deveriam protegê-los dos outros.

Uma das melhores cenas deste episódio é, sem dúvida, a inserção do agente Reid no interior da aeronave ao explicar em detalhes a composição  e funcionamento do aparelho. Além de pesquisa apurada, o roteiro soube como especificar em linguagem fácil para os leigos, fazendo-nos compreender o porquê de suas conclusões (o avião não ter sido atingido por um míssil). Imagino o quão difícil deva ter sido este episódio para Mattheu G. Gluber, pois além de longo texto, envolveu muita coisa técnica. Confesso ser uma saudosista, estava realmente sentindo falta deste tipo de tomada, com agentes inseridos na cena do crime.
No momento em que o conteúdo da caixa preta é revelado ( licença poética para a rapidez do processo em função do tempo do episódio ) e tudo indica que a falha no sistema poderia vir de um acesso remoto dos controles da aeronave, desta vez é através do agente David Rossi que temos acesso às pesquisas sobre o assunto. Ele menciona um evento anual, o Hack In The Box, uma conferência de segurança em sistemas avançados de informática, que ocorre sempre em Kuala Lumpur na Malásia e no caso por ele mencionado em Amsterdam, Holanda, quando em 2013 um alemão apresentou uma forma de hackear sistemas de aeronaves através de um aplicativo de smartphone. Mais uma vez a informação que dá credibilidade ao caso vem de imediato, antes que possamos pensar algo do tipo: “- Ahh, mas isto é impossível….”. Ponto para a informação que manteve  a imersão no episódio intacta.

O que deixou o episódio muito interessante foram os diversos perfis traçados até possibilitar Penélope a fazer sua mágica.  Ainda melhor foi saber que não era um caso com complexas conspirações, tramas mirabolantes ou algo do tipo. Era apenas e tão somente um narcisista com complexo de Deus, achando-se capaz de obter notoriedade às custas de centenas de mortos que nada significavam para ele ( a descrição que ele faz de Kristina Morrow como sendo “menos do que nada” demonstra isto claramente).

A partir de trinta minutos decorridos o episódio ganha ares de longa-metragem, com um suspense que, embora fosse óbvio como clichê a aterrisagem forçada e o salvamento dos passageiros e tripulação, funcionou muito bem com ação e boa montagem ( aliás, clichê em cinema é exatamente isto, uma solução evidentemente corriqueira e esperada, mas que via de regra funciona muito bem).

De forma geral A Thousand Suns faz-se brilhante porque torna-nos ridiculamente vulneráveis, à medida que nos indica o milhão de coisas que não podemos controlar quando estamos afivelados em várias toneladas de aço no meio do nada, sem mostrar em nenhum momento a queda do avião, a explosão, corpos dilacerados ou severamente ensanguentados. O terror está na naquele casamento que nunca acontecerá porque apesar de toda a segurança que o transporte aéreo alardeia ter, sempre existe algo que não se pode controlar, e só Deus sabe quantas outras coisas que não são divulgadas apenas para não nos causar pânico ( nas palavras de Rossi o que seria da ANAC e similares se todas as informações viessem à tona?), no show que nunca será assistido e nas fraldas que nunca farão falta.

Outras considerações:

§ Gosto mais quando eles vão pingando informações sobre personagens do que quando fazem um episódio temático de determinado agente. Achei ótima a forma um tanto quanto casual como Kate acaba contando a Reid parte de seu passado, já deixando claro que não pretende fazer-se de vítima de forma alguma. E para mim fez sentido ter sido  para Reid (visto que Hotch e Rossi já sabiam) já que ele também passou por um momento traumatizante recentemente. Contar sobre a mãe eu já achei um tanto exagerado, mas tive a impressão que embora reservado sobre o assunto, ele sentiu-se na obrigação de partilhar um tanto da dor que Kate devia estar sentindo naquele momento. Jennifer Love Hewitt também teve muito do mérito de suas cenas, visto que ela tira de letras cenas bastante emocionais.


suns 30
§ Adorei que mesmo com tantos outros temas importantes rolando, eles tenham dispensado uns momentos para comentar:

  • Sobre a mídia e sua inconveniência em momentos fundamentais, transformando tudo em sensacionalismo barato,
  • O uso abusivo e desnecessário que algumas pessoas fazem das redes sociais, postando informações que podem se transformar em verdadeiras armadilhas,
  • E a intolerância geral que parece ser a tônica desta década ( com os recados agressivos e desnecessários ao sobrevivente).
§ Quem nada sabia sobre Oppenheimer, certamente teve a curiosidade de informar-se sobre o assunto ( não acho que o pessoal mais jovens já tenha ouvido falar dele, mas sua história é fascinante.

§ Necessário ressaltar novamente o impressionante trabalho de direção de arte e pesquisa, necessário para montar a cena principal e embasar todas as informações fornecidas durante o episódio.

Foi em minha opinião um episódio diferente em contexto, realização e referência, mostrando que a produção está atenta, não somente nos temas da atualidade ( vide o caso recente da derrubada do Malaysia Air por um míssil ucraniano ), como também em variar os padrões existentes a fim de evitar o “mesmismo” dos casos.

Excelente episódio! E vocês, gostaram? Deixem suas opiniões, sempre é interessante saber o que vocês estão pensando.

Até a próxima!

Nenhum comentário:

Postar um comentário