quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Criminal Minds S10E04: The Itch - Review



O abandono daquele que se sente só em si mesmo é desesperador. Esta é a lição deste ótimo episódio de Criminal Minds. Falando de temas onde confiar é fundamental, os quarenta e cinco minutos na tela reproduzem a loucura a que chega alguém cujo argumento torna-se solitário e desacreditado.

A estória de Criminal Minds desta semana me fez procurar alguma informação extra sobre a doença citada no episódio. A Síndrome de Morgellons ( o nome é referência a um vilarejo francês onde a doença também foi citada) é bastante discutida nos EUA. Ela foi questionada ali pela primeira vez em 2001 por uma mãe ( Mary Leitão) cujo filho coçava-se até se ferir e foi por algum tempo confundida com a doença de Lyme e parasitose delirante. Dr. Randy Wymore foi o primeiro ( apenas em 2006)  a encarar com mais seriedade a situação, levando em conta que as fibras que “saíam” do braço do menino não vinham de roupas ou lençóis e poderia sugerir um distúrbio de origem orgânica e não mental, como acreditavam a maioria dos médicos consultados. Este é um dado interessante ( vários pacientes apresentam filamentos ou fibras saindo da pele e ninguém descobre a origem disto e o episódio não apresentou claramente este sintoma. Lá na frente explicarei  a importância dele). Em 2012 foram sessenta mil casos da doença investigados e/ou diagnosticados apenas nos Estados Unidos ( quarenta mil na Europa). Ocorre que da não identificação destas fibras como sendo um material catalogado em qualquer categoria, inúmeras teorias permeiam a síndrome e as pessoas por ela afetadas. Entre silício em excesso no silicone, bactérias espaciais, alimentos transgênicos e nanotecnologia dispersada via pulverização de plantações, diversas suposições enlouquecem e conspiram para uma aura de misticismo versus ceticismo em torno do assunto. Daí as teorias da conspiração. Em 2001 a BBC de Londres produziu um documentário chamado Escurecimento Global que aborda a possibilidade destas pessoas serem vítimas de nanotecnologia dispersada para conter o aquecimento global.

Através da estória de Leo Jenkis, o assassino, pudemos conhecer mais sobre doenças como Morgellons e parasitose delirante. Nosso criminoso trabalhava no Centro de Controle de Doenças e sofria de um caso de herpes doloroso no braço esquerdo. Um dos médicos de lá resolveu lhe aplicar uma medicação que de fato ajuda em seu problema de herpes, mas seu cérebro não conseguiu identificar a melhora (como no caso de um membro fantasma). Desenvolvendo uma coceira insuportável, em sua paranoia ele passa a crer que o CDC injetou com sua medicação larvas de insetos, e agora, os mesmos rastejam pelo seu braço, o que o move a buscar uma cura para isto.

Vitimando um jornalista que estava escrevendo matérias sobre vacinas ( e ele acreditava  ser a pessoa certa para compreendê-lo) e um entomologista ( que estava estudando a relação dos humanos sobre os insetos, outra vítima que ele acreditou poder ajudá-lo), Leo busca ajuda em um grupo de apoio de pessoas que sofrem de Morgellons. Uma falha na pesquisa de roteiro encontra-se no discurso de Reid quando descreve a doença. Nos pacientes desta síndrome, saem de sua pele fibras, que a maioria dos médicos não tem como determinar a origem. É um caso bem diferente do que Reid menciona onde pacientes acreditam existir fibras que não existem ( aqui está mais para o caso de parasitose delirante). Tais fibras não mencionadas dariam  lógica às teorias da conspiração que acompanham estes doentes.

itch pq
 De qualquer forma, é neste grupo que Leo encontra Jane Poster, uma paciente que ao expor seu caso para o grupo torna-se a nova esperança de Leo em suja cura.

Talvez tenha sido para não se alongar muito nas explicações, mas o fato é que existe muito rumor em torno desta síndrome e, por não haver elucidação para a origem das fibras que descamam da pele dos doentes existem diversos rumores da existência da infestação.  Logo, percebe-se que a paranoia de Leo acaba por ter o mínimo de coerência  embasada em diversas literaturas.

Uma das melhores cenas sem dúvida acontece entre Lisa Randall (Alicia Coppola) e Aaron Hotchner ( Thomas Gibson). Oscilando entre o receio e a sinceridade durante o interrogatório um experiente  Hotch vai aos poucos criando empatia e desmontando a muralha que o separa da testemunha, fazendo com que Lisa aos poucos entregue tudo o que sabe. Hotch usa não apenas o passo a passo dos perfis, mas também sua experiência como pai para desarma-la.

O interrogatório  de Jane por JJ e Kate teve outra abordagem, mas também foi uma cena muito interessante. Deixando o já perfeito entrosamento entre as duas agentes, o inquérito leva a outra direção, a de não ter pena da interrogada, mesmo ela apresentando sinais claros da síndrome (ou melhor, utilizando-se largamente dela).

Por fim, a lembrança de Rossi em utilizar-se do recurso mencionado pelo pesquisador, o da “Caixa de Espelhos”, é suficiente para se aproximar do unsub e desarmá-lo.

Mas, para um episódio incomum, nada como um final incomum. Foi com que percebi a frustração de JJ ( e, por consequência Hotch em sua explicação) no sentido de, mesmo tendo cumprido com suas obrigações, não poder consertar tudo, o que me parece muito coerente. Claro, depois vem a notícia da melhora de Lisa, mas sabemos que a paranoia destas pessoas com relação às tais teorias da conspiração é constantemente alimentada pela falta de informação e nem todo  mundo tem a sorte de encontrar a JJ disposta a explicar e ajudar pacientes.

Outras considerações:

§ Não posso deixar de mencionar a cena do médico indiano na caixa com as baratas. Tecnicamente perfeita, não deixou margens para dúvidas de que aquele era um ato insano, em sua tentativa de provar como se sentiria o unsub. Menção principalmente ao ator Ronabir Lahiri, cuja expressão de terror na cena não deve ter sido de toda ficção, pois há de se ter brios para gravar com baratas rastejando por todo seu corpo. Há uns anos atrás, quando da gravação de uma cena com ratos pelo corpo da vítima em Natural Born Killer (01×08), lembro-me de ter lido que para da gravação com os ratos, o ator havia sido “selado” seu corpo com papel filme por baixo da roupa, para que nenhum animal conseguisse alcançar sua pele. Procurei pelo link da entrevista, mas infelizmente não encontrei. De qualquer forma, mesmo sabendo que o ator estava protegido, não deve ser fácil ver as baratas correndo em direção do seu rosto e ter que “segurar as pontas”.

§ Ótima montagem nas cenas em que Reid retira a barata da narina da vítima, na cenas em que o Leo aparece colocando e Rossi  retirando as aranhas de Lisa. Em contrapartida, o corte e montagem da cena em que Rossi dá um soco em Leo foi muito ruim, ao menos para mim, telespectadora muito exigente.

§ Todo o elenco convidado saiu-se muito bem em suas atuações, até pequenas aparições, como o do rapaz que testemunha o atropelamento do jornalista teve destaque.

§ O episódio em minha opinião conseguiu ser mais assustador em seu tema do que na exposição de baratas e aranhas ( café pequeno para fãs de ArquivoX, cujo produtor Harry Bring brincou durante a semana no twitter – ele também fez parte de AX – e devia estar com saudades destas escatologias, rs,rs).

E vocês, gostaram do episódio? Deixem seus comentários!

Até a próxima semana!

Um comentário: