sexta-feira, 17 de julho de 2015

Aquarius 01x03: Never Say Never To Always


“Never Say Never To Always”  é muito bom. Talvez tão bom que lamentemos que cada cena tenha tão pouco tempo para ter sido melhor desenvolvida, em face da quantidade de informações derramadas sobre o telespectador. Cada novo fato é carregado de camadas de emoções reprimidas, de informações contrapostas e um medo que beira a loucura, pintando corretamente o retrato de uma época controversa, onde tudo parecia mais cinza do que preto no branco.


O medo de Ken de ter exposta sua homossexualidade é tão aflitivo quanto o medo de Grace de sua filha não precisar mais dela e de tudo o que ela e sua família representam. Shafe teme que Charmain tenha cruzado uma linha de onde nunca poderá voltar ( e de quebra, por sua culpa) e Sam não consegue admitir que seu filho não seja o herói que pensa ter sido, sua imagem e semelhança, uma total decepção. Emma submetesse a todas as perversões de Manson, mesmo não estando convencida de que está fazendo a coisa certa, apenas porque tem medo de decepcioná-lo, o que de certa forma, seria dizer que seus pais estavam certos em toda a sua convencionalidade  e moralidade insipientes. No fundo, os tempos de paz e amor perpassam mais por um pedido de socorro, porque se perdeu em guerras, decepções e regras que já não bastam a si. 



A pseudo inocência na cena da gravação da demo, ou Sadie contando que morava na mesma rua de Janis Joplin contrapõem-se à constatação de que aquelas meninas estavam naquela casa por opção, de que aquele poderia ser de alguma forma uma maneira de se viver, de sua filha querer viver. Então, da mesma forma que Charmain se liberta das humilhações de Cut, depois de praticar sexo para a sobrevivência de uma investigação, Grace liberta-se da humilhação de não saber mais quem é sua família, as atitudes estranhas do marido, a opção incompreensível de Emma e entrega-se para Hodiak. Ambos atos libertários no momento em que os Estados Unidos deixavam, às vistas do povo, de serem os bonzinhos para serem os vilões no contexto da Guerra do Vietnã. Algo quase como um grito de paz e amor nas ruas de Sunset Street.
A profusão de cenas em close colabora para tornar-nos mais íntimos de cada personagem, aumentando sua carga emocional, em uma tentativa de nos causar compaixão por cada personagem. De Hodiak, que descobrirmos ter sido um marido embriagado e abusivo a Ken, um acovardado  homossexual que paga qualquer preço para esconder sua natureza dos outros e de si mesmo, não há inocentes de quem se compadecer. Cada cena é pensada para contradizer a seguinte ou para nos chocar com algo provável. Quem esperava um discurso raivoso de Charmain para Shafe por ele tê-la jogado aos leões, ou esperou ver Emma negar-se a ser utilizada como moeda de troca de Manson errou feio.
É esperar para ver se a série consegue manter-se tão interessante como tem-se demonstrado nos episódios iniciais, sem cair nos clichês óbvios demais. Também ainda não tenho certeza se o caso de drogas que culminou com o assassinato de Art ainda terá outros desmembramentos.
Até a próxima!

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