quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Criminal Minds S10E05: Boxed In - Review


Sabe aquela coisa que eu costumo dizer sempre em minhas reviews: que menos é sempre mais? Pois é, lamento, mas vou continuar  batendo na mesma tecla.
Me  perguntaram, enquanto eu gravava o podcast desta semana que nota eu daria ao episódio Boxed In. Quem me conhece sabe o quanto sou chata em termos de nota. Pois é. Mas esta semana tive que soltar um nove.
Devo começar dizendo que o grande mérito do episódio foi contar uma estória simples, mas totalmente crível, que valorizou, mais do que efeitos especiais, mais que uma boa montagem, uma fotografia primorosa ou cenários excêntricos, mais do que qualquer outra coisa, a arte da interpretação. A boa e velha técnica de emocionar contando apenas com a palavra, a expressão facial ou a linguagem corporal. Não que todo o resto não tenha acontecido. Sim, a edição e montagem foram perfeitas, a fotografia adequada, a direção de arte muito minuciosa, mas o que contou mesmo para o meu nove na avaliação foram as interpretações e a direção.
Desde a cena inicial até o desfecho, tudo o que fez valer foi a direção de atores, que, quando feita por um também ator ( no caso, Thomas Gibson), sempre parece mais adequada. Tenho a impressão de que um ator sabe o que exigir de outro ator nestas horas.
O ótimo roteiro de Virgil Williams, preciso em sua necessidade de explorar mais que qualquer outra coisa os sentimentos foi impecável em amarrar todas as possíveis pontas soltas, dando um sentido único a cada personagem da trama. Aliado a uma direção segura e eficiente de Thomas Gibson, proporcionou um episódio daqueles que nunca saem da cabeça dos fãs da série. Há de se esclarecer que, uma vez fechado o tema, o ator e agora diretor Thomas Gibson juntou a fome com a vontade de comer. Ele sempre se queixou de há quase dez anos não conseguir protagonizar nada que seus filhos pudessem de fato assistir, devido a pouca idade. Dito isto, o roteiro proporcionou à TG a oportunidade de gravar cenas até engraçadas, que suas crianças certamente adoraram presenciar. Sabendo da oportunidade, o ator não se furtou em convocar seu filho Travis para uma ponta no episódio, além de trazer  JP, o primogênito para acompanhá-lo na direção ( o menino, segundo o ator, já dirigiu pequenos curtas informais  e demonstra interesse pela atividade), além de ter sua caçula Ágatha por perto, dando palpites aqui e ali. Certamente foi um bônus para quem queria agradar aos filhos e não sabia como.
A despeito desta informação adicional sobre o Thomas, o roteiro garante também um presente aos fãs do personagem, que sempre reclamam por nunca verem Aaron Hotchner sorrindo. Sob este aspecto Boxed In foi primoroso.
riso
Partindo de uma sequência inicial quase nunca vista na série, temos a oportunidade de encontrar Hotch totalmente desconcertado, na presença de uma amiga de Penélope Garcia, uma cartomante transexual, visivelmente encantada com o homem à sua frente, sendo a responsável por encontrar a fantasia dos sonhos de Jack para o Halloween: as vestes de Darth Vader. A começar pelo ambiente exótico, podemos sentir nosso agente totalmente deslocado, principalmente quando Mme.  Bouvier resolve não lhe cobrar o favor em espécie e dá ao entender de que estaria encantada pelo Macho Alpha à sua frente. Para quem acompanhou Gibson em Dharma e Greg eu diria que foi um presente ao ator para recordar seus distantes tempos de comédia. Contracenando com o ótimo Cornélius Jones Jr. em curta, mas surpreendente e bem-humorada atuação, a cena ficará na memória dos fãs por muito tempo, mas lá na frente destacarei a utilidade pratica da mesma, no quesito roteiro.
O caso acaba com os planos de Hotcher de passar o Halloween junto de seu filho Jack. O agente junta-se aos seus colegas para investigar o desaparecimento de garotos de cerca de doze anos  anualmente, sempre nesta mesma data. Juntos, eles irão descobrir que depois de um ano a criança é devolvida ( sendo que a primeira delas não sobreviveu). Aos poucos iremos descobrir que o unsub responsável por raptar as crianças havia sido punido por seu pai, um sujeito que vivia bêbado e que era tendencialmente agressivo.
Uma coisa interessante a se dizer é que uma boa parte da humanidade é psicopata ( cerca de 4% da população – 3% homens, 1% mulheres – segundo Ana Beatriz Barbosa Silva em seu  livro           Mentes        Perigosas – http://cerebro-online.blogspot.com.br/2010/03/4-da-populacao-sao-psicopatas-segundo.html  ). Isto não significa que todas estas pessoas irão cometer assassinatos. Muitos destes psicopatas irão conter seu desejo de matar e irão sublimá-lo tornando-se empresários de sucesso, pessoas com destaque intelectual  ou  apenas chefes muito exigentes. Não foi o caso do nosso suspeito. Após anos presenciando o abuso de seu pai, o sujeito, que já apresentava os sinais clássicos da psicopatia na adolescência,  é posto de castigo após uma brincadeira de Halloween ( pego jogando ovos na vizinhança) e trancado em uma caixa, da mesma forma que faz hoje com suas vítimas. Ao contrário das crianças que rapta, o unsub é salvo por sua mãe, que o impede de ficar preso. A mãe, cheia de viver sob o julgo do marido e tendo a oportunidade  mata –o e pede a seu filho que a ajude a sumir com o corpo. Anos depois, o filho crescido, rejeitado pela própria família e depois por uma noiva que o abandona, passa a aplicar em outras crianças o castigo que inicialmente lhe fora aplicado pelo pai. Obviamente que o aspecto da punição, mais a experiência de ajudar a sumir com seu pai, aliado a uma personalidade psicopata não poderia dar em boa coisa mesmo.
caveira
Mas não deixa de seu um daqueles casos em que você não sabe bem onde jogar a culpa. Se na psicopatia do unsub, na tirania do pai que pune desmedidamente o filho, se na mãe que o submete à  experiência inigualável de um assassinato, se no ambiente permissivo que favorece cada crime ou na namorada cuja rejeição o leva ao gatilho que dará início aos crimes. Talvez não haja a quem culpar senão a todos.
Um dos pontos altos do episódio como já disse antes são as interpretações. Desde pequenas aparições, como a do vizinho intolerante afrontado por Rossi, a mãe da última vítima à beira da loucura ao descobrir que seu filho desapareceu, a irmã que denúncia o unsub, até o brilhante trabalho de Pamela Reed, tudo funcionou à perfeição. Em especial o trabalho de Pamela ( injustamente lembrada sempre por seu trabalho cômico em Um Tira No Jardim de Infância com Arnold Schwarzenegger, mesmo tendo tido inúmeras outras brilhantes interpretações no cinema), que expõe na medida exata a dor e a culpa pelos atos de seu filho. Tanto nas cenas em que ela aparece sendo interrogada, como no momento em que ela conversa com o rapaz, impossível não se comover com a dor expressa em seu olhar triste, no rosto marcado pelo tempo, na postura submissa, instintivamente defendendo-o como qualquer mãe faria, para em seguida, não podendo mais protegê-lo, assumir seu quinhão de culpa. De certa forma John David tornou-se seu pai, como tantos agredidos se tornam um novo agressor. O que nunca saberemos é se, criado adequadamente ele teria se transformado em um criminoso ou seria apenas parte do contingente de psicopatas que convivem conosco em nosso dia a dia e nem nos damos conta.
Por ser um episódio de Halloween, certamente dele se esperava algum terror. E ele estava lá. Não na forma explícita de cadáveres desmembrados, sangrando ou cheios de larvas, nem na exposição de tortura física ou no ruído típico de um tiro. Optou-se sabiamente pelo terror psicológico, pois nada mais aterrorizante do que pensar em uma criança presa meses a fio, em um espaço claustrofóbico e escuro. Crimes com crianças costumam nos mobilizar muito mais que outros, mas o fato dele prolongar um sofrimento por longa data é uma das ideias mais apavorantes que pode me ocorrer.
Quando iniciei este texto, disse que falaria ao final sobre o motivo de uma cena inicial feito a que tivemos. Então vamos lá. Muita gente se questionou porque um episódio com tanto Hotch. Simples: para fazer um ótimo contraponto com um pai tão horrível, agressivo, bêbado e abusivo, nada como um pai exemplar. Nenhuma informação ali foi por acaso. Desde ele sair correndo do BAU, despedindo-se às pressas de Penélope ( mostrando que ele sempre tem dificuldades para arranjar tempo para ser dividido entre lar e trabalho), o favor que ficou devendo à sua funcionária, a chuva impiedosa ( quantos se desbancam debaixo de tanta chuva para agradar o filho?), a postura séria que adota ao só deixar o menino brincar com a fantasia se tiver jantado bem e estiver com o dever de escola feito, o orgulho que ostenta ao comentar que Jack ganhou o concurso de fantasias na escola  e seu comentário com JJ sobre nunca ter passado um Halloween longe do filho, para não dizer a evidente indignação que expressou o episódio todo, como se não pudesse admitir ou compreender como alguém pode fazer mal a uma criança, tudo foi cuidadosamente inserido para que ficássemos ainda mais indignados com o pai e com o suspeito ( o primeiro pelo mal que fez ao filho o segundo pelo mal que fazia às crianças). Quando ele entra no quarto e não vê Jack na cama, não é um olhar despreocupado que vemos em seu rosto, é o medo de ver seu menino passar pelas coisas horríveis que ele vê no trabalho que se instala  para descobrir, em seguida, que o garoto está dormindo no sofá.   Hotch riu mais porque, via de regra, lares com crianças são, ou deveriam ser, felizes. A cena inicial com Madame Bouvier foi um bônus, por que na verdade não basta ser pai, tem que pagar todos os micos possíveis para fazer valer….
mais uma
Outras considerações:
§  Excelente trabalho de direção de arte. A criação da loja/casa de Madame Bouvier, cheio de detalhes ricos, como um lustre antigo, vários abajures, uma, um corvo, uma centena de quinquilharias , veludo e muitas contas e cristais, além do uso de rosa, vinho, lilás e bege só acresceram para tornar o ambiente muito embaraçoso para Hotch. Também os desenhos colados à parede da sala de seu apartamento pareceram uma ótima ideia, coisa de filho mesmo.
§  A composição do personagem de Cornélius foi incrível. Maquiagem, robe e chinelo de pelúcia, com o cabelo preso da forma que se prende quando se está perto de se retirar a maquiagem, além, , da interpretação do ator formaram um conjunto perfeito.
§  De todas as cenas, uma que me impressionou por sua naturalidade foi o momento de fim de jantar na casa dos Hunters. A filha adolescente que só se ocupa do telefone, o menino que se queixa por ter de comer comida saudável, a mãe tentado manter seu controle sobre os filhos, a senha comum no Amazon e o alerta do filho para não usar senhas óbvias, tudo foi encenado com tamanha simplicidade que a gente nem percebe que já está amando aquela família e que vai, logo mais sofrer com ela. Ponto para a direção de arte, as interpretações e a direção, responsáveis pelo conjunto da cena.
§  Estrelinha dourada pela menção ao Cruz, pois nos faz lembrar do chefe mesmo sem ele estar presente.
§  Um toque de ironia: Hotch pedir à Mary, no final, que ela não se culpe pelos atos de seu filho, mesmo tendo certeza que está pedindo o impossível a alguém na situação dela. Ele próprio não se perdoou por seu filho crescer sem ter a mãe ao seu lado, por algo que foi de certa forma, sua culpa também. Caso contrário ele ainda seria o pai sempre sem tempo para Jake, pois sabia que Haley era a mãe e o pai que seu filho precisava.
§  Uma observação sobre Thomas Gibson interprete. É inegável como ele transita com facilidade entre o cômico e o dramático. Da mesma forma que ele nos faz rir com seu desconforto em ser quase cantado pela cartomante, ele transmite autoridade e severidade nos momentos necessários. Pequenos toques, como chegar descontraído em casa ( note-se o botão da camisa desabotoado por baixo da gravata, algo que homens que usam o acessório fazem muito quando já não estão no ambiente de trabalho) e, no minuto que atende ao telefone mudar seu semblante para o modo “worry” fazem toda a diferença.
§  Preciso de uma cunhada destas, disponível vinte e quatro horas, rs,rs
§  Por fim, uma falha de continuidade, na cena em que ele vai procurar o menino debaixo do carro: alguém notou como ele tira a capa do automóvel, quando na verdade o mesmo já deveria estar descoberto, uma vez que ao chegarem à casa, os policiais a retiram? Ah, os contra regras…..
Então, gostaram do episódio? Deixem seus comentários por aqui, gostaria de saber o que acharam….
Até o próximo episódio pessoal!

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