quinta-feira, 23 de agosto de 2012

FIC - PEDRAS NO CAMINHO - CAPÍTULO 2


 

"APRENDI QUE NÃO POSSO EXIGIR O AMOR DE NINGUÉM.  POSSO, APENAS, DAR BOAS RAZÕES PARA QUE GOSTEM DE MIM E TER PACIÊNCIA PARA QUE A VIDA FAÇA O RESTO..."

William Shakespeare



Emily Prentiss acelerou o seu carro com menos vontade do que de costume. Não quis insistir com seu chefe, nem ser inconveniente mas, na verdade, estava muito preocupada. Beber em sua companhia tinha sido um ótimo pretexto para ter certeza de que ele ficaria bem depois de horas tão desgastantes. Desgastante para todos mas, para ele, neste momento de tantos reveses, desgastante demais.
 
Aaron Hotcnher vinha sendo seu motivo de preocupação constante desde que Garcia lhe havia dito naquele dia fatídico de que ele poderia estar em um hospital. Vê-lo sedado e impotente naquele momento havia sido angustiante. E mesmo nas horas seguintes, após acordar, nada havia ficado mais fácil. Quando ele acordou, teve que conter o sorriso, quase revelado, de alívio e satisfação, pois ele iria se recuperar. Mas não havia nele qualquer traço do Aaron Hotchner que ela conhecera e por quem aprendera a se apaixonar. Havia lá um homem cuja vida havia sido devastada qual em um terremoto e a quem ela gostaria de emprestar forças para se reerguer. Mas claro, isso eram apenas devaneios. Ela sabia o quanto tinha a perder por se apaixonar por um homem como ele. Seu chefe. Seu primeiro obstáculo. Não deveria haver relacionamentos entre agentes, o que diria entre um chefe e uma subordinada. Além disso ela sabia bem que Hotch não era um homem fácil de se conviver. Era um homem obstinado pelo trabalho e isso era uma benção e uma maldição. Ela testemunhara o que isso causara a seu casamento anterior. Era um homem fechado. Ainda lembrava-se bem de sua reação ao ser questionado por ela e ter que admitir que estava sendo chamado à uma audiência de divórcio. Era um homem que sorria pouco. Tinha um filho e ela sabia que isso também seria difícil. Nem podia se lembrar quantos eram os motivos para ela não se apaixonar por Aaron Hotchner.


Emily freou bruscamente. Quase não percebeu o sinal fechar à sua frente. 

Mas ela tinha se apaixonado. Que diabos, ela era uma mulher independente, que enfrentava os caras maus, sabia julgar bem as pessoas, sabia fazer seu trabalho bem como poucos, já havia tido experiências das quais fazia questão de não se recordar, droga, ela sabia o que apaixonar-se por ele faria à sua vida. Mas se apaixonou.


O sinal à sua frente se abriu. Mas Emily só acelerou quando a buzina do carro atrás do seu ecoou. Ela era uma mulher inteligente e podia ter o homem que quisesse. Bem, não era bem assim. Ela tinha uma espécie de radar para atrair canalhas, homens que ela sabia que não valiam a dose de vodka que lhe ofereciam. Havia se envolvido com alguns tipos que ela mesma prenderia se tivesse vergonha na cara. Não teria se surpreendido se tivesse se envolvido com Morgan ou Rossi, homens com quem se divertiria, mas que descartaria depois. Mas com Hotchner havia sido diferente. A forma como havia sido recepcionada por ele no time a princípio a incomodou, depois passou a entender seus motivos. Hotch era um homem inteligente e também muito prático. Foi fácil conquistar sua confiança. Bastou ser honesta com ele. E aí seus problemas começaram. No início era somente uma tremenda admiração por um homem bonito, competente e fascinante. Mas Emily começou a sonhar. Sonhava com aquela voz em seu ouvido, descrevendo horas e horas de prazer e não casos não solucionados, dizendo palavras quentes e não nomes de vítimas. Então, acordava no meio da noite encharcada de suor e procurava não dar importância ao fato. Achava que era algo que podia superar, ele era um homem casado, depois recém divorciado, isso não podia estar acontecendo. Esforçava-se para pensar em outros homens, imaginava como Morgan faria amor, como Rossi seria na cama, se Reid poderia surpreendê-la. Lembrava-se de detetives, delegados, palestrantes, queria saber se alguém poderia tirar a imagem de seu chefe de sua cabeça, mas isso tornara-se impossível. Não que fosse promíscua, longe disto, mas faria qualquer coisa para reverter aquilo que sabia que poderia ser uma péssima idéia.


Emily deu seta de forma quase distraída e virou à direita. Sentiu calafrios aos se recordar da conversa com Strauss. Era surreal alguém lhe pedir para trair o homem que amava. Mesmo que este alguém fosse Strauss. Ela nunca gostou desta mulher . Sempre a achou despreparada e ambiciosa, mas o que ela havia pedido estava além de suas forças e mais, aquém de sua lealdade. E foi para ela uma decisão muito fácil dizer não. Não trairia o homem que amava nem por Strauss nem pelo Presidente dos Estados Unidos da América. Não sentiu dificuldade alguma em pedir demissão. Lamentou por não vê-lo mais, mas talvez fosse melhor. No entanto nem pôde descrever o que sentiu quando a campainha tocou e ela o viu à sua porta. Quando ele entrou em sua sala ela tem certeza de que ele disse coisas muito importantes para o caso e para a equipe, mas tudo o que ela pode ouvir foi “quero você neste avião comigo”. É claro que como ótima profissional, segundos depois ela foi processando tudo o que havia acontecido, mas as palavras que ficaram foram ”quero você neste avião comigo”. Estas palavras ela ouvia até hoje em seus sonhos. 


Emily estacionou seu carro, desceu e ligou o alarme. Era muito complicado sentar-se ao seu lado no avião ou em qualquer outro lugar e não se perder em devaneios. Mais complicado ainda era não deixar sua equipe perceber o que ela sentia. Tinha certeza de que Hotch, focado em tantas outras coisas, não perceberia seus sentimentos, mas com a equipe o cuidado era outro. Notou que outro dia JJ lhe dera um olhar pouco convencional quando mostrou-se preocupada com Hotch. E Morgan tinha um faro especial para estas coisas. Sem contar Rossi, que não calaria um segredo seu tão facilmente. 

Entrou em seu apartamento e apesar do horário, encheu sua banheira. Precisava de uns minutos imersa mais do que precisava respirar. Enquanto a banheira enchia foi fazer um café. Sorveu o líquido quente e despiu-se. A água quente lembrou-lhe de que a vida tinha ainda coisas boas a lhe oferecer. Mas seus pensamentos ainda estavam em Hotch e no quão pouco podia fazer para ajudá-lo sem parecer tão óbvia. Queria tomar-lhe nos braços e lhe abstrair de todos os seus problemas, todas as suas angústias, mas tudo o que podia fazer era tentar monitorá-lo de perto. Sentiu-se péssima quando desejou que George Foyet matasse novamente. Era o desejo mais egoísta que já tinha expressado. Mas seria a única forma de pegá-lo, de ter pistas sobre seu paradeiro, de por um fim à dor que atormentava o homem a quem amava. Amaldiçoou-se por desejar uma morte. Amaldiçoou-se por amar um homem tão sofrido. Amaldiçoou-se por não tê-lo em sua cama naquela noite. Restava apenas o som de sua voz embalando seus sonhos ao dizer : “quero você neste avião comigo!” Parecia música em seus ouvidos. E era esta música que ela queria ouvir até adormecer. A voz de Aaron Hotchner.

Um comentário:

  1. Voltei... Eu estou no celular, então não vi os capítulos seguintes até colocar na versão web. Então, menina amei ver Emily já totalmente apaixonada e como funciona os pensamentos e sentimentos dela. ��
    Espero que ela possa cumprir esses desejos logo e que Hotch a retribua logo.
    Eu entendi a idéia dela pensar nos outros rapazes... Normal, a pessoa fica tão desesperada que começa a buscar uma saída, mesmo assim, divido que ela aceitasse algum deles no lugar do Hotch, nem pra esquecer ele. Hotch testa enraizado nela. ��
    Curti... Seguindo.
    Bjos

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