sexta-feira, 24 de agosto de 2012

FIC - PEDRAS NO CAMINHO - CAPÍTULO 7



"PARA OS ERROS HÁ PERDÃO; PARA OS FRACASSOS, CHANCE; PARA AMORES IMPOSSÍVEIS, TEMPO. DE NADA ADIANTA CERCAR UM CORAÇÃO VAZIO OU ECONOMIZAR ALMA. O ROMANCE CUJO O FIM É INSTANTÂNEO OU INDOLOR NÃO É ROMANCE. NÃO DEIXE QUE A SAUDADE SUFOQUE, QUE A ROTINA ACOMODE, QUE O MEDO IMPEÇA DE TENTAR. DESCONFIE DO DESTINO E ACREDITE EM VOCÊ. GASTE MAIS HORAS REALIZANDO QUE SONHANDO, FAZENDO QUE PLANEJANDO, VIVENDO QUE ESPERANDO, PORQUE EMBORA QUEM QUASE MORRE ESTEJA VIVO, QUEM QUASE VIVE JÁ MORREU."

Luis Fernando Veríssimo



Aaron Hotchner foi o primeiro a sair da sala. Fora mais fácil do que imaginara. Como havia previsto, seu pessoal não contestara seus motivos e respeitara sua decisão com alguma tranqüilidade. Sentia-se mais leve agora que havia comunicado sua decisão a todos. Havia um longo caminho a ser percorrido, mas ele havia dado o primeiro passo. Já estava a caminho do elevador quando deu por falta de seu celular. Ao virar-se para voltar à sua sala encontrou uma Garcia muito constrangida lhe dirigindo a palavra.

- Sr, isso pode não ser muito adequado, mas a agente Prentiss está muito preocupada com o sr. Todos nós estamos mas, bem, eu achei que o sr. deveria saber...

Garcia saiu em disparada antes que Hotchner pudesse processar a informação e apesar do seu embaraço, tinha no rosto ainda o mesmo sorriso vitorioso. Sabia que estava fazendo a coisa certa.
Em outras circunstâncias ele teria odiado o comentário de Garcia, afinal sempre fora avesso a fofocas e comentários pessoais dentro do ambiente de trabalho, mas o nome de Prentiss lhe fizera prender a respiração. Não era o momento para tentar entender porque isso era tão relevante mas, num impulso pouco típico de sua conduta, Hotch, após pegar seu celular, localizou Prentiss, aproximou-se dela, apoiou uma mão muito levemente em seu ombro e quase como se não pudesse controlar o que viria a seguir, murmurou em seu ouvido: 

- Vai dar tudo certo!



E muito rapidamente seguiu em direção ao elevador. Ao entrar dentro dele seus pulmões agradeceram por ele respirar novamente. O que fora aquilo? O que fizera? Por que não a chamara em sua sala para perguntar o que estava acontecendo, para pedir que não se preocupasse com ele? Por que agira como um colegial, esquivando-se de olhar nos olhos daquela mulher cuja presença o perturbava tanto nos últimos tempos? Que diabos, com todos os problemas que tinha não podia se dar ao luxo de arranjar mais alguns. Iriam em instantes sentar-se lado a lado no mesmo avião e ele não sabia bem como ela teria entendido o que havia feito. Nem ele entendia. Apenas havia feito. Tinha tido uma enorme necessidade de dizer a Emily Prentiss que tudo daria certo como se quisesse endosso para suas palavras, como se esperasse que alguém lhe dissesse, - Sim, você tem razão, tudo vai dar certo!


Maldição! Ele a havia tocado! Não havia nada mais inapropriado. Não era dado a intimidades deste tipo com seus agentes. Ela era uma subordinada. Bom, tecnicamente ela não era mais uma subordinada, mas isso era irrelevante. A verdade é que apesar de extremamente inadequado, não podia negar que havia sido algo inesperado, mas tremendamente prazeiroso. Ele não podia permitir que Emily Prentiss ficasse preocupada com ele. Tinha sido elegante e adequado acalmá-la. Bom, não precisava ter sido daquela forma, mas não podia negar que o que havia feito, de certa forma, também lhe tranquilizara, também lhe fizera bem. 

Agora estava feito. Esperava apenas não ter sido interpretado errôneamente e não passar por constrangimentos na próxima hora ao seu lado.



Já no avião, Hotch procurou apenas pensar no caso que tinham que resolver. Nada de Foyet, Strauss, ex mulher, Jack, Emily. Apenas um maldito maluco enucleador. 
Sentou-se primeiro, na janela, mas Emily foi a última a entrar no avião e, para juntar-se ao grupo, o lugar mais provável seria ao lado do seu, que ainda estava vazio. Sentiu um embrulhar no estômago. Respirou fundo e voltou a pensar no caso. Sentiu-se um pouco desconfortável quando JJ disse que a família queria conversar com o líder da equipe. Era difícil não reagir a este tipo de situação. Mas, não podia deixar que eles percebessem seu desconforto. Também se preocupava em como Morgan iria se sair , queria deixá-lo à vontade, não poderia se dar ao luxo de demonstrar qualquer reação.
 
Era um caso difícil e o perfil parecia não bater. Morgan insistia em não atender aos telefonemas de Strauss e ele sabia que tinha que intervir. No entanto, não ficou surpreso quando Morgan priorizou o caso e postergou a conversa com a Chefe. Rossi estava certo. Morgan estava se saindo muito bem e tinha tudo para se adequar à chefia e seria difícil reverter a situação. Estranhamente, Hotch não se sentiu preocupado com isso. Ficou feliz em ver seu menino saindo-se tão bem na função que ele escolhera lhe confiar e pela primeira vez em muitos anos não sentia sobre si o peso do cargo. 
 
Quando finalmente ouviu os gritos daquela mulher vindo da obra abandonada e pôde por as mãos naquele canalha, nem por um momento pensou que poderia estar fazendo algo errado. E surpreendeu-se com o comentário de Morgan sobre seu comportamento.


-Bratley disse que você o pegou sozinho.
- Ele não estava atrás de mim.
- Deveria ter esperado por reforços.
- Você teria esperado?



Morgan olhou para Emily esperando pela aprovação de seu comentário, mas a agente limitou-se a observá-los, e quando seu colega ficou sem resposta e se retirou, Hotch percebeu um leve sorriso nos lábios dela. Ele achou que ela estava se divertindo com a situação e de uma forma quase atrevida ele revidou o sorriso perguntando se havia algum problema. Mas, não esperou pela resposta. Sabia que havia feito a coisa certa. Sabia que ela o entendera. Só não sabia porque isso lhe parecera tão importante. Aparentemente estava tudo bem entre eles e isso o deixou aliviado. Aquele quase sorriso da agente Prentiss havia alegrado seu coração. No entanto, seu bom senso lhe disse para ignorar aquela sensação, afinal, já tinha sorte por não ter sido mal interpretado pela colega horas antes.


Hotch voltou para seu escritório e embora não tivesse relatórios para preencher, também não tinha muito porque ir para seu apartamento correndo. Ficou revisando as pastas do caso de Geoge Foyet por mais de uma hora. Observou de sua mesa que Morgan ainda estava trabalhando e viu quando Garcia se afastou da sala com o agente. Provavelmente para lhe mostrar sua nova sala, como JJ havia lhe confidenciado horas atrás. Penélope Garcia. Criatura estranha esta menina. Gentil e dedicada com todos que a cercavam. Uma alma boa que habitava aquele prédio. Foram as palavras de Garcia que o levaram a procurar por Emily no início do dia. Por que ela havia achado importante dizer tal coisa a ele? De qualquer forma, tinha sido uma coisa boa. Ele havia se comportado de maneira meio estranha, mas sentia-se bem com tudo aquilo. Estava cansado e merecia uma cerveja. E algo para comer. Fechou as pastas, apagou as luzes e foi até o estacionamento pegar seu carro.

- Hotch! Ainda por aqui? A voz de Rossi vinha da parte de trás do estacionamento.
- Rossi, achei que tivesse ido embora há horas!



- Já estava dentro do carro quando recebi um telefonema de um amigo, agente Swennen, pedindo umas opiniões sobre um caso. Então, acabei voltando ao quarto andar para conversar com ele e estou saindo só agora. Uma cerveja?
-Na verdade estava indo mesmo comer alguma coisa.
-Ótimo! No Brandon’s está bom pra você?
-Pode ser.
-Nos encontramos lá.


No caminho, Hotch foi pensando em seu amigo. Era um cara que sabia se divertir mas, no fundo, também muito sozinho. Será que as pessoas que passavam horas a fio envolvidas com crimes hediondos, barbáries, e toda a espécie de desgraça alheia estavam todas fadadas a serem pessoas solitárias? Era muito difícil não levar para o reduto de um lar todas as coisas escabrosas com as quais eles conviviam diariamente. Enquanto esteve casado sempre procurou deixar seu trabalho na soleira da porta de casa, mas sabia que não era bem assim. Era difícil não afetar as pessoas ao seu redor com o lado escuro com o qual conviviam. E, sejamos sinceros, ele nunca deixou o trabalho na soleira da porta de casa. Não podia recriminar Haley, principalmente agora, com tudo que ela estava passando por sua causa. 
Quando estacionou, viu Rossi à sua espera na porta do bar. Entraram juntos, pegaram uma mesa e fizeram o pedido à uma garçonete muito magra e de seios fartos que repetia pausadamente tudo o que estava anotando no seu bloco de pedidos. Ela afastou-se e Rossi riu.

- Belos seios, mas tomara que ela traga nossas cervejas mais rápido do que ela escreve.
-Você não deixa escapar nada não é?
-Diga que não é divertido! E então, como você está se segurando?
-Na verdade, apesar das circunstâncias eu estou bem. Tenho procurado manter-me ocupado para não pensar muito em tudo o que tem acontecido.
-Tem dormido?
-Um pouco. Sinto saudades de Jack. É difícil Rossi, muito difícil.
-O agente Marshall tem te posto a par da situação?
-Sim, na verdade eles mudaram Haley de cidade novamente. Ela é teimosa, Rossi, não entende que não pode ligar para a sua mãe, que não pode fazer qualquer contato. Mas Marshall me garantiu que eles estão bem e protegidos. Tenho que acreditar nisto senão enlouqueço. Há noites em que acordo achando que Jack está nos pés da minha cama, me chamando. É difícil.


-Você devia sair um pouco. Há quanto tempo você não tem um encontro?
-Rossi, qual é, você acha que tenho cabeça para isso? Meu filho e minha ex mulher estão vivendo escondidos por minha causa....... 

Hotch interrompeu o que dizia enquanto a garçonete deixava em sua mesa a cerveja e os pratos pedidos. – Você acha que eu posso sair com uma mulher?

-Eu sugeri um encontro, não mandei você entrar em uma capela em Las Vegas e se casar com alguém sob as bençãos de um padre vestido de Elvis. Apenas sair com uma mulher, ser feliz por umas horas. Não me venha dizer que é a preocupação que impede você de fazer isso. Dormir ou não com uma mulher não vai impedir você de ter seu filho de volta. Isso é só sua consciência. Você não tem culpa pelo que aconteceu. Não tem que se culpar. Não escolheu que isto acontecesse. Não negligenciou. Não deu motivos. Já conversamos sobre isto outro dia. Você não é o cara mau. George Foyet é. Você deu à sua família toda a dedicação que pode, mas não pode evitar que isto acontecesse. Deixar de viver a vida, deixar de ser feliz, não vai fazer você se sentir melhor.

Hotch bebeu cada palavra de Rossi com a mesma sede que bebeu sua cerveja. Olhou para o amigo com certa curiosidade.

-Você é feliz?
-Vivo momentos felizes. Aproveito intensamente o que a vida me oferece e não fico angustiado esperando que essa sensação vá durar para sempre. Depois de três casamentos você aprende.



Hotch sorriu. Cortou seu filé mas, não pode deixar de engasgar quando ouviu a pergunta de Rossi.

-Aconteceu alguma coisa entre você e Emily enquanto você esteve afastado?
-Claro que não! Está maluco? Ela apenas foi gentil comigo, ligou para mim algumas vezes depois que saí do hospital, me deu carona nos meus primeiros dias de retorno ao trabalho e só. Por que?
-Porque ela está visivelmente atenta a você, tem te acompanhado de perto, parece que só você não percebeu isso ainda.
-Como assim? Só eu não percebi?
- Hotch, somos profiles, traçamos perfis, vivemos de prever o próximo passo de um ser humano e, embora tenhamos acordado não fazermos perfis uns dos outros, Emily tem sido óbvia demais para todos na equipe.
-Óbvia? Em que? Pra quem?
-Amigo, só você não notou ainda que ela é apaixonada por você. Ou não quer notar. – Rossi brincou com o garfo no ar como se a reação de espanto do amigo o divertisse.

- Ela ia se demitir para não prejudicá-lo. E só não o fez porque você a convenceu do contrário. No que dia em que você foi atacado ela foi a primeira a ficar incomodada com a sua ausência, foi a primeira a ir atrás de você, ficou de plantão naquele hospital até ter certeza de que você estava realmente bem. Rapaz, todos nós ficamos preocupados como amigos, mas só ela ficou em pânico como mulher. Ela tem vigiado seus passos de perto, sofrido com a sua dor. Você deveria já ter notado.



-Bem, na verdade, ultimamente eu também tenho pensado nela mais do que gostaria. Ela é uma mulher bonita, inteligente, fascinante. Mas, não posso pensar nisso agora. Tenho outras prioridades. Além do mais Rossi, você sabe qual a política do FBI para relacionamento entre colegas de trabalho.

-Hotch, o FBI tem mais de trinta e hum mil funcionários. Você realmente acredita que neste momento não há nenhum deles dormindo com um colega de trabalho? Não seja ingênuo. Oficial ou não, é certo que um relacionamento com pessoas que tenham o mesmo tipo de atividade que o outro facilita a compreensão de determinadas coisas, principalmente no nosso ramo. Não estou dizendo que você não tenha outras prioridades. Mas ela é uma mulher interessante e apaixonada. E será uma ótima ouvinte. Seja benevolente consigo próprio e dê-se ao direito de se distrair um pouco. Escute o que eu te digo: a vida não te oferece chances para rascunho. O que você faz, está feito, o que deixa de fazer, só te fará lamentar depois. 


Ele estava confuso com tudo o que o amigo lhe dizia mas, ao mesmo tempo foi como lhe ensinarem a escrever seu nome. Nada que ele já não soubesse, embora relutasse em admitir. Somente a informação sobre Emily lhe surpreendera. 
Após acertarem a conta caminharam até o carro de Hotch onde Rossi despediu-se.


-Vá para casa e pense em tudo o que te falei. Ou melhor, não pense. Seu problema é que você pensa demais. Vá descansar.
-Rossi, obrigado amigo. 

Hotch já estava dentro do carro quando Rossi recuou um pouco e se aproximou da janela. 

-Nós vamos pegá-lo, Hotch, nós vamos pegá-lo.

Aaron Hotchner dirigiu até sua casa revendo cada palavra dita por seu amigo durante o jantar.
Emily Prentiss. A voz que lhe parecia música para seus ouvidos e embalava seus sonhos. Seu olhar intenso. Seu corpo. Seu sorriso. Sim, ele também estava apaixonado por Emily Prentiss. Sabia que seria difícil lidar com isto, principalmente neste momento, mas o que havia sido fácil em sua vida até então?

Um comentário:

  1. Ah... Eu amo a Garcia e o Rossi. Muito mesmo. Obrigado por juntarem meus meninos. 😍
    Estou amando o tino das coisas e foi super dez ler os pensamentos do Hotch, em especial o fato dele assumir estar apaixonado. 😍
    Já quero ver a concretização disso. 😘

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