sexta-feira, 24 de agosto de 2012

FIC - PEDRAS NO CAMINHO - CAPÍTULO 5


“NA PROSPERIDADE NOSSOS AMIGOS NOS CONHECEM, NA ADVERSIDADE CONHECEMOS NOSSOS AMIGOS”.

 
John Churton-Collins



Haviam sido dois dias de muito trabalho, mas finalmente os papéis estavam sendo postos em dia. Já era muito tarde e Aaron Hotchner ainda revisava casos com Jeniffer Jareau em sua sala no Bureau. Havia ficado satisfeito por ouvir a opinião de JJ num caso de racismo em Baton Rouge. Ela era competente e estava no seu melhor momento no BAU. No entanto percebeu certa inquietação sua quanto ao avançado da hora, coisa que ela justificou como problemas de seu bebê com a troca de fraldas. Às vezes ele se esquecia que seus agentes tinham uma vida lá fora. De fato, aquilo não era hora de segurar uma agente como JJ e ele sentiu-se feliz por dispensá-la.


- Faltam somente cinco casos.
- Não, podemos fazer isso amanhã, vá para casa, por favor.


Ela disse algo sobre uma última distribuição e despediu-se. Ele subiu as escadas até sua sala disposto a encerrar aquele dia com um saldo positivo. Havia sido um período produtivo e todos pareciam estar prontos para uma nova investida.

Abriu a porta de seu escritório com certo regozijo, não era sempre que podia dizer que tinha tido um bom dia. Mas seu prazer durou apenas segundos após abrir sua porta. A visão de Erin Strauss o trouxe a uma realidade que ele hesitava em encarar, mas que naquele momento era impossível negar : chegara a hora. Quando ela disse as palavras : “ – Precisamos conversar. Feche a porta” sua mente começou a trabalhar rapidamente, tentando fazer um apanhado de todas as reflexões que fizera nas últimas semanas. Quais eram as possibilidades? O que ela iria exigir? O que ele teria que fazer?
 

Foi uma conversa relativamente curta. Na verdade quase um monólogo. Ela queria que ele deixasse o BAU e ponto. Ela tinha certeza de que sua capacidade de chefiar aquele departamento estava comprometida até o pescoço. E que suas decisões começariam afetar o comportamento de seus agentes em comando. Tinha que se reportar a seus superiores e queria ter uma solução definitiva para uma situação que já se arrastava por muito tempo. Ele poderia escolher um outro departamento desde que fosse aprovado por ela. E só. 
Hotchner foi incisivo. Não deixou espaço para ela pensar pois essa decisão ela não havia considerado. 

- Esta equipe é boa no que faz, você não pode dissolvê-la assim.Temos tido muito mais resultados positivos do que o contrário. Mas tenho uma proposta. Se o problema é minha capacidade de julgamento para tomar decisões, para comandar, eu abro mão disto. Estou promovendo internamente Derek Morgan para a chefia deste departamento e a ele me subordinarei sem quaisquer restrições.


Erin Strauss parecia não acreditar no que estava ouvindo. Já havia tido embates com diversos funcionários, mas nunca havia encontrado uma pessoa tão obstinada assim. Ele estava prestes a abrir mão de tudo em sua carreira, prestígio, salário, regalias, até respeito, em nome de não abrir mão de uma crença. A de que estava fazendo a coisa certa em manter a equipe unida. Já havia cruzado com chefes paternalistas que protegiam seus subordinados com toda a convicção, mas Aaron Hotchner era um exemplo de renitência. 

- Você não pode recusar. O que está sendo posto em discussão aqui é a minha capacidade de chefiar uma equipe e eu estou abrindo mão desta atribuição. Derek Morgan é meu melhor agente em campo e também um profiler exemplar. Tem espírito de liderança, é equilibrado e sempre agrega ao seu trabalho os melhores resultados. Se eu estiver prestes a errar, ele é a pessoa correta para me alertar disto. É jovem, cheio de ambições e está totalmente preparado para assumir a chefia deste departamento, sem restrições.



Strauss estava confusa o suficiente para não entrar numa discussão sobre os motivos de Hotchner para tomar esta decisão. Ela realmente não esperava por isto. Mas, também não tinha como refutar tal pedido. Se estava bom para ele, para ela também estaria. Ela tinha a impressão de que ele se enforcaria com a própria corda e isto para ela era o suficiente.
 
- Preciso revisar isto com o diretor.

Quando ela saiu, Hotchner respirou fundo e passou a revisar suas palavras. Tinha certeza de que tinha tomado a decisão certa. Já havia lhe passado pela cabeça tal idéia, a de deixar a chefia do departamento em detrimento de poder acompanhar de perto a captura de Foyet. Não podia afastar-se naquele momento. Não queria. Qualquer coisa seria melhor do que deixar o BAU naquele momento. Já havia perdido muitas coisas por aquele trabalho. Havia perdido seu casamento, seu filho, sua crença em dias melhores, não iria perder a oportunidade de capturar o homem que havia tornado sua vida um inferno. Além do que, sabia que eram mínimas as chances de manter a equipe unida com a sua saída.

Morgan estava longe de estar preparado para assumir seu cargo. Culpa sua. Poupava seus meninos de maiores responsabilidades, dos trabalhos chatos, da burocracia e da política. Pedia a eles que fizessem aquilo que sabiam fazer de melhor . O resto ele resolvia. E sempre podia contar com Rossi ao seu lado, o que era de grande valia. 

Morgan também deveria disciplinar seu temperamento. Graças á Deus Erin Strauss não conhecia tão bem assim os membros de sua equipe para questionar o nome de Morgan. Mas ele era sua melhor opção. Morgan tinha um gênio difícil, mas o respeitava profundamente. Sabia que ele entenderia seus motivos e quem sabe, com sorte, poderia um dia no futuro, ter seu cargo de volta. O importante agora é que deveria fazer o que tinha que ser feito. Preparar Morgan para o que estava por vir.



Quando JJ entrou em sua sala ,antes de ir embora, para ver se estava tudo bem com ele, teve que se conter para não deixar suas emoções transparecerem. Não que isso fosse incomum, mas naquele momento, Hotch estava sentindo todas as emoções do mundo perpassando por seu coração e ninguém da equipe deveria perceber nada até que ele estivesse pronto para comunicar sua decisão.

Quando pela manhã chegou o novo caso, a de mulheres desaparecidas em Albuquerque, Novo México, sabia que teria uma oportunidade única de por à prova a eficiência e a resistência de Derek Morgan. Tinha tudo para ser um daqueles casos terríveis e não haveria melhor momento para pressioná-lo. E foi o que fez. Foi difícil manter o foco no caso e ao mesmo tempo apertar Morgan de forma adequada. Naturalmente, sem precedentes, ele estrilou. Reclamou de preencher papéis que antes nunca havia preenchido, reclamou pela falta de confiança de seu chefe em seu pré julgamento, estranhou estar sendo questionado. Hotch nem se quer se surpreendeu quando Morgan invadiu a sala da delegacia como uma bala reclamando sob a pressão de escrever um plano para justificar a detenção dos unsubs sem ferir prováveis crianças feitas reféns. Afinal, ele desconhecia aquele trabalho, culpa sua, de novo, pois era sempre ele quem fazia estas coisas. O que Hotch de fato lamentou foi pegar pesado com Morgan sem poder antecipar o que iria acontecer. Mas testar sua capacidade e principalmente sua confiança era fundamental. O que o preocupava mesmo era seu temperamento, mas vendo-o naquele quarto negociando com a mãe a criança que ela detinha em seus braços, Hotch teve certeza de que estava agindo corretamente.
Sentiu de fato grande alívio quando o caso foi encerrado e ao voltar, pôde finalmente ter uma conversa franca com Morgan. Achou a princípio que seria uma conversa difícil e muito constrangedora, mas foi mais fácil do que imaginara. Na verdade sentia-se aliviado naquele momento em poder dividir seus sentimentos com alguém como Morgan.



Claro que pegou o rapaz totalmente de surpresa e ficou lisonjeado com o fato de saber que tinha seu total apoio para enfrentar Erin Strauss se assim quisesse. Mas haviam batalhas que não deviam ser disputadas. A despeito de todo o apoio de Morgan, sabia que era o momento de ceder. Dividir para conquistar. Sabia que estava tomando a decisão correta. Achou graça de Morgan quando ele reclamou por ter sido pressionado, pobre rapaz, ele nem imaginava o que o esperava. 

Foi uma longa noite. Horas de explicações, antecipação de fatos dos quais Morgan deveria estar ao par, foi de fato, cansativo. Quando a exaustão se abateu sobre os dois, Hotch o mandou para casa descansar pois seria um dia muito longo e cheio de novidades o que viria a seguir.

Despediram-se nas escadas e Morgan antecipou-se a ele com duas caixas de papéis em suas mãos. Hotch, no entanto, ficou mais uns minutos em seu escritório. Olhou para as paredes à sua volta, como a estudar o que viria pela frente. Fechou a porta atrás de si e desceu as escadas distraidamente. Caminhando por entre as mesas teve por um momento uma lembrança, de um dia não muito distante, de estar seguindo Emily por entre os corredores do Bureau, quando ele já permitia que o cansaço e a bebida daquele noite guiassem os seus pés. Confuso, não sabia o que mais o surpreendia, afinal, estava com tantas preocupações no momento em sua cabeça que não imaginava porque havia se lembrado daquilo. Aliás, nem lembrava-se de quando passara a pensar na agente Prentiss como Emily. Não tinha idéia de porque naquele momento a visão do corpo de Emily guiando-o à sua frente lhe parecia tão confortável, mas havia sido um dia exaustivo e a presença desta imagem em sua mente lhe fazia bem. Seguiu até seu carro como se a seguisse também e era com este imagem agradável, mesmo que não soubesse bem do porquê, que ele desejaria terminar sua noite. Com a imagem do corpo de Emily em sua mente. O corpo de Emily.

Um comentário:

  1. Bom resumo dos acontecimentos. Gostei de como contou todo esse momento de escolha do Hotch para o Morgan. Não vejo o Morgan como o menino xiliquento que a maioria vê. É mais explosivo, porém também foi um bom líder. Mas o melhor é e sempre será o Hotch.
    E voltou a pensar na Emily. 😍
    Gostei.

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