sexta-feira, 24 de agosto de 2012

FIC - PEDRAS NO CAMINHO - CAPÍTULO 8



"(…)
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê."
…porque o amor é assim mesmo…
Sente-se…apenas!”


Luis de Camões



Ao entrar no avião, Emily Prentiss constatou o inevitável. A cadeira ao lado de Aaron Hotchner estava vazia e não havia grande número de opções disponíveis. Todos esperavam que se sentasse ao lado dele, como fizera dezenas de vezes nos últimos anos. Todos esperavam pelo óbvio e não fazê-lo seria ainda mais óbvio. Sentou-se, mas procurou não olhar para os lados. E não pôde esperar para que os outros se manifestassem. Lembra-se de ter feito um comentário sobre a cor dos olhos das vítimas e só sentiu-se mais tranqüila quando todos começaram a discutir as possibilidades do caso. Começou a sentir-se mais à vontade à medida que a conversa esquentou, mas não pôde deixar de sentir uma pontada de dor quando ouviu JJ dizer que as famílias queriam falar com o líder deles. Sentiu uma vontade imensa de olhar para ele naquele momento, de apoiá-lo, pois sabia o que ele devia estar sentindo, mas engoliu em seco suas lamentações e prosseguiu com as discussões sobre o caso. Para seu alívio, não iria acompanhar Hotch à delegacia o que lhe dava algum tempo para se recompor adequadamente. 



Nos momentos em que esteve sozinha, Prentiss procurou pôr seus pensamentos em ordem. Em que momentos deu sinais a Hotchner de que estava preocupada a ponto dele tranqüilizá-la particularmente? Tinha certeza de que não estava sendo inapropriada, de que sua conduta estava dentro dos padrões aceitáveis de uma agente preocupada com um colega de trabalho que estava passando por um momento difícil. Droga! Odiava admitir, mas deveria ter dado muito na vista para ele comportar-se assim. Precisava consertar isto. Mas não podia negar o efeito devastador daquele sussurrar em seu ouvido.


- Vai dar tudo certo! – Quatro palavras ditas de forma tão acalentadora que não sabia o que era pior, o medo pelo motivo pelas quais haviam sido proferidas ou o impacto que o murmurar deste homem havia produzido, fazendo-a sentir-se quente, muito quente em pleno horário de trabalho. E o que foi aquele toque em seu ombro? Leve e rápido, mas ela poderia descrevê-lo por uma eternidade. Ele a havia tocado. Aaron Hotchner não fazia isto. Nunca. Foi um toque íntimo, como se quisesse protegê-la de todos os males do mundo. Não compreendia bem os efeitos de tudo aquilo, mas tinha a certeza de aquilo não havia terminado ali. E gostava disto. 



Quando chegou à obra abandonada, viu que Hotchner havia feito seu trabalho. Morgan ficou indignado com Hotch pelo seu comportamento, mas ela sabia bem que aquilo era apenas uma pequena inversão de papéis. Morgan estava experimentando aquilo pelo qual seu ex-chefe passara diversas vezes. E aquilo era inusitado. E divertido. Morgan olhou para ela na esperança de uma ajuda, de uma aprovação, mas Emily não tornaria as coisas mais fáceis para Morgan. Preferia abster-se de qualquer comentário. Quando Morgan afastou-se, Hotch lançou para ela um olhar divertido, que há muito ela não via naquele homem, e não pôde conter um breve sorriso. Ele afastou-se rápido, murmurou alguma coisa, mas ela poderia jurar que havia algo ali, o olhar de um Hotch que a via de uma forma diferente de alguns dias atrás. Tudo bem, havia a adrenalina de pegar o cara sozinho, e ele precisava desta descarga, havia a insolência de um subordinado quase rebelde, que ele há tempos não podia se dar ao luxo de ser, mas não era só isso. Havia algo mais. Ele a notara. Ele a tocara. E agora, ele sorrira para ela.

A viagem de avião pareceu mais longa na volta. Assim que pôde, sentou-se ao lado de JJ, que tirara da carteira uma foto muito linda de seu filho e ficara a admirá-la.

 
-Ele é um bom motivo para voltar para casa,não é?
-É, ele é meu melhor motivo – JJ estendeu a foto para Prentiss que a pegou.
- Ele está lindo! Aposto que você sente falta dele o tempo todo.
- É difícil sair de casa pela manhã e deixá-lo. A babá é ótima, mas está longe de ser a mesma coisa.
-Eu entendo. Por isso acho que filhos não combinam comigo. Acho que enlouqueceria longe deles.
-Ao menos o Will me apóia. Na verdade ele está tentando uma transferência para cá, pois está muito difícil para todos nós com ele longe.
-É, é bom ter um homem ao seu lado para apoiá-la.
-Emily, você sabe que não é crime se apaixonar, não é?
-Do que você está falando?
-Dele! – JJ fez um gesto com a cabeça, indicando umas poltronas atrás, onde Hotch descansava.



Emily gelou. Não podia acreditar que iria ter esta conversa.

-Sou tão óbvia assim?
- Bem, eu percebi, acho que não fui a única. Todos nós estamos preocupados com ele, mas você se entrega no olhar. Mas ele não parece ter notado. Está com outras coisas na cabeça.
-Ahn!
-Ninguém aqui a recrimina. Ninguém escolhe por quem se apaixonar. Com você não é diferente. E ele é um bom homem. E está precisando como ninguém de alguém que o conforte. Toda esta situação com o Foyet, com Jake, isto deve estar enlouquecendo-o. Talvez, se você se aproximasse, isso não fosse de todo ruim.
-JJ, está maluca? Ele é meu chefe. Quer dizer era. Quer dizer, espero que volte a ser. Ah!, você me entendeu!
-E daí?
-Como, e daí? E todo aquele papo de relacionamento entre agentes e tal? Acha que eu posso arriscar todo este constrangimento?
- Emily, você é tão inteligente, será que não pode parar para raciocinar somente um instante? Vai me dizer que ninguém dorme com ninguém dentro do FBI? Você nunca ouviu falar do agente Dawson? Dizem que ele vive com a agente Forlay há três anos e embora nada seja oficial, parecem muito felizes. E este é apenas um caso. O que eu ouço na minha mesa......Vai dizer que você também não ouve!
-Olhe JJ, ele está me enlouquecendo mesmo, não vou negar, tenho tido dificuldades em manter isso em segredo e pelo visto, não tenho obtido sucesso. Sonho à noite com ele, acordo e não consigo dormir novamente, tenho dificuldade em me concentrar, está muito difícil trabalhar ao lado dele, mas daí a chegar para ele e dizer que estou apaixonada, vai uma distância de quilômetros.
-Bom, não precisa ser assim. Vocês estiveram bem próximos durante a recuperação dele, isto pode ser um bom gancho para você se aproximar dele, deixá-lo falar, desabafar. Ele deve estar precisando. E você é mulher, sabe como fazer essas coisas.
- É, sei mesmo. Achei que guardasse o maior segredo do mundo e você me diz que não há segredo nenhum. Sou mestre nisto. Não acredito que todos saibam!
-Eu não disse que todos sabem. Apenas que desconfiam.


-Todo mundo?
- Hum, hum!
-Rossi também?
-Acho que sim.
-Tô ferrada. E Garcia. Ela percebeu. Dela eu tenho certeza. Veio falar comigo que o Hotch ia ficar bem. Ela sabe.
-O Morgan tem quase certeza.
-E o Reid?
-O Reid, bem, o Reid é o Reid, você sabe, coisas do coração para ele têm que ser gráficas, senão ele não percebe. Nem se preocupe com ele.
-O que você faria no meu lugar?
- Não sei, talvez desse tempo ao tempo, mas sem abandonar meus objetivos.
-Acho que ele ainda sente alguma coisa pela ex dele.
-Não, ele está abalado porque se sente culpado por ela ter se tornado uma vítima do Foyet, mas não acho que ainda exista algum sentimento aí. É só culpa. Acho que ele foi muito apaixonado por ela, mas agora o que restou foi este sentimento de culpa pelo que está acontecendo. Ele deve ter sofrido muito com a separação, mas acho que superou isto.
- Pode ser. Sabe JJ, eu tenho uma coisa de só me apaixonar por caras errados, tenho um radar ativo para canalhas de carteirinha, caras que só me fizeram sofrer. Pela primeira vez em minha vida me apaixonei por um cara decente e já sabemos quem ele é e como vai ser difícil fazer isto dar certo. Por que eu deveria insistir neste sentimento que tem grandes chances de ser unilateral?
-Se eu disser para você desistir deste sentimento você vai deixar de sonhar à noite com ele? Vai deixar de acordar encharcada de suor? Vai deixar de sentir calafrios quando ele chegar perto de você? – JJ olhou para ela com uma sobrancelha levantada e um sorriso no rosto.
-É, foi o que pensei. Então, por que não tentar?

O avião pousou e elas se despediram.

Emily foi para casa pensando no que JJ havia dito. Diabos! Ela sempre complicava tudo. Por que se apaixonar pelo chefe? Tá, ela sabia que ele não era mais seu chefe, mas e daí? Ela sempre o veria como chefe. E agora, todos sabiam o que sentia. Nunca se sentira tão exposta. A enigmática Emily Prentiss transparente como água em um copo.Entrara para o BAU para se provar como profissional inquestionavelmente competente e não para sentir-se vulnerável às travessuras de seu coração. Como seria daqui para frente? Bom, se todos sabiam, ou ao menos desconfiavam, já não tinha muito a perder. Não queria por em risco seu emprego já que lutara tanto para estar lá, mas não podia deixar de lutar também por seu coração, tão sofrido e solitário. Já não era uma menina. Quanto teria de esperar para ter ao seu lado um homem que a amasse de fato e que aquietasse seus anseios?

Chegando em casa, enfiou-se em um banho muito bem vindo. Deixou que a água morna lhe desenhasse o corpo por minutos e imaginou que ele poderia estar ali, ao seu lado. Ouvia sua voz murmurando: - Vai dar tudo certo! - E quase podia sentir sua barba por fazer roçando em seu pescoço. Era como se sua mão nunca tivesse saído de seu ombro. Estava enlouquecendo. Permitiu-se ter prazer prolongando a presença daquela mão no seu corpo, daquele respirar quente em sua nuca, daquelas palavras em seu ouvido. Sentia-o tão presente que ao atingir o clímax murmurou seu nome : Aaron. E quando terminou, tudo o que queria é que ele estivesse lá para chamar por seu nome também.

Ela precisava daquilo para se manter viva. Ela precisava daquilo para mantê-lo vivo. Ela sabia o que fazer. Não seria fácil. Mas o que tinha sido fácil para Emily Prentiss até então?

Um comentário:

  1. Gostei muito desde especial do mesmo capítulo na versão dela. Acho que completou a lacuna e muito adequando a escolha da JJ para incentivar ela.
    Também gostei de como narrou os acontecimentos. Agora, imagino que o seguinte conta o encontro deles. Quem vai até quem? Ela caiu bater na porta dele ou i inverso?
    Vou matar a curiosidade. 😉

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