sexta-feira, 24 de agosto de 2012

FIC - PEDRAS NO CAMINHO - CAPÍTULO 6





 

OS HOMENS SÃO FEITOS DE MANEIRA A RESISTIR A UM SÓLIDO ARGUMENTO, MAS A CEDER A UM SIMPLES OLHAR. 
 
Honoré de Balzac



Emily despertou em sua cama totalmente encharcada de suor. Com um movimento puxou o despertador para perto de si para descobrir que ainda eram 2:56h e a madrugada estava apenas começando. Acontecera de novo. Estava sonhando com ele. Não lembrava-se com exatidão do que o sonho tratava, mas tinha certeza de que o corpo do homem que amava estaria ao seu alcance ao despertar. E esticou os braços por sobre os lençóis só para ter a lamentável constatação de que estava sozinha. Emily ficou deitada mais uns minutos, olhando para o teto de seu quarto. Havia sido um sonho quente. Bocas se unindo, corpos ardentes, promessas e juras, palavras inconfessáveis, mãos que deslizavam e se tocavam a todo instante. Ela quase podia sentir as mãos de Hotch, suaves, mas muito firmes, ainda em seu corpo. Havia sido um sonho quente. 


Levantou-se e bebeu água, toda a garrafa gelada que encontrou em sua geladeira. E ficou olhando pela janela. Na rua, uns poucos carros ainda iluminavam o tapete negro que se estendia para longe. Mas o silêncio reinava. Poucos ruídos chegavam ao seu ouvido. Emily pensou no quão ridícula ela estaria parecendo naquele momento. Sentiu-se de volta ao campus de sua Universidade, quando os hormônios falavam mais alto e as estórias contadas pelas suas amigas aguçavam ainda mais a sua curiosidade. Sentia-se como uma adolescente.



Voltou para a cama, mas custou a dormir novamente. A voz de Aaron Hotchner lhe fazia companhia em seus pensamentos, os olhos dele pareciam espelhos dos seus, o corpo do homem que amava lhe fazia falta ao seu lado. Como o amava! Como o desejava! E como estava sendo idiota, muito idiota, acordada naquele horário, deixando de usufruir de um descanso que no dia seguinte lhe faria falta, pensando em um homem que a tratava como sua “agente em campo” e nada mais. Brava consigo mesma e com alguma dificuldade, Emily adormeceu novamente.


Pela manhã, no caminho do escritório, pegou-se pensando em alternativas para reverter aquela situação. Não tinha porque sustentar um sentimento que não levaria a nada. Não iria viver da companhia de um fantasma ao seu lado, na esperança de que este homem lhe remetesse um sorriso, lhe dirigisse uma palavra mais afetuosa. Não, chega! Tudo na vida tem que ter limites. Ela se apaixonou, iria aprender a se desapaixonar. Iria se concentrar no seu trabalho, voltaria a sair nas suas folgas com algumas amigas e iria se apaixonar novamente por um homem que lhe merecesse. Já dentro do elevador, Emily sorriu de si mesma, como se quisesse acreditar que tudo que decidira aconteceria de fato. Sabia que com a mesma facilidade que ela discursava para si mesma querendo acreditar no que dizia, ela seria desarmada pelo primeiro olhar de Hotch. Ou quando o ouvisse dizer seu nome. Quem ela queria enganar! Enfim, ao chegar poucos minutos após o horário foi pega de surpresa por uma reunião que acontecia a portas fechadas com toda a sua equipe.


- Só estávamos aguardando você chegar. -  Hotch tinha os olhos mais escuros que o normal, se é que isso fosse possível.
- Desculpem-me, peguei um pouco de trânsito. Algum caso urgente?
- Emily, sente-se. - Morgan disse meio desajeitado. Emily reparou inclusive que Garcia estava presente à reunião, coisa que só acontecia em casos muito sérios.



-Ok! É o seguinte. – Hotch parecia não saber bem por onde começar.
- Vocês sabem que eu tenho lutado o tempo todo para manter este grupo unido e com as melhores condições de trabalho possíveis. Eu sei que trabalho com os melhores profissionais que existem na nossa área e nosso departamento só é um dos mais eficientes dentro do FBI porque existem duas coisas fundamentais que solidificam este grupo: competência e confiança. Competência eu sei que vocês tem de sobra. O que eu preciso que vocês tenham neste momento comigo é confiança. Claro que vocês sempre confiaram em mim, mas eu preciso que agora vocês confiem ainda mais. Eu tive que tomar uma decisão difícil e preciso que ela não seja questionada por nenhum de vocês. Eu fiz o que eu acho ser o mais acertado para o time, para todos nós, inclusive para mim. A partir de hoje todos nós, e isto me inclui no grupo, teremos um novo chefe. Morgan está assumindo a chefia deste departamento no meu lugar. Eu irei continuar a trabalhar aqui com vocês, mas todos passam a reportar-se diretamente ao Morgan. 


Hotch ia continuar falando, mas sentiu que seus agentes precisavam de um momento para absorver aquelas informações. Tomou dois goles de um copo de água que estava à sua frente e prosseguiu.


- Morgan vai precisar de todo apoio e tenho certeza de que isto não faltará a ele por parte de nenhum de nós. É provável que mais tarde todos vocês recebam um memorando da Diretoria efetivando a promoção e comunicando as mudanças ocorridas no departamento, mas eu quis que meus..... meus melhores amigos soubessem disto diretamente de mim. 

Emily ainda estava tentando processar a informação. Não entendia como aquilo tudo estava acontecendo. Queria explicações, queria saber porque. Nada contra Morgan, mas aquilo tudo tinha que ter um motivo para acontecer.


- Você só vai dizer isso? Quer dizer, por que você tomou essa decisão? 


Hotch suspirou. Ele sabia que se alguém o questionasse naquele grupo esse alguém seria Emily Prentiss.



- Emily, tenho certeza de que vocês vão ouvir toda a sorte de boatos nas próximas horas, mas eu não acho produtivo ficar aqui explicando minhas razões. Por isso pedi que confiassem em mim. Espero que isto seja o suficiente.


Emily se calou, embora todas as palavras quisessem escapar de sua boca. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Será que ele nunca teria paz? Apostava o que tinha de mais valia que isto era obra daquela cobra da Strauss e a odiava ainda mais por isto. Olhou para Hotch por uns instantes,tentando decifrar que sentimentos seu rosto refletia, mas encontrou uma expressão impenetrável, despida de sentimentos, quase inumana. Aaron Hotchner mais Aaron Hotchner do que nunca.


- Agradeço todo apoio que tive de vocês e espero que ele nunca falte ao Morgan. O que vai acontecer amanhã, depois de amanhã, na verdade eu não sei. Apenas o tempo vai poder dizer. Temos um caso novo e precisamos nos concentrar nele agora. Morgan, acho que você deve ter alguma coisa a dizer.


- Apenas quero que vocês saibam que fui pego de surpresa da mesma que forma que vocês. Hotch me pediu que confiasse nele e assumisse a chefia do Departamento e é o que estou fazendo. Tenho certeza de que isto será uma coisa provisória, então apenas vamos tocar as coisas da melhor maneira possível.

Foi Garcia que interrompeu o silêncio constrangedor que se formara no ambiente.

- Você vai ter uma sala?
- Sim, Garcia – Hotch se antecipou à resposta – Vou deixar minha sala livre nas próximas horas e Morgan se mudará para lá.
- Nãaao! De jeito nenhum. Não quero sua sala Hotch, não quero ficar ali. Aquele espaço é seu e não vou me sentir à vontade nele.
- Mas você precisa de uma sala, de privacidade. Se vamos fazer isto, temos que fazer direito.



- Posso verificar se temos algum espaço livre, alguma forma de remanejamento, para que Morgan tenha um espaço, mas não tenha que ocupar a sua sala. - JJ, sempre de forma muito eficiente, reforçou ainda que esses remanejamentos eram muito comuns no Bureau por força das constantes alterações de cronogramas devido às prioridades que se estabeleciam no dia a dia.

- Olha cara, eu vou fazer o que você me pedir, mas não me faça ocupar aquela sala, ok?

Hotch assentiu levemente e percebeu de imediato como seria difícil fazer aquela transição. Seria difícil para aquelas pessoas passarem a vê-lo apenas como um igual, seria mais difícil para Morgan ser visto como um líder, com a presença dele ali, tão próxima.

- Ok, temos trabalho a fazer, então, que tal JJ passar o caso para nós? Morgan ainda olhou para Hotch como que esperando uma aprovação por sua atitude naquele momento, mas ela não veio.

Durante a exposição do caso, Emily perdeu-se em pensamentos. Como aquilo seria provisório? Por que ele tinha tomado aquela decisão? Como ele estaria se sentindo naquele momento? Ela sabia que ele sempre fora orgulhoso, vaidoso mesmo da posição que alcançara dentro do FBI. Como ele iria lidar com aquilo? Era como dar dois passos atrás. Precisava ter cautela pois não deveria parecer interessada demais em como ele estava se sentindo, mas também queria estar atenta aos sinais, caso ele estivesse precisando de ajuda.


- Ok! Então no avião em trinta minutos! – Morgan disse, ainda que pouco à vontade em convocar seus colegas. – Emily, tudo bem?
- Sim, claro, tudo certo. Vou juntar algumas coisas e já nos encontramos no avião.


Garcia, atenta à tudo à sua volta, fechou sua pasta, recolheu alguns outros papéis, sua caneta do Garibaldo e seu celular e, ao passar por Emily, ainda sentada em sua cadeira, cochichou em seu ouvido:
- Ele vai ficar bem! Não se preocupe! - E seguiu em frente sem olhar para trás, mas com um leve sorriso estampado no rosto. Garcia adorava quando tinha razão.



Ela sentiu um frio na espinha. De que ela estava falando? De Hotch? De Morgan? Será que ela era tão óbvia assim? Certo mesmo, é que precisava retomar o controle da situação. Levantou-se e antes de passar em sua mesa foi ao toaillete, lavou o rosto, molhou a nuca, olhou-se no espelho e respirou fundo. - Bem, vamos trabalhar.
Já em sua mesa, verificou tudo o que deveria ser levado, checou os itens em sua pasta, e certificou-se de que não havia nada faltando. Rossi passou por ela carregando sua maleta e perguntou se Reid precisava de ajuda com as muletas. Ambos seguiram para o elevador e Emily acreditou ser a última a sair do escritório. Permitiu-se então, antes de sair, parar para tomar um café rápido. Pegou a caneca, abriu o adoçante e antes que pudesse servir-se, sentiu atrás de si uma presença, depois uma mão apoiada levemente em seu ombro, e em um murmúrio em seu ouvido, por entre as mechas de seu cabelo, uma única frase:

- Vai dar tudo certo, Emily!

E antes que pudesse se virar, Hotchner já havia seguido para o elevador.
Emily não podia se mover. Não queria nem saber porque ele achara que precisava dizer isto à ela. Tinha medo da resposta, qualquer que fosse ela, não poderia ser boa. Ela pôs o café de lado, pegou suas coisas e seguiu para o avião. Durante todo o caminho procurou não pensar em absolutamente nada, apenas ouvir aquela frase como um mantra em seu pensamento, como forma de se convencer de que o homem que amava tinha razão: Vai dar tudo certo! Vai dar tudo certo!

Um comentário:

  1. Esse final valeu o capítulo. 😍
    Pobre Emily... Todos notaram a até o Hotch. Estou ansiosa pelo porvir.
    Agora a vida ficou boa. 😍

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