quarta-feira, 10 de outubro de 2012

FIC - DECISÕES - CAPÍTULO 2





"NADA É MAIS DIFÍCIL, E POR ISSO MAIS PRECIOSO, DO QUE SER CAPAZ DE DECIDIR.”

( Napoleão Bonaparte )





Foi a visão mais difícil que ele podia pensar em ter. Ela parecia estar um trapo. Ferida, sangrando, sofrendo, mas era Morgan quem tinha as mãos dela entre as suas. Queria se aproximar, afastá-lo dela, tomar suas mãos nas dele, dizer o quanto a amava e o quanto sentia por tudo aquilo. Mas não podia. O tempo era definitivo, e de seu aproveitamento surgiriam suas conseqüências.

Enquanto se aproximava a equipe de resgate, que lhe aplicava os essenciais primeiros socorros, buscou JJ com os olhos. Precisava falar com ela. Quando teve oportunidade, pegou-lhe pelo braço, já que relutava em se afastar da amiga, de acompanhar o desenrolar dos fatos.
- Lá fora, JJ. Agora.

Ela não entendeu porque qualquer coisa naquele momento poderia ser mais importante do que saber como sua amiga estava reagindo a todo o sofrimento. Mas era Hotch a lhe chamar. Ela sabia que devia ser algo muito importante.

Ele só teve alguns minutos e um coração dilacerado para decidir o que seria melhor para Emily, caso ela pudesse resistir. Certificou-se de que estavam a sós.
- Hotch, isto não pode esperar? Quero ficar perto dela!
- Não, JJ, não pode. E eu também quero você perto dela. É exatamente isto!
A moça olhou confusa para ele. Sempre desconfiou do quanto Emily significava para seu antigo chefe. Haviam rumores, palpites e fofocas sobre seus sentimentos pela agente morena que ele observava com olhares discretos, mas sempre mais demorados e que terminavam geralmente num desviar de olhos encabulado e uma frase de efeito. Se ele havia se apaixonado por ela, jamais iria admitir, mas isso não impedia que os demais percebessem o efeito que ela provocava nele.
- Doyle escapou...
- Eu percebi, mas acho que podemos nos focar nisto depois, Hotch....

- Não há depois JJ. Se ela sobreviver e ele souber disto, virá atrás dela novamente! Não sei se podemos pegá-lo antes de.....ele tentar matá-la de novo.....
- E....?
- E que eu quero garantir que ela desapareça por um tempo caso ela sobreviva. Quero você perto dela o tempo todo. Vou providenciar para que você tenha acesso a ela, caso ela fique consciente. Quero que explique a ela o que vai acontecer..... Nós diremos que ela está morta. Ninguém além de nós saberá! Isso nos garantirá tempo para capturá-lo definitivamente.
- Nós nem sabemos....
- Ela vai resistir, JJ. É a nossa Emily. Ela vai resistir! Tenha fé. E quando isto acontecer, quero você lá para explicar a ela a minha decisão. Ela não vai gostar, vai querer fazer as coisas da maneira dela e isto não pode acontecer. Ela vai te ouvir. Diga a ela que isto irá proteger a equipe, Garcia, Reid, Morgan... Isto a fará mudar de idéia......
- Não sei se entendi, você quer dizer a todos que Emily morreu?
- Só vai funcionar se for assim, JJ. De outra forma nós vamos colocá-la em risco.
- Isso vai matar todos eles....
- Eu sei....Eu sei....
- Hotch, deve haver outra forma......
- JJ, vá com ela na ambulância. Eles já estão saindo. Eu confio em você. Eu faço o resto. Tenho contatos, vou providenciar tudo o que for necessário. Diga a ela que será por pouco tempo. Eu juro, será por muito pouco tempo.

Suas mãos apertadas junto ao corpo se contraiam tanto que JJ pensou que ele iria se ferir com os próprios dedos. Ela sentiu pena dele. Sabia o que tal decisão acarretaria. Sentiu pena daquele homem que parecia que nunca na vida iria parar de sofrer.

- Vá com ela!
- Você quer... – ela não sabia bem como perguntar aquilo - ...quer que eu diga algo para ela? Quer dizer, você tem mais alguma coisa para dizer..... – JJ atrapalhou-se um pouco, estava invadindo um terreno perigoso.

- Não, vá. Eu te ligo. Vou te colocando ao par. Me avise assim que tiver um parecer médico. E.... JJ: ninguém, certo, ninguém, família, amigos ou não, somente eu e você deveremos saber como as coisas vão acontecer...
- Certo. Eu entendi. Vou indo....
Ela afastou-se um pouco e correu em direção à maca que estava sendo encaminhada à ambulância.
- JJ.....
Ela olhou para trás e o inquiriu com certa urgência.
-Nada, nada não..... Vá!

E Jennifer Jareau deixou para trás um homem devastado pelo fatos, mas, que ainda assim, procurava se manter profissional o suficiente para garantir que sua agente ficasse protegida. Era uma decisão arriscada a dele, ela sabia que se Emily resistisse a tantos ferimentos e sobrevivesse, iria protestar, contestar a decisão. Ainda assim, havia primeiro a necessidade de crer que ela resistiria. Isto agora, era o mais importante. E com este pensamento, entrou na ambulância que as levou à Emergência do Hospital Geral de Boston.


A consciência ia e voltava. Ouviu Morgan falando com ela, pedindo que resistisse. Pediu a ele que a deixasse partir. Estava tão cansada. Não era mentira. Estava exausta e o mais próximo do descanso para ela naquele momento era morrer. Tudo doía. Os sons iam e vinham. Achou que seria JJ com ela na ambulância. Devia estar delirando. JJ estava em Washington naquele momento. Não podia estar ali com ela. Havia tanto barulho e claridade. Será que não podiam apagar tudo aquilo? O que era aquele homem com fios em seu peito, gritando alguma coisa para outra pessoa? Haviam momentos de paz. Em que os ruídos cessavam e as luzes se apagavam. Eram bons momentos. Mas logo então começava tudo de novo.


Alguém dizia alguma coisa enquanto o carro onde estava dava solavancos, mas ela queria convencer-se de que havia feito a coisa certa. Deus, ela amava aquela família e poupá-los era um preço baixo a pagar se comparado a vê-los passar pelo que ela estava passando. E também havia Declan.... era bom saber que ele estava protegido, longe da influência de Doyle. Sim, tinha valido a pena.
Enquanto as pessoas à sua volta se debatiam e gritavam coisas que para ela não tinham sentido, uma lágrima veio aos olhos quando lembrou-se da mensagem de Penélope. Ela os queria longe de Doyle e eles a estavam procurando. Embora ela não pudesse esperar nada menos do que isto de sua equipe, lamentou tanto trabalho por nada. Sentia-se cansada demais para imaginar o sem número de explicações que teria que dar aos seus companheiros quando estivesse em condições. Deus, eles iriam ficar bravos com ela! E como! E mesmo sabendo que fez o que fez achando ser o melhor, não tinha certeza de que seus amigos veriam as coisas desta forma.
Era mesmo JJ ao lado dela na maca? Ela estava tentando lhe dizer algo? Se aquele paramédico parasse um pouco de dizer tantos números ao seu companheiro, ela talvez pudesse ter certeza de que JJ estava mesmo ali. As imagens iam e vinham. De repente sentiu um peso enorme no peito, como se lhe tivessem aplicado um choque. Sim, ela não estava delirando. Era JJ ao lado dela. Ela dizia coisas que não conseguia entender. Como sua amiga fora parar ali? Hotch podia ter ligado para ela. Hotch. O agente especial Aaron Hotchner. Aquele homem por quem vivera uma vida de espera. Seu grande arrependimento. As coisas que deveria ter-lhe dito. As coisas que deveria ter arriscado. Doyle..... Será que eles entenderiam que nunca foi amor? Será que eles entenderiam que foi pela missão... Ou talvez porque o homem que amava e não lhe saía da cabeça nunca seria seu. Agora, tanto fazia.






Viver com as conseqüências de suas decisões nunca havia sido difícil até que suas decisões afetassem as pessoas que amava. Pensando bem, seria bom se as pessoas com quem trabalhasse fossem apenas colegas com quem trocasse cartões de Natal. Não haveria tanto sofrimento. Não haveria envolvimento. Não haveria dor.
Num movimento meio sem consciência moveu sua mão direita até seu abdômen e sentiu o líquido quente e grudento espalhar-se por entre seus dedos. Vira sangue inúmeras vezes nas vítimas dos casos em que trabalhara, mas nunca o sentira de fato. Agora, aqui, sem luvas, na carne exposta, aquilo lhe parecia mais real do que gostaria que fosse. Um momento de paz e então agora parecia estar numa mesa, numa sala qualquer de hospital. Haviam muito mais pessoas à sua volta e ela só queria dormir.
Aos poucos, todas as coisas à sua volta pareceram estar se findando, os ruídos pareciam remotos, as luzes pareciam mais fracas, as vozes pareciam mais distantes. Se isso era morrer, talvez não fosse assim tão ruim. Não queria pensar nas coisas tristes, então não pensou em seus amigos chorando, lamentando sua morte. Tentou afastar de sua mente a imagem de Reid inconformado, de Morgan revoltado ou de Penélope inconsolável. Procurou se lembrar daquela tarde nas escadas da casa de verão de sua mãe, onde viu um certo agente de terno escuro e olhos brilhantes, que se esquivava dos seus olhares e cheio de responsabilidade ignorava a forma furtiva como era observado. Era aquela a imagem que queria manter viva como sendo a sua última. A imagem do único homem que amou de verdade. E por quem valeria a pena morrer.
E não pôde se lembrar de nada mais......
 

Um comentário:

  1. Isso sim que deve ter sido difícil. Mentir a todos que gosta para salvar seu amor.
    E pobre Emily, ignorava o fato de ser retribuída. Serio... Um capítulo bem dramático e ao mesmo tempo bonito e cheio de sentimentos... E pensar que nas retirada sete, supõe-se que ela estaria indo pro Inferno. 😩
    Ótimo capítulo.

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